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2.5. Condições de acesso ao estabelecimento ao abrigo das liberdades

2.5.3 Condições de interesse geral aplicáveis às Liberdades

Segundo Machado,

o direito de estabelecimento (…) pode ser objeto de limites implícitos ou imanentes com base no interesse geral ou noutros bens aos quais os Tratados reconhecem dignidade de proteção. [...] O interesse geral é hoje um conceito amplo que abrange diferentes finalidades suscetíveis de justificar uma restrição [pretendendo] garantir a proteção contra uma ameaça genuína e suficientemente grave que afete um dos interesses fundamentais da sociedade e pode incluir, nomeadamente, questões relacionadas com a dignidade humana [...]”.

(Machado, 2014:367)107

As condições de autorização estão sujeitas ao chamado interesse geral das normas da comunidade, constitui um conceito jurisprudencial em que são constituídos critérios que o Tribunal de Justiça Europeu entendeu para a aplicação das normas internas do Estado na regulação da atividade e também no âmbito da Livre Prestação de Serviços, conforme artigo 19.º da 3.ª diretiva e que abaixo se encontra transcrito:

Considerando que no quadro do mercado interno, é do interesse do tomador de seguro ter acesso à mais vasta gama possível de produtos de seguro oferecidos na Comunidade para poder escolher entre eles o mais adequado às suas necessidades: que incumbe ao Estado-Membro onde o risco se 107) ) MACHADO, Jónatas E. M. Machado – Direito da União Europeia. 2ª edição. Coimbra: Editora Almedina. 2014. ISBN 978 972 32 22 807

situa garantir que não haja obstáculos à comercialização no seu território dos produtos de seguro oferecidos na Comunidade, desde que não sejam contrários às disposições legais de interesse geral em vigor no Estado-Membro onde o risco se situa e na medida em que esse interesse geral não seja salvaguardado pelas regras do Estado-Membro de origem, entendendo-se que essas disposições se devem aplicar de forma não discriminatória a qualquer empresa que opere nesse Estado-Membro e ser objetivamente necessárias e proporcionais ao objetivo prosseguido;108

(Diretiva 92/49/CEE) Seatzu refere que,

the conditions under wich a Member State can invoke the “general good”are well stablished in the jurisprudence of the European Court of justice and can be summarised as follows: non- harmonisation; justification by a general good motive; non-harmonisation, on the grounds of nationality; non duplication, proportionality.

(Seatzu, 2003:18) A eliminação das barreiras aos serviços assenta em dois pontos essenciais: o reconhecimento mútuo e a harmonização da regras nacionais. Neste âmbito há que ter em conta o critério da proporcionalidade sendo objetivo e proporcional, ou seja: as medidas tem de ter relevância face ao objetivo e não resultar de um obstáculo desproporcionado relativamente ao fim a alcançar; ainda não existir outra alternativa eficaz e menos restritiva para o exercício das liberdades em análise; e o critério da duplicação - o interesse que se pretende garantir, não pode estar já salvaguardado por uma norma aplicável à operação de seguros que tenha efeito equivalente.

Shuibhne afirma que:

[...]the concept of the establishment of companies is linked to the concepts of mutual recogition of companies and retention of legal personality in transfers between member states. The necessity of harmonized regulation in this matter was envisaged by the drafters of the EC Treaty, as Article 293 (ex-Art.220) Provides

(Shuibhne, 2006: 86)

Assim, pode ler-se no referido artigo 293.º:

Os Estados-Membros entabularão entre si, sempre que necessário, negociações destinadas a garantir, em benefício dos seus nacionais:

 a proteção das pessoas, bem como o gozo e a proteção dos direitos, nas mesmas condições que as concedidas por cada Estado aos seus próprios nacionais;

 a eliminação da dupla tributação na Comunidade;

 o reconhecimento mútuo das sociedades, na aceção do segundo parágrafo do artigo 48.º, a manutenção da personalidade jurídica em caso de transferência da sede de um país para outro e a possibilidade de fusão de sociedades sujeitas a legislações nacionais diferentes; e

 a simplificação das formalidades a que se encontram subordinados o reconhecimento e a execução recíprocos tanto das decisões judiciais como das decisões arbitrais. As condições do interesse geral podem ainda dizer respeito aos produtos propostos pela seguradora não só no conteúdo como no método publicitário que o segurador pretende usar no Estado-Membro de acolhimento para vender os seus produtos. Estamos perante o critério da não discriminação. De notar que esse critério segundo o Comitè Européean des Assurances, tem um défice de aplicação uma vez que este organismo encontrou algumas disparidades que foram analisadas no âmbito de um estudo geral do Mercado Único em Livre Prestação de Serviços e Direito de Estabelecimento.

Uma seguradora / marca pode operar sempre que:

 A autoridade supervisora do Estado-Membro da marca (de origem) comunica em dois meses as condições de interesse geral à autoridade de supervisão do Estado-Membro da prestação. Neste caso a entidade de supervisão do Estado-Membro avalia as condições para a requerente exercer a prestação de serviço, isto é, dentro das condições de interesse geral que se encontram devidamente notificados pode ou não a requerente exercer a Livre Prestação de Serviços; e

 Autoridade supervisora do Estado-Membro de origem informa a entidade supervisora do Estado-Membro de destino, no prazo de 2 meses, que não possui quaisquer recomendações. Neste caso a entidade supervisora do Estado-Membro informa a requerente da sua decisão e após a receção desta comunicação pode a seguradora iniciar a sua atividade.

No caso da recusa, a autoridade supervisora do Estado-Membro proíbe o operador de exercer a sua atividade noutro Estado-Membro. As Razões para a recusa da autorização assentam por norma na insuficiência na estrutura administrativa e/ou financeira da requerente; por não terem sido apresentados elementos suficientes ou comprovativos da experiência profissional da seguradora; ou por não ter sido apresentados elementos comprovativos da capacidades de gestão da seguradora requerente. Neste cenário, a recusa será formalizada pelo Estado-Membro de origem, que é devidamente fundamentada com os critérios supra indicados. A requerente poderá contestar a decisão junto da Autoridade de supervisão e apresentar os elementos em falta e será dada à mesma o prazo de três meses para apresentar novo pedido. De todo modo, a decisão apresentada pela entidade supervisora e, existindo discordância da requerente, poderá solicitar intervenção do Tribunal de Justiça da União Europeia.