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CAPÍTULO IV Apresentação e Análise Interpretativa dos Dados

2. Apresentação dos Resultados das Entrevistas

2.2. Condições de Leccionação

2.2.1. Organização de espaços e aspectos físicos da aula

As condições de leccionação são muito importantes na aula de EF, permitem estimular a criatividade dos profissionais, diversificar as actividades e promovem

alternativas válidas para turmas com alunos com NEE, onde se torna importante e necessário adaptar conteúdos.

O sujeito S1 apresenta alguns condicionalismos que se prendem com a realidade da escola onde lecciona e das NEE do aluno que tem inserido numa das suas turmas, um aluno com Spina Bífida. Refere o facto de não ter rampas de acesso, factor que condiciona logo à partida alunos com pouca mobilidade e que se desloquem em cadeira de rodas, a falta de uma casa de banho adaptada, com lavatórios mais baixos, como o próprio refere e a falta de um fraldário, pois o aluno em causa, devido às características das suas necessidades, usa fraldas e segundo o sujeito é a mãe quem o vai todos os dias mudar, em cima dos joelhos.

Por seu turno sujeito S2 refere-se a aspectos mais relacionados com a dinâmica da aula, como sejam o facto de trabalhar em circuito e fala da dificuldade em gerir tudo isto com um aluno com NEE, dando a ideia que trabalhar em circuito é a melhor forma de rentabilizar o espaço de forma a incluir um aluno com NEE, jogando também com alguma autonomia da turma para deixar o professor mais liberto para dar atenção ao aluno com NEE. Refere também que encontra dificuldades em virtude destas especificidades, alegando que não é por falta de vontade, mas é uma situação real.

O sujeito S3 apresenta-se como mais pragmático e elucida que a organização de espaços físicos da aula depende sobretudo do tipo de deficiência e que o fundamental é criar um ambiente securizante, referindo o caso de um aluno cego que teve em turma, que apesar de ter uma grande capacidade de orientação espacial e referindo-se-lhe como

se fosse um individuo visual desde sempre, sempre teve o cuidado de preparar o espaço de forma a não o pôr em perigo.

2.2.2. Gestão do tempo de aula

Da gestão do tempo de aula decorre o tempo de empenhamento do aluno na tarefa e consequentemente faz depender o sucesso nas aprendizagens.

O sujeito S1 procura propor as actividades de forma a que estas sirvam a generalidade dos elementos da turma, tentando não prejudicar ninguém e não descurando as limitações do aluno e recorre, sempre que possível, a trabalho individualizado, refere que tem que ter a colaboração da turma para conseguir gerir de forma equilibrada o tempo de aula e incentiva o recurso à capacidade de autonomia dos alunos, de forma a que ninguém se sinta prejudicado. Estas opções, no seu entender, permitem fazer a melhor gestão do tempo.

Já o sujeito S2 opta por uma selecção de exercícios que os alunos dominem, pois refere que dispensar atenção a 20 alunos e ainda ter outro aluno a necessitar de atenções especiais, torna-se muito difícil de concretizar/operacionalizar os objectivos da aula.

Há semelhança do ponto anterior, também o sujeito S3 foi muito mais prático que os anteriores, tendo a noção do tempo total da aula e sabendo de antemão o que vai fazer, gere as diferentes partes da aula de forma a conseguir rentabilizar o máximo e quando confrontado com o facto dos alunos com NEE, refere que não há grandes alterações em função deles, no que diz respeito à gestão do tempo de aula.

2.2.3. Possibilidades de garantir um ensino de qualidade a alunos com

NEE

Garantir um ensino de qualidade a todos os alunos e aos alunos com NEE em particular é um dos grandes desafios que se coloca à escola nos nossos dias.

O sujeito S1 começa por se referir às limitações das escolas por onde tem passado. Considera que essas limitações prejudicam os alunos, referindo-se a aspectos físicos, reforçando esta ideia com o caso de um aluno que devido à natureza da sua deficiência tem que passar os dias inteiros sem lavar as mãos por não ter uma casa de banho adaptada. Este professor sente que não tem qualquer apoio da escola porque, como aponta, também não há ninguém que saiba. Em suma, diz que não é o professor de EF que tem conhecimentos para intervir e nem a escola que tem recursos físicos.

Este sujeito é muito crítico em relação ao seu órgão de gestão afirmando que a escola não está preparada, nem quer estar preparada, “(…) a escola não é para

deficientes, há ali a Irene Rolo (instituição particular), é a resposta que me dá o órgão de gestão”.

Segundo a opinião deste sujeito, a escola só dá resposta a crianças com deficiências ligeiras, apontando como alternativa a Fundação Irene Rolo, instituição particular com Escola de Educação Especial. Recordamos que o recurso a estabelecimentos de educação especial, constituiu um marco histórico na evolução das atitudes face à deficiência e apesar de se lhe reconhecerem algumas virtudes, foi abandonada pois, promove a estigmatização e a segregação social dos indivíduos e

constituem uma ameaça, no que diz respeito ao reconhecimento dos seus direitos e às suas possibilidades para levar uma vida tão normal quanto possível.

O sujeito S2 refere que para garantir um ensino de qualidade a alunos com NEE ainda há muito a fazer, apontando que estes alunos beneficiariam muito de uma aula de apoio individualizado. Em sua opinião, os resultados a obter seriam melhores se se trabalhasse individualmente, com os alunos - num primeiro momento, e posteriormente inseridos em turma. Refere, também, que tudo depende dos estímulos que conseguir proporcionar e das respostas que conseguir obter. Em sua opinião, os professores de apoio não estão muito disponíveis e que deveria haver mais apoio por parte destes. Refere também no questionário, que com as medidas do regime educativo especial se criam situações extremamente facilitadas para os alunos, o que leva a alguma desmotivação.

Pensamos que o recurso a medidas do regime educativo especial, só se justificam para criar situações de igualdade e devem ser muito bem ponderadas de forma a que as situações de aprendizagem que se criam se situem num nível adequado às particularidades do aluno

O sujeito S3 refere-se também ao facto da escola não se encontrar preparada para alunos com dificuldades de génese motora, fala das barreiras arquitectónicas e há semelhança do sujeito S2 diz que ainda há muita coisa a fazer, nomeadamente a falta de recursos e questiona o facto de ainda se fazerem escolas de raiz, mantendo as barreiras arquitectónicas. Refere no questionário que se faz o que é humanamente possível, mas que isso por si só não é garantia de um ensino de qualidade.

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