• Nenhum resultado encontrado

7. DISCUSSÃO

7.2. Condições dos Domicílios

O estudo dos domicílios mostra que em algumas características da casa e posse de bens os inscritos no PBF apresentaram uma diferenciação positiva em relação aos não inscritos, principalmente na zona rural. Como a renda das famílias inscritas era menor do que as não inscritas, estas melhorias no domicílio podem ter ocorrido pela utilização do benefício do PBF, possivelmente referente à ajuda nas despesas de casa afirmada pelas famílias como uma melhoria de vida proporcionada pelo programa.

Em relação às paredes, na zona urbana a maioria era de alvenaria (cerca de 70%), como nas casas das famílias participantes da avaliação sobre o Programa Bolsa Alimentação (58,5%), realizada em municípios selecionados de todo o Nordeste (MS,

2005). Na zona rural isto se repetia entre os inscritos do PBF (59,3%), porém, entre os não inscritos havia mais casas com paredes de outros materiais (taipa, tijolo, outros). O piso de cerâmica/lajota/cimento ocorria na maioria das casas, também como na avaliação do PBA (87,9%). Ele estava presente em mais de 80% dos domicílios urbanos, em 76,5% dos inscritos da zona rural, diminuindo para 60,7% entre os não inscritos.

Os inscritos das duas zonas também possuíam casas com maior número de cômodos. Na zona urbana, 71,6% dos inscritos moravam em domicílios com 5 cômodos ou mais, e na zona rural isto ocorria em quase a metade das famílias. Em contrapartida, a média e a mediana de moradores no domicílio foi maior entre os inscritos do que entre os não inscritos. Em todos os grupos analisados as médias de moradores foram superior à estadual (3,9), regional (3,9) e nacional (3,5), mesmo considerando apenas o estrato rural (4,2; 4,2; e 3,9, respectivamente).

Quanto à posse de bens, dos 14 itens avaliados houve diferença entre inscritos e não inscritos em seis itens. Os inscritos do setor rural possuíam mais televisores coloridos, antenas parabólicas, liquidificadores e bicicletas do que os não inscritos. No setor urbano isto ocorria em relação à posse de televisores em preto e branco. Tal fato pode ser um indicativo de que o beneficío do PBF tem possibilitado um incremento na aquisição de bens por parte de seus beneficiários.

Dos itens elencados, apenas o telefone fixo estava mais presente nos domicílios não inscritos da zona urbana do que nos inscritos. Na zona rural, este bem não constava em nenhuma casa. Também foi observada a baixa proporção da geladeira e do fogão a gás, fundamentais para a conservação, preparo e assepsia dos alimentos. O uso de métodos de cocção rudimentares como o fogão de barro, observado no interior de muitos domicílios, apresenta grandes riscos, principalmente às crianças, devido a maior facilidade de acidentes e à constante inalação de fumaça proveniente deste. O acesso à energia elétrica foi satisfatório, cobrindo todos os domicílios da zona urbana e quase todos na zona rural, perfazendo uma média de 96,4% na amostra. Este dado corrobora com os encontrados no semi-árido pernambucano (96,8%), brasileiro (95,4%) e na avaliação do PBA (95%), sendo superior à média do Estado (91,5%), mas

inferior à média do interior urbano do Estado (99,6%), de acordo com a II Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição (1998).

O abastecimento de água se mostrou precário, com cerca de 70% dos domicílios urbanos e ínfimos 10% rurais obtendo água da rede pública (com canalização interna ou externa). Considerando todo o município, a rede de abastecimento alcança 60,4% das residências (CPRM/ PRODEEM, 2005), impondo ao restante da população a necessidade de obter água através de poços, nascentes, cisternas ou cacimbas. Isto demonstra uma situação ainda pior do que a encontrada no semi-árido brasileiro (76,3%), no interior urbano de Pernambuco (87,8%) e no Brasil (75,8%). Comparando com dados da avaliação do PBA (56,9%) e do semi-árido de Pernambuco (55,3%), o setor urbano da amostra e o município apresentaram condições menos desfavoráveis.

Gameleira não sofre com períodos de seca como o semi-árido, ao contrário, está localizada na Zona da Mata Meridional, região que registra a maior umidade e pluviosidade do Estado e, ironicamente, sua população apresenta tão baixa cobertura da rede pública de água. Tal quadro pode ser uma explicação a um problema observado durante as visitas ao município: o furto de bombas de água das escolas. Demonstrando efeitos da precariedade de infra-estrutura na formação do capital social daquela cidade.

Hoje, em pleno século XXI, com todo o avanço das tecnologias de saneamento, uma região abundante em chuvas sofre com a dificuldade de acesso a um dos principais itens para o alcance da Segurança Alimentar e Nutricional: a água.

Quanto ao tratamento dado à água de beber, observou-se a ausência do mesmo na maioria das famílias (cerca de 70%), com exceção daquelas que não estavam inscritas no PBF e localizadas no setor urbano (57,3%). Os dados da II Pesquisa Estadual mostram que a maioria das famílias realizava algum tipo de tratamento na água para consumo, sendo as que não o faziam correspondentes a 17,3% no interior urbano e a 18,3% no estado (II PESN, 1998). No semi-árido pernambucano e brasileiro, a falta de tratamento da água foi relatada em, respectivamente, 7,6% e 9,6% das famílias (MDS, 2006). Isto demonstra não só a precária infra-estrutura da região como a baixa educação sanitária dos seus residentes, inclusive em comparação ao restante da população pernambucana e do semi-árido.

A situação do esgotamento sanitário também é bastante precária, pois considerando a rede geral junto com a fossa com tampa, apenas pouco acima de 70% das residências no estrato urbano e de 20% no rural contavam com uma destas formas de esgotamento. Os dados apresentam semelhanças com os do interior urbano estadual (30%), do Estado (64,6%), e do Brasil (59,2%) (II PESN, 1998; Censo, 2000). O que novamente demonstra o descaso histórico e patológico com a urgência de intervenções no saneamento público, não só no município como em todo o Estado e Nação.

Documentos relacionados