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7. DISCUSSÃO

7.3. Oferta e Utilização de Serviços

A ocorrência de gravidez anterior à pesquisa no estrato urbano, e atual ao momento da entrevista no estrato rural apontou diferenças, com maior proporção de gestantes entre os não inscritos. O nascimento de filhos nascidos vivos nos 12 meses anteriores à pesquisa também foi mais freqüente entre os não inscritos no PBF, tanto na zona urbana como na rural. O percentual destas três variáveis na amostra é superior à encontrada no interior urbano, na Região Metropolitana do Recife (RMR) e no Estado na II PESN.

Apesar deste quadro, a maioria das entrevistadas relatou o uso de algum método anticoncepcional, principalmente entre os não inscritos rurais (69,6%), inclusive com percentuais superiores aos relatados na II PESN tanto no interior urbano (55%), como na RMR (57,7%) e no Estado (54,8%). O uso de pílulas e preservativos foi maior entre os não inscritos, enquanto a utilização da laqueadura (método permanente e irreversível) foi mais referida entre os inscritos, com diferença estatística na zona rural. Foi relatado que a realização deste procedimento ocorreu na maioria dos casos por decisão da mulher e em uma cirurgia específica.

Possivelmente a maior preocupação com a utilização de métodos anticoncepcionais tenha ocorrido após o nascimento do último filho. Além disso, talvez a inclusão no PBF possibilite maior acesso à contracepção, especificamente ao método da laqueadura, ou as mães inscritas no PBF tenham um histórico de maior vínculo aos

serviços de saúde, facilitando tanto o acesso a este método como a própria inscrição no PBF.

A cobertura do pré-natal na gestação dos menores de cinco anos pode ser considerada satisfatória (cerca de 90%), exceto entre os não inscritos da área rural (72%), estando pouco acima das médias estadual (88,1%), regional (85,4%) e nacional (84,1%), mas abaixo do encontrado no semi-árido pernambucano (98,2%) e brasileiro (97,2%). Entretanto, o acompanhamento pré-natal das gestações atuais ao momento da entrevista apresentou proporções bem menores, com cerca de 70% no estrato urbano, e 31,6% (inscritos) e 53,3% (não inscritos) no estrato rural, o que demonstra uma fragilidade dos serviços de saúde no acompanhamento das gestantes, tanto em nível de Bolsa Família como de Programa de Saúde da Família.

Dentre as gestações pregressas, a maioria afirmou ter iniciado o acompanhamento do pré-natal no primeiro trimestre de gestação, atendendo a recomendação do Ministério da Saúde (1° consulta até o quarto mês), mas com valores abaixo do encontrado no semi-árido pernambucano (79,5%) e brasileiro (82%). Neste aspecto também houve diferença desfavorável aos não inscritos, mas na zona urbana (MS, 2004).

Estas diferenças reforçam a possibilidade de uma maior vinculação dos inscritos com os serviços de saúde. Entretanto, o resultado de orientação sobre alimentação no pré-natal mostra diferença desfavorável aos inscritos urbanos do PBF. Isto pode ser devido à baixa qualidade do pré-natal ou porque estas famílias haviam recebido esta orientação em outro momento, corroborando com a hipótese de um maior vínculo com os serviços de saúde, de origem anterior ou posterior à inscrição no PBF.

Quanto à orientação sobre aleitamento materno, não houve diferença entre os grupos, ocorrendo com uma cobertura superior à orientação sobre alimentação, e correspondendo aos resultados encontrados no interior urbano (85,3%) e no Estado (81,8%) na II PESN. Apesar de a maioria das mães terem sido imunizadas com a vacina antitetânica (média de 89,8%), os valores foram inferiores aos do interior urbano (96,2%) e do Estado (94,4%).

Praticamente todos os partos ocorreram em maternidade ou hospital, no entanto, a parteira foi relatada como a que mais os realizou, com exceção dos não inscritos

urbanos, que tiveram maior assistência de médicos, mesmo assim com uma baixa cobertura (41%), menor do que a estadual (51%) e principalmente em relação à Região Metropolitana do Recife (82%) (II PESN, 1998). Observou-se também a maior ocorrência de partos cesáreos neste grupo (22,9%), mas ainda em uma proporção menor do que a encontrada no Estado (34,2%), na Região Nordeste (30,5%) e no país (41,8%), uma das maiores do mundo (Hopkins, 2000; SIAB, 2005).

Tais dados demonstram uma baixa cobertura de médicos no município, o que é um fator comprometedor a assistência à saúde da mulher (Meta do Milênio n° 5). No entanto, esta carência tem um efeito positivo na menor proporção de partos cesáreos, fator de risco para morbi-mortalidade materna, sendo a taxa de mortalidade materna sete vezes maior nos partos cesáreos em relação aos normais (OSARA, 2005). As condições de saúde e nutrição das mulheres têm significativa relevância, em especial na gestação e lactação, pois interferem diretamente no crescimento e desenvolvimento das crianças no período intra-uterino e pós-natal. Estes, por sua vez, são determinantes dos padrões de morbidade que podem se estabelecer tanto na infância como na vida adulta (CABALLERO, 2006).

Em relação ao peso ao nascer, a ocorrência de baixo peso e peso insuficiente (< 3000g), com uma média de 21,8%, foi menor do que a encontrada no interior urbano (27,6%), no Estado (27,2%), na Região Metropolitana do Recife (34,1%) (UFPE, 1998), e também em outras regiões do país, como na cidade de Pelotas (32,6%) e em municípios do Estado de São Paulo (33,8%) (HORTA et al, 1996; MONTEIRO, 2000). E embora praticamente todos os entrevistados tenham mostrado o cartão da criança, o peso estava registrado em cerca de 80% dos cartões na zona urbana e em cerca de 70% na zona rural.

A prevalência de crianças que mamavam no momento da pesquisa era maior entre os não inscritos, o que pelos dados de gestação anterior e nascimento de filhos no último ano, pode ter ocorrido pelas crianças deste grupo apresentarem menor idade. A prevalência das que haviam mamado anteriormente era maior entre os inscritos no PBF.

A amostra apresentou uma proporção de crianças que nunca mamaram inferior à encontrada na II PESN, tanto no interior urbano (14,5%) como no Estado (10,5%),

porém superior a média nordestina (4,9%) (UFPE, 1998; LIMA, 2001). Na zona rural, a proporção de crianças que nunca mamaram é quase três vezes maior entre as não inscritas do que entre as inscritas no PBF.

Observou-se que a maior proporção de mães em todos os grupos afirmou ter amamentado por mais de seis meses, superando os resultados encontrados em Pernambuco (30,6%) e no seu interior urbano (21,9%) na II PESN.

A ocorrência de diarréia nas duas semanas anteriores a pesquisa, em todos os grupos, foi superior a encontrada no Estado (19,8%), em seu interior urbano (19,9%) e em todo o Nordeste (15,4%) (UFPE, 1998; IBGE; UNICEF, 1992). A proporção foi maior nos não inscritos, havendo diferença estatística na zona rural. A diarréia é uma enfermidade multicausal, associada a fatores socioeconômicos, políticos, demográficos, sanitários, ambientais e culturais (TEIXEIRA; HELLER, 2005) e fator de risco para morbi-mortalidade infantil (FISBERG et al, 2004). Muitos destes, como a baixa renda, a ausência de saneamento básico e bens de consumo (geladeira, rádio e televisão) ocorriam em alta escala na amostra, e especificamente no setor rural, a proporção dos fatores ausência de amamentação e televisão era maior entre os não inscritos (VÁZQUEZ et al, 1999; VENÂNCIO et al; 2002).

Os dados mostram que a maioria das crianças que tiveram diarréia recebeu soro via oral (caseiro ou industrializado) por orientação principalmente do médico, e não suspenderam a alimentação neste período, demonstrando um nível satisfatório dos conhecimentos básicos no tratamento desta patologia. Entretanto, deve-se salientar a preocupação com o uso do soro em consideração aos dados relativos ao abastecimento e tratamento da água para consumo, uma vez que o comprometimento da qualidade da água para diluir o soro poderá levar a exacerbação do quadro diarréico.

Em concordância com os dados anteriores, a proporção de hospitalizações e consultas nos menores de cinco anos foi superior entre os não inscritos, com diferença significante nas consultas da zona rural. O profissional mais consultado também foi o médico. A alta recorrência a este profissional de referência pode ser um indício de deficiência na atenção básica do município, ou na cobertura, ou na capacitação dos agentes de saúde, ou em ambos aspectos.

Observou-se que tanto o acesso aos serviços de saúde como a regularidade de visita dos agentes de saúde pode ser considerada satisfatória na área urbana, entretanto, na rural o acesso é mais difícil, necessitando em maior proporção de meios de locomoção (ônibus, carro, moto, outros) ao mesmo tempo em que os agentes de saúde visitam com menor regularidade.

Os dados de acompanhamento no cartão da criança (registro de peso, desenvolvimento e suplementação de vitamina A) mostram uma cobertura muito baixa, principalmente na zona rural. Apesar do acompanhamento do peso ser uma das condicionalidades do PBF, os inscritos da zona urbana apresentaram um registro menor desta medida do que os não inscritos. Estes dados reiteram a maior dificuldade de acesso da população localizada no setor rural, e reforçam indicativos da baixa qualidade da atenção básica prestada à população, aumentando consideravelmente a vulnerabilidade de quem vive em condições de infra-estrutura tão precária.

A administração de vitamina A as mães no pós-parto também apresentou uma cobertura muito baixa. A não suplementação de vitamina A às mães e crianças (> 6 meses) é um fato bastante grave, pois se trata de uma das principais medidas de ação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), extremamente necessária devido aos conhecidos efeitos deletérios da carência de vitamina A tanto na mulher como na criança, e à sua elevada magnitude amplamente registrada em diversos estudos em todo o Nordeste.

Também se observou a baixíssima proporção de mulheres que realizaram a prevenção do câncer de colo de útero e de mama. Tais dados também indicam a baixa condição de educação em saúde e oferta de serviços no município. O câncer de mama e o de colo são, respectivamente, o segundo e terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo o de mama a maior causa de óbitos. A detecção precoce é realizada com medidas simples e possibilita a cura em elevada proporção dos casos (MS, 2006).

O exame preventivo destas patologias está incluso no Programa Nacional de Controle do Câncer de Colo do Útero e de Mama – Viva Mulher (MS, 2006), sendo procedimentos básicos no monitoramento da saúde da população feminina e constituintes do elenco de medidas necessárias para o alcance da Meta do Milênio n° 5.

Desta forma, é imprescindível que sejam tomadas providências para uma mudança desta situação, preferivelmente via Programa Saúde da Família, já que consiste numa das responsabilidades deste.

Em relação à educação, observou-se a maior presença de menores em idade escolar (7 a 14 anos) entre os inscritos no PBF, nas duas zonas, o que mostra que estas possuíam maior número de dependentes, interferindo na renda per capita e tornando-as em maior risco de insegurança alimentar. Tal dado corrobora com outros indicadores de uma focalização correta do programa na amostra. Praticamente todas as crianças de 7 a 14 anos se encontravam na escola, sendo apenas três casos de trabalho relatado.

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