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4.3 As relações contratuais na sericicultura

4.3.2 Condições formais do contrato

Nesta seção serão apresentadas as condições formais do contrato celebrado entre a Fiação de Seda BRATAC S/A e os sericicultores estudados. Conforme expressado anteriormente na revisão bibliográfica desta dissertação, a agricultura contratual é um acordo que determina o compromisso de o agricultor vender a sua produção com preço determinado, como também a seguir parâmetros de qualidade e quantidade. À empresa contratante cabe fornecer os insumos, assistência técnica e também comprar a produção. Desse modo, é importante compreender se os pontos abordados no contrato de produção de casulos estão em consonância com o conceito da agricultura contratual.

Antes de adentrar nas disposições do contrato, é interessante conhecer o ponto de vista dos sericicultores investigados quando à estruturação do contrato (Tabela 14). Dos 42 produtores entrevistados, 38 afirmaram que as transações ocorrem por meio de um contrato formal, dois produtores apontam que o contrato é informal (verbal), e ainda um produtor afirma que não existe contrato formal e informal na atividade. Para este último o que existe é um acordo tácito, pois em momento algum se trocou mensagem escrita ou falada sobre o contrato. Porém, é possível afirmar que o acordo para produção de casulos de bicho-da-seda é estruturado formalmente. Uma cópia deste contrato foi obtida durante a realização da pesquisa e pode ser verificado no Anexo C deste trabalho.

Tabela 14 – Estruturação do contrato na visão dos respondentes

Tipo de contrato Frequência Percentual

Contrato Formal 38 90,5

Contrato Informal 2 4,8

Acordo tácito 1 2,4

Não respondeu 1 2,4

Total 42 100,0

Ainda sobre o ponto de vista dos sericicultores investigados quanto a estruturação do contrato, tornou-se interessante compreender o motivo pelo qual três dos entrevistados afirmaram desconhecer a existência de um contrato formal. Desse modo, o trabalho de Tsukamoto (2009) e Oliveira (1990) afirmam que as empresas de fiação existentes no Brasil nesta época não firmavam contrato formal entre as partes, o que existia era apenas o compromisso de entregar a produção àquela indústria fornecedora de larva (contrato informal). O que se notava era um compromisso afetivo do produtor para com determinada indústria. Diante disso, é possível concluir que a formalização nas transações entre os sericicultores e a indústria parece ser ainda recente. Não é possível definir a data em que houve a formalização do acordo por meio de um contrato escrito, mas talvez seja essa uma explicação para a aparente inconsistência entre as respostas apresentadas por alguns entrevistados.

Com relação ao ponto de vista dos produtores de casulos quanto à renovação do contrato (Tabela 15), também foi observada uma certa discrepância nas respostas. Onze respondentes afirmam que o contrato é renovando anualmente, e sempre antes do início da nova safra, 21 dos sericicultores indagados, ou 50% da amostra, declararam que o contrato de produção não possui renovação, outros nove, admitem não saber se há ou não renovação do contrato e um respondente acredita não existir um contrato.

Tabela 15 – Ponto de vista dos sericicultores investigados quanto à renovação do contrato

O contrato é renovado? Frequência Percentual

Sim 11 26,2

Não 21 50,0

Não sabe 9 21,4

Acordo tácito 1 2,4

Total 42 100,0

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da pesquisa de campo (2018).

A Tabela 16 aponta a opinião dos sericicultores quanto ao prazo de validade do contrato de produção de casulos. Trinta e cinco entrevistados apontaram que o contrato não tem validade, que não é de interesse da indústria forçar o produtor a parar em um determinado momento devido ao término do contrato. Três dos entrevistados admitiram não saber responder ao questionamento e outros três afirmaram que o contrato possui um prazo de validade, porém, não sabem especificar o prazo de validade do mesmo.

Tabela 16 – Ponto de vista dos sericicultores investigados quanto ao prazo de validade do contrato

Prazo de validade do contrato Frequência Percentual

Não tem validade 35 83,3

Não sabe 3 7,1

Não lembra 3 7,1

Acordo tácito 1 2,4

Total 42 100,0

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da pesquisa de campo (2018).

No que diz respeito às condições para encerrar o contrato de produção ou quebrar o contrato com a indústria (distrato), dos 42 produtores entrevistados, 28 afirmaram (66,7%) que o processo de quebra contratual é simples, e consiste em apenas avisar a indústria com antecedência sobre o desejo de encerrar a produção definitivamente. Outros três produtores (7,1%) apontaram que a partir do momento que a indústria está ciente do desejo dos produtores em encerrar o contrato, o produtor deve ter como requisito efetuar todos os pagamentos dos insumos e equipamentos que tenha comprado da indústria. A partir do momento que as dívidas estejam quitadas e a última produção entregue o contrato é encerrado. Onze produtores (26,2%) afirmam não ter conhecimento sobre as condições de dissolução do contrato.

Ainda com relação às condições de distrato, quando questionados se há alguma penalização (multa) aplicada aos produtores em caso que ocorra quebra contratual, 36 entrevistados (85,7%) afirmaram que não existe penalização, um produtor (2,4%) apontou para a existência de uma penalização, contudo, não soube especificá-la e outros quatro entrevistados (9,5%) alegaram não saber responder à pergunta.

Quando questionados sobre as formas de arbitragem utilizadas pela indústria em casos de conflitos, em 39 casos (92,8%) o produtor afirmou desconhecer os métodos de resolvê-los, visto que, jamais presenciaram um caso conflitante a ponto de se utilizar o método da arbitragem. Dois entrevistados (4,9%) argumentaram que os conflitos, em geral, são resultados de descontentamento com a assistência técnica e em 100% das vezes são resolvidos pela indústria apenas designando um novo técnico para o local, e apenas um dos entrevistados preferiu não responder ao questionamento.

Diante do exposto, e analisando, as respostas dos sericicultores investigados, pode-se observar que há alguns produtores que possuem mais informações e outros menos. Em nenhum dos casos analisados nessa seção houve unanimidade nas respostas por parte dos respondentes. Tal alegação demostra a falta de informação dos produtores quanto ao contrato

e também reflete a incompletude do mesmo. Durante a realização das entrevistas um produtor citou que acreditava que o documento que vinha assinando anualmente nas dependências do entreposto da indústria, não se tratava da renovação do contrato para a nova safra, mas sim, do “contrato do adubo”, pois, geralmente a compra do carregamento de adubo orgânico é realizada juntamente com o processo de renovação do contrato.

Assim, apresentadas as perspectivas dos produtores investigados quanto as condições formais do contrato de compra e venda dos casulos de bicho-da-seda, torna-se de igual importância conhecer a opinião dos mesmos quanto aos elementos abordados no contrato.