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CAPÍTULO III. A evolução da laboração: os meios de produção, a mão-de-obra e a

III.6. As condições de trabalho e de higiene

As condições de trabalho e de higiene proporcionadas aos operários que ao longo dos anos foram assegurando a produção de louça da marca “Massarelos” não deveriam ser muito diferentes daquelas a que os outros trabalhadores do sector cerâmico e da indústria em geral tinham acesso.

O Decreto de 27 de Agosto de 1855 aparece como o primeiro diploma legal relacionado com as condições de prestação de trabalho individual e que aprova o Regulamento dos estabelecimentos insalubres, incómodos e perigosos290.

Os decretos de 10 de Fevereiro de 1891, 14 de Abril de 1891 e 16 de Março de 1893, demonstravam também alguma preocupação ao nível das condições de trabalho dos operários proibindo que determinados trabalhos penosos ou perigosos fossem impostos aos trabalhadores da indústria291.

287 Idem, ibidem, pp.40-44. 288 DREN, Rilei nº1/4198. 289 Idem. 290

Luís Graça, História da Saúde no Trabalho: Proto-História do Direito do Trabalho: 1867-1910. [Última consulta em 23.06.2012]. Disponível em: http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos25.html.

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Os primeiros dados concretos relacionados com as condições de trabalho e higiene existentes nas duas fábricas onde se produziu louça da marca “Massarelos, surgiram apenas com o pedido de licença para a construção de seis retretes nas instalações de Massarelos, situação que muito embora pareça demonstrar alguma preocupação com os trabalhadores não deixa de ser insuficiente e precária se for tido em conta que a autorização para a realização da obra foi solicitada em 1911 e que no período de tempo compreendido entre 1904 e 1912 trabalhariam na fábrica cerca de centena e meia de trabalhadores, entre os quais cerca de três dezenas eram mulheres.

Mais tarde, em 22 de Setembro de 1938, mercê das constantes acções de fiscalização a que as instalações de Quebrantões do Norte foram sendo submetidas, a firma gestora da fábrica viu-se obrigada, pela entidade fiscalizadora do trabalho industrial e visando a normalização das condições de trabalho e higiene, a proceder ao vasto conjunto de alterações a seguir enumeradas292:

1. Impermeabilização dos pavimentos por qualquer processo;

2. Arranjo das paredes das secções de preparação que deveriam ser cimentadas até 8 metros de altura e rebocadas e caiadas dali para cima, pelo menos uma vez por ano;

3. Resguardar os órgãos de transmissão que pela sua situação possam oferecer perigo;

4. Construir retretes à turca fora dos locais de trabalho na proporção de uma para cada vinte operários, devendo ser «baldeadas diariamente com água de cal clorada e tendo água sob pressão para descargas periódicas, sendo separadas para cada sexo»;

5. Construção de um «refeitório provido de meios para aquecer a comida»;

6. Providenciar pela construção de chuveiros para trabalhadores de ambos os sexos;

7. Providenciar pela existência de vestiários para ambos os sexos;

8. Providenciar pela existência de água potável para beber acessível aos operários através de torneiras de jacto ascendente;

9. Providenciar pela existência de lavatórios «na proporção de um para cada dez operários»;

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10. Obrigatoriedade dos pintores de louça à pistola usarem máscaras, devendo tal tarefa ser efectuada em recintos vedados e apetrechados com meios de aspiração de gazes;

11. Obrigatoriedade da existência de escarradores munidos de um soluto anti-séptico espalhados pelas oficinas a fim de evitar a propagação de doenças contagiosas; 12. Obrigatoriedade dos operadores de mós usarem óculos de protecção;

13. Providenciar pela existência e manutenção de um posto de primeiros socorros; 14. Obrigatoriedade de «Afixar os cartazes nºs. 1, 2, 5 e 6.

Muito embora em 13 de Novembro de 1938 a fábrica já dispusesse de salão de recreio, de cantina e de creche e já proporcionasse assistência médica e farmacêutica aos trabalhadores, as imposições atrás referidas, cujo prazo de conclusão foi estipulado em 90 dias, não tinham sido ainda devidamente cumpridas. Segundo o auto de vistoria complementar datado de 13 de Janeiro de 1939, os peritos envolvidos consideraram que as condições 1 e 2 não haviam sido integralmente satisfeitas devendo por isso ser concedido à firma novo prazo para a normalização do exigido, situação que já se verificava no mês de Junho de 1939, conforme auto de vistoria então lavrado293.

Em 21 de Outubro de 1944 a fábrica continuava a proporcionar aos seus trabalhadores as normais funcionalidades de carácter social: salão de recreio, posto médico e de socorros, creche, cantina, refeitório e, ainda, uma cooperativa para fornecimento de géneros294.

O relato datado de 21 de Janeiro de 1952 e elaborado pelo delegado de saúde que visitou a fábrica atesta que a mesma, para além de ser em grande parte de construção recente e ter boas condições de iluminação e ventilação, dispunha de refeitório instalado dentro das normas e com lavabos privativos. Pela negativa, atesta que as retretes eram nove e que não tinham instalação apropriada nem abastecimento de água. Quanto aos vestiários, referiu que não reuniam as condições necessárias para serem usados pelos 168 operários, embora junto ao refeitório existissem alguns cabides295.

293 Idem. 294 Idem. 295 Idem.

Os últimos dados disponíveis relativamente às condições de trabalho e de higiene que eram proporcionadas aos trabalhadores da fábrica de Quebrantões do Norte são fornecidos pelo auto de vistoria elaborado no dia 31 de Maio de 1968 e são indiciadores de alguma decadência296. As instalações são então apresentadas em mau estado de conservação e a necessitarem de obras de remodelação no sentido de poderem comportar as oitenta e três mulheres e os cem homens que diariamente se apresentavam ao trabalho. Segundo os termos do documento, os pavimentos não ofereciam a indispensável segurança, as portas e as janelas tinham falta de vidros, os lavatórios e as bacias das retretes estavam em mau estado, o número de retretes era insuficiente, os balneários não existiam e o refeitório carecia de uma pintura.