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CAPÍTULO III. A evolução da laboração: os meios de produção, a mão-de-obra e a

III.7. O movimento sindical: as reivindicações

A legalização dos sindicatos começou por acontecer em Inglaterra através do Trad

Union Act de 1871 e mais tarde em França com a publicação da Lei Waldeck Rosseau

de 1884. A partir daí o movimento sindical e reivindicativo expandiu-se um pouco por toda a Europa, sendo que as primeiras exigências incidiam sobre o aumento dos salários e sobre a melhoria dos horários de trabalho297.

Em Portugal, a proibição da greve e das coligações estava prevista no Código Penal de 1852. O liberalismo monárquico veio permitir que se constituíssem em Portugal as primeiras associações de trabalhadores e de empregadores possibilitando a negociação colectiva e, ainda antes do século XIX acabar, assistiu-se à legalização da actividade sindical e dos sindicatos298.

Nas páginas dos jornais publicados na primeira década do século XX são já patentes os indícios do movimento sindical organizado e das reivindicações pelas quais os operários fabris faziam questão de lutar com recurso à greve.

296

Idem. 297

Luís Graça, História da Saúde no Trabalho: Proto-História do Direito do Trabalho: 1867-1910. [Última consulta em 23.06.2012]. Disponível em: http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos25.html., pp.14-19.

298

Idem, ibidem. O direito de associação de classe só foi consagrado pela letra da Lei de 09 de Maio de 1891 e a liberdade de associação sem autorização prévia só viria a ser reconhecida decorrida mais de uma década com a publicação da Lei de 14 de Fevereiro de 1907.

O Jornal de Notícias do Porto, publicado em Janeiro de 1909, dá notícia dum movimento grevista reivindicativo promovido pela Federação Geral de Trabalhadores e outros movimentos operários organizados, entre os quais a Associação de Classe dos Empregados de Comércio e Indústria e os Operários Ceramistas.

No mês de Junho seguinte, esse mesmo diário publicaria sucessivamente episódios da luta operária. No dia 12, sob o título “Operários em Greve”, informa os leitores de que a greve visava impedir a diminuição do salário pago aos operários pintores e oleiros da Fábrica de Louça de Massarelos, propriedade da firma Wall & C.ª. Três dias depois, sob o mesmo título, o JN dá conta do conflito existente entre os operários e a gerência da fábrica, especialmente no que diz respeito à afirmação tornada pública pela empresa Wall & C.ª de que a tabela de preços se mantinha desde há muitos anos quando a mesma já tinha entretanto sofrido alguns abatimentos, situação que violaria o contrato de trabalho estabelecido entre os operários e os industriais.

Por outro lado, os trabalhadores insurgiam-se contra a pretensão dos industriais de obrigarem o pessoal de empreitada a trabalhar os mesmos dias e horas que trabalhava o pessoal fixo. Outro ponto de discórdia relacionava-se com o pagamento das férias299. Ainda nesse ano de 1909, mas já no dia 24 do mês de Junho, nova notícia do JN: “Operários em Greve – harmoniza-se o conflito – volta dos grevistas ao trabalho”, informa os leitores do acordo estabelecido entre os operários grevistas e a gerência da Fábrica de Louça de Massarelos na pessoa do Sr. A. J. Wall «que se prontificou a garantir aos grevistas trabalho diário e, no caso de falta de matéria-prima ou outro qualquer factor que impossibilitasse a laboração quotidiana a esse pessoal, receberá este semanalmente um ordenado em harmonia com as médias das suas férias.»300.

Satisfeita a pretensão, os grevistas aceitaram unanimemente retornar ao trabalho no dia seguinte e, terminada a luta, fizeram chegar à imprensa o seu reconhecimento pela publicação das notícias enviadas à redacção em defesa da causa dos trabalhadores. Já na vigência do regime republicano, o JN publicou um comunicado do Movimento Operário e Associativo referente aos operários ceramistas da Fábrica de Massarelos

299

Jornal de Notícias do Porto, nºs 13, 17, 24 de Janeiro de 1909 e nºs 138 e 140, Junho de 1909. 300

explicando os motivos da greve: «os grevistas terminaram confessando lealmente que reconhecem não ser o Sr. Wall o responsável pelos factos que motivaram o seu descontentamento. A culpa, dizem eles, cabe a vários empregados que mais de perto lidam com o Sr. Wall e que o informaram mal, procurando apenas a própria conveniência, e tendo chegado agora, por ocasião desta greve, a instigar o Sr. Gerente a não atender as reclamações dos operários.»301. Esta greve terá estado relacionada com o não pagamento de férias ao pessoal quando havia falta de matéria-prima e, assim, de trabalho, situação para a qual descontavam uma percentagem do ordenado desde a greve de 1909.

Da leitura dos mais variados anúncios e notícias de cariz sindical, publicadas nas duas primeiras décadas do século XX, resulta que efectivamente as classes operárias se sentiam oprimidas, exploradas e sacrificadas, muito embora a esperança depositada na República. No entanto, com a publicação do Decreto-Lei nº 23050 de 23 de Setembro de 1933, o Estado Novo castrou o movimento sindical e submeteu-o aos interesses da Nação302. A directiva de repúdio da luta de classes impôs limites à actividade e ao intercâmbio sindical internacional303.

Da leitura do Relatório e Contas do Exercício de 1956 do Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Cerâmica e Ofícios Correlativos do Distrito do Porto, resulta que existia um bom relacionamento entre os representantes do Grémio dos industriais de cerâmica e os do sindicato304.

Por essa altura, com os limites estabelecidos à actividade sindical, «os sindicatos prestavam assistência aos associados inválidos e sem recursos»305.

Se, em 31 de Dezembro de 1955, o Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Cerâmica e Ofícios Correlativos do Distrito do Porto contava com 2 010 sócios, em 31

301

Jornal de Notícias do Porto, nº 11, 3 de Janeiro de 1911. 302

Refira-se a título meramente estatístico que entre 1919 e 1925 em Portugal se realizaram 146 greves, in Júlia Margarida Coutinho de Azevedo, Dissertação de Mestrado Rumos sindicalistas…, p.21.

303

Idem, ibidem, p.30. 304

Sindicato Nacional dos Operários da Indústria Cerâmica e Ofícios Correlativos do Distrito do Porto, Coord., Relatório e Contas do Exercício de 1956, Porto.

305

de Dezembro de 1956 já só eram 767, sendo que desses apenas 527 eram contribuintes306.