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4.2. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO TRABALHO DOCENTE DO

4.2.2. Condições de trabalho

Todos os docentes entrevistados fizeram algumas ressalvas sobre as condições objetivas de trabalho. Relataram que boa parte destas é assegurada por financiamento dos mesmos ou de projetos junto aos órgãos de fomento:

O professor hoje ele tem acesso a tudo isso se ele for o alocador de recursos [...] por exemplo, eu corri atrás de uma sala para instalar o núcleo de pesquisa, nunca consegui [...] ai quando eu aprovei o projeto junto ao ministério dos

esportes com financiamento de 100 mil reais, ai eles me ofereceram sala, mas na época eu estava no comando de greve e ai o reitor devolveu o dinheiro, foi uma forma de me retaliar enquanto eu estava no movimento de greve [...] e com a desculpa de que houve exiguidade temporal, mas em

nenhum momento eu fui informada de que tinha que fazer as licitações bem antes [...] como eu estava no movimento de greve, nem me toquei disso [...] então eu perdi todo o dinheiro, deixei de montar um laboratório, de dar bolsa pra estudante e muita coisa foi deixada de lado por conta da devolução desse dinheiro. Eu avalio que a universidade não oferece boas condições, a não

ser que você busque, caso você mesmo traga o dinheiro [...] a gente que é das ciências humanas fica muito prejudicado porque a maioria dos editais são para ciências exatas, tecnológicas, e a gente das humanas, até nos editais da CNPq é complicado. Hoje quem tem condições aqui conseguiu

por conta própria, não é política da universidade oferecer condições para todos (Informação verbal)91

[...]existem possibilidades de projetos serem financiados, eu não tenho nenhum [...] o projeto x eu tinha bolsistas, e tinha material para trabalhar, esse projeto eu tinha financiamento. Eu penso que nós na educação, e da própria

área de humanas, nós precisamos correr mais atrás de projetos, de financiamento, se você for entrevistar um professor da área de física, de

química, de medicina, tem gente que tem projetos de milhões de reais, e nós ficamos muito felizes quando conseguimos financiamento de um projeto de 10 mil reais, de 20, de 30 mil reais, então eu acho que a gente precisa ter essa dimensão, de que é necessário a gente elaborar projetos que possa fornecer bolsas para estudantes, eu gosto da ideia de que meu estudante possa ser remunerado, ele trabalhando e sendo remunerado, a remuneração não é grande mas já dá pra ele pagar a xerox, acho que já é uma ajuda, e contribui, mas

acho que a gente tem que pensar maior, e correr atrás de financiamento, conhecer mais esse âmbito, o que fazer para conhecer isso? eu acho que a gente conhece pouco os meio para conseguir, qual o caminho das pedras, eu acho que algo que nós precisamos aprender [...] e a gente precisa de

instrumentos para aulas, de data show, para não ficar para cima e para baixo [...] Data show pessoal, eu comprei um pra mim, logo que ingressei,

porque precisava e não tinha, eu comprei, agora passou a ter um para todos os professores [...] (Informação verbal)92.

Os relatos supracitados trazem também alguns aspectos relevantes para o debate: a recorrente prática da devolução de verbas como uma forma de retaliação política; a naturalização da condição de professor “autofinanciado”, seja pela compra de materiais com recursos próprios, seja pela busca de formas de disputa de editais cada vez mais escassos nas áreas de ciências humanas, fruto das políticas de valorização do desenvolvimento e da inovação tecnológica.

Sobre esse último aspecto, Silva Jr, Ferreira e Kato (2012, p.55) atentam para o fato de que a forte indução a pesquisas, via financiamento e processos avaliativos, criou uma

91 Entrevista concedida por D, Professor(a), Entrevista IV. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (63 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

92 Entrevista concedida por B, Professor(a), Entrevista II. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (83 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

sociabilidade científica brasileira caracterizada pela aceitação, ausência de debate, descompromisso com as pesquisas livres, por novos formatos e modelos de pós-graduação, com o arrocho dos tempos de formação e mudanças no formato dos cursos, com valorização do aspecto técnico em detrimento do epistemológico.

Diante disso, vale também analisar como essa nova sociabilidade se expressa na consciência dos professores. Conforme declaração do (a) professor (a) B (informação verbal93),

apesar de em um primeiro momento buscar suspender a heterogeneidade da vida cotidiana (“[...]Eu penso que nós na educação, e da própria área de humanas, nós precisamos correr mais atrás de projetos, de financiamento[...]”) instaurando-se dentro de uma particularidade, o seu retorno à vida cotidiana esbarra na adaptação ao individualismo imediato, “[...] que ofusca e fetichiza o trabalho docente em razão da racionalidade econômica permeada na universidade pública” (SILVA JR, FERREIRA e KATO, 2012, p. 49).

Encontramos outro aspecto que demonstra essa relação na declaração do(a) professor(a) C (Informação verbal94). Apesar de este reconhecer a escassez de devidas condições estruturais

de trabalho em toda a universidade (suspensão da heterogeneidade da vida cotidiana), avalia que só devem possuir salas os grupos que trazem “lucro” para a universidade (retorno à vida cotidiana, ao individualismo imediato).

Isso demonstra que a superficialidade extensiva impede que o docente aponte alternativas para além dos fenômenos concernentes a cada situação no âmbito de sua singularidade, de modo que despreze as relações entre a ausência de condições objetivas e a falta de “produtividade”:

[...]hoje nós temos meio corredor para cada departamento, isso é um

absurdo, cada departamento deveria ter o seu prédio, as vezes o departamento é uma sala só [...] aqui por exemplo a pós da educação é bastante grande, a gente tem 3 salas, podemos dizer que somos os mais “ricos” daqui [...] espaços físicos para grupos de pesquisa não existe, eu tenho

uma sala para meu grupo de pesquisa, mas foi uma reivindicação minha em 2008, quando eu ganhei uma edital CNPq,[...]é uma briga para ter uma sala de grupo de pesquisa, era preciso que a universidade criasse critérios, um

grupo que traz muita verba para a universidade tem direito a ter, já um grupo que é inativo, que não traz verba, que não traz lucro para a universidade, eu acho que esse grupo não precisa ter sala, [...] (Informação

verbal95)

93 Idem, 2013, p.08-09.

94 Entrevista concedida por C, Professor(a), Entrevista III. [Nov. 2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (63 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

A expressão da alienação do trabalho na figura do professor “empreendedor” é corroborada por Mészáros (2006, p.263-264), pois este aponta que as relações sociais de produção reificadas no capitalismo não se perpetuam de maneira autônoma. Elas só o fazem porque os indivíduos particulares interiorizam as pressões externas, “[...]adotam as perspectivas gerais da sociedade de mercadorias como limites inquestionáveis de suas próprias aspirações”. Alves (2011, p.111) ressalta que o processo de precarização do trabalho no capitalismo global, por meio dos dispositivos organizacionais (e institucionais) do novo complexo de reestruturação produtiva, além de comprometer as condições objetivas de trabalho, provoca a “captura”96 da subjetividade do trabalho pela necessidade de expansão do capital.

Embora trate de questões mais próximas à produção industrial, Alves (2011) destaca elementos que podem ser facilmente identificados no cotidiano e nos discursos dos professores, tais como a extensão da produção e do discurso desta para a totalidade social bem como as cobranças pessoais para produzir cada vez mais. Nesse contexto, vemos que:

O novo modelo produtivo exige uma arquitetura de controle do metabolismo social do capital de novo tipo. Primeiro, pela “reordenação” espaço-temporal, tanto do trabalho quanto da vida social. A “extensão” da produção (e do “discurso” da produção) para a totalidade social e, por outro lado, a “redução” da vida social à lógica da produção do capital são um modo de reordenação espaço-temporal do controle sociometabólico do capital que nasce na fábrica. Segundo, pela intervenção do “inspetor externo” em “inspetor interno” que manipula as instâncias da subjetividade [...] por meio de valores-fetiches (ALVES, 2011, p.118).

Quanto ao financiamento da educação superior por meio da disputa por editais, há divergência entre os professores. Três deles avaliam ser esta a melhor forma de captar recursos para fomentar a pesquisa no âmbito educativo e dois fizeram críticas a essa política. Além disso, três fizeram ressalvas sobre a necessidade de mais editais para a área de humanas, em especial para a educação:

Eu acho que é a saída porque ele é democrático, mas, se bem que o jogo de cartas marcadas é algo bem complicado [...] acho que precisamos ter

mais editais, abrir novas possibilidades para que os financiamentos não se concentrem somente nas áreas das exatas, mas que tenha também para as áreas

96 O termo “captura” aparece entre aspas para salientar “[...] o caráter problemático da operação de captura, ou seja, a captura não ocorre, de fato, como o termo poderia supor. Estamos lidando com um operação de produção de consentimento ou unidade orgânica entre pensamento e ação que não se desenvolve de modo perene, sem resistências e lutas cotidianas. Enfim, o processo de ‘captura’ da subjetividade do trabalho vivo é um processo intrinsicamente contraditório e densamente complexo, que articula mecanismos de coerção/consentimento e da manipulação não apenas no local de trabalho, por meio da administração pelo olhar, mas nas instâncias sociorreprodutivas, com a pletora de valores-fetiche e emulação pelo modo que mobiliza as instâncias de pré- consciência/inconsciência do psiquismo humano” (ALVES, 2011, p. 114, grifo do autor).

das humanas, porque ampliaria mais as nossas possibilidades, mas eu não sou

contra os editais não, acho que é uma forma mais democrática que nós temos de selecionar, vai vencer o projeto mais elaborado, pelo menos eu suponho que seja assim, até onde nos chega, eu penso que estar concorrendo em igualdade de condições com você, com outros

(Informação verbal)97.

[...] Eu particularmente acredito que, pesquisas de cunho social e político,

elas não são muito valorizadas por essa lógica hoje posta pela pós- graduação, de desenvolvimento da ciência e da tecnologia. A gente que

pesquisa os problemas educacionais, isso não tem um [...] lastro muito grande de editais disponíveis [...] você tem um edital do CNPq para educação e as

ciências sociais, e ai a briga com as grandes universidades fica desigual, que possuem pesquisadores nível A no CNPq, e ai como os recursos são poucos ele fica concentrado nos pesquisadores já renomados [...] então, eu

acho que a nossa área nesse aspecto dos editais fica bastante prejudicada (Informação verbal)98.

Tendo em vista os relatos acima, destacamos a falsa ideia de igualdade de condições nas disputas por editais, conforme o (a) professor (a) B. A política de financiamento da pesquisa nessa modalidade além de, em alguns casos, cumprir a lógica da transformação do público em mercantil, na medida em que o subsídio é fomentado por empresas, segue também a política de diferenciação institucional dos programas de pós-graduação stricto sensu. Como identificou o (a) professor (a) D, uma vez que os recursos provenientes das universidades para a pesquisa são escassos, a boa avaliação na pós-graduação consoante a CAPES e a qualificação do docente junto ao CNPq são fundamentais para o estabelecimento de condições objetivas mínimas para o estímulo à pesquisa.

É nesse aspecto que encontramos um impasse. Conforme a última avaliação da CAPES (2010-2013)99, dos 3.337 programas avaliados, apenas 12,2% tiveram uma avaliação excelente

(6 e 7) enquanto 78% obtiveram notas 3 ou 4, notas mínimas para manutenção dos mesmos. Dos 140 centros de excelência avaliados com nota 7, mais de 90% se localizam no eixo Sul- Sudeste e que fatalmente concentram boa parte das verbas para pesquisa. Portanto, o discurso da melhoria do acesso aos recursos para pesquisa por meio de editais oculta uma disputa extremamente desigual. Esse conflito reitera a condição de alienação do professor-pesquisador,

97 Entrevista concedida por B, Professor(a), Entrevista II. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (83 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

98 Entrevista concedida por D, Professor(a), Entrevista IV. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (63 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

99 Dados disponíveis em: http://oglobo.globo.com/educacao/consulte-as-notas-dos-cursos-de-pos-graduacao-do-

sobretudo com relação aos seus pares genéricos, considerados adversários ou concorrentes nesse contexto.

Além desses aspectos, na concepção do ANDES-SN (2013 f), esse modelo tem potencializado, de maneira desigual e desarticulada, as três atividades fins que formam o tripé que mantêm a universidade: ensino, pesquisa e extensão. De fato, conforme visualizamos nos relatos dos professores, apenas um professor informou que realiza tais atividades de maneira articulada. Diante desse quadro, para o ANDES-SN (Idem), a adoção do Padrão Unitário de Qualidade para as Universidades Brasileiras pressupõe assegurar as condições materiais necessárias para a realização do que foi planejado regionalmente, de maneira articulada com os parâmetros e procedimentos aceitos nacional e internacionalmente.

Destacamos também as relações cotidianas dos docentes fora do ambiente de trabalho, pois consideramos que as condições de trabalho (neste caso, subjetivas) também perpassam o tempo para o descanso, convívio familiar ou atividades de lazer, além da necessária organização política. Constatamos, por meio da maioria dos relatos, como fica claro o quanto as políticas de reforma universitária, em especial as concernentes à pós-graduação, ultrapassaram os espaços universitários, de modo que leva os professores a problemas de saúde, afastamento da família, entre outros.

Dos cinco professores, apenas um afirmou ter, regularmente, momentos nos finais de semana para o convívio familiar e com amigos. E outro docente costuma realizar outra atividade profissional (não remunerada, músico) nas horas em que não está desenvolvendo algum trabalho acadêmico:

A única coisa que estou me dando o direito a partir de 2013, é fazer exercício físico, então a noite eu dedico ao exercício físico pelo menos 3 vezes na semana [...] pois um dia na semana eu dou aula e no outro eu me

dou o direito de fazer outras coisas. Para mim é fundamental porque eu

tenho muitas dores nas costas por conta da má postura [...] então quem está muito tempo na frente do computador, fica o dia todo na frente do computador, eu só resisto se tiver fazendo algum exercício físico para a parte da coluna, senão eu não suporto a dor. Na verdade é um investimento necessário, até para me manter na condição de trabalhar no dia

seguinte [...] isso em 2013, antes não tinha esse tempo. Entrevistador: e o convívio familiar como tem sido? Professor(a): Antes até, durante o doutorado e logo depois, eu tive problemas de relacionamento familiar por

conta da dedicação a universidade [...] Eu passei quatro anos fora, depois

me envolvi na universidade em vários projetos, no sindicato, e acabou que eu adoeci [...] Então, depois disso eu dei uma avaliada nesse processo e vi que não era o melhor caminho que deveria seguir [...] por que isso? Porque em

muitos momentos, em meio essa dedicação quase que exclusiva à universidade, eu deixei de acompanhar o desenvolvimento do meu filho, deixei de lado a convivência com meu companheiro(a) e me trouxe

também alguns problemas, [...] então, quando eu fiquei doente eu tive a

nítida sensação de que eu estava sozinho(a) e quem estava perto de mim naquele momento era minha família [...] eu vi que as relação na universidade elas se estabelecem enquanto você é útil, quando você cai doente, não é mais útil na universidade, você perde o valor, e nem lembrada é [...] (informação verbal)100.

Academia de ginástica não [...] de vez em quando eu caminho, gosto de ir ao teatro [...] cinema eu assisto em casa, depois de ficar uma semana inteira envolvido com isso (trabalho) um dos lazeres é que eu gosto de sair para jantar ou almoçar com minha filhas, ir à praia, visitar minha família que não mora aqui, mora no interior, visitar a minha mãe [...] atividades mais esporádicas como um aniversário de alguém conhecido. A frequência depende muito das demandas, por exemplo no sábado ou no domingo, ai eu posso transferir as demandas do sábado para o domingo, e vice-versa. Entrevistador: Qual foi a última vez que você teve alguma atividade de lazer? Professor(a): vou fazer agora na sexta, uma apresentação de balé de uma das minhas filhas, [...] a

última vez que sair com elas foi[...], nossa, agora você me pegou [...] eu fui no máximo para o mercadinho (informação verbal)101.

A declaração do (a) professor (a) D (informação verbal)102, quanto a praticar ginástica

com o intuito de reunir condições físicas para se manter trabalhando, (em suas palavras “é um investimento necessário”) constitui-se como uma das formas de manifestação do que Antunes (2009, p.176) chama de sistema de metabolismo social do capital, no qual o trabalho alienado se apropria do tempo fora do trabalho como um tempo de consumo para o capital.

Dessa forma, a imediaticidade e a superficialidade extensiva que adentram nas relações de trabalho fazem com que o professor seja impelido a utilizar os finais de semana, as madrugadas e as férias, para que cumpra com suas demandas e recomponha-se fisicamente para retornar ao trabalho. Muitas vezes, não há consciência das relações que vinculam essa condição à precarização e intensificação de seu trabalho:

Entrevistador: Qual foi a última vez que você teve alguma atividade de lazer? Professor(a): vou fazer agora na sexta, uma apresentação de balé de uma das minhas filhas, [...] a última vez que sair com elas foi [...], nossa, agora você me pegou [...] eu fui no máximo para o mercadinho (informação verbal)103 professor (a) B.

100 Entrevista concedida por D, Professor(a), Entrevista IV. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (63 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

101 Entrevista concedida por B, Professor(a), Entrevista II. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (83 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

102 Idem, 2013, p.09.

103 Entrevista concedida por B, Professor(a), Entrevista II. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (83 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação

Por conseguinte, os efeitos são devastadores no que refere à afetividade e à saúde dos professores (“[...] eu tive problemas de relacionamento familiar por conta da dedicação a universidade”, professor (a) D, informação verbal104). Além disso, essas implicações possuem

íntima relação com os aspectos cognitivos (nesse caso, com a produção do conhecimento científico) como nos sinaliza a Teoria Histórico-Cultural.

4.2.3. Carreira docente

Sobre a satisfação pessoal dos professores com a carreira profissional, encontramos outra relevante contradição. Todos os professores entrevistados alegaram que estão realizados com a profissão que escolheram, contudo fizeram ressalvas negativas quanto ao ritmo e à sobrecarga de trabalho, o que tem tirado o prazer deste.

Sobre este fenômeno, para Sguissardi e Silva Jr (2009, p.184), por um lado, há quase unanimidade na avaliação do processo de deterioração das condições de trabalho e da pressão exercida pelas demandas da pós-graduação em que as relações competitivas e a busca por alternativas não são veladas. Por outro lado, parece estranho ao observador externo que se mantenha certa fidelidade a uma carreira com sinais reveladores de profunda crise. Ascende sobre essa contradição a necessidade do compromisso político:

Quando se fala na carreira temos um mundo para discutir [...] a primeira coisa

é a formação e o reconhecimento e valorização sobre essa formação

[...]ainda existe na sociedade um imaginário que reconhece muito a universidade como um espaço que tem um status, mas na prática, no cotidiano, os professores, muitos ainda continuam pensando que tem um grande status, por conta desse imaginário que está fora, e incorpora, mas isso não é algo que me toca, por exemplo, ser professor hoje é uma função extremamente

prazerosa pra mim, porque trabalha com a formação humana, mas é muito difícil ser professor para quem de fato gosta de ser professor, tem que cumprir as funções de ser professor [...] então do ponto de vista da carreira a gente não tem as condições de trabalho, a gente não tem a valorização que é o um salário digno e justo para o tempo que deveria ser dedicado ao trabalho e eu também não concordo com a política

compensatória que os governos vem criando com a política de bolsas para os professores produzirem [...] eu acho que o professores deveriam ter o salário e produzir com as devidas condições de trabalho[...] então a carreira docente

da rede federal de educação superior ela tem sido negligenciada [...] o

nosso piso salarial ele é baixo e isso interfere diretamente na autoestima das pessoas, no modo de ver a educação, no modo de se relacionar com os estudantes, então do ponto de vista da carreira agente tem muitas perdas [...]

104 Entrevista concedida por D, Professor(a), Entrevista IV. [Dez.2013]. Entrevistador: João Paulo Dória de Santana, São Cristóvão. 1 arquivo. Mp3 (63 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A