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ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: A DIALÉTICA ENTRE

Conforme apontamos no segmento anterior, no capitalismo monopolista, o desenvolvimento da educação entra em contradição com as exigências do sistema. À medida que as forças produtivas atingem um nível maior de complexidade, maior é a necessidade de mão de obra qualificada numa perspectiva técnica com objetivo de ter o domínio das novas tecnologias e sobretudo numa perspectiva ideológica e política.

No que se refere ao processo de expansão da ciência e tecnologia como força produtiva, ideológica e política (SOBRAL, 1986, p.287), é importante fazer um recorte histórico, a fim de estabelecer nexos com a conjuntura econômico-política mundial. Entre as décadas de 60 e 80 do século XX, é implementada uma série de políticas a nível mundial, nos períodos entre a fase de ouro do capitalismo monopolista e sua posterior crise, após década de 70, com a finalidade de reestruturar a produção e a função do Estado, sobretudo no que se refere à relação público\privado.

Segundo Sguissardi e Silva Jr (2009, p. 255-256), após a Segunda Guerra Mundial, alguns traços eram marcantes na sociedade estadunidense, como a grande expansão econômica, a supervalorização do conhecimento científico, agora aplicado à produção de mercadorias, sobretudo eletrônicos para o lar (até então eram mais voltados para os esforços da guerra) e o clima de esperança de um mundo melhor por conta do cenário pós-guerra.

A função do Estado, por sua vez, foi ampliada, conforme a necessidade do controle social sobre o capital. O chamado Estado–providência tinha como base o estabelecimento de ações político-econômicas de caráter anticíclico que, segundo Minto (2006, p.64), inspiradas

na teoria Keynesiana32, estavam destinadas a conter as forças desestruturantes do capital após

as décadas de “liberdade” econômica e de grandes incertezas que marcaram o intervalo entre as duas grandes guerras. O produto histórico dessa nova forma de intervenção do Estado ficou conhecido como Estado de bem-estar social (ou Welfare State), que:

[...] traduziu um determinado grau de compromisso entre estado, empresas e sindicatos de trabalhadores que, numa fase de crescimento da economia, assegurou um relativo equilíbrio social e impulsionou significativamente o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, cujo resultado se materializou num avanço tecnológico de tal proporção que deu origem a uma “nova revolução industrial”: a revolução microeletrônica, também denominada “revolução da informática” ou “revolução da automação” (SAVIANI, 2002, p.21)

Consoante Minto (2006, p.64-65), o Estado de bem-estar social se organizava de um lado, pela grande alocação de recursos públicos, de maneiradireta ou indireta, a fim de garantir a reprodução do capital, incluindo investimentos na ciência e tecnologia, além de subsídios direcionados à produção. Por outro lado, criava-se uma espécie de “salário indireto” por meio de políticas de assistência social, tais como acesso à medicina socializada, à educação pública universal e gratuita, à previdência social, o qual financiava parte da reprodução da força de trabalho.

Essa prática caracteriza a socialdemocracia do século XX, uma vez que corresponde à lógica de tornar “público” ou tornar mais nítidas as diferenças entre o público e o privado, mesmo que os produtos detais políticas pudessem beneficiara burguesia e o capital. A exemplo disso, temos o aumento da produtividadedo trabalho por meio da instrução dos trabalhadores. Todavia, o objetivo não se alinhavade maneira imediataà produção de lucro.

Apesar do grande desenvolvimento econômico e estabelecimento mínimo de condições objetivas de vida para os trabalhadores no período pós-guerra, em parte pelas políticas sociais, criou-se uma mistificação no que se refere ao Estado Keynesiano interventor, haja vista o caráter indômito do sistema do capital. O Estado, nessa perspectiva, gozava de relativa autonomia perante a sociedade, pois o “capital chegou a dominância no reino da produção material paralelamente aos desenvolvimentos das práticas políticas totalizadoras”

32A partir da crise de 1929, segundo Saviani (2002, p.19 - 20) Keynes dedicou-se a elaborar a concepção no qual o Estado tem importância central no planejamento racional das atividades econômicas. Sua pretensão era reformar o capitalismo antes que ele se esgotasse por completo. Keynes se apropriou do pensamento Marxiano de que o capitalismo possui crises cíclicas, contudo, ao invés de apontar formas de superação do capitalismo, buscou mecanismos que se não evitassem as crises, pelo menos mantivessem em controle. Acreditava-se que com boas políticas governamentais seria possível contornar a crises, garantir o pleno emprego e o crescimento contínuo, se não para sempre, pelo menos por longos períodos.

(MÉSZÁROS, 201, p.107) que lhe dão forma. Contudo, o poder público aqui visa manter o status quo do modo de produção capitalista por mais que algumas políticas, de maneira formal, busquem a conciliação de classes.

Nesse contexto, a ciência e seus produtores eram vistos como importantes atores e instrumentos para alcançar os objetivos daquele novo projeto de sociedade, em que o mal havia sido destruído, as ideologias haviam se esgotado e o avanço se daria por meio de consensos. Esse pensamento impulsionou várias mudanças nos campos acadêmicos e profissionais, conforme apontam Sguissardi e Silva Jr (2009, p.257), dentre elas, a reforma universitária tendo em vista a possibilidade de orientar e instituir os saberes escolarizados nos outros níveis de ensinoatravés da configuração de disciplinase currículo.Além disso, tal reforma possibilitaria manipular o campo profissional, a fim de alterar o processo de politização para provocar mudanças nas estruturassociais.

Há, nesse período, a chamada profissionalização da ciência (neutra e rigorosa) que muda a identidade das instituições universitárias nos Estados Unidos, com maior aproximação entre a política e a economia, visando à formação de um novo ser inserido em uma sociabilidade produtiva. Nesse contexto, vale ressaltar o apelo à autoridade da ciência com sua “incontestável” objetividade e pretenciosa neutralidade, o qual é utilizado numa perspectiva de legitimação de medidas e ações de cunho político e, sobretudo, produtivo. Por conseguinte, Mészáros (2012, p.246) chama a atenção para o fato de que a ciência, como um produto constituído historicamente, pode assumir funções diferentes nas confrontações intelectuais e ideológicas conforme os contextos sociais em mudança.

Nessa perspectiva, a ciência contribuiu imensamente para a vitória do movimento iluminista nos confrontos ideológicos e posteriormente no desenvolvimento das forças produtivas na Revolução Industrial. Esse fato se constituiu como um salto qualitativo fundamental para a humanidade:

A interferência obscurantista anterior ao triunfo do iluminismo não era apenas imaginação de algumas pessoas, mas um freio muito real aos desenvolvimentos produtivos, e “deixar que a razão seguisse seu próprio curso” era algo demonstravelmente capaz de provocar importantes progressos neste aspecto. Ao mesmo tempo, os problemas e contradições da ordem social estabelecida, com suas evidentes desigualdades, podiam ser apresentados pela primeira vez na história como fenômenos estritamente transitórios, que o avanço do conhecimento científico e sua aplicação sistemática à produção acabariam superando, tão certo quanto o dia segue a noite (MÉSZÁROS, 2012, p.246).

assumindo uma posição acrítica frente ao avanço da divisão capitalista do trabalho e a ciência é utilizada para justificar que os efeitos nocivos do trabalho eram fenômenos marginais que seriam eliminados após a consolidação do capitalismo. Assim, segundo Mészáros (2012, p.246- 247), a esperança falaciosa da eliminação da miséria e das desigualdades sociais estruturais, por meio da expansão quantitativa da produção, realizada de maneira inquestionável e fluida, devido aos avanços da ciência e da tecnologia, remonta uma fase anterior da prática capitalista de legitimação ideológica.

O uso da ciência numa perspectiva de potencializar o trabalho produtivo gerou uma série de formulações teóricas, sobretudo no campo da educação e treinamento de trabalhadores. Uma delas, a teoria do capital humano, originou-se na conjuntura do grande desenvolvimento capitalista norte americano (a chamada “era de ouro”). Para prosseguirmos na análise da relação trabalho e educação sob a ótica da teoria supracitada, precisaremos compreendê-la em suas variadas manifestações sobretudo no que se refere à concepção de ciência e de desenvolvimento que lhe fundamentam.

Do ponto de vista macroeconômico, consoante Frigotto (2010 a, p.49), a doutrina do capital humano constitui-se a partir do desdobramento da teoria neoclássica. De acordo com esta, para um país de estágio tradicional ou pré-capitalista perder esse estatuto, é essencial existir o aumento das taxas de acumulação a médio prazo, pela ampliação necessária da desigualdade e, a longo prazo, com o crescimento da economia, promover uma redistribuição (chamada teoria do bolo, fazê-lo crescer para posteriormente dividir).

Dessa forma, o avanço econômico determina níveis mínimos de desemprego, ampliação da produtividade e aumento de renda. Nesse sentido, a teoria em foco se preocupa especificamente em estabelecer os nexos entre os progressos educacionais e a evolução econômica de um país. A educação, por sua vez, nesta perspectiva, é concebida como produtora de capacidade de trabalho:

O processo educativo, escolar ou não, é reduzido à função de produzir um conjunto de habilidades intelectuais, desenvolvimento de determinadas atitudes, transmissão de um determinado volume de conhecimentos que funcionam como geradores de capacidade de trabalho e, consequentemente, de produção. De acordo com a especificidade e complexidade da ocupação, a natureza e o volume dessas habilidades deverão variar. A educação passa, então, a constituir-se num dos fatores fundamentais para explicar economicamente as diferenças de capacidade de trabalho e, consequentemente, as diferenças de produtividade e renda.(FRIGOTTO, 2010 a,p.51).

justificativa das diferenças individuais de produtividade e de renda e, por consequência, de mobilidade social. Assim, conforme Frigotto (2010 a, p.53), o resíduo de crescimento econômico, que não é explicado pelos fatores “A” (nível de tecnologia), “K” (insumos de capital) e “L” (insumos de mão de obra), seria atribuído ao fator “H”, investimentos em recursos humanos, qualificação da mão de obra por meio da educação e treinamento. Diante disso, acredita-se que um acréscimo marginal de escolaridade corresponde também a um de produtividade.

Por se constituir a partir da postura epistemológica positivista33, a teoria do capital

humano se fundamenta em métodos empíricos e exposição estatística de forma acrítica de dados sobre níveis de instrução e trabalho. Contudo, os formuladores da teoria supramencionada deixaram de considerar que a relação entre instrução e mundo do trabalho não acontece de maneira linear, mas sim por mediações. Nessa conjuntura, convém ressaltar que, diante do avanço do desemprego estrutural e da flexibilização da atividade laboral, o alongamento da escolarizaçãoaparece muitas vezes como uma alternativa, sobretudo entre jovens34.

No que concerne a problemas escolares, tais como evasão, repetência, atraso e baixo rendimento, segundo Frigotto (2010 a, p.61), as análises variadas, com complexa sofisticação estatística, chegam sempre à conclusão de que o fator econômico possui maior peso e, logo em seguida, os fatores ligados a educação dos pais, pouco importando a condição de classe do indivíduo. Tais aspectos reafirmam o caráter circular dessas análises, ou seja:

[...] a escolarização é posta como determinante de renda, de ganhos futuros, de mobilidade, de equalização social pela equalização das oportunidades educacionais [...] e o acesso à escola, a permanência nela e o desempenho, em qualquer nível, são explicados fundamentalmente pela renda e outros indicadores que descrevem a situação econômica familiar (FRIGOTTO, 2010 a, p.62-63).

33 Em termos conceituais, segundo Arana (2007, p.5-6) o que é positivo possui dois sentidos: está associada a ideia de algo que é dado, o que é franqueado ao conhecimento, o que está efetivamente ao alcance do homem conhecer. O segundo sentido de positivo se refere a, pelo seu modo de presença na relação do conhecimento (por ser dado), não pode ser desconsiderado. Neste sentido, o positivo de um objeto é o que se tem minimamente determinado ao seu respeito, um ponto de ancoragem. Esses dois sentidos de positivo são gerais, não são específicos a filosofia positiva, enquanto corrente filosófica, que se alinha mais a um terceiro sentido, mais particular: “o positivo diz-se o dado empírico; diz-se tudo o que se expõe, tudo o que se impõe... empiricamente (experiência sensível) (p.6)”. 34 Segundo estudo desenvolvido por Mattos (2011, p.26-31), no qual procurou estabelecer um perfil dos estudantes de cursos de mestrado oferecido pela UFSC, de uma amostra de 117 alunos, 80% possuía até 30 anos, 54% não trabalham, destes, 14% disseram que nunca trabalharam, 26% afirmaram estar desempregado em até um ano e 6 % afirmaram estar desempregado a 5 anos ou mais. Para a autora, o alongamento dos estudos para os mestrandos que nunca trabalharam ou estão desempregados em até um ano, o retorno à universidade caracteriza uma forma de adiar o ingresso no exercício da profissão. Em contrapartida, para os 46% que afirmaram que estão trabalhando, a educação continuada parece ser a melhor alternativa para a manutenção de seus postos de trabalho, apesar de, na prática, não ser garantia de permanência, mas sim da precarização de seu trabalho por meio da extração da mais- valia relativa e absoluta, devido ao alongamento da jornada de trabalho e de estudo, além da intensificação do trabalho, na medida em que estes trabalhadores-estudantes procuram conciliar o trabalho e o estudo.

A perspectiva de desenvolvimento econômico centrado na teoria do capital humano começa a dar sinais de esgotamento ainda no século XX, apesar de ainda estar presente na maioria das políticas públicas atuais. No início dos anos de 1970, ocorre desmoronamento da gloriosa “era de ouro” do capitalismo Norte Americano. Para Antunes (2009, p.31), os motivos principais foram: 1) A queda da taxa de lucro devido ao aumento do preço da força de trabalho; 2)esgotamento do modelo taylor/fordista35 de produção dada a incapacidade de este responder

a retração do consumo, em resposta ao aumento nas taxas de desemprego; 3) grande hipertrofia da esfera financeira; 4) maior concentração de capitais por conta de fusões entre empresas monopolista e oligopolista; 5) o fracasso do Welfare State, que acarretou a crise fiscal do Estado capitalista, trazendo a necessidade de cortes em gastos públicos e transferência para o capital privado; 6)desregulamentação e flexibilização do trabalho, privatizações.

Quanto a outros fatores que levaram à quebra da “Era de Ouro” da economia Norte Americana, temos o padrão de acumulação do Estado de bem-estar social que, segundo Mészáros (2003, p.96), está inserido na lógica “stop-go” do capital. Mesmo em seu período de maior desenvolvimento, o Estado de bem-estar social nada mais representou do que a fase “go” de um ciclo de expansão que inevitavelmente chegaria ao fim, sendo substituída pela etapa “stop”. A teoria keynesiana tentou apontar uma alternativa à lógica “stop-go” por meio de um equilíbrio administrativo entre as duas fases, entretanto não foi capaz de controlá-la. Assim, continuou presa à fase “go” devido à própria natureza da estrutura capitalista reguladora orientada pelo Estado.

Dessa forma, a lógica de Estado interventor na “Era de ouro” funcionou na medida em que foi possível firmar o desenvolvimento da economia com a capacidade de gerar empregos e aumento de salários. No entanto, a chegada da crise trouxe à tona os seus limites, sobretudo no que se refere à ineficiência para garantir os direitos dos trabalhadores, haja vista o aumento da miséria e do desemprego. Apesar do acirramento das condições de controle por parte do Estado, os limites de intervenção ainda não apareciam de maneira clara para aqueles que ocupavam os principais cargos políticos, seja na maioria dos países capitalistas desenvolvidos seja nos menos desenvolvidos.

Segundo Minto (2006, p.71), a falta de percepção do esgotamento do Estado de bem- estar social fez com que algumas nações continuassem a adotar suas fórmulas econômicas

35 Segundo Antunes (2009, p.38-39), o binômio taylorismo / fordismo vigorou na grande indústria por quase todo o século XX, a partir da segunda década, baseando-se na produção em massa de mercadorias, estruturada a partir da uma produção mais homogenia e verticalizada. Outra marca desse sistema produtivo era a extrema racionalização das operações realizadas pelos trabalhadores, no sentido de combater o desperdício na produção, com a redução do tempo e aumento do ritmo de trabalho.

durante quase duas décadas, como exemplo os países de terceiro mundo (dentre elas, o Brasil). Isso resultou numa expansão das dívidas externas, o que levou a aceitação, quase incontestavelmente, das políticas e diretrizes de ajuste econômico, fomentadas por grandes organismos internacionais.

O contexto do esgotamento da capacidade do Estado em gerenciar a economia, criou as condições necessárias para que as ideias dos teóricos ultraliberais ganhassem espaço Dentre eles destacou-se o austríaco Friedrich August Von Hayek, um dos grandes expoentes do pensamento neoliberal, queapontava formas de controle das crises cíclicas e defendia de forma radical a não participação do Estado na economia, diferentemente de Keynes. Por conta da conjuntura, no qual os Estados Unidos passava por um grande crescimento econômico sobretudo pelo papel do Estado no pós-guerra, foi dado mais razão a Keynes.

Contudo, com a crise da década de 70, as ideias de Hayek voltaram a ganhar destaque. Nessa perspectiva, convém reiterar que, tanto em Keynes quanto em Hayek, a ação de organismos internacionais na administração econômica mundial é extremamente presente. No primeiro caso, tivemos a organização de cooperação e desenvolvimento da economia e no segundo, a comissão trilateral que foi sucedida pelo Banco Mundial e FMI (Saviani, 2002, p.20).

Em pouco tempo, a ideologia ultraliberal adquiriu status hegemônico no que se refere à receita burguesa de política econômica. Consoante Minto (2006, p.79-80), no final da década de 1970, com a Inglaterra de Margareth Thatcher e no início dos anos 80 com Ronald Reagen nos Estados Unidos; a ofensiva liberal (ou neoliberal36) tornou-se a tônica das políticas do governo nacional, tendo como o principal alvo dos ataques a ação do Estado mal administrado, ineficiente e que gastava demais.

Surgiu a necessidade de promover reformas do aparelho do Estado por todo o mundo com objetivo de revitalizar as economias dos países desenvolvidos. Fica evidente, na leitura dos apologistas do neoliberalismo, que o problema reside na incapacidade de o Estado acompanhar a globalização, e, em seu caráter público, ou seja, seria um problema de cunho administrativo, não um problema econômico ou da própria natureza do capitalismo.

Das últimas décadas do século XX até os dias atuais, tem sido formulada uma alternativa para contornar a crise econômica e a ampliação das desigualdades sociais sem, contudo, abrir

36Segundo Antunes (2008, p.23-24) esse período ficou marcado pelo grande avanço tecnológico, no qual a automação, a robótica e a microeletrônica invadiram o campo fabril, inserindo-se nas relações de trabalho e produção do capital, surgindo também a descentralização produtiva, flexibilização das funções na produção. Neste momento, o chamado toyotismomescla-se ou substitui o padrão produtivo fordista, exigindo nesse período de transição, uma série de medidas que resultaram na perda de direitos trabalhistas no mundo do trabalho.

mão do poder da classe burguesa, por meio de um processo de construção ideológica que busca reafirmar uma possibilidade de “humanizar” o capitalismo, a chamada Terceira Via37. Para

Lima (2007, p.58), a Terceira Via surge como uma espécie de social-liberalismo que mantém algumas premissas do liberalismo aliadas às políticas da socialdemocracia.

O argumento da incapacidade do Estado interventor foi a justificativa de uma série de políticas em todo o mundo, sobretudo na América Latina, um dos principais lócus de intervenção dos Estados Unidos. Foram formulados eixos e diretrizes sob uma determinada concepção de desenvolvimento/crescimento entre os grandes organismos internacionais38, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), BIRD/Banco Mundial, líderes e economistas dos países centrais (e periféricos), sendo esta a única maneira válida para superar o déficit e estabilizar as economias.

A síntese desses eixos e diretrizes ficou conhecida como o Consenso de Washington que, segundo Soares (apud Sguissardi e Silva Jr, 1999, p.26), assim se traduziam: 1) equilíbrio orçamentário, sobretudo mediante corte de gastos públicos; 2) abertura comercial por meio de redução de tarifas de importação; 3) liberalização financeira a partir da reformulação das normas que restringiam o ingresso do capital estrangeiro; 4) desregulamentação dos mercados domésticos pela eliminação dos instrumentos de intervenção do Estado; 5) privatização de empresas e dos serviços públicos.

A necessidade de dinamização do padrão acumulativo trouxe também um aumento na

37A Terceira Via busca estabelecer um meio termo entre o liberalismo e o socialismo, de modo que, apesar de em seu discurso defender o fim das desigualdades sociais, não busca romper de maneira radical com capitalismo. Parte basicamente de três pressupostos, mais alinhados ao liberalismo: 1) parte de uma concepção individualista dos indivíduos, abstraindo o homem de suas condições históricas, atomizando-o e negando-o enquanto um ser social; 2) naturalização do capitalismo, na medida em que não é colocado como horizonte histórico outro projeto de sociedade; 3) Utiliza a crise do socialismo real para argumentar o fim do socialismo e da possibilidade de transição para outro modo de sociabilidade; 4) recupera o discurso neoliberal de crítica ao Estado de bem-estar social: “os