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Condicionantes dos escorregamentos

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 AVALIAÇÃO DE RISCO A ESCORREGAMENTO DE TERRA

2.3.1 Condicionantes dos escorregamentos

Os movimentos de massa que atuam no relevo das encostas englobam uma grande variedade de tipos de movimentos de solos, rochas ou detritos. As complexas interações entre os fatores condicionantes e as intervenções antrópicas interferem nas condições de equilíbrio das encostas. Os movimentos de massa podem ocorrer de diversas formas, gerados pela ação da gravidade, em terrenos inclinados, tendo como fator deflagrador principal a infiltração de água, principalmente das chuvas. Estes movimentos podem ser induzidos, quando gerados pelas atividades humanas que modificam as condições naturais para adaptação às suas necessidades de ocupação.

Nos últimos anos, com a ocorrência de tantos desastres no Brasil envolvendo escorregamentos, torna-se urgente a tentativa de previsão dos fenômenos que envolvem a instabilidade das encostas. Neste contexto, é importante o conhecimento dos condicionantes que atuam nos mecanismos que podem desencadear os movimentos de massa. Observa-se ainda condicionantes naturais, que são as características inerentes ao maciço natural, a cobertura vegetal, a ação das águas pluviais, além dos processos de alteração da rocha e de erosão do material alterado.

Os assentamentos precários possuem características de ocupação que interferem nos relevos gerando situações de instabilidade na maioria dos casos. Na tabela 7 é apresentado um conjunto de condicionantes que contribuem para a ocorrência de escorregamentos e erosão (Ministério das Cidades, 2006).

Tabelas 7 – Condicionantes para a ocorrência de escorregamentos e erosão (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006)

ESCORREGAMENTOS E EROSÃO

CONDICIONANTES NATURAIS CONDICIONANTES ANTRÓPICOS Características dos solos e rochas Adensamento da ocupação

Relevo (inclinação, forma e

amplitude da encosta) Cortes e aterros

Vegetação Desmatamento / cultivo inadequado

Clima Lançamento de lixo e entulho

Nível d’água Vazamentos de tubulação / lançamento de águas servidas na superfície / fossas sanitárias

A figura 4 apresenta de forma esquemática a classificação dos condicionantes naturais, proposta por Guidicini e Nieble (1976).

Figura 4 – Condicionantes Naturais dos escorregamentos de Terra (GUIDICINI; NIEBLE, 1976)

Na figura 5 são apresentados exemplos de condicionantes antrópicos que podem atuar nas áreas de intensa ocupação.

CONDICIONANTES NATURAIS AGENTES PREDISPONENTES COMPLEXO GEOLÓGICO- GEOMORFOLÓGICO: Comportamento das Rochas e

solos ao intemperismo COMPLEXO HIDROLÓGICO- CLIMÁTICO: Intemperismo físico- químico e químico AGENTES EFETIVOS PREPARATÓRIOS: Pluviosidade, erosão por

água e vento, variação de temperatura e umidade, etc. IMEDIATOS: Chuva intensa, vibrações, ação do homem, erosão, terremotos, ondas, vento, etc.

Figura 5 – Exemplos de Condicionantes Antrópicos dos escorregamentos de Terra Fonte: o autor

Quanto aos condicionantes antrópicos, são vários os elementos que podem influenciar nas condições naturais das encostas, atuando na deflagração dos escorregamentos de terra. A interferência da urbanização ocorre de várias formas e agravam as situações de instabilidade das encostas por meio de atividades humanas inerentes à ocupação dos espaços urbanos.

Augusto Filho e Virgili (1998), com relação aos escorregamentos e processos correlatos na dinâmica ambiental brasileira, consideram que os principais condicionantes são os seguintes:

• características climáticas: destaque para o índice pluviométrico;

• características e distribuição dos materiais que compõem o substrato das encostas/taludes, abrangendo rochas, depósitos e estruturas geológicas; CONDICIONANTES ANTRÓPICOS Remoção da cobertura vegetal Lançamento e concentração de águas pluviais e/ou servidas Vazamento na rede de água e esgoto Presença de fossas Execução de cortes com alturas e inclinações inadequados Execução deficiente de aterros Execução de aterros lançados Lançamento de lixos nas encostas Retirada de proteção superficial

• características geomorfológicas, com destaque para inclinação, amplitude e forma do perfil das encostas;

• regime de águas de superfície e subsuperfície;

• características de uso e ocupação, incluindo cobertura vegetal e as diferentes formas de intervenção antrópica das encostas, como cortes, aterros, concentração de água pluvial e servida, etc.

Geralmente os escorregamentos não ocorrem em conseqüência de somente um tipo de condicionante. É importante que se faça uma análise criteriosa, identificando os fatores responsáveis por um processo de escorregamento, para que sejam adotadas as medidas corretas na correção ou prevenção, visando garantir a melhor solução do ponto de vista técnico e econômico.

Um relevante aspecto a ser observado é a interferência do índice pluviométrico na ocorrência de escorregamentos. Este cenário, tão comum nas cidades brasileiras, tem se agravado nos últimos anos principalmente nos períodos mais chuvosos, situação em que se intensificam os acontecimentos envolvendo acidentes desta natureza.

A análise do histórico de correlação do índice pluviométrico e o número de acidentes pode ser um parâmetro contribuinte na determinação de sistemas de alerta, principalmente como complemento de informações do mapeamento, tornando-o mais eficiente no que se refere à remoção de pessoas de áreas consideradas de maior risco.

A distribuição de chuvas no território brasileiro ocorre de forma irregular, apresentando diferenças consideráveis dentro do território brasileiro A variabilidade climática atual, com tendência para o aquecimento global, está associada a um aumento de extremos climáticos (TOMINAGA et al, 2009). Segundo Infanti Jr e Fornasari Filho (1998), a saturação do solo provocada por chuvas de grande intensidade, precedidas por período chuvoso anterior, determina eventos erosivos de grande velocidade de propagação, nos locais onde o regime de escoamento das águas é concentrado, com altos valores de vazão. Quando o alto índice pluviométrico se alia à interferência da ocupação humana nos relevos, ocorre o agravamento das conseqüências nas encostas já desequilibradas pela inadequação das condições de corte e aterro executados sem critério técnico adequado.

Guidicini e Nieble (1976) observam que o “agente água pode influir na estabilidade de uma determinada massa de material das mais diversas formas”. A

ação das águas de chuva é um dos agentes predisponentes, definido pelos autores como complexo climático hidrológico. Atuando como um dos condicionantes do processo de escorregamento de terra, o índice pluviométrico pode ser monitorado e a utilização de resultados numéricos poderá auxiliar no aprimoramento das informações dos mapeamentos de risco de escorregamentos de terra.

É importante salientar que o índice pluviométrico é apenas um dos condicionantes causadores dos escorregamentos de terra em área urbana. A interferência da ação humana nas encostas ocupadas de forma inadequada, produto de uma urbanização desordenada e sem planejamento, aliada a construções de baixo padrão construtivo e localizadas em platôs de corte e aterro executados com pouco ou nenhum acompanhamento técnico, podem ser considerados como alguns dos principais responsáveis.

No documento janezeteaparecidapurgatomarques (páginas 52-56)