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2 O CICLO DE INVESTIMENTOS RECENTE NA INDÚSTRIA

2.2 Os determinantes básicos e as principais características do ciclo de

2.2.1 Condicionantes macroeconômicos

A retomada do setor automobilístico a partir de 2004 foi impulsionada pelo aquecimento da demanda interna do setor, que por sua vez resultou do aumento do nível de renda nacional, da massa salarial, ampliação da concessão de crédito e expansão do prazo de pagamento; e também da redução do custo do credito, em razão da redução da taxa de juros básica no país (para o caso de veículos leves).

O segmento de pesados, que é um segmento pró-cíclico, tem os determinantes da demanda diferentes dos veículos leves. Os caminhões e ônibus sendo bens de capital estão sujeitos a demanda determinada por opções de investimentos; assim não dependem diretamente da renda e da massa salarial. A demanda de ônibus é também influenciada por políticas públicas, como transporte coletivo, segurança veicular e meio ambiente, por exemplo, (Carvalho e Pinho, 2009). Além de que para o caso brasileiro as exportações desse segmento influem bastante no nível de produção de veículos pesados, e influi ainda mais nas exportações de ônibus do que de caminhões.

A partir da crise financeira mundial em 2008 o Brasil também sofreu com a retração econômica da renda. No entanto, a queda dos investimentos só veio a ocorrer a partir de 2009, recuperando-se já nos primeiros meses de 2010. Assim foi mantido, mesmo no período de retração da renda, um razoável aumento nas vendas internas, para o caso dos autoveículos22.

Se observarmos os dados de renda nacional, o reflexo geral da crise no Brasil foi já visível no último trimestre de 2008. Para o quarto trimestre deste ano houve uma redução do PIB de 3,4%, em relação ao trimestre anterior. Mas o ano de 2010 já demonstra recuperação do PIB brasileiro. Se compararmos o segundo trimestre de 2010 em relação ao segundo trimestre de 2009, temos um crescimento de 8,81%. E se compararmos o segundo trimestre de 2009 com mesmo trimestre de 2008, verificamos o período de crescimento negativo de -1,83% do PIB. E ao compararmos o segundo trimestre de 2008 em relação ao mesmo período de 2007, verifica-se um crescimento anterior a crise financeira mundial de 6,47%23. Para o faturamento do setor produtivo brasileiro e em especial o PIB da indústria brasileira, tem uma melhora dos efeitos da crise já a partir do segundo semestre de 2009.

O rendimento médio real efetivo das pessoas ocupadas foi de R$ 1407,19 em maio de 2010, segundo dados do IBGE. Para o mesmo mês no ano de 2009, esse rendimento foi de R$ 1365,48, ou seja, o nível rendimento médio teve um aumento de quase 3%. E se compararmos o mês de Maio de 2009 em relação ao mesmo mês em 2008, o aumento médio foi de 2,5%.

O Prazo médio das operações de crédito com recursos livres referenciais para taxa de juros (pré-fixada) na aquisição de veículos - Pessoa física - em números de dias teve um aumento significativo no período de 2004 a 2010. O prazo médio de operações de crédito para a aquisição de veículos no ano de 2004 era de 465 dias, e em 2010 esse prazo médio aumentou para 575 dias, tendo um aumento relativo de quase 24%. Isso significa que a quantidade de meses de financiamento foi prolongada. Durante esse período, o pico no prazo médio de pagamento foi em janeiro de 2010, quando chegou a ser de 617 dias, mas voltou a baixar nos meses subseqüentes e em junho deste ano, esse prazo médio foi de 548 dias24. Já o volume total de saldo de operações em crédito tem aumentado bastante desde 2004, segundo dados da Anef. A soma do saldo em financiamento (CDC) para veículos e Leasing (pessoa física) para veículos em 2004 foi de R$ 42,4 bilhões, para os anos subseqüentes a soma foi de

22 Em 2007, segundo dados da ANFAVEA e SGS (BACEN), o total de vendas de autoveículos no mercado interno brasileiro foi de 2.220.274 unidades. Já em 2008 foi registrado um total de 2.493.178 unidades de veículos vendidos no mercado interno brasileiro, e em 2009 o total de vendas foi de 2.731.430 unidades. Esses dados demonstram que mesmo durante a crise financeira global, a demanda por autoveículos no Brasil se manteve aquecida. Ao compararmos os dados (vendas internas) do primeiro semestre de 2010, com o primeiro semestre de 2009 temos um aumento de 6,3% no volume de vendas.

23 BACEN.

R$ 59,1, R$ 77,4, R$ 111,6, R$ 139,1, R$ 158,2 e estima-se que para o ano de 2010 o total seja de R$ 160,2 bilhões. Assim, ocorreu um aumento de mais de 370% no volume de crédito para aquisição de veículos em seis anos.

Já a taxa básica de juros ao ano para concessão de créditos as pessoas físicas25 na aquisição de veículos oscilou no período de 2004 a 2010. Em dezembro de 2004 a taxa anual para a aquisição de veículos para pessoas físicas foi de 35,6%. No mesmo mês de 2005 foi de 34,8%, e em dezembro de 2006 foi de 32,3%. Já em 2007 essa taxa caiu, e em dezembro desse ano foi de 28,8%. Essa taxa de juros cresceu ao longo de 2008 e fechou este ano com uma taxa de 36,5% ao ano. Em 2009 essa taxa de juros voltou a cair ao longo do ano e em dezembro ficou em 25,4%.

A valorização do Real frente moedas internacionais também é um determinante macroeconômico importante. O Real valorizou 62,04%26 frente o dólar americano num período de 56 meses (dezembro de 2004 a agosto de 2009). A valorização da moeda brasileira também ocorreu frente outras moedas no mundo, com, por exemplo, teve uma valorização de 59,67% frente o iene japonês no período de dezembro de 2004 a agosto de 2009. A valorização do Real também ocorreu frente a moeda argentina, totalizando 63,16% para o mesmo período nos casos anteriores citados. A valorização do Real frente a moeda argentina reflete diretamente na balança comercial da indústria automobilística brasileira, pois a Argentina é o maior comprador da indústria brasileira automobilística. É em função dessa valorização do Real, que principalmente, as exportações do setor automobilístico brasileiro caíram nos últimos anos.

Dessa maneira, o cenário macroeconômico brasileiro em geral tem mostrado uma maior estabilidade em seus indicadores. Esse cenário mais favorável tem possibilitado a recuperação e o avanço da indústria automobilística brasileira, aos níveis anteriores da crise financeira global iniciada em 2008. As ações do governo para reduzir o efeito da crise foram eficientes, ao reduzir os tributos, IPI e IOF, incidentes nos autoveiculos (principalmente em veículos leves de baixa cilindrada), além da expansão do crédito para demanda dos produtos nesse setor. O resultado disso é que a produção pouco sofreu com a crise financeira global, além de manter a demanda em crescimento.

25 BACEN.

2.2.2. Fatores que contribuíram para a recente expansão da demanda de