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Os determinantes básicos e as características do ciclo recente de investimentos

3 PRINCIPAIS MERCADOS EMERGENTES (BRICs)

3.1 A indústria automobilística chinesa

3.1.2 Os determinantes básicos e as características do ciclo recente de investimentos

Quando o governo da China decidiu abrir o mercado do país, para a entrada de empresas estrangeiras, procurou controlar a maior parte da produção doméstica, restringindo o capital estrangeiro a partir de joint ventures com empresas nacionais a no máximo 50%. Houve uma exceção, concedida a Honda no ano de 2003, pois a montadora japonesa ao adquirir 65%, da empresa chinesa Guangzhau, comprometeu-se a exportar uma grande parte de sua produção (CRS, 2009).

Segundo estudo da CRS (2009), ocorreram três ondas de investimentos no setor automobilístico na China. A primeira aconteceu entre as décadas de 1980 e o começo da década de 1990, quando o mercado de autoveiculos na China era dominado por três joint

ventures – a alemã VW com as chinesas SIAC e FAW, e do grupo francês PSA com a

também chinesa Dongfeng. A segunda onda de investimentos ocorreu ao longo da década de 1990 e até o ano 2001, quando a GM e a Honda entraram no mercado de autoveiculos da China. A terceira fase iniciou-se com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio – OMC, em dezembro de 2001. Foi a partir dessa época que houve uma explosão

458 511 490 499 102 212 11 22 0 100 200 300 400 500 600 EUA Reino Unido

Japão Alemanha Brasil Rússia Índia China

N ú m e ro d e c a rr o s p o r 1 0 0 0 p e s s o a s

de empresas entrantes no mercado chinês. E foi nesta etapa que se deu a entrada do maior volume de investimentos no país51.

Em geral, os investimentos em uma nova planta, como, por exemplo, veículos acabados, traz posteriormente e ou complementarmente outros investimentos. Esses outros investimentos ocorrem, na maior parte, dentro da cadeia produtiva do investimento principal. No caso do exemplo citado, os investimentos complementares acontecem pois as montadoras necessitam de produtos e serviços. Sendo que os investimentos52 complementares mais freqüentes são dos fornecedores de autopeças53.

O mercado automobilístico chinês possui mais de 5.000 fornecedores de autopeças instaladas localmente. Deste total, três entre os quatro principais fornecedores são empresas nacionais chinesas (SIAC, Fawer e Dongfeng Parts & Components). Entre as dez maiores, três são empresas americanas (Visteon Corp, Johnson Controls e Delphi Corp), dois japoneses (Denso Corp e Yasaki Co), uma alemã (Bosch) e uma coreana (Hyundai Mobis)54.

A estratégia da indústria automobilistica antes dos anos 2001 era a de entrar no mercado chinês via exportação, com o objetivo de explorar o mercado local. Mas depois dessa época os grandes grupos europeus, americanos e também asiáticos utilizam a estratégia da produção em território chinês. Os dados de investimentos da indústria automobilística na China mostram a elevação dos investimentos a partir de 2001.

No entanto a série disponível para análise é somente a partir do ano de 2001. Os dados de número de projetos de investimentos e de IDE em valor na indústria automobilística chinesa demonstram o ciclo de investimentos no período de 2001 a 2008. O pico de investimentos nesse período ocorreu no ano de 2005, quando ano o número total de projetos para o setor automobilístico na China foi 1.015 unidades e o total de IDE foi US$ 3,4 bilhões, conforme demonstra gráfico 3.6 a seguir.

51 The Rise of China’s Auto Industry and Its Impact on the US Motor Vehicle Industry, CRS, Novembro de 2009.

52 Segundo Rachel Tang (CRS, 2009) uma outra forma de novos investimentos ocorre na forma de P&D. Para o caso do segmento de autopeças da China, a faixa de investimentos em P&D é de 1% a 3% da receita da empresa. E também para o caso específico da China, o governo local promove atualmente o incentivo de P&D em projetos de carros elétricos.

53 Momentum: China’s automotive components sector emerging from the crises, KPMG, julho de 2009.

Gráfico 3.6 – IDE na indústria automobilística chinesa no período 2001 – 2008

Fonte: Invest in China/fdi.gov.cn 2002 à 2009 (2010).

*Dados inferidos para 2004, pois não se tem o valor exato para esse ano, o que se tem é o gráfico gerado pela fonte sem o valor implícito.

O total de US$ 17,5 bilhões em IDE na indústria automobilística chinesa no período de 2001 a 2008 foi surpreendente. Até porque o sistema chinês de absorção de IDE não se permite capital estrangeiro, superior a 50% do total de investimentos de um empreendimento. O ano de 2005 é o único para o qual se dispõe de dados simultâneos do total de investimentos na indústria automobilística chinesa e do total de IDE. Naquele ano, 30,4% do total investido no setor foi de IDE. Assim, dado que naquele ano o total de IDE na indústria automobilística chinesa foi US$ 3,4 bilhões, e esse montante correspondeu a 30,4% do total dos investimentos realizados no setor. Pode-se inferir com base nos gráficos 3.6 e 3.7 que um total US$ 11,8 bilhões em investimentos foi realizado na indústria automotiva chinesa naquele ano.

Gráfico 3.7 – Composição do capital investido na indústria automobilística chinesa no ano de 2005

Fonte: Invest in China/fdi.gov.cn (2010).

0 200 400 600 800 1000 1200 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 2001. 2002. 2003. 2004*. 2005. 2006. 2007. 2008. U S $ b ilõ e s n ú m e ro d e p ro je to s anos IDE Projetos 66.0 68.4 55.0 3.6 3.4 4.0 30.4 28.2 41.4 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0

Total Veículo acabado Auto - peças

%

Note-se que, mesmo com a crise financeira mundial em 2008, o total de IDE na indústria automobilística na China aumentou relativamente se comparado ao ano de 2007. Embora não se tenha ainda dados de investimentos do setor automobilístico chinês em 2009, não será surpreendente que não tenha ocorrido uma desaceleração dos IDEs em 2009 e tão pouco em 2010.

Ainda para 2008, o ano mais recente com dados de investimentos disponíveis, a indústria automobilística chinesa respondeu com um total de US$ 2,6 bilhões e representou 1,89% de aumento do número de empresas recém-criadas na China, e 2,89% do total de IDE investido diretamente na economia chinesa (Invest in China/fdi.gov.cn (2008)). A estrutura da origem do capital estrangeiro de IDE da indústria automobilística em 2008 foi a seguinte: Hong Kong, Japão, Coréia, EUA e Ilhas Virgens britânicas (paraísos fiscais), respondendo respectivamente a 24,90%, 14,64%, 14,02%, 13,86% e 7,53% do total de investimentos direcionados para o setor automobilístico chinês, como demonstra gráfico 3.8 abaixo.

Gráfico 3.8 – Os principais países/regiões investidores na indústria automobilística chinesa (%)

Fonte: Invest in China/fdi.gov.cn (2008)

Comparando-se o investimento em IDE da indústria automobilística chinesa, com o investimento da indústria automobilística brasileira, temos um crescimento em ambos os países. Estimando-se o investimento total na indústria automobilística chinesa a partir dos dados do ano de 2005 (ver acima), obtemos uma estimativa da evolução do total de investimentos realizado na indústria automobilística chinesa e uma possibilidade de se comparar os investimentos recebidos pela China e pelo Brasil neste setor. Essa comparação (melhor visualizada a partir do gráfico 3.9 a seguir) é um exercício simples, pois utilizamos

0 5 10 15 20 25 30 2006. 2007. 2008.

apenas os dados de investimentos da indústria automobilística chinesa do ano de 2005 para tentar projetar via inferência uma possível comparação entre os investimentos da indústria automobilística chinesa e brasileira. Essa inferência foi feita supondo que 30,4% do total de investimentos na indústria automobilística chinesa ocorreram na forma de IDE, para o período de 2001 a 2008 (com base no ano de 2005). Ou seja, como não temos dados detalhados de IDE e de investimento total da indústria automobilística chinesa, supomos o percentual de 30,4% de IDE para todos os anos do período estudado.

Gráfico 3.9 – Comparação de investimentos em IDE na indústria automobilística chinesa e de uma estimativa do total de investimentos na indústria automotiva naquele país com o total de investimentos da indústria automobilística brasileira

Fonte: ANFAVEA/ Invest in China/fdi.gov.cn

Estimativa feita a partir dos gráficos 3.6 e 3.7 acima. Supondo que a evolução dos investimentos é regular nestes anos.

Este último gráfico demonstra que o IDE da indústria automobilística internacional direcionada para o Brasil e para a China apresentam ordem de grandeza semelhante. Ou seja, infere-se que os investimentos domésticos na indústria automobilística chinesa responderam pela maior parte dos investimentos nesse setor na China.

Em função do elevadíssimo dinamismo do seu mercado, a indústria automobilística chinesa tem investido cada vez mais. Esses novos investimentos partem não só de montadoras internacionais (como é a maior parte dos investimentos no caso da indústria automobilística brasileira), mas também é realizado por empresas nacionais chinesas (públicas e privadas).

Além da demanda e do potencial do mercado interno, um outro fator atrativo para os investimentos no país é o baixo custo de mão de obra. Estes custos, de mão de obra, na China

0 2 4 6 8 10 12 2001. 2002. 2003. 2004. 2005. 2006. 2007. 2008. U S $ b il h õ e s anos IDE - China Investimentos - Brasil

são de 1,0% a 1,5% dos custos totais de produção. Assim o custo do trabalho chinês é bem menor, se comparado com o custo de mão de obra da produção deste mesmo setor com a Europa, por exemplo, onde este custo fica na faixa de 15% a 20% dos custos totais de produção, ou ainda outro exemplo, se comparado com a indústria automobilística dos EUA, onde os custos de mão de obra são de 18% a 20% dos custos totais da produção (Automotive News, 2008).