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Condicionantes principais na definição do problema

4.3 C ONDICIONANTES E DIRETRIZES CONSIDERADOS

4.3.3 Condicionantes principais na definição do problema

De acordo com os condicionantes considerados na definição do problema, o programa é considerado o ponto inicial, seguido pelo orçamento disponível.

Entretanto, De Grey indica que no começo do processo, as vezes é necessário pôr o custo e o tempo aparte do problema, se não, não é possível fazer um progresso no desenvolvimento de soluções inovadoras considerando a análise de desempenho. Isto pode ser uma questão chave nas considerações dos entrevistados, considerando que no projeto é quase uma obrigação ser

inovador (GASPARSKI, 2005). Hartog (HARTOG, 2004) observa que os arquitetos têm orgulho e prazer em inventar soluções novas para questões ambientais mesmo se isso implica em ter que se familiarizar com a física subjacente. Spencer de Grey menciona que é necessário desafiar os engenheiros de custo;

"Eu penso que nós desafiamos frequentemente nossos engenheiros de custo em tentar conseguir tanto quanto, quero dizer, mais talvez do que pensamos ser possível." (Entrevista com Spencer de Grey)

Lawson (LAWSON, B., 1997) observa que os arquitetos em geral põem mais ênfase em alcançar uma solução do que em compreender o problema. Entretanto, este não é o caso dos arquitetos entrevistados. Como Smithies constata (SMITHIES, 1981), geralmente muitos problemas iniciais são auto impostos, de acordo com as inclinações que a filosofia de projeto do profissional cria. De Grey enfatiza que basear o projeto puramente no programa é uma abordagem muito superficial. E, juntamente com Cucinella, enfatiza que primeiramente a compreensão dos propósitos do projeto e dos requerimentos que estão além do programa é muito importante.

Todos os arquitetos entrevistados consideram a compreensão do contexto um condicionante fundamental para a definição do problema. Tombazis afirma que o exercício de relacionar a função do projeto ao contexto - identificando quando e como se relacionam - é a chave fundamental para a criatividade e, conseqüentemente, para a geração de soluções de projeto. Esta compreensão é relacionada principalmente ao clima e ao local, e há uma percepção comum do clima entre todos os entrevistados. Quando se referem ao clima, nesta definição inicial do problema, para definir o partido, seu foco principal está nos ventos predominantes, geometria solar e nas temperaturas máximas e mínimas, no inverno e no verão. As limitações do contexto climático levam a definição das estratégias de projeto, tais como a orientação solar que define a orientação do edifício.

Jestico reconhece que algumas características particulares do contexto definem as variáveis climáticas mais importantes a serem levadas em conta na definição do partido. Por exemplo, se o edifício tiver que ser localizado no alto de uma montanha em um clima frio, é importante considerar os ventos predominantes e os períodos de temperaturas mais baixas para adotar estratégias de projeto que evitem o vento frio. Por outro lado, Leonardo aponta que às vezes a estratégia adotada no projeto pode definir que variáveis climáticas devem ser avaliadas no projeto específico;

"a estratégia adotada me dirá que aspecto do clima eu preciso observar, se eu quiser usar a ventilação natural eu verificarei o vento." (Entrevista com Leonardo)

No caso de Severiano Porto, de Tom Jestico, de Cucinella e de Spencer de Grey, a diretriz de usar o edifício para criar espaços públicos também influencia as ações ou escolhas

relacionadas à integração ao local. Isto destaca a influência das diretrizes/princípios (guiding principles) considerados na maneira que alguns condicionantes do problema são levados em conta.

Para os arquitetos que atuam predominantemente no Reino Unido (Tom Jestico, Spencer de Grey, Sunand Prasad e Luiz Buzato) a legislação e código de edificações são também muito influentes embora não determinantes sobre a solução plástica. No caso da escolha de materiais, o material é avaliado primeiramente levando em conta se ele é apropriado ao caráter plástico do projeto com um todo. No caso de Jestico, o potencial plástico do material define a investigação de seus desempenho e custo. Isto enfatiza também a prática da investigação como um princípio para melhorar o conhecimento e assegurar as escolhas do projeto. A base de conhecimento na física das edificações permite que Jestico possa qualificar o material ou a estratégia a ser adotada de acordo com suas propriedades térmicas.

Os brasileiros Leonardo, Severiano, Pamplona e Bonelli consideram os recursos locais como um condicionante influente sobre a escolha do material. Isto pode influenciar também o sistema construtivo adotado e conseqüentemente a solução plástica. Entretanto, Lelé e Severiano Porto reconhecem que o sistema construtivo adotado pode ser também um condicionante para definir os materiais e a solução plástica. No caso de Lelé, o sistema construtivo de componentes industrializados é uma limitação determinante a ser considerada no estágio inicial de projeto. Em seu caso, a plástica, a luz e a ventilação natural são princípios muito fortes, mas são considerados de acordo com as limitações que o sistema construtivo industrializado cria.

Além disso, outras limitações impostas por condicionantes específicos do problema e do programa podem variar a influência das diretrizes/princípios considerados, como o conforto ambiental. Como Lelé reconhece;

"A hierarquia muda (...) de acordo com o projeto, você estabelece uma hierarquia de determinadas coisas. Por exemplo, se eu for projetar em Belém, ou Macapá (norte do Brasil- quente e úmido), o conforto ambiental assume um alto nível de importância porque estas são cidades muito quentes (...); e para resolver o problema usando a ventilação natural, a estratégia de ventilação assume uma importância muito grande (...) isto começa a ser o princípio que guia o projeto, mas se a questão for o orçamento então eu tenho que pensar primeiramente em uma estrutura mais racional (...)". (Entrevista com Lelé)

Embora o nível de influência dos princípios ambientais, tais como o uso de estratégias passivas, possa variar de acordo o projeto específicoo, todos enfatizam que estes princípios têm que ser ao menos parte do processo e os condicionantes relacionados aos requerimentos do contexto climático tem que ser parte do programa. Isso indica que o estabelecimento de diretrizes também está relacionado à filosofia de projeto do profissional. Como Spencer de Grey, Lelé e

Tombazis reconhecem, dependerá da filosofia de projeto adotada na prática se a agenda bioclimática será incluída nas alternativas do projeto.

"(...) é uma questão de ter ventilação e luz naturais como um princípio primordial. É uma escolha individual (...) mas alguns podem pensar que a resposta é um sistema de ar condicionado (...)". (entrevista com Lelé)

Tombazis acredita que no julgamento de alternativas de projeto, você somente tem que fazer o que é lógico. Conseqüentemente, o princípio da integração ambiental deve ser parte desta lógica. Observando a filosofia de projeto dos entrevistados, seu o conceito de arquitetura exerce um papel importante na consideração da integração ambiental em sua lógica do projeto.

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