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CONECTANDO SABERES PARA ALÉM DA SALA DE AULA

4 COMUNIDADES ON-LINE

5 CONECTANDO SABERES PARA ALÉM DA SALA DE AULA

A comunidade universitária, reflete, de certa maneira, os movimentos sociais que ocorrem na sociedade como um todo e, ao mesmo tempo, neles se insere como agente desencadeador de mudança.

Há duas formas de implementação do uso de computadores e/ou ambientes on-line no ensino: estipular, desde o início, um projeto pedagógico, de preferência baseado em uma experiência piloto, ou protelar o projeto apenas para depois que os jovens já estiverem usando os recursos tecnológicos. Em nenhum dos casos, pode- se dizer, obviamente, que a implementação do projeto esteja perdida. No entanto, nos parece mais indicado que, em benefício do processo de ensino-aprendizagem, esse projeto possa ser implementado antes do contato dos jovens com os computadores, isso se estamos falando em ensino fundamental. Entretanto como o público a ser analisado nesta dissertação se trata de estudantes universitários, nos parece óbvio que um projeto pedagógico posto em execução em uma circunstância assim seja inevitavelmente, um caso de implementação pós-acesso aos recursos tecnológicos por parte dos educandos.

Segundo alguns autores, quando dois meios são capazes de cumprir os mesmos papéis pedagógicos é natural que o mais moderno substitua o outro:

Abrir um livro, procurar um tema no índice, ler algumas páginas sobre um assunto e fazer um trabalho para a escola. A internet fez os estudantes das escolas mais caras de São Paulo se afastarem das bibliotecas. Com a facilidade da pesquisa na web, os adolescentes admitem que, na maioria das vezes, passam longe dos livros para fazer as pesquisas pedidas pelos professores. (BONADIO, 2007, site).

Os especialistas que se dedicam ao estudo dos meios, no entanto, discordam dessa abordagem. Entendem que cada meio é único quando considerados seus limites e potencialidades. O nosso pequeno conhecimento em torno das características e particularidades das diversas tecnologias é que nos faz lidar com elas de modo restritivo.

Hoje, é comum que os professores orientem seus alunos para que acessem sites de referência para fins de aprofundamento da temática estudada e participem de fóruns. Desta forma, não só os alunos, mas também os próprios professores

universitários têm participado de conferências via MSN Messenger e Skype para compartilharem seus conhecimentos e pontos de vista com seus pares. Pois, dessa forma, pode-se dizer que:

A aprendizagem cooperativa é uma técnica ou proposta pedagógica na qual estudantes ajudam-se no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o professor, com o objetivo de adquirir conhecimento sobre um dado objeto. A cooperação como apoio ao processo de aprendizagem enfatiza a cooperação a participação ativa e a interação tanto dos alunos como dos professores. O conhecimento é considerado um construtor social, e desta forma o processo educativo acaba sendo beneficiado pela participação social em ambientes que propiciem a interação, a colaboração e a avaliação. (CAMPOS et al, 2003, p. 26 e 27).

Há, ainda, muito desconhecimento acerca das potencialidades da web para atividades educacionais. Nem tudo o que é “novidadeiro” nas novas tecnologias, incluindo aí as educacionais, irá necessariamente inovar; pois, ao fazer uso das comunidades on-line como extensão de sala de aula para seus educandos, o professor irá necessariamente se deparar com sua velha missão, a mesma de qualquer professor, cujas funções desempenha de forma exclusivamente presencial: a necessidade de conquistar seus educandos como um caminho para o aprendizado e para a colaboração; o que não constitui o que se possa chamar de uma novidade, em se tratando das necessidades pedagógicas.

E o que viria a ser uma resposta para a necessidade de “conquistar seus educandos”, não só nas comunidades on-line, mas também em qualquer ambiente on-line de ensino? Não há como dar uma resposta precisa aqui, uma fórmula genérica ou um “axioma pedagógico” que possa ser aplicado para a obtenção de resultados precisos. Nisso, a propalada interação “homem-máquina” se trata na verdade de uma interação “homem-homem”, pois o processo tem mais importância em termos de humanidade do que de tecnologia; isso é, há mais riqueza na vida do que nos objetos. Assim sendo, podemos dizer que nós sempre teremos uma influência predominante, já que a razão da tecnologia existir está diretamente a serviço da supressão das necessidades humanas, o que reafirma a idéia de que o ser humano é realmente e necessariamente a medida de todas as coisas.

Tenho lido, vez por outra, um autor aqui outro ali, pelo deslumbramento com as tecnologias da comunicação e da

informação, que o ser humano está se modificando por causa das máquinas!!! Quase já nos fazem ver o mutante, irreconhecível, levantando da cadeira, depois de longas horas na frente do computador. Ele teria aprendido a pensar de modo não linear, ele seria desterritorializado; portanto, independente da identidade cultural, ele veria por mosaico e a hipermídia seria assim a forma fragmentada da percepção. Ele passearia pelo ciberespaço como se estivesse passeando (flanando) em uma cidade segura e conhecida. Quem espera a mutação vai ter muito que esperar. O homem mudou para se adaptar às mudanças do ambiente, até que acumulou tanto conhecimento sobre a natureza que em vez de continuar mudando, desenvolveu técnicas capazes de mudar o ambiente para que ele pudesse permanecer. Não nos deslumbramos com isso por que esse caminho do desenvolvimento (talvez não fosse o único) nos fez assumir a responsabilidade pela melhoria da espécie. Remédios, vacinas, dietas, malhação, cultura do corpo, logo mais planejamento do DNA...seremos cada vez mais senhores de ferramentas para manter essa identidade humana que temos. Isso começou quando atiramos a primeira pedra ou cozinhamos a primeira raiz. (ANDRADE, 2007, site).

Por tudo isso exposto, não é possível definir com precisão uma estratégia de “conquista” do educando em uma comunidade on-line ou em um ambiente on-line, tal e qual uma plataforma de educação a distância. Isso vai variar de acordo com o perfil do professor, alunos e até da instituição educacional. Mas é possível dizer aqui, em linhas gerais, que algumas atitudes tomadas pelo professor favorecem a aprendizagem e a cooperação, não só no ensino presencial, como também nos ambientes on-line. Pois na Educação Democrática para Paulo Freire, educador e educando têm conhecimentos e a relação entre eles é provocadora de novos conhecimentos. O contrário da “Educação Bancária”, onde o conhecimento sai do educador e preenche o vazio dos educandos94.

De acordo com as diretrizes do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio, é importante a competência de relacionar informações e conhecimentos disponíveis em situações concretas para construir argumentação consistente e além da habilidade de avaliar as novas tecnologias de informação nas relações sociais.

Como lembra Paulo Freire, é preciso oferecer “resistência ao descaso ofensivo de que os miseráveis são objeto. No fundo, as resistências - a orgânica e/ou a cultural - são ‘manhas’ necessárias à sobrevivência física e cultural dos oprimidos.” (FREIRE, 2004, p. 78).

Para Paulo Freire, a apropriação social do conhecimento é de fundamental importância no sentido de que:

O diálogo em que se vai desafiando o grupo popular a pensar sua história social como a experiência igualmente social de seus membros, vai revelando a necessidade de superar certos saberes que, desnudados, vão mostrando sua 'incompetência' para explicar os fatos. (FREIRE, 2004, p. 81).

Além disso tudo, como informa Pierre Lévy, a internet dá novas competências aos educadores e possibilita que:

As últimas informações atualizadas tornem-se fácil e diretamente acessíveis através dos bancos de dados on-line e da World Wide Web. [...] A partir daí, a principal função do professor não pode mais ser uma difusão dos conhecimentos, que agora é feita de forma mais eficaz por outros meios. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. O professor torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão a seu encargo. (LÉVY, 2000, 171).

O educador tem um papel primordial no auxílio ao educando, quanto ao acesso e a utilização da tecnologia. Como nos diz Paulo Freire:

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que- fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 2004, p. 29).

É importante notar que tanto Pierre Lévy quanto Paulo Freire têm pensamentos convergentes sobre qual deve ser o papel do educador. Dentro de sua visão de aprendizagem cooperativa, Lévy diz que o papel do professor, observando os novos meios on-line de educação, deve ser o de "um animador da inteligência coletiva da turma" (2003, p. 24). Enquanto Freire nos fala de um professor como "animador de debates” (2003, p. 12).

Segundo pesquisa recente95, 63% dos meninos e meninas na faixa dos 2 aos 11 anos acessam a internet, principalmente para juntar-se e para participar de redes sociais on-line, como Orkut e MySpace. Mais do que isso, 66% acessam a internet com a finalidade de usar as ferramentas de interação instantâneas como as salas de bate-papo, MSN Messenger e ICQ. A mesma pesquisa indicou que tais jovens têm um tempo médio mensal de conexão de 15h25min, maior que a média americana, que é de 11h38min e mais ainda que as crianças suíças, que é de apenas 6h28min. É certo que esses dados relevam os hábitos de acesso por parte de crianças e pré- adolescentes e não o de jovens universitários, tal quais os alunos usuários da comunidade, cujo uso é objeto de estudo desta pesquisa. Porém, esses dados são pertinentes a esta discussão no sentido que revela a circunstância atual de alta conectividade a qual estes pré-adolescentes, futuros universitários, estão inseridos. Se hoje é difícil imaginar a internet fora do dia-a-dia de estudo dos universitários, imaginem-se então quando estes atuais meninos e meninas, na faixa dos 2 aos 11 anos chegarem à universidade?

É bom lembrarmos também que a escola nos países desenvolvidos funciona nos dois turnos e que os estudantes ainda levam tarefas para casa. A disponibilidade de tempo, portanto, é um fator não desprezível.

Muito se tem apresentado as redes sociais on-line, o Orkut, no caso do Brasil, como sendo ambientes eivados de vícios e quase nenhuma virtude. Espaços destinados a crimes e, ao mesmo tempo, à facilitação de relacionamentos. Parece estranho que alguns queiram que algo projetado dentro da sociedade, para seu próprio uso e exposto às influências, seja uma ferramenta, de certa forma, segura, amorfa, assexuada, não transgressora e apolítica; em suma, anti-social. Como se assim fosse possível. Na verdade, o que se vê, de modo geral, pela web, e no Orkut em particular, não representa nenhuma novidade ou algo que seja diferente daquilo que já acontece em sociedade. De certa forma, poder-se-ia dizer que, no máximo, a novidade reside apenas na amplitude, para o bem ou para o mal, que a web dá a tudo aquilo que já encontramos presencialmente em nossa sociedade sob a égide de ideologias, tendo em vista que os ditos “meios de comunicação” implicam em manipulação.

95 Fonte: IBOPE/NetRatings apud BRASIL. Sandra. Escancarada, assim é sua casa. Veja, edição 2017, ano 40, nº 28, São Paulo: Abril, 18 de julho de 2007, p. 88 e 89.

É preciso nos perguntarmos por que as empresas jornalísticas dão tanta atenção à tão propalada “credibilidade” se a informação é algo capaz de se impor por si mesma? Isso ocorre porque essas empresas não nos oferecem informação em si, mas na verdade “opinião”. Sendo assim, o jornalista honesto não é aquele que se diz imparcial, mas sim aquele que deixa clara a sua parcialidade. É o que nos diz Andrade:

Todos os grupos humanos possuem sua ideologia. Ela representa o modo de ver o mundo de um determinado grupo social de acordo com seus interesses, ou seja, é a tentativa de explicar o mundo, de uma forma sempre solidária com os interesses, grupo e história de quem explica. Sejam eles mulheres, homens, negros, brancos, médicos jornalistas e assim por diante. Esse é um processo inconsciente. É por isso que a ideologia não existe para compreender a natureza, mas sim para justificar o comportamento de um determinado grupo. Sendo assim, a ideologia não é “pecado”, só é pecado quando um determinado grupo social tenta impor sua ideologia aos outros grupos. Isto é, a assimetria com relação ao poder. A ideologia não tem história, ela evolui conforme evolui a sociedade, as relações de poder. Dessa forma, as idéias dominantes são sempre as idéias da classe dominante. Por isso, a manipulação é inerente. Toda “comunicação” é manipulação. Há teóricos que dizem que comunicação é a transmissão de informação com o objetivo de mudar o comportamento do interlocutor. Contudo isso não é comunicação, mas sim manipulação. A imprensa, por exemplo, é um megafone de quem tem dinheiro sobre àqueles que não têm dinheiro. Ouvir os dois lados é uma falácia. Isso não forma opinião nenhuma. Quando se não tem informação anterior, as pessoas são facilmente manipuláveis. Os “meios de comunicação” são mais rápidos com relação a mudanças porque o sistema educativo é mais lento. Todos vêem de acordo com sua história. No processo ético em comunicação vamos, então, demonstrar que a verdade tem várias faces. Por isso, sempre que usamos uma expressão, devemos explicitar nossa posição com relação a esta posição. (ANDRADE, 2007, site).

É por tudo isso que um meio de informação porta-voz da doutrina de uma Igreja ou da ideologia de um partido político é, em muitos aspectos, mais honesto que aqueles destinados a um público em geral que se dizem “imparciais”. Pois, nesse caso, há a explicitação do conjunto de convicções dos donos dos meios. Poder-se-ia dizer também que:

A ideologia, na concepção de Marx, mistura e confunde conquistas de vocação universal e marcas de um horizonte perverso que mistifica as verdades individuais proclamadas. A “verdade” imprescindível alcançada por meio da sensibilidade, da intuição , da

percepção pessoal, precisa ser complementada, corrigida, enriquecida pela autodisciplina do pensamento na práxis. Quem subestima o desafio apresentado pela universalidade passa a não incorporar os elementos de “verdade” que estão no outro; então não se comunica mais, não dialoga. (KONDER, 2008, p. 227 e 228).

Se, praticamente, não é possível separar a possibilidade do namoro entre alunos no ensino presencial, por que é que a educação on-line ou semipresencial deveria ser assexuada? Por que o Orkut, que não só foi criado para ser, mas também tem se notabilizado como uma ferramenta de relacionamentos afetivo- sexuais, não poderia ser útil para fins educacionais e, também importante, assim ser sem ter que abandonar sua face de facilitadora de relacionamentos? Só há problema a partir do momento em que haja uma subutilização do potencial da ferramenta mediante um uso exclusivamente direcionado à relacionamentos afetivo- sexuais.

A importância do uso do Orkut como uma ferramenta que facilita o diálogo entre estudantes de uma mesma área é o foco que se dá à construção social e coletiva do conhecimento; é a valorização que se dá ao processo de construção de uma pesquisa ou do estudo em grupo sem detrimento da importância que tem o resultado final deste processo. Além disso, quando professores e educandos utilizam comunidades do Orkut para travar diálogos, essa atitude tem um forte caráter de propiciar a extensão do conhecimento universitário à sociedade em geral, além de socializar temáticas contemporâneas e discussões que usam o ambiente do ensino superior no país como fórum privilegiado. Além de servir como um repositório de conhecimento coletivo que advém diretamente da experiência, da sabedoria e do julgamento dos próprios educandos, gerado por eles e sob responsabilidade deles.

A princípio, todos os alunos de qualquer curso superior poderiam ser convidados por seus professores para escrever ou complementar verbetes acerca de sua área de estudo. Estudantes universitários de língua portuguesa poderiam ser orientados por seus professores para realizarem correções ortográficas nos verbetes enquanto outros alunos dos cursos de língua estrangeira poderiam ser convocados a verter e complementar para nossa língua os verbetes que ainda não têm tradução para o português, já que na Wikipédia cada verbete de cada língua não é necessariamente uma mera tradução.

Por razões óbvias, o verbete sobre Jürgen Habermas96 em alemão é muito mais rico em informação do que a versão em português. Bem como o nosso verbete em português sobre Paulo Freire97 é muito mais completo do que em qualquer outra língua. Sendo assim, podemos dizer que, pelo menos no caso da UFRN, e ela certamente não é exceção, não há uma política educacional clara e sistemática que incentive o uso da web para experimentações em cursos que não são da área tecnológica.

Há uma grande probabilidade que, no decorrer de uma tarefa assim, haja divergências dentro do grupo. Por isso é que, para eventuais desacordos é importante que haja uma via, um espaço dentro da estrutura onde a experiência está sendo realizada para que sirva como espaço de discussão entre os educandos; isto é, a busca conjunta de significado comum. No que diz respeito ao meio tratado especificamente por esta dissertação, uma comunidade do Orkut, esta via de discussão das divergências, pode ser um tópico destinado exclusivamente para este fim.

A escrita colaborativa é, obviamente, um ato realizado por mais de uma pessoa e não individualmente. Alguns projetos podem ser supervisionados por um editor ou time editorial, mas boa parte de projetos que envolvem a escrita colaborativa se mantêm sem orientação específica. O importante é que seja assegurado a todos o direito de editar, adicionar e remover texto ou arquivos (como imagens). Sem essas premissas, não se pode afirmar que um ambiente é realmente colaborativo.

Para exemplificar isso, veremos a seguir dois casos (um utilizando software específico, outro apenas um simples fórum) que foram desenvolvidos há pouco mais de 10 anos. Os dois casos, mesmo tendo sido realizados fora do ambiente acadêmico, possuem uma concepção fortemente pedagógica. Um caso foi desenvolvido pelo grupo de teatro catalão “Fura dels Baus”98 e o outro pelos membros de um fórum de discussão internacional chamado “Fwake”99.

96 Cf.: Verbete sobre Jürgen Habermas na Wikipédia em português

(http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas) e em alemão (http://de.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas).

97 Cf.: Verbete sobre Paulo Freire na Wikipédia em português (http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire).

98 Cf.: LEIRIA, Luis. Mais que humanos. Internetbr. Ano 3, nº 29. São Paulo: Ediouro, outubro de 1998, p. 19.

99 Cf.: POMPEU, Renato. A hiper-realidade de James Joyce. Cult, nº 4. São Paulo: Lemos Editorial, novembro de1997, p. 14.

O grupo de teatro “Fura dels Baus” montou a peça “F@usto, versão 3.0”, a qual se trata de uma recriação do famoso texto de Goethe. Nela, curiosamente, os encontros de Fausto com o demônio Mefistófeles se realizam pela internet. Na época, com a utilização de um software específico, a trilha sonora da peça foi composta por centenas de internautas, que criaram e recriaram as peças musicais numa experiência de criação coletiva. Depois, o grupo selecionou 50 obras de 20 segundos, todas compostas por pelo menos quatro pessoas. No final, as músicas ficaram disponíveis no site do grupo.

O fórum de discussão “Fwake”, em atividade durante os anos 90, se dedicava a ler e discutir página por página o romance “Finnegans wake” (JAMES JOYCE, 1939). Antes de mais nada, é preciso dizer aqui que neste romance Joyce realizou uma série de experiências de difícil compreensão como, por exemplo, a fusão em uma palavra só de termos de várias línguas diferentes, além de fazer uma infindável série de referências sutis a eventos históricos, rituais, hábitos ou povos antigos e desconhecidos. Neste fórum de discussão uma única palavra servia como premissa para muita discussão sobre o seu real significado. Multiplicando-se esse tipo de discussão, na medida em que a leitura e a análise do livro avançavam a cada página, dá para se ter uma idéia da riqueza obtida pelos membros do fórum em termos de diálogo e conhecimento.

Essas experiências foram desenvolvidas ainda na década de 90, quando pouco ou nada se falava em conceitos como “trabalho colaborativo”, “Web 2.0”, “Wiki” e “redes sociais on-line”, os quais nos levam a um mesmo caminho, ao de que os ambientes on-line podem ser usados no processo de ensino-aprendizagem, como um meio de aprendizagem e criação mútuas nas mais diversas áreas do conhecimento.

Professores podem fazer uso das comunidades on-line para estimular seus educandos a produzirem conhecimento em rede sobre sua comunidade e depois apresentá-lo, discuti-lo, compartilhá-lo. A idéia não é apenas ensinar a buscar informação, mas sim gerar conhecimento, bem como colaborar, compartilhar e construir coletivamente conhecimento relevante para o próprio universo deles.

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