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Fugindo da banalidade: o uso do orkut como extensão da sala de aula

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Academic year: 2017

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FUGINDO DA BANALIDADE:

O USO DO ORKUT COMO EXTENSÃO DA SALA DE AULA.

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ADRIANO MEDEIROS COSTA

Fugindo da banalidade:

o uso do Orkut como extensão da sala de aula.

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre stricto sensu em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Fugindo da banalidade:

o uso do Orkut como extensão da sala de aula.

Adriano Medeiros Costa

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre stricto sensu em

Educação.

Data da Aprovação: 06/10/2008

BANCA EXAMINADORA:

Professor Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Orientador

Professor Dr. Francisco de Assis Pereira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Membro

Professora Dr.ª Mirian de Albuquerque Aquino Universidade Federal da Paraíba – UFPB

Membro

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DEDICATÓRIA

Às vésperas de seus 70 anos, dedico este trabalho ao meu orientador prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade. Aquele cujas palavras fazem sentido e cujo pensamento, não é de hoje, está bem à frente de seu tempo.

Poucos possuem a sua largueza de visão, humanismo, coerência, elegância de estilo e o rigor de raciocínio. Poucos sabem tão bem ser um mestre sem impor esta condição a seus discípulos.

Ao meu amigo e sobretudo mentor, agradeço por acreditar que o tema a ser tratado por minha dissertação seria viável. Com Arnon aprendi que não só no processo de ensino-aprendizagem, mas também na vida, mais importante do que ocupar, é dividir espaço.

Obrigado por ter inspirado, estimulado, sido o co-autor e orientador de muitas das melhores idéias, ações, realizações, projetos que eu fiz na vida. O que Arnon fez de sua própria vida, serve de inspiração para todos nós.

Um dia quando ele, nosso maître à penser, não estiver mais entre nós, ainda sim estará vivo nas idéias, nas obras e nos ideais daqueles que assim como eu o admiram pelo homem que é e pela obra que realizou.

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AGRADECIMENTOS

À Darwin, por ter corajosamente desmistificado a origem e a evolução da vida de um modo geral e da humanidade em particular.

Meus sinceros agradecimentos ao meu pai Adauto Tavares da Costa e a minha mãe Creuza Medeiros de Carvalho Costa (in memoriam) que não pouparam esforços para me educar e oferecer as condições necessárias para que eu estudasse.

Sou imensamente grato a minha irmã Fátima e ao meu cunhado Sidnei por sempre me ajudarem a seguir em frente e por sempre estarem disponíveis sempre que eu preciso. Bem como aos meus irmãos Adauto e Socorro, os quais sempre acreditaram na viabilidade de minha carreira acadêmica.

Não posso deixar de agradecer aos colegas que fiz na Base "Estudos e Pesquisas em Meios de Comunicação e Educação" (PPGEd – UFRN) Orgival Nóbrega, Maria da Conceição, Denise Accioly, Elizete Arantes, Sebastião Faustino, Affonso Henriques, Lourdes Valentim, Sandra Kelly e Ângela Almeida. Expresso minha gratidão igualmente aos amigos professores da Sedis - UFRN e companheiros de Base Marcos Aurélio Felipe e Célia Maria de Araújo, os quais têm me proporcionado não só diálogos construtivos e inúmeras oportunidades profissionais, mas também a oportunidade de pôr em prática algumas de minhas teorias.

Quero também expressar aqui meus agradecimentos ao meu amigo João Tadeu Weck, que sabe tudo do erudito ao popular, e em cuja disciplina fiz a experiência com o Orkut. Sem a benevolência dele eu não teria chegado até aqui. A ele, obrigado pela amizade, paciência, por me ouvir, pelos livros indicados, pela crença demonstrada em minhas idéias e por fazer suas sugestões sempre necessárias e bem vindas.

Pela eficiência sempre demonstrada, agradeço aos professores e funcionários do PPGEd – Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN.

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João Tadeu Weck no semestre de 2007.1. Os quais não foram escolhidos por mim para fazer a pesquisa, mas sim me escolheram. Bem como agradeço aos meus educandos das disciplinas de Webdesign (2007.1, 2007.2) e Linguagens da Multimídia (2007.2, 2008.1) da FATERN – Gama Filho, por com suas participações em duas comunidades também terem me ajudado a provar que minha pesquisa seria viável.

Também agradeço a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior, da qual fui bolsista durante todo o Mestrado, por ter me proporcionado meios para que esse trabalho fosse possível.

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EPÍGRAFES

“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”.

Paulo Freire (A importância do ato de ler, p.29 , 1989)

"A educação autentica, repitamos, não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B mediatizados pelo mundo.

Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele".

Paulo Freire (Pedagogia do Oprimido, p. 84, 2003)

“A comunicação é inevitável e não improvável, como diz Luhmann”.

Arnon de Andrade (entrevista, site, 2007)

“Em um diálogo, a riqueza está na percepção daquilo que o outro vê, a concepção de realidade dele. E não a busca pelo consenso. Isso seria empobrecedor”.

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RESUMO

Esta dissertação investigou a inserção e uso das tecnologias educacionais no que diz respeito à rede social on-line Orkut, como uma extensão da sala de aula, notadamente para debates. Com essa experiência realizada em uma disciplina de uma instituição pública de ensino superior brasileira, buscou-se ir além do emprego do ambiente para entretenimento e lançar um olhar sobre o Orkut como uma ferramenta de auxílio no processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa fundamentou-se no conceito de comunicação para Paulo Freire e no de cooperação escolar para Célestin Freinet. Metodologicamente nesta dissertação foi adotada a categoria da pesquisa qualitativa, o método é uma combinação de estudo de caso com pesquisa-ação. A técnica foi à aplicação de questionários, a coleta de dados foi presencial e os tipos de dados foram primários. Por fim, apresentam-se, então, prognósticos sobre o futuro das redes sociais on-line e por fim sugere-se a formação de redes sociais on-line universitárias.

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ABSTRACT

This dissertation investigated the insert and use of the education technologies in the on-line social net Orkut, as an extension of the classroom, especially for debates. With that experience accomplished in a discipline of a Brazilian public institution of higher education, it was tried to go beyond the use of the atmosphere for entertainment and to look Orkut as a tool of assistance to the process of teaching and learning. The research was based in the Paulo Freire´s communication concept and in the Célestin Freinet´s school cooperation concept. In this dissertation, in methodological terms, was adopted the category of the qualitative research. The adopted method was a combination of case´s study with research-action. The technique was the application of questionnaires, the collect of data was personal and the types of data were primary. Finally, introduces, then, prognostics about the future of the on-line social nets and finally suggest the formation of academicals on-line social networks.

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SUMÁRIO

1  INTRODUÇÃO ... 7 

2  A COMUNIDADE ... 14 

2.1  A colaboração em comunidade ... 33 

3  O “VIRTUAL” ... 42 

3.1  A criação e o impacto da internet ... 50 

3.2  Cinco temáticas da web em discussão e sua relação com o Orkut ... 55 

3.3  A web e a mudança de paradigma ... 61 

3.4  Docentes on‐line: usando a internet como facilitador bibliográfico ... 72 

4  COMUNIDADES ON-LINE ... 84 

4.1  Orkut, uma rede social on‐line ... 95 

4.2  Comunidades on‐line realmente em rede ... 111 

5  CONECTANDO SABERES PARA ALÉM DA SALA DE AULA ... 120 

5.1  O “Orkut dialético” ... 131 

5.2  Comunicação, mediação e diálogo freiriano no Orkut... 133 

5.3  Aprendizado pela discussão on‐line ... 153 

5.3.1  Dois casos de uso de fóruns em plataformas típicas de Educação a Distância ... 163 

5.3.2  Por uma participação efetiva e não apenas aparente ... 173 

5.4  O Orkut como extensão da sala de aula ... 182 

5.4.1  A experiência e a metodologia em uma disciplina universitária ... 191 

5.4.2  O Orkut como Livro da Vida ... 205 

5.5  Atualidades e perspectivas relacionadas ao tema ... 210 

5.5.1  Incorporação dos blogs, fóruns e listas de e‐mails pelas redes sociais on‐line ... 210 

5.5.2  O problema dos chats nas plataformas de EaD ... 214 

5.5.3  O trabalho do educador em um ambiente de extensão on‐line ... 215 

5.5.4  Redes sociais on‐line universitárias, uma perspectiva ... 218 

6  CONCLUSÃO ... 223 

REFERÊNCIAS ... 236 

APÊNDICE – QUESTIONÁRIO ... 248 

7  ANEXOS 1 – PÁGINA INICIAL DO ORKUT ... 259 

8  ANEXO 2 – ESTRUTURA DO ORKUT ... 260 

9  ANEXO 3 – PÁGINA INICIAL DA COMUNIDADE “TAVE – UFRN” UTILIZADA NESTA PESQUISA ... 261 

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1 INTRODUÇÃO

Atribui-se a extraordinária evolução humanística e tecnológica dos antigos gregos e dos romanos às suas viagens pelo mundo, até então por eles conhecido, e às decorrentes trocas de mercadorias e conhecimento que faziam a partir dos portos de terras estrangeiras. Enquanto isso, civilizações antigas como as dos aborígenes australianos praticamente não evoluíram, simplesmente porque não houve intercâmbio econômico, tecnológico, cultural e, sobretudo, dialógico entre eles e outros povos. Embora não seja objeto de estudo desta dissertação especular sobre o que levou esses povos a esse isolamento, podemos dizer que enquanto para os aborígenes as barreiras geográficas constituíam barreiras reais, já para os antigos romanos as barreiras também existiam, mas não eram intransponíveis.

Se falarmos de civilização ocidental, podemos dizer que se na Idade Média o trabalho de coleta, sistematização dos conhecimentos esparsos foi um trabalho realizado pelos religiosos escribas em seus mosteiros, cujo acervo era em grande parte inacessível pela população da região, hoje esse é um trabalho que está sendo realizado por milhões de anônimos, em várias línguas, voluntariamente e colaborativamente pela internet1. Podemos dizer que ao longo de toda a história encontramos em comum o fato de que grande parte da cultura e do conhecimento humano produzido, bem antes dos antigos gregos, aborígenes australianos, homens medievais e internautas, é um trabalho predominantemente “de autores” (anônimos) e não de apenas “um autor” (nominal). Para educandos em uma sala de aula típica, a presencialidade é inibidora é toda vez que estão sendo pouco co-autores, eles estão sofrendo um processo de condução.

A colaboração intelectual entre as pessoas sempre esteve presente; a internet apenas potencializa esta característica, porque sempre houve e é cada vez maior a necessidade humana de realizar intercâmbios de idéias e de promover trocas culturais. Hoje, trabalhos científicos em desenvolvimento como a cura da AIDS, do câncer e o seqüenciamento do genoma humano são alguns dos trabalhos mais

1 Geralmente usados como termos sinônimos, existe uma diferença entre “internet” e “web”.

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notórios realizados não por um, mas sim coletivamente por vários pesquisadores em vários países. Publicações científicas sempre serviram para divulgar os avanços da ciência. Pesquisadores das mais diversas áreas sempre tiveram a necessidade de se comunicar para aprimorar suas próprias descobertas; a diferença é que hoje eles podem fazer isso com agilidade, de forma on-line. Quando o trabalho é em rede e colaborativo, pode-se partir daquilo que já foi descoberto para ser aprimorado. Tal atitude evita que haja perda de tempo tentando se descobrir algo já realizado. Em termos amplos a colaboração e co-autoração, em particular, têm fortes referências no processo dialógico.

Instituir comunidades é algo natural ao ser humano, tendo em vista que somos seres sociais. Entretanto, no passado, essa aspiração era dificultada devido à falta de meios tecnológicos que permitissem às pessoas estabelecerem facilmente o contato. Com o advento da internet, as possibilidades de interação se potencializaram. Através dela, contatamo-nos para conversar, tirar dúvidas, fazer perguntas, participar de ações políticas e sociais, utilizar serviços bancários, estabelecer trocas comerciais, intercâmbios culturais através de várias ferramentas específicas para esse fim, como chats, fóruns, ferramentas de interação instantâneas e redes sociais on-line2 como o Orkut. Inclusive, a inserção natural dos jovens nestes ambientes é tal que pesquisas recentes (2008) revelam que estas redes estão superando os sites pornográficos em popularidade entre os jovens com idade entre 18 e 24 anos.3

Caótica por princípio, a questão que se debate a respeito da internet é sobre como canalizar as buscas individuais por conhecimento, qualquer que seja ele, para a construção de um saber coletivo para o bem comum, onde também se possam explorar as possibilidades de inovação. No entanto, a interatividade é uma possibilidade muito antiga. Basta dizer que quando um leitor mandava uma carta para um, jornal no século XIX, ele estava praticando a interatividade. O próprio ato de trocar cartas é interativo. O que a tecnologia faz é facilitar os processos de interação. Isso tudo tem tornado o colaboracionismo uma tendência mundial. Assim sendo, pode-se dizer que toda vez que formamos uma comunidade e, na

2 Freqüentemente, ambientes como o Orkut são chamados apenas de “rede social”. No

entendimento adotado neste trabalho de dissertação, preferiu-se usar a acepção de “rede social on-line” para melhor diferenciar a rede social presencial daquela que se estabelece via Internet.

3 Cf.: Redes sociais superam pornografia em popularidade, diz estudo. Disponível em:

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impossibilidade do encontro presencial, usamos a web4 como ambiente facilitador, estamos formando, na verdade, uma comunidade on-line em um site. Em termos semânticos, faz-se necessário um esclarecimento: “site” e “home-page”5 não são termos sinônimos, embora muitas vezes sejam aplicados dessa forma, até em trabalhos científicos.

Considerando a aprendizagem colaborativa como uma estratégia, podemos perceber as inúmeras possibilidades pedagógicas quanto à utilização da internet: pode-se em uma disciplina de História, por exemplo, estimular os educandos a contatar povos em conflito. Educadores e educandos podem usar a internet para transmitir e combinar tarefas de casa, trabalhos escolares, informações e prazos. Nos trabalhos em grupo, a comunicação on-line6 facilita tanto o trabalho, quanto a organização do grupo. Os trabalhos realizados em sala de aula podem ser fotografados e publicados em um site na internet. E no mesmo endereço, os educandos podem ter acesso a mais materiais referentes aos assuntos tratados em sala de aula. Isto é, nós podemos usar a internet para evitar conflitos potenciais entre produção de conteúdo e distribuição.

Poderíamos enumerar aqui três grandes princípios fundamentais da web: liberdade, descentralização e colaboração. Toda a ferramenta criada que estiver de acordo com estes princípios tem grandes chances de dar certo. Estamos testemunhando uma grande revolução tanto no fazer quanto no pensar a internet, na qual as ferramentas de auto expressão e colaboração causam um impacto cada vez maior. As ferramentas wikis já representam mais de um terço de todo o tráfego na web7. Do ponto de vista técnico, contribuiu para isso o aumento de largura de banda8 na base instalada.

5 “Site” e “

home-page” não são palavras sinônimas. Um site é uma ou um conjunto de

páginas em hipertexto, que podem conter textos, gráficos, fotos e vídeos. Já home-page é tão

somente a página inicial, principal, de um site.

6 Encontra-se a palavra

on-line grafada também junta – online – e separada, sem hífen on line. Preferimos a forma hifenizada, constante no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,

editado pela Academia Brasileira de Letras, também no Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e na versão integral do The Random House Dictionary of English Language.

7 MENESCAL, Adriano. O vôo mais alto em 2005?

Webdesign, 12/2005, ano 2, nº 24, São

Paulo: Editora Arteccom, p. 40.

8 Banda Larga: Diferentemente da conexão discada, que usa obrigatoriamente linha

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Outro aspecto importante que a internet nos trouxe diz respeito ao melhor aproveitamento do tempo em sala de aula, em benefício da reflexão crítica, análise interdisciplinar e conjecturas coletivas. Não é mais necessário que o educador dedique muito tempo a explicar detalhadamente aquilo que, em teoria, os educandos podem encontrar facilmente na internet, com a vantagem da pluralidade de opiniões; bem como vídeos, áudios e imagens sobre o tema, além da possibilidade de informações adicionais em outras línguas.

Dessa forma, em um ambiente escolar onde as novas tecnologias de internet são usadas, não se constitui, hoje, a principal função de um educador dizer “o que é” o tema, apesar desse aspecto ainda ser importante, mas sim tecer com os educandos a relação entre o tema principal e os secundários, as semelhanças e diferenças de opinião e, sobretudo, a contextualização do tema com o momento presente, isto é, no exato momento em que a aula acontece. Vele salientar que conteúdo por conteúdo não é difícil encontrar, mas a contextualização local, a atualização e a reflexão crítica coletiva só determinado grupo de educandos e educadores que vivem sob as influências daquele contexto sócio-econômico e cultural específico poderá fazer. Cabe também ao educador, em conjunto com seus educandos, analisar a validade e a necessidade das informações encontradas na internet. Isto é, na educação moderna a possibilidade de debate entre educadores e educandos é a principal razão para um estudante freqüentar uma sala de aula.

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poderiam ter acesso a informações e ao diálogo. Por exemplo, a rede social on-line Orkut tem sido constantemente vítima desses bloqueios unilaterais e autoritários. Tal atitude exemplifica o preconceito que a escola formal possui contra os meios de informação9. A função da escola é pegar as interpretações e representações e dar-lhes significado de acordo com a realidade. Mais do que falar de “fatos”, é preciso falar das razões que levam aos fatos.

O processo de ensino-aprendizagem acontece sempre auxiliado por alguma tecnologia (seja organizacional, ferramental ou simbólica). A grande questão que se coloca diante de nós em termos de ensino-aprendizagem é que o conhecimento sempre esteve em rede (não me refiro aqui apenas àquele que está na rede, mas sim àquilo que podemos chamar de conhecimento entrecruzado). Dessa forma, sabemos que os conhecimentos e as ciências sempre estiveram conectados (como em um grande hipertexto) dando origem a interdisciplinaridades que, por sua vez, dão origem a novas ciências nascidas no encontro de outras que as antecederam. Mas o problema é que essa rede sempre encontrou e ainda encontra obstáculos, seja por questões políticas, econômicas, sociais, tecnológicas, pessoais ou simplesmente burocráticas, que não permitem que o conhecimento tenha um intercruzamento pleno, para que se possam estabelecer conjecturas. Assim, tudo já poderia estar “em rede na rede”, isto é, entrecruzado na Web. Esse é o nosso desafio.

Cursos de uma mesma instituição de ensino superior poderiam estar conectados, e as universidades por sua vez também poderiam estar interligadas através de redes sociais on-line, a fim de manterem constantemente canais abertos ao diálogo, de modo que o compartilhamento de informações e a colaboração evitem que alunos, professores e pesquisadores “tenham sempre que reinventar a roda”. Obviamente, de certa maneira, isso já é feito há muito tempo. Pois a troca de idéias entre cientistas é a razão de ser de publicações científicas, de congressos e seminários. A própria invenção da Internet foi motivada para permitir que cientistas pudessem colaborar e compartilhar informações. O que estamos falando aqui é

9 Nesta dissertação, condizente com o conceito de comunicação para Paulo Freire, tentou-se

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sobre como o uso de ferramentas de internet, já bastante usadas pelos jovens em seus relacionamentos interpessoais, podem ajudar professores e estudantes universitários a ampliarem as possibilidades de colaboração, tendo em vista que a ciência evolui através dos debates e das controvérsias. Isto é válido, sobretudo, no tocante às redes sociais on-line, categoria na qual o Orkut se inclui. Estas redes podem ser usadas como um padrão para que sistemas (indivíduos ou grupo de pessoas) diferentes possam se comunicar entre si e nos mostra a possibilidade de pensar formas de organização que vão muito além do que permitem as estruturas puramente hierárquicas.

Sendo assim, a presente dissertação se destina a apresentar os resultados e as reflexões obtidas sobre o uso do Orkut, onde, a priori, os jovens já estão inseridos, se projetam e se sentem identificados, como uma extensão da sala de aula. Para que a partir daí possa-se pensar em políticas públicas em educação que possam servir de norteadoras para futuros projetos em que o meio tecnológico e de sociabilidade não possam ser desconsiderados.

Pretende-se demonstrar, também, uma aplicação prática do ambiente, além dos estereótipos, com resultados efetivos, através da experiência obtida no semestre 2007.1 com a disciplina de TAVE – Técnicas Audiovisuais de Ensino, oferecida pelo DEPED - Departamento de Educação da UFRN para educandos, neste caso, dos cursos de Química (predominantemente), História e Ciências Sociais.

Diversas foram as turmas procuradas para a realização desta pesquisa (parte estudo de caso, parte pesquisa-ação), com aplicação de questionário anônimo (com questões objetivas e subjetivas) no final, mas apenas a turma 1 – 20071 concordou em participar. Sendo assim, pode-se dizer que ela escolheu participar e não que foi escolhida à revelia.

Na primeira semana de aula, os educandos foram convidados a participar da comunidade aberta para discussão. Na disciplina, matricularam-se 50 educandos, mas efetivamente apenas 28 educandos freqüentaram, dos quais 24 se inscreveram na comunidade. Por razões óbvias, quem fazia parte do Orkut, mas não estava efetivamente inscrito na disciplina, pode observar, mas não participar das discussões. O que significa que a comunidade estava moderada.

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partir da possibilidade de entendimento do outro. E do outro poder interagir, se assim ele quiser. Comunicação não é tecnologia, nem muito menos relacionamento; é a busca conjunta de significados e co-participação no ato de pensar. Foi também possível tecer uma relação entre a rede social on-line Orkut e o conceito de cooperação de Célestin Freinet, no que concerne ao Livro da Vida que em termos práticos, se trata de um caderno no qual os educandos registram suas impressões, sentimentos e pensamentos, de formas variadas, e que acaba por representar um registro de todo o ano escolar de cada classe.

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2 A COMUNIDADE

O ser humano sempre foi sociável. Desde os primórdios da humanidade, a formação de grupos foi uma estratégia adequadamente utilizada para que homens e mulheres pudessem se reproduzir e sobreviver. A ligação do homem com a sociedade parece que é anterior ao homem e que já foi um dos pilares em que se constituiu nossa humanidade. Sendo assim:

(...) se expressa tanto na gênese de seu sistema de valores e das relações normativas aceitas como em suas atitudes no sentido das disposições de ação, nos estereótipos que dominam seu pensamento etc. Simplificando, afirmamos que o indivíduo é uma formação histórica ou, dito de outro modo, é um produto das relações sociais. Trata-se de uma formulação de Marx e esta teoria do indivíduo humano pertence às descobertas mais originais do marxismo. (SCHAFF, 1995, p. 100).

Ao longo do tempo tem havido muita discussão no que concerne ao conceito de comunidade, desde as primeiras discussões a respeito da transição da

gemeinschaft (comunidade caracterizada pela vida em aldeias) para a gesellschaft (sociedade caracterizada pela vida social e nacional). Normalmente, a idéia de comunidade relacionada ao senso comum é ampla, diversificada e, ao mesmo tempo, um tanto imprecisa. Pode-se dizer que uma comunidade se constitui de um grupo de pessoas que se relacionam pessoalmente, com comportamentos, valores e interesses parecidos. Pessoas que vivem sob um mesmo governo e ligados pelo mesmo legado histórico-cultural. Normalmente, a idéia de comunidade também é associada a um componente territorial, ou seja, um espaço físico. Podemos, igualmente, aplicar a idéia de comunidade a um sentimento de pertença e uma predisposição à cooperação. Para Max Weber, o conceito de comunidade, baseado em observações empíricas, pode ser fundamentado como uma ligação emocional, afetiva ou tradicional, orientando-se, assim, para a ação social.

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Assim sendo, pode-se dizer que a sociedade é um conjunto de diferentes formas de comunidades humanas. Não faltam visões distorcidas acerca daquilo que possa ser considerado desenvolvimento tecnológico e a relação que mantemos com ele enquanto humanidade. Concepções não científicas menos baseadas em evidências e muito mais baseadas em opiniões pessoais, boa parte das quais proferidas por supostos especialistas, oferecem à sociedade opiniões ideologicamente construídas como se fossem informações. Neste sentindo, a manipulação de informações é prejudicial ao processo dialógico. Entretanto, podemos, através da educação, transmitir às pessoas uma visão científica diante do mundo e das declarações de outros interlocutores, permitindo uma compreensão crítica do mundo e dos discursos a respeito desse mundo. Ao assumir tal atitude, iremos evitar que visões ingênuas e nocivas a respeito do desenvolvimento tecnológico e da sociedade sejam apreendidas como verdades:

É fato que grande parte desse processo de mudanças e velozes transformações que todos estamos vivenciando é decorrente de dois fatores principais: a globalização e o desenvolvimento tecnológico. O mundo como conhecemos hoje faz parte desse processo ou advém dele. A globalização está presente na realidade e no pensamento, desafiando grande número de pessoas em todo o mundo. O desenvolvimento da tecnologia acelerou o processo de globalização e vice-versa, promovendo um ciclo contínuo e irreversível capaz de alterar culturas, sociedades e o próprio homem. O Orkut faz parte da globalização e da evolução tecnológica. (TELLES, 2006, p. 35-36).

Na verdade, a história da humanidade é, em grande parte, a história da busca pela melhoria de sua existência através do trabalho coletivo. Era essa a idéia que estava incutida nas primeiras comunidades socialistas no século XIX:

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asseverar, como fizera Proudhon, que a reforma social não poderia resultar da mudança política. (PRZEWORSKI, 1989, p. 19-20).

Empenhamo-nos nesses esforços coletivos para prolongar nossa existência na Terra. Desenvolvemos a tecnologia para não desaparecer:

O homem muda o mundo para se satisfazer. O que mudou muito foi a possibilidade de realização de seus desejos, mas seus desejos continuam. Porém o homem é insaciável, ele está sempre criando novos desejos. Nós não precisamos mudar. Nós mudamos o mundo. As necessidades humanas são as mesmas desde que o homem começou a existir. A tecnologia é um instrumento de poder, ela começa com a história da burguesia. O desenvolvimento tecnológico não cria um novo homem, o homem desenvolve a tecnologia para não mudar. O desenvolvimento tecnológico não transforma o homem. Atualmente a técnica propicia coisas que o espírito humano busca há muito tempo. (ANDRADE, 2007, site).

As criações emergem justamente quando tratamos determinado tema em comunidade e não apenas com o auxílio de um somatório de individualidades. Em linhas gerais, a ciência sempre foi feita de maneira coletiva, mesmo quando motivada por fins militares (como foi o caso da internet) ou pelo bem da humanidade (como foi o caso da vacina contra a pólio). Sendo assim, pode-se dizer que a produção de conhecimento sempre é um trabalho coletivo, não importando as razões que a motive. Os cientistas constroem conhecimento sobre o mundo reunindo a contribuição de outros pesquisadores e o aprimora através de um debate aberto, em um processo de troca permanente. Nesse processo, um curso de Mestrado ou Doutorado é primordialmente o trabalho de campo realizado pelo pesquisador. A dissertação ou tese escrita é tão somente um relatório, mediante o qual seus pares possam ler e saber os detalhes sobre, por exemplo, a metodologia empregada. Todos nós estamos sempre dependendo das referências, dos diálogos e dos conhecimentos produzidos por nossos contemporâneos ou por aqueles que nos precederam. É por isso que é tão importante a relação que se dá entre indivíduo e sociedade:

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auto-superação, em direção a algo que os ultrapassa, quer dizer, é graças a ele que as sociedades humanas podem caminhar na direção de uma maior universalidade. (MARCUSE apud KONDER,

1998, p. 21).

É nesse sentido que a internet se ajusta tão perfeitamente ao trabalho científico. Entretanto, a tendência que historicamente tem se observado é a de sempre se eleger uma personalidade icônica, isto é, alguém que incorpore, materialize e personifique o resultado do trabalho como sendo de apenas uma pessoa ou de um grupo, àquilo que na verdade vem sendo produzido por muitos, de diferentes áreas ao longo da história. Mesmo não sendo nosso objetivo aqui, não podemos deixar de dizer que tal atitude representa um viés da eterna luta da “vaidade” contra a “verdade”. Observemos o caso da Wikipédia10, onde milhares de verbetes enciclopédicos construído coletivamente. Pois, se em termos do passado pré-internet, já era difícil sustentar a idéia de que existe trabalho rigorosamente autoral, agora mesmo é que essa idéia não tem sustentação. Dessa forma, hoje mais do que nunca, o trabalho intelectual tornou-se não mais “autoral”, mas sim “de autores”. A capacidade de sermos produtores graças à internet é assim descrita por Andrade:

A internet não isolou as pessoas, muito pelo contrário: facilitou os contatos. Ela recupera a bidirecionalidade. A capacidade de ser produtor. Pois, a apropriação do conhecimento é capitalista e o advento da internet representa um baque contra isso. Nós usamos o computador predominantemente como uma máquina de datilografia, uma grande enciclopédia e um correio mais rápido. Quando deveríamos, na verdade, ser produtor de conhecimento. Quebrar a estrutura dos “meios de comunicação”. Implementar uma rádio, uma revista, um blog que dê poder. Educar para os meios, não significa rejeitar, mas sim refletir sobre os meios. Tudo passa pela conscientização do cidadão. A web permite, mas não garante que haja diálogo. (ANDRADE, 2007, site).

10 A Wikipédia (http://wikipedia.org) revolucionou o conceito de enciclopédia. Não apenas em

relação ao formato, já que se encontra alojada na Internet, mas também quanto à elaboração e acessibilidade para os usuários. É gratuita e livre, e qualquer pessoa interessada pode colaborar para torná-la mais extensa. A idéia por trás desse ambicioso projeto é criar enciclopédias livres em todos os idiomas, graças à colaboração dos internautas. A Wikipédia tem esse nome graças ao Wiki (pronuncia-se “wiquie”). O qual é usado para identificar um tipo específico de coleção de documentos

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Desenvolvimento tecnológico não é quando as inovações acontecem apenas para uma minoria que monopoliza o acesso. Mas sim quando a maioria tem acesso àquilo que irá facilitar sua vida. Inovações apropriadas e acessíveis acontecem quando isso é levado em consideração. Inclusive, podemos dizer que assim como a invenção da roda, uma tecnologia só se desenvolve quando todos têm acesso a ela. E nisso todos deveriam ter interesse; afinal, a tecnologia é um esforço para diminuir os esforços.

O desenvolvimento tecnológico pode ser dividido em duas vertentes: caráter amplo e questão técnica. Esta última diz respeito à produção de técnicas e ferramentas. Em muitas escolas ainda persiste esta interpretação. Partindo desse pressuposto, poderíamos afirmar que não tem sentido investir no desenvolvimento da tecnologia usada, por exemplo, nos fogões elétricos, se grande parte da população para a qual o fogão teoricamente se destina não tem acesso à eletricidade. Talvez o mais útil para uma população assim seja investir no desenvolvimento de fogões que tenham uma tecnologia que permita economizar lenha ou carvão. Isto é um exemplo de uma inovação apropriada e acessível. O problema é que “têm se dado muito valor à inovação tecnológica e pouco ao uso. Dessa forma, a tecnologia se transforma em um emblema de poder.” (ANDRADE, 2007, site). Neste sentido, pode-se dizer que o homem vive do “imperativo tecnológico”, que pode ser traduzido como o “estado no qual a sociedade se submete humildemente a cada nova exigência da tecnologia e utiliza sem questionar todo novo produto, seja portador ou não de uma melhora real” (REVILLA apud TAJRA, 2001, p. 43). Sendo assim, o ser humano não deve viver em função das inovações tecnológicas, sem refletir esses impactos sobre sua vida.

Nisso, as periferias do mundo se parecem: na urgência de resolução de problemas básicos, dos quais partilham amargamente, seja de um bairro afastado de Paris, Luanda ou em Natal. Uma escola do bairro de Mãe Luíza, em Natal, a priori, precisaria muito mais de livros impressos do que de iPods11, sem demérito destes últimos, é claro. Afinal, como diz Andrade:

Novas tecnologias para a educação do homem: não o homem “média estatística” ou o homem da elite, mas o homem brasileiro, o

11 O nome

iPod se refere a uma série de players de áudio digital projetados e vendidos pela Apple Computer. Como a maioria dos players portáteis digitais, o iPod pode servir como um

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cidadão do povo que freqüenta a escola pública e com quem o Estado tem uma dívida de quatrocentos anos.(ANDRADE, 1993, site).

Hoje, quando se fala em tecnologia, pensa-se em chips de computador e em tudo aquilo que convencionamos chamar de novas tecnologias. Mas, não podemos generalizar e considerar tecnologia só aquilo que é alta tecnologia ou “tecnologia de ponta”, tendo em vista que um abridor de latas, comum, foi e ainda é uma tecnologia importante. O mesmo se aplica para a Tecnologia Educacional, já que, para ela, o giz e a lousa representaram um avanço e tanto para a Educação. Mas não se pode conceituar o uso das tecnologias educacionais tendo por base apenas algumas técnicas. Sendo assim, a Tecnologia Educacional:

É uma maneira sistemática de elaborar, levar a cabo e avaliar todo o processo de aprendizagem em termos de objetivos específicos, baseados na investigação da aprendizagem e da comunicação humana, empregando uma combinação de recursos humanos e materiais para conseguir uma aprendizagem mais efetiva (PONS apud TAJRA, 2001, p. 44).

Neste trabalho, entende-se o computador e os outros elementos norteadores da informática, por exemplo os softwares, como sendo “meios educativos”, o qual constitui uma das áreas da Tecnologia Educacional. Segundo a concepção de Andrade:

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Porém, para que a Educação funcione, é preciso transformar as políticas de governo em políticas de Estado. Mas, para isso, é preciso mobilização e ânsia por inovação. Isso acaba com o problema da descontinuidade nos projetos governamentais, com a sensação de que é preciso sempre começar do zero:

Para que as novas tecnologias não sejam vistas como apenas mais um modismo, mas com a relevância e o poder educacional transformador que elas possuem, é preciso que se reflita sobre o processo de ensino de maneira global. Para isto, é preciso antes de tudo que todos estejam conscientes e preparados para a definição de uma nova perspectiva filosófica que contemple uma visão inovadora de escola, aproveitando-se das amplas possibilidades comunicativas e informativas das novas tecnologias para a concretização de um ensino crítico e transformador de qualidade. (KENSKI, 1998, p. 133).

A Internet não criou nada de novo. Assim como tudo o que existe, incluindo o ambiente universitário, ela está sob influência do meio social e cultural; bem como do poder econômico e político. Sendo assim, a Internet não constitui, como querem pensar alguns, um mundo paralelo ao nosso. Ela faz parte dele de forma indissociável. O que obviamente não significa que seja inofensiva em si; muito pelo contrário, o que vemos em inúmeros sites é tão somente a reprodução naquele meio de informação daquilo que acontece em nosso meio social. Mais do que isso, pode-se dizer que os meios de informação são meios de controle social. Sobre isso, Andrade nos diz que:

Os “meios de comunicação” não são o espelho do real. Esses meios deixam de ser de comunicação para se tornar um meio de controle social. Ela se realiza através da troca produtiva. E a troca produtiva é educação. A comunicação é inevitável e não improvável (como diz Luhmann). Ela é inevitável, apesar dos obstáculos. E esses obstáculos para a comunicação são as relações de poder. Uma prova disso é a língua. Pois os símbolos se estabelecem dentro de um princípio de isomorfismo para que as pessoas se comuniquem. (ANDRADE, 2007, site).

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nada mais é do que o namoro presencial tradicional, realizado por outros meios. Por isso, podemos dizer que uma rede social on-line, como o Orkut (ver anexos 1 e 2), é uma reprodução da arquitetura reflexiva presente na sociedade, sem as desvantagens comunicativas provocadas pelas distâncias geográficas.

Dentre todos os meios de informação, a internet é o que mais tende a fragmentação da informação; ou se, fragmenta nossa capacidade de interagir com outras pessoas. A fragmentação é importante apenas inicialmente, afinal ela faz parte do processo comunicativo, pois:

A fragmentação é importante no início. Mas chega o ponto que em vez de ajudar, ela atrapalha. E a fragmentação atinge sua forma de pensar. Dessa forma, podemos dizer que a fragmentação é uma opção ideológica, uma arma da classe social dominante para que as pessoas não percebam o todo.(ANDRADE, 2007, site).

Como a web é hipermidiática, isto é, tem a não linearidade do hipertexto, é multimídia e interativa, é um espaço de convergência de meios de informação por excelência. Sendo assim, há uma maior facilidade de nos perdermos no momento em que navegamos por ela e buscamos conhecimento no sentido amplo do termo.

A conseqüência disso, muitas vezes, é o agravamento da falta de sistematização das informações que tentamos encontrar. A falta de sistematização e conseqüente fragmentação em atividades de cunho intelectual também não é uma novidade. Ela está presente quando alguém se propõe a escrever um livro, e nunca o termina. Quando alguém começa a ler vários livros ao mesmo tempo, sem terminar nenhum deles. Assistir a filmes, deixando-os pela metade. Sempre que alguém começa a aprender a tocar um instrumento musical, aprender uma arte marcial ou uma língua estrangeira e desiste nas primeiras aulas, não está sendo sistemático. Desta forma, e sendo assim projetos de aquisição de conhecimento vão fracassando, tendo em vista não entenderem a própria formação como um processo contínuo para toda vida. Tudo isto pode ocorrer não só no âmbito individual, mas também governamental, representando um desperdício de tempo e dinheiro.

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Tudo isso nos permite dizer também que hoje é pouco provável que exista excesso de informação, como tanto se têm propalado. Não só por que a capacidade humana de absorver informação não aumentou de um século para outro, como também por que novos conhecimentos dão lugar a outros. Se hoje falamos em linguagem binária e linguagem de programação, em termos de informática, praticamente não há mais necessidade de se estudar latim e código Morse. Isso porque a utilidade da informação se atualiza para o homem à medida que o tempo passa. A necessidade gera conhecimento (a invenção do computador) que gera necessidade (contas de e-mail). Sobre a pertinência ou não da mídia na escola, Andrade nos alerta:

Devemos usar a mídia na educação? Nisso há dois tipos de professores: os que usam a mídia em suas relações pedagógicas e sabem disso e os que usam a mídia em suas relações pedagógicas e não sabem disso. A mídia se tornou organizadora de nossa vida. (ANDRADE, 2007, site).

Ao participar de um jornal estudantil ou “fanzine”, mesmo os fotocopiados, o educando passa a perceber que ele não está isolado. Ele vive em um mundo complexo e interdisciplinar. Ao falar da escola, Andrade nos questiona:

A escola serve para formar o cidadão ou o trabalhador? Ao formar apenas para o trabalho, se estabelece apenas uma relação meramente instrucional e técnica. Isto é, o educando sai preparado para o mercado, mas um péssimo cidadão. Quando se prioriza a formação para a cidadania, além da instrução, há também um processo educacional. Onde está explícito também o cultivo da pluralidade, democracia e negociação. Neste caso, a pessoa é capaz de pensar sobre sua profissão e dar um componente ético. (ANDRADE, 2007, site).

Ao refletir sobre os problemas da escola nas páginas do jornalzinho, os educandos projetam e relacionam as condições do cenário escolar no cenário externo. Andrade (2007, site) nos diz que a escola tem duas funções básicas:

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Além disso, podemos ainda desdobrar essas funções em outras três (ANDRADE, 2007, site):

• Passar o acervo do conhecimento humano aos educandos; • Criação de habilidade à vida social;

• Passar a visão de mundo da classe dominante na busca de hegemonia.

O valor de uma nota obtida depende muito mais do nível de exigência de uma avaliação do que propriamente do estudante. Se um professor puder e quiser reprovar uma classe inteira ele tem meios para isso, por mais que a matéria tenha sido dada e aprendida pela turma.

O sucesso é relativo, mas a colaboração é absoluta. Méritos à parte, obter o primeiro lugar em algo significa ser o melhor apenas em um grupo específico, não do universo do todo. Em um determinado tempo e sob influência de uma determinada circunstância, a qual é diferente para cada pessoa. Em outra circunstância, provavelmente a ordem dos fatores teria sido outra. Isso nos mostra os perigos de quando uma circunstancialidade tem a pretensão de almejar ser uma definição.

O orgulho e o culto ao individualismo são atitudes totalmente ilógicas e irracionais irresponsavelmente alimentados pelas forças do mercado, pois por mais que nos vangloriemos e nos envaidecemos, há sempre alguém mais rico, ou mais bonito, ou mais inteligente do que nós. Na verdade, um aluno aplicado deveria competir apenas com ele mesmo. Deveria receber o boletim e apreciar o belo trabalho que foi feito e tentar melhorá-lo porque se existe uma concorrência leal é só aquela que é travada contra nós mesmos. Na verdade, a única motivação para estudar a ser levada em consideração deveria ser para nos tornarmos pessoas ainda melhores.

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A universidade é um espaço de gestação de uma nova sociedade. E cabe a nós enfatizar isso. Os educandos não são clientes de uma instituição de ensino superior. Na verdade, a sociedade é que é cliente.(ANDRADE, 2007, site).

Vivemos em um tempo no qual não são poucas as pessoas que estão demasiadamente centradas em si mesmas. Sobre isso, SCHAFF (1995, p. 103) nos diz que “as relações entre indivíduo e sociedade oscilam hoje – pelo menos teoricamente – entre dois extremos, o individualismo e o totalitarismo”. Também para ele, “o homem moderno não pode existir fora da sociedade e deve, por isso, aceitar determinadas regras”. (SCHAFF, 1995, p. 103).

Sabemos que o antônimo da colaboração é a competição, a qual significa a vantagem de um ou mais indivíduos em detrimento de todos. Uma vez que para que alguém possa vencer, outro precisa perder. Neste sentido, as atividades esportivas praticadas em milhares de competições ao redor do mundo encontram sua máxima exposição em eventos como Olimpíadas e Copa do Mundo. Mas o “espírito olímpico” tão propalado pela mídia não constitui, como nunca constituiu, um congraçamento da humanidade em torno de um ideal de paz e harmonia. E, estimuladas por tocantes campanhas publicitárias onde se busca vender de tudo, as pessoas estranhamente acabam “comprando” essa idéia como se ela fosse algo verdadeiro. Pois o “espírito olímpico” se constitui tão somente na pura competição, na qual atletas e países busca reivindicar para si uma supremacia esportiva difícil de ser comprovada pelo seu caráter circunstancial. Assim vejamos:

A competição sadia não existe. A competição é um fenômeno cultural e humano e não constitutivo do biológico. Como fenômeno humano, a competição se constitui na negação do outro. Observem as emoções envolvidas nas competições esportivas. Nelas não existe a convivência sadia, porque a vitória de um surge da derrota do outro. O mais grave é que, sob o discurso que valoriza a competição como um bem social, não se vê a emoção que constitui a práxis do competir, que é a que constitui as ações que negam o outro. (MATURANA, 1998, p. 13).

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capitalismo americano e em ditados como “Be the shark, not the bait” (“Seja o tubarão, não a isca”). É bem possível que essa interpretação errônea possa ter vindo de uma interpretação equivocada e literal da Teoria da Evolução de Charles Darwin na qual nos fala da sobrevivência dos mais aptos as alterações do meio e não necessariamente dos mais fortes. A indução ideológica acontece em grande parte motivada pela mistificação, pois:

O poder da ideologia dominante é indubitavelmente imenso, mas isso não ocorre simplesmente em razão da força material esmagadora e do correspondente artesanal político-cultural à disposição das classes dominantes. Tal poder ideológico só pode prevalecer graças à vantagem da mistificação, por meio da qual as

pessoas que sofrem as conseqüências da ordem estabelecida podem ser induzidas a endossar, “consensualmente”, valores e políticas práticas que são de fato absolutamente contrários a seus interesses vitais. (MÉSZÁROS, 2007, p. 472).

Neste sentido, a consolidação do culto ao ego atua de forma a aprofundar a dicotomia entre o individualismo e o senso de comunidade. Algo que deixa transparecer nas estatísticas que indicam o sucesso de vendas dos livros de auto-ajuda, nas inúmeras cirurgias plásticas que são realizadas a cada ano e em programas de TV congêneres ao estilo que celebrizou “O Aprendiz” 12. Há, inclusive, livros com o título de “Você é a sua melhor marca” 13 e “Você é o seu melhor produto” 14; bem como uma revista muito popular entre os estudantes e profissionais de Administração, chamada egocentricamente de “Você S.A.”15, a qual incrivelmente lançou uma edição especial sobre educação16 e, inclusive, possui em seu site uma “comunidade virtual” 17 destinada à troca de idéias entre os leitores da publicação, esquecendo-se de que não há nada de comunitário na egolatria, um exercício de “redundância do nada”. Em suas páginas, a revista não poupa estratégias de mercantilização de seus leitores. Ela chega, inclusive, a afirmar categoricamente no título de uma reportagem que “Você é um produto”, onde afirma categoricamente:

12 Cf.: http://www.rederecord.com.br/frameset.asp?prog=119

13 Cf.: RAMALHO, Jussier. Você é a sua melhor marca, 1ª edição, São Paulo: Editora

Campus, 2007.

14 Cf.: LUSTBERG, Arch. Você é o seu melhor produto, São Paulo: Editora Futura, 2007. 15 Cf.: http://vocesa.abril.com.br

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É, sim. Mas, se quiser fazer sucesso no mercado, precisa acreditar nisso de verdade – e agir. Como? Conhecendo seus pontos fortes, seus compradores e fazendo propaganda para as pessoas certas. Você é um produto no mercado de trabalho – e deve acreditar nisso, se não quiser ficar encalhado na prateleira. Traduzindo da linguagem do marketing para a linguagem da sua carreira: sem se enxergar como um produto, dificilmente você conseguirá um emprego do qual goste, onde consiga usar o que tem de melhor e no qual encontre uma fonte permanente de aprendizado. Nessas 21 edições da VOCÊ s.a., temos repetido conceitos como: você é a sua marca, você é o seu projeto, você deve saber se vender, você deve administrar a sua própria marca. È isso mesmo, e mais que isso. (SOMOGGI, 2000, p. 44 e 45).

Para o filósofo Herbert Marcuse, a burguesia só pode propiciar aos indivíduos uma igualdade abstrata, isto é, os serviços e as mercadorias estão expostos para quem quiser obtê-los. Mas também uma desigualdade concreta, pois apenas uma minoria pode pagar por determinados serviços e/ou produtos os quais são geradores de uma grande e ilusória expectativa de felicidade por parte de quem os adquire. O resultado disso é o desencadeamento de frustrações decorrente do baixo poder de compra da maioria. No entanto, para compensar essa frustração que em tese seria capaz de liquidar com a anciã consumista dos indivíduos, a publicidade manipula e mistifica os anseios de consumo fazendo algumas concessões a realidade. Pois, é preciso dar uma certa credibilidade aos sonhos consumistas da sociedade no sentido de fazer crer aos indivíduos que eles “podem chegar lá”. E para Marcuse é essa crença que cultiva uma hipercompetitividade sobre a qual estamos aqui nos referindo e onde não há muito espaço para o senso de comunidade:

O que precisa ser radicalmente denunciado é o fato de que o prazer e a liberdade sofrem uma deformação profunda à medida que não podem ser efetivamente desfrutados por indivíduos concretos. No capitalismo, as pessoas são envolvidas nas malhas de demandas artificiais que exploram os desejos manipulados de individualidades cada vez mais abstratas. Impulsos e necessidades potencialmente enriquecedores são substituídos por carências cultivadas pela hipercompetitividade. (MARCUSE apud KONDER, 1998, p. 19).

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tempo, sobretudo com o advento dos “telepastores”, começou-se também a enfatizar a obtenção de bens materiais e a prosperidade financeira por meio da oração. Não faltam, portanto, apelo “sucessomania” de seus fiéis. Aproveitando o espaço já trilhado pelos incontáveis livros publicados anualmente de auto-ajuda, há um fato material bibliográfico e videográfico que adentra em um inacreditável espaço bizarro onde se misturam altas doses de teologia com o paganismo material. Um exemplo disso é o livro “Lições de Vencedor - Como os heróis da bíblia superaram os desafios e alcançaram o sucesso”18, escrito pelo pastor Silas Malafaia. Além disso, todos os dias nos deparamos com propagandas de faculdades particulares na mídia que, adversas aos princípios que norteiam a idéia de comunidade, conclamam as pessoas portadoras de diploma de curso superior a fazer um curso de pós-graduação, com o slogan "Você. A melhor opção de investimento que existe."19

ILUSTRAÇÃO 1 – Banner publicitário promocional da Pós-Graduação de uma faculdade privada.

18 Cf.: MALAFAIA, Silas. Lições de Vencedor - Como os heróis da bíblia superaram os

desafios e alcançaram o sucesso, 1ª edição, Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson Brasil, 2009.

19 Cf.: Campanha publicitária promovendo a pós-graduação da Facex

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Isso, como se a principal, se não a única, razão de ser de uma pós-graduação fosse tão somente formar mão de obra para o mercado e, aumentar as chances de empregabilidade de quem as faz. Neste sentido, as instituições particulares de ensino superior estão sim “em sintonia com o mercado” como seus dirigentes mesmos dizem, tendo em vista que a condição de empregabilidade é sim a face mais visível de sucesso a qual a maior parte da população almeja, tendo em vista que lhes falar de “formação para a cidadania” pode parecer um tanto quanto abstrato demais. Assim, os estudantes de tais instituições estão pagando para ter acesso a um tipo de educação que encontra sim demanda social, segundo as leis mercadológicas da oferta e da procura. O que não seria problema se a educação fosse uma mercadoria, o que definitivamente não é. A educação vista como um simples negócio não condiz com a concepção freiriana e freinetiana de educação, que deveria servir como um instrumento de libertação do ser humano. Mesmo assim, ao rejeitar a competição individual que existia nas escolas tradicionais, o movimento cooperativo formulado por Célestin Freinet não significou uma abolição das individualidades.

Dentro de um sistema que promove o culto ao individualismo, são inúmeras as pessoas que usam o Orkut como uma forma de autopromoção, isto é, para aquilo que alguns chamam de “Marketing pessoal”, no qual pessoas são comparadas a produtos. Os construtores desse conceito, demonstram claramente ter uma visão limitada do que realmente significa feedback e uma concepção maquiavélica das relações sociais. O resultado prático disso são conselhos no sentido de incentivar seus interlocutores a adotarem uma postura que simula a espontaneidade.

Como nos ensinam as estratégias do marketing tradicional, todo

produto necessita de uma boa embalagem. Portanto, escolha com cautela a foto que colocará no Orkut e cuide de sua apresentação pessoal, pois são seus cartões de visita. Demonstre iniciativa, persistência e motivação em tudo o que faz. Certamente isso trará a atenção das pessoas, que o identificarão como alguém interessante e interessado. Fique atento ao feedback. Saber o que as pessoas

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tocarmos o coração das pessoas e cativá-las para sempre. (TELLES, 2006, p. 37-38).

É essa mesma ausência de espontaneidade que alimenta tanto o gesto de mãos levantadas de alguns jogadores de futebol que nos estádios pedem eles mesmos a suas torcidas para serem incentivados; quanto os protestos de rua árabes no Oriente Médio, nas quais os manifestantes ostentam em boa parte cartazes escritos não em sua língua materna, mas sim em inglês. Na esperança de serem filmados pelas câmeras de TV internacionais. Sem falar das cidades turísticas que são artificialmente preparadas não necessariamente pensando no bem estar de seus moradores, mas sim na perspectiva sobre como elas serão vistas segundo a ótica dos turistas. Inclusive o altamente sedutor ramo publicitário, o qual milhares de jovens querem fazer parte, desenvolveu um termo chamado de “Personal Branding”, que pode ser traduzido como “Marca Pessoal”, segundo o qual as pessoas devem se posicionar perante o mercado como se elas mesmas fossem “marcas” por si só, analogamente ao marketing de uma marca ou empresa. Há inclusive empresas que oferecem serviços sobre como melhorar a forma como o contratante é visto pela sociedade. Isto é, eles descobriram que a manipulação comportamental pode se transformar em um serviço altamente rentável a ser contratado. Tal e qual a simulação da possibilidade de uma “outra” vida em ambientes virtuais ou do orgasmo de uma prostituta.

Você já pensou que a maneira como você se relaciona com as pessoas, ou como trabalha, fala e se veste faz parte de uma identidade única? No que as pessoas pensam quando alguém diz o seu nome? Para o desenvolvimento da sua MARCA PESSOAL, a Quinto Elemento conta com o apoio de profissionais de Coach, Personal Stylist, Branding e Gestão da marca. Nós trabalhamos desde a percepção do que você e as outras pessoas identificam como sendo os seus pontos fortes, a representação gráfica desta identidade, bem como a sua promoção e visibilidade no mercado profissional. Por meio de cuidados como postura pessoal e profissional, como se vestir, e como se apresentar ao mundo, a Quinto Elemento – Design da Informação ajuda você a construir uma carreira que tenha a ver com sua essência. (2008, site).20

Nós brasileiros vivemos em uma sociedade estruturalmente conservadora por ser autoritária, hierárquica, desigual e violenta. Nesse cenário de não comunicação,

20 Cf.: Personal Branding – Construa sua marca pessoal. Disponível em:

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de simulação e de muita manipulação, há por parte dos envolvidos no processo um esforço imenso e terrível de adequação a um sistema fechado, consumista e ideologicamente vinculado às classes dominantes que se crê ser verdadeiro.

A classe média brasileira, a exemplo de outras congêneres ao redor do mundo, cultiva uma fórmula idealizada de sobrevivência que pode ser caracterizada por: emprego estável (em uma empresa multinacional ou no alto escalão do funcionalismo público, de preferência com aposentadoria acumulada) + condomínio fechado + plano se saúde privado + laser e consumo em shoppings centers. O que gerou um sistema informal de apartheid social construído pela elite de forma irresponsável e mais eficiente que o sul-africano, o qual necessitava de uma vasta legislação segregacionista. É essa classe social conformada e auto-proclamada “bem-sucedida”, cujos membros vêm trilhando esse caminho já há algum tempo que Marcuse qualificou como unidimensional:

O uso sistemático de meios repressivos disfarçados é típico da chamada "sociedade afluente", na qual a sensação de liberdade das pessoas é estimulada pelo fato de o empregado e o patrão poderem ver os mesmos programas de televisão, pelo fato de a empregada e a patroa poderem usar o mesmo baton, etc. Uma observação crítica

da "sociedade afluente", segundo Marcuse, revela os efeitos da manipulação dos comportamentos humanos. Os indivíduos falam cada vez mais sobre a diversidade, sobre as diferenças individuais, parecidos uns com os outros, pois estão sendo permanentemente pressionados no sentido de se adaptarem a um "padrão de pensamento e de comportamento unidimensionais". No passado (e até uma época recente), a cultura era capaz de contrapor críticas, idéias e aspirações à ideologia dominante, por ela mesma acolhida. Era, portanto, uma cultura bidimensional. Na segunda metade do século XX, contudo, a sublimação característica das criações artísticas foi sendo substituída por uma "dessublimação" que passava a "domesticar" os instintos dos indivíduos, enquadrando-os pragmaticamente na dinâmica do mercado. (MARCUSE apud

KONDER, 1998, p. 22 e 23).

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O filósofo Leandro Konder faz uma reflexão interessante sobre essa época de “pragmatismo extremado”:

Acredito firmemente que a liberdade para todos depende de certa paridade nas condições sociais, econômicas e culturais asseguradas às pessoas. Se prevalecem condições privilegiadas (de concentração de poder e riqueza para uns, em detrimento de pobreza e ignorância para outros), a liberdade se degrada. Estou convencido, igualmente, de que a luta permanente pela democratização da sociedade depende da participação ampliada, do aumento da participação dos explorados no combate à exploração e do aumento da participação dos oprimidos no combate à opressão. Tenho procurado seguir essa linha, porém suspeito que não tenho acertado muito. Acumulei derrotas. (...). Nesse nosso tempo de pragmatismo extremado, estou longe de ser um winner. De fato sou

um loser. Contudo, valeu a pena ter brigado por coisas nas quais eu

acreditava, mesmo que o preço fosse o fracasso. A ética me consolou nas derrotas políticas. (...). O conceito que cada loser faz

de si mesmo depende da avaliação que ele faz do que pretende fazer. Se não pretende fazer nada, já está objetivamente acumpliciado com os winners. Os gregos chamavam isso de uma

concepção agonística da vida. Dentro de seus limites, cada um de nós tem que lutar, tem que travar seu combate (agon) até se

defrontar com o inimigo invencível (a morte). Nesse estágio final, o combate se transforma em agonia. (KONDER, 2008, 250 e 251).

Em termos de problematização, Paulo Freire afirma que o importante é descobrir o sentido e o significado do conhecimento para a nossa vida e para a vida de todos. Isto é radicalmente contrário à visão tradicional do conhecimento, na qual ele serve apenas para que cada pessoa possa se enriquecer enquanto sujeito, usando o conhecimento em seu próprio benefício, o que se traduz como uma visão capitalista do conhecimento.

Nesta ânsia irrefreada de posse, desenvolvem em si a convicção de que lhes é possível transformar tudo a seu poder de compra. Daí a sua concepção estritamente materialista da existência. O dinheiro é a medida de todas as coisas. E o lucro seu objeto principal. (FREIRE, 2003, p. 46).

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em detrimento do sucesso da maioria, que é passado aos jovens. O que não nos deixa surpresos, no que diz respeito à forma em que o meio ambiente tem sido tratado, já que os recordes de produção industrial tem exigido muito dos nossos recursos naturais.

Ao pensar a sociedade apenas como um somatório de “ilhas” individuais, as quais homonimamente se chamam “eu”, essa visão egoísta já se mostrou e ainda se mostra falida; se não hoje pela atual desagregação social, será um dia por suas próprias contradições internas e pelo aquecimento global. Por tudo isso, compartilhar conhecimento é uma forma de se construir uma comunidade mais fraterna. E é a partir desse momento que esse conhecimento se torna valioso. Mas o fato de pertencermos a diferentes comunidades independe da vontade individual das pessoas. Neste sentido:

Querendo ou não, pertencemos todos a uma vasta comunidade: o gênero humano. Mas a humanidade é grande demais, não conseguimos enxergá-la. Recorremos, então, a comunidades menores, que substituem a espécie humana. Uns se integram (ou entregam?) em partidos políticos, outros a seitas religiosas, muitos se contentam a pertencer a um clube de futebol ou a uma escola de samba, alguns se definem como sócios de um clube ou membros de uma corporação profissional. Isso pode ser bom ou pode ser ruim, dependendo do espírito com o que o sujeito vive sua pertinência à “pequena comunidade”: com espaço para a tolerância, o diálogo e o humor.(KONDER, 2002, p. 8).

É comum se qualificar a área da Publicidade e Propaganda como um ramo da Comunicação Social, ao lado do Jornalismo, Radialismo e Relações Públicas. Dessa forma, qualifica-se como “comunicação” o que na verdade não passa de manipulação e mau-caratismo transformado em profissão:

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Assim sendo, se tomarmos como base o conceito de Comunicação para Paulo Freire21, não se pode falar nessas áreas como sendo Comunicação, muito menos a Publicidade e a Propaganda, nas quais as idéias dominantes serão sempre as idéias das classes dominantes. Na verdade, os dois conceitos não só não são a mesma coisa, como são até conceitos antagônicos. Por isso, a assim dita área de “Comunicação Social” não é comunicação, nem muito menos é social. É altamente discutível que nelas, sobretudo na Publicidade, haja ética; ou seja, o que as pessoas dizem se supõe que esteja havendo verdade pessoal. Desta forma, sem esta pré-condição para o estabelecimento do diálogo, não se pode dizer que um anúncio seja algo comunicativo:

A nós, não nos é possível persuadir a aceitarmos a persuasão para a aceitação da propaganda como uma ação educativa. Não vemos

como se possa conciliar a persuasão para a aceitação da propaganda com a educação, que só é verdadeira quando encarna a busca permanente que fazem os homens, uns com os outros, no mundo em que e com que estão, de seu Ser Mais. (FREIRE, 1988, p. 23).

Em um cenário como este, onde a concepção de “comunidade” vem sendo ameaçada, a saída que nos resta é enfatizar as contradições entre o modelo individualista que a mídia tem propalado e o senso de coletividade. O que nos faz pensar que ainda vivemos em um mundo de profundas contradições sociais e sobre como deve se dar a produção e o acesso ao conhecimento. Em termos de tecnologia educacional, essa atitude pode ser traduzida a partir daquilo que se convencionou chamar de “web colaborativa” e sua respectiva aplicabilidade no processo de ensino-aprendizagem, que será melhor pormenorizada nos capítulos a seguir.

2.1 A colaboração em comunidade

Os primeiros enciclopedistas da História, os iluministas do século XVIII, romperam com o pensamento da Igreja ao colocar o ser humano no centro do conhecimento. Como sabemos, o ato de colaborar não é algo novo no campo da

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produção do conhecimento. Exemplos como a Bíblia e o Projeto Manhattan que desenvolveu a Bomba Atômica foram realizados em épocas e com objetivos diferentes, são projetos colaborativos. No esporte, mais precisamente no ciclismo, “gregário” ou “domestique” são termos utilizados para definir o ciclista que abdica dos seus interesses pessoais, apenas para ajudar o líder da equipe. Já os brasileiros inventam o “Frescobol”, um esporte no qual não existem competidores que alimentem a rivalidade, pois não há vencidos e vencedores. Como o jogo é praticado cooperativamente, não há adversários mas sim parceiros. O mais importante no Frescobol é o comprometimento nas jogadas. Há uma poesia chamada “Tecendo a Manhã”22 de João Cabral de Melo Neto que diz:

1

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Assim sendo, não só as ciências, mas também alguns esportes e as artes praticadas e desenvolvidas atualmente são devedores de tudo o que foi produzido por aqueles que nos precederam.

Já faz algum tempo que a produção de conhecimento tem sido fortemente caracterizada pela fragmentação, superficialidade e descontinuidade daquilo que historicamente deveria ser encarado como integral e em processo. Visão que nos tempos da informação digital têm consideravelmente se agravado. Hoje se tem falado muito em convergência dos meios tecnológicos, quando nos parece aqui mais

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importante que se fale em uma convergência cognitiva ampliada pelos meios tecnológicos. É isso o que realmente importa.

Não vivemos uma época de quebra dos processos históricos, pois o ser humano é inevitavelmente um ser historicizado, mas sim uma época de perda da noção da história como processo. A qual implica inevitavelmente em um enfraquecimento da capacidade de mobilização social. Note-se que nos referimos aqui a um "enfraquecimento" pelo seu caráter fugaz e não na inexistência de mobilização, pois há inúmeros exemplos que manifestações organizadas via internet, como as Anti-Globalização do início deste século. Há, inclusive, grandes empresas e governos que estão hoje bem atentos às discussões travadas nas comunidades de redes sociais on-line, como o Orkut. Assim, é inevitável pensar aqui que se os jovens pudessem entender o quão a História é antes de tudo um processo dialético e que suas reivindicações podem facilmente ser amplificadas pela web aí sim teríamos um quadro semelhante ao engajamento dos jovens de Maio de 1968 com o adicional peso da internet. Em substituição ao atual estado de alienação (ação sem reflexão) de nossos jovens.

Em busca de encontrar novas relações entre o aluno e o meio, o professor, o material pedagógico e a comunidade, Célestin Freinet montou, com o auxílio dos habitantes da aldeia em que dava aula, uma cooperativa de venda e consumo de produtos locais.

O trabalho cooperativo, que exige autodisciplina, desperta o interesse dos alunos. A classe se torna uma verdadeira comunidade de indivíduos que participam da elaboração de regras para alcançar o melhor desenvolvimento em seus projetos e atividades. (ELIAS, 2004, p. 66).

Seu objetivo era, através da experiência coletiva, desenvolver elementos para uma aprendizagem crítica e dialética, por meio de uma pedagogia popular e democrática, sem que houvesse uma separação entre ensino-aprendizagem e realidade, algo, tempos depois, também buscado por Paulo Freire23.

Por isso tudo, o ato de colaborar, tal e qual falamos aqui, só é algo recente na internet. Por isso é que são inúmeras as expressões mais ou menos freqüentes encontradas na imprensa, em artigos científicos que tentam descrever o atual

Imagem

ILUSTRAÇÃO 1 – Banner publicitário promocional da Pós-Graduação de uma faculdade  privada
ILUSTRAÇÃO 2 – Demonstração gráfica do “mundo real”, “ambiente virtual” e das  comunidades formadas por pessoas
TABELA 1 – Dados estatísticos referentes a utilização de computadores e internet no Brasil
ILUSTRAÇÃO 3 – Demonstração gráfica de uma rede social on-line. Perfil da amostra:  educandos da disciplina de TAVE – UFRN (2007.1)
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Referências

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