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Conexão Céu e Terra é o conjunto de três estados do objeto Balão d’água (saco preto

com gases).

Para encher o Balão d’água, corroí metais com eletrólise com o intuito de gerar os gases hidrogênio e oxigênio, produzidos durante a gravação e armazenei-os dentro do balão. A gravura estava presente neste trabalho, enquanto uma ação de deslocamento e transformação da matéria, além do ato de corroer o metal. Retornando aos três estados citados acima, abordarei as especificidades de cada um, a primeira ação com o Balão d’água é um desdobramento do trabalho intitulado Horizonte

Vertical, que era composto por dois dispositivos, ‘Fio Terra’ e ‘Sem Fim’. Sem Fim consiste em uma

pandorga que foi lançada no ar com o objetivo de realizar a conexão com o Fio Terra, esse segundo dispositivo é uma linha que na ponta foi fixado uma pedra que faz peso contra a terra. A união destes dois dispositivos forma uma linha na paisagem, que dei o nome de Horizonte Vertical (Fig.80). Contudo, a linha do dispositivo Sem Fim, dificilmente formava o ângulo de 90 graus com a terra. A linha vertical ficou mais coerente com a substituição da pandorga pelo Balão d’água (Fig. 81).

Horizonte vertical surge quase como a ideia de erguer um menir sobre um determinado lugar, em busca de uma estabilidade vertical semelhante a que encontramos na linha estável do mar. A relação desse trabalho com o menir se encontra na parte invisível do processo de criação. Francesco Careri comenta que os menires exerciam varias funções como o “culto ao sol, mas provavelmente os menires também indicavam de modos diversos, lugares onde heróis lendários encontram a morte, lugares sagrados em que se fazia notar uma forte energia ctônica, lugares em que estava presente a água – aliás, também sagrada, [...] (CARERI, 2013, p. 52). Para o mesmo autor os menires funcionavam como um sistema de orientação territorial para os viajantes, sendo então um guia inserido na paisagem.

A segunda ação foi um breve passeio com o “Balão d’água” nas ruas de Bagé (Fig. 83). Este deslocamento com o Balão d’água, relaciono com o caminhar orientado por um menir feito com água

Figura – 80. Horizonte Vertical. Fonte: acervo do autor, 2014.

Figura – 81. Horizonte Vertical II. Fonte: acervo do autor, 2014.

contida num balão. No saco plástico as moléculas da água estão no estado gasoso, o preto do balão simboliza em meu trabalho águas escuras que segundo Bachelard47 são águas profundas.

A terceira ação com o “Balão d’água” foi a de inserir uma imagem de uma gravura de Danúbio Gonçalves48, intitulada “Espera”, o objetivo era de que esta sobrevoa-se Bagé (Fig. 82 e 84). Depois do primeiro lançamento, refleti sobre outros, como por exemplo, enviar os cartões postais: “Cartas Circulantes”49 na espera que na queda alguém o encontre e faça contato com o grupo. Esta última ação com o “Balão d’água tem como referência o trabalho Ar de Paris de Duchamp, como este artista, procurei transformar um elemento banal em um elemento potente. Busquei tornar visível o ar da corrosão, assim como outros elementos que permaneciam em potência em meu processo de gravar.

47

BachelardÁgua e o Sonho. 48

O artista gravador foi um dos membros do Grupo de Bagé, que surgiu em meados dos anos 40. 49

São postais criados pelo Grupo de Pesquisa Deslocamentos, Observâncias e Cartografias Contemporâneas - Deslocc (CNPq/ UFPel).

Figura – 83. Passeio com o Balão d’água. Fonte: acervo do autor, 2014.

Figura – 82. Lançamento da imagem “Espera” de Danúbio Gonçalves. Fonte: acervo do autor, 2014.

Figura – 84. Vôo do Balão d’água com a imagem da gravura de Danúbio Gonçalves. Fonte: acervo do autor, 2014.

3.5. Transformador

O “transformador” (Fig. 86 e 87) título do trabalho exposto na primeira mostra do mestrado em poéticas visuais 2012 da UFPel, foi o primeiro trabalho realizado no mestrado e representa o primeiro passo para as questões que apresentei nesta pesquisa. Este trabalho teve sua origem também nas práticas de gravar o metal com corrente elétrica. Em meio as investigações sobre a eletrogravura surgiram uma série de questões, entre elas a ideia de criar uma marca induzida por outro metal. Esse pensamento decorre da prática de gravar uma matriz de metal a partir de outra placa metálica, me aproprio de uma imagem para induzir uma marca em outra superfície. A matriz resultante dos processos eletrolíticos é fruto desse movimento contínuo de contatos entre metais, moléculas e elétrons.

Em uma gravação não imponho o contato, simplesmente oriento as linhas de força que irão induzir um movimento interno no metal. Gravar por essa ótica é entender que o fluxo da corrente elétrica cria um sulco, um vazio, uma ausência na matriz, que se revela presente na outra placa, é nela que se encontra a imagem que se projeta no espaço. Esta placa que ainda não é uma matriz atua como metal de sacrifício, recebendo elétrons e resíduos durante uma gravação. Nesse sentido a imagem surge de um movimento invisível entre duas matrizes pela (corrente elétrica), pois é necessário um metal carregado para gerar a corrosão em outra matriz. O contato que mantém unidas as duas placas de metal no trabalho Transformador é resultado da força do campo magnético de um eletroímã, criado pelo movimento dos elétrons. Este movimento provoca uma transformação na matéria capaz de alterar a orientação dos pólos norte e sul de algumas moléculas do metal.

Após a montagem do trabalho a queda e a separação das placas são inevitáveis, pois não estão coladas e sim unidas por uma força magnética gerada pelo movimento dos elétrons, basta a ausência de energia elétrica ou uma sobrecarga para a escultura se fragmentar.

Figura – 86. Contato por atração magnética.

O objeto exposto no dia 05 de julho a 03 de agosto de 2012 se manteve em contato por seis dias, 20 horas e 20 minutos. O que se viu no restante da exposição foi o índice de um acontecimento. A queda aconteceu no dia 10 as 10 horas e 20 minutos, o corpo carregado (a placa envolvida com o campo magnético) apresentou efeito joule algo semelhante ao efeito dominó. O que aconteceu foi consequência de um aquecimento que ao passar das horas desencadeou uma sobrecarga no fio esmaltado. A temperatura elevada da matriz facilitava o fluxo da corrente elétrica e quanto maior era esse fluxo mais elevada se tornava a temperatura, este fenômeno se estendeu até o rompimento do fio. Correr riscos, experimentar e trabalhar com o limite dos materiais faz parte do meu processo de criação e poética. A escultura exposta tratava da relação entre os materiais e a energia que da forma a um objeto.

Figura – 87.Transformador, 2012. Escultura. Ferro e fio esmaltado, 30x20x5 cm.Fonte: acervo do autor

Figura – 88. Detalhe do trabalho

Transformador, 2012. Escultura.