• Nenhum resultado encontrado

5. CAPÍTULO 4 OS IMPACTOS DO PAR NA ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS

5.3 As Conferências Municipais de Educação

A Conferência Nacional de Educação com vista a construção coletiva de um Plano Nacional de Educação foi organizada em 7 (sete) eixos, a saber: I - O Plano Nacional de Educação e o Sistema Nacional de Educação: Organização e Regulação; II- Educação e Diversidade: Justiça Social, Inclusão e Direitos Humanos; III- Educação, Trabalho e Desenvolvimento Sustentável: Cultura, Ciência, Tecnologia, Saúde, Meio Ambiente; IV - Qualidade da Educação: Democratização do Acesso, Permanência, Avaliação, Condições de Participação e Aprendizagem; V - Gestão Democrática, Participação Popular e Controle Social; VI - Valorização dos Profissionais da Educação: Formação, Remuneração, Carreira e Condições de Trabalho e VII - Financiamento da Educação, Gestão, Transparência e Controle Social dos Recursos. Dessa forma, o eixo I traz os desafios para a construção de um Sistema Nacional de Educação.

sociedade na a consolidação de políticas enquanto políticas de Estado. A esse respeito, destacam-se a 1ª Conae, em 2010, e as conferências municipais, estaduais e do Distrito Federal que ocorreram em 2009. Assim, estados, municípios e Distrito Federal foram chamados a participar da construção do documento-final da Conae em prol da construção do PNE.

No que se refere à organização e regulação do PNE e SNE, os municípios de Vitória e Cariacica apontaram para o reconhecimento de que para a efetiva garantia de igualdade de direito ao acesso, qualidade e permanência dos alunos em níveis e modalidades de ensino, fazem-se necessárias políticas e gestões que visem à superação do cenário atual de desigualdades, requerendo o PNE, conforme prescrito na EC 59/2009, e a construção do SNE como política de Estado por meio da regulamentação do regime de colaboração. Nesse contexto, é fundamental a efetivação do pacto federativo, construído na colaboração e coordenação entre os entes federados e sistemas de ensino, em prol da garantia do direito à educação de qualidade para todos.

Os documentos produzidos nas conferências municipais prosseguem reforçando que a Constituição Federal de 1988 prevê que leis complementares fixem normas para a cooperação entre a União e os estados, o Distrito Federal e os municípios. De modo a se garantir, por meio do PNE e do SNE, o direito à formação integral; o estabelecimento de políticas de educação que garantam o acesso, a permanência e a qualidade para todos, visando à superação das desigualdades educacionais vigentes entre as diferentes regiões; o reconhecimento e valorização da diversidade; a efetivação de uma avaliação educacional emancipatória, democrática e socialmente referenciada, para a melhoria da qualidade dos processos educativos e formativos; a definição de parâmetros e diretrizes para a valorização dos/as profissionais da educação; e a gestão democrática na educação básica, por meio do exercício da democracia participativa de toda a comunidade escolar na discussão, na elaboração e na implementação de planos municipais de educação, de planos institucionais e de projetos pedagógicos das unidades de ensino, bem como para a ocupação do cargo de gestor dessas unidades por meio de eleição direta.

Os documentos oriundos das conferências municipais, ao tratarem das competências e atribuições dos diferentes entes federados, acrescentam que as definições das atribuições implicam a ação propositiva da União na definição de diretrizes, bases e normas gerais para a educação nacional, ao passo que aos estados, municípios e DF compete à definição de normas

específicas, além da aprovação de planos de educação e criação de sistemas educacionais. Isso em um cenário de efetivo regime de colaboração. A esse ponto, o documento produzido a partir da Conferência de Vitória, especificamente, acrescenta que, a ação propositiva, entretanto, não pode ser confundida com ação indutiva, sendo necessária a instituição de fóruns interfederativos que negociem de formahorizontal os rumos da política educacional brasileira, o que mostra uma preocupação quanto à indução, por parte do governo federal, de políticas educacionais nos municípios sob o slogan de regime de colaboração.

E acrescenta ainda, nas atribuições de cada ente federado, mediante a regulamentação do regime de colaboração por lei complementar, deverá ser definida a função redistributiva e supletiva da União de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos estados, DF e aos municípios. Não é observada no documento oriundo da Conferencia Municipal de Educação de Cariacica qualquer sugestão de alteração do documento-referência da CONAE nesta direção.

Os municípios estudados corroboram o entendimento de que a consolidação de um SNE que articule os diversos níveis e esferas da educação nacional só será possível por meio do debate público e da consonância entre Estado, instituições de educação básica e superior e movimentos sociais, em prol de uma sociedade democrática, direcionada à participação e à inclusão, sobretudo pela articulação com diferentes instituições, movimentos sociais, com o Fórum Nacional de Educação, o Conselho Nacional de Educação (CNE), conselhos estaduais, distrital e municipais de educação e conselhos escolares com efetiva e democrática participação popular. Dessa forma, os municípios reforçam a importância da efetiva atuação dos conselhos de educação para a consolidação da gestão democrática, tal como indica o PAR. A esse ponto, o documento de Vitória ressalta a necessidade de que tal articulação direcionada à inclusão ocorra com o devido cuidado para não se atribuir a responsabilidade somente sobre o profissional da educação e a escola, de modo que se busque soluções em investimentos, prédios adaptados, redução do número de alunos, ou seja, condições de trabalho favoráveis para almejar tal superação.

Segundo as deliberações das conferências municipais, a construção de um SNE requer o redimensionamento da ação dos entes federados, garantindo diretrizes educacionais comuns em todo o território nacional, tendo como perspectiva a superação das desigualdades regionais e a garantia do direito à educação de qualidade. Assim, a construção do SNE requer à

regulamentação do regime de colaboração e à construção e efetivação de um PNE como política de Estado, que envolva as esferas de governo, em regime de corresponsabilidade, utilizando mecanismos democráticos com perspectiva participativa, como as deliberações da comunidade escolar e local, bem como a participação dos/das profissionais da educação nos projetos político-pedagógicos das instituições de ensino; e na definição das políticas públicas de educação, inclusive na definição de verba orçamentária, acrescenta o documento de Vitória.

Portanto, os documentos produzidos a partir das Conferências Municipais de Educação vão ao encontro das metas necessárias para a criação e consolidação de um PNE e do SNE ao sinalizar para a superação das desigualdades regionais do país no processo educacional, a valorização dos profissionais da educação e a gestão democrática no processo de construção dos planos municipais de educação, dos projetos pedagógicos e para a escolha dos gestores das instituições de ensino, tal como também sinaliza o PAR. Entretanto, vale lembrar que, na prática durante o processo de construção e/ou avaliação do diagnóstico do PAR, o qual teria a função de possibilitar a visualização da realidade dos municípios, bem como durante a construção das metas deste plano, tal forma de gestão participativa não se concretizou.

Em síntese, observamos neste capítulo que os municípios avançaram quanto à criação de seus respectivos sistemas municipais de educação e a criação e participação dos conselhos municipais, além de reconhecerem suas fragilidades. Tendo em vista a não construção do PME, o qual tem a função de regulamentar as ações desenvolvidas no campo educacional como ações de Estado, de modo que tais ações não fiquem a mercê da boa vontade de diferentes governos. Entretanto, durante a ocorrência de suas respectivas Conferências Municipais de Educação, os documentos produzidos pelos municípios neste espaço de construção coletiva, embora reforcem os encaminhamentos nacionais em prol da construção de um SNE, bem como do PNE, não há por parte de ambos os municípios indicativos de como se corrigir em âmbito local as fragilidades reconhecidas no diagnóstico do PAR.

Passados 10 anos de vigência do PNE (2001-2010), a criação do PME de ambos os municípios ainda não se efetivou. Neste contexto o PAR reforma a necessidade de construção do PME como um planejamento de longo prazo para normatizar educação dos municípios.

Tendemos a concordar com Damasceno e Santos (2010) ao argumentarem que a elaboração do PAR por parte dos municípios brasileiros se constitui como um rico conjunto de

oportunidades para o debate acerca de suas realidades geopolíticas e sociais. Além disso, o PAR também atuou como um instrumento de aproximação entre os entes federados (SOUZA, 2010). Entretanto, a construção de um SNE requer que em âmbito local as ações necessárias e importantes para tal construção, a exemplo dos PMEs, enquanto instrumentos de orientação e regulamentação da educação do município se concretize.

Também podemos inferir que, embora o PAR represente uma importante ferramenta capaz de propiciar a participação de diferentes atores sociais na construção de um projeto de educação para os municípios, ainda não conseguiu imprimir uma prática de participação necessária à efetivação de uma gestão verdadeiramente democrática nos municípios analisados.