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1 INTRODUÇÃO

1.2 Apoio social para crianças e adolescentes: como está sendo avaliado?

1.2.1 Confiabilidade, validação e normatização de instrumentos de pesquisa

A utilização de instrumentos de medidas exige a observação de alguns pontos fundamentais, como a confiabilidade, também chamada de fidedignidade e precisão, e a validade, que podem garantir segurança, quanto aos resultados, ao gerar medidas confiáveis (MARTINS, 2006; ANASTASI, 1972).

A confiabilidade de um instrumento é a sua coerência, determinada por meio da constância dos resultados, ou seja, refere-se ao grau em que repetida aplicação do instrumento, ao mesmo indivíduo ou objeto, produz resultados semelhantes (COZBY, 2003). Assim, uma medida confiável é consistente e precisa porque fornece uma medida estável da variável avaliada (MARTINS, 2006). A confiabilidade de um instrumento de medida pode ser determinada mediante técnicas e procedimentos como, por exemplo, a técnica do teste e reteste, técnica de formas paralelas, técnica das duas metades, coeficiente alfa de Cronbach, confiabilidade a partir de avaliadores, entre outros (PASQUALI, 2009, cap.7).

Por sua vez, a validade diz respeito ao aspecto da medida ser congruente com a propriedade avaliada, ou seja, diz respeito à adequação e/ou legitimidade da representação do traço observado. Em outras palavras, essa validade se refere ao grau em que um instrumento realmente mede a variável que pretende medir. Para demonstrar a validade dos instrumentos são utilizados 3 grandes tipos de validade: construto, critério e conteúdo (PASQUALI, 2009, cap.6; ANASTASI, 1972).

A validade de conteúdo se refere ao grau em que um instrumento evidencia um domínio específico de conteúdo do que pretende medir. Essa validade é praticamente garantida pela técnica de construção do teste, considerando que especificações do teste sejam feitas antes da construção dos itens (PASQUALI, 2009, cap. 6). Já a validade de construto é considerada fundamental, pois constitui a maneira direta de verificar a hipótese da legitimidade da representação comportamental dos traços latentes, ou seja, verifica-se se o instrumento possui uma representação adequada do construto (PASQUALI, 2009, cap.6).

Dentro da validade de construto, a proposta da avaliação convergente e divergente é estabelecer uma correlação entre o instrumento avaliado e instrumentos correlatos com validação científica. Sendo assim, a validade é testada quando as correlações estabelecidas entre os escores do instrumento avaliado e os escores de instrumentos convergentes ou divergentes assumem magnitude e direção coerente com as expectativas da literatura (CRONBACH, 1996 APUD REPPOLD, 2005).

Na validade convergente, estima-se a ocorrência de correlações positivas entre o instrumento avaliado e as medidas que servem como parâmetros de comparação, o que confirma o propósito teórico da medida avaliada e sua capacidade em apresentar indicadores convergentes dos construtos avaliados (PASQUALI, 2009, cap.6). Já na validade divergente, estima-se a ocorrência de correlações negativas entre os construtos para validação do instrumento avaliado (CRONBACH, 1996 apud REPPOLD, 2005).

Por sua vez, a validade de critério tem como objetivo verificar o poder dos instrumentos em predizer características do indivíduo. A validade é chamada concorrente quando a coleta do instrumento a ser avaliado e a coleta da informação sobre o critério forem simultâneas; a validade é chamada preditiva quando os dados sobre o critério forem coletados após a coleta da informação do instrumento (PASQUALI, 2009, cap.6).

É relevante advertir que alguns termos relacionados à temática da validação de instrumentos não são consensuais, pois há conceitos que assumem diferentes significados para áreas distintas do conhecimento. De toda forma, a partir da apresentação dos processos de validação, entende-se a sua importância desde a etapa de criação de instrumentos, confirmação das propriedades e em processos de uso de testes em outros contextos linguísticos e culturais. Isso posto, atribui-se a um dos objetivos deste estudo a verificação da confiabilidade e da validade de construto da versão brasileira do Social Support Appraisals.

No que diz respeito à normatização de instrumentos, compreende-se o termo como padrões uniformes de interpretação de um escore que um indivíduo recebeu em um teste. Para isso é necessário que esse escore produzido seja contextualizado e avaliado, por meio de uma norma ou padrão, para posteriormente ser interpretado (PASQUALI, 2009, cap. 8). Com a existência da norma é possível determinar a posição que um indivíduo ocupa no traço medido e é possível também comparar o escore desse indivíduo com o escore de qualquer outro que também tenha respondido ao instrumento (PASQUALI, 2009, cap. 8).

A norma de interpretação é constituída por 3 padrões: normas de desenvolvimento humano, normas intragrupo e normas referentes a critério. As normas de desenvolvimento humano são baseadas no desenvolvimento progressivo do ser humano ao longo de sua vida, sendo considerados como critérios de norma: a idade mental, a série escolar e o estágio de desenvolvimento. As normas intragrupo consideram como critério de referência dos escores a população ou o grupo alvo do teste, o que faz com que o escore do indivíduo seja comparado com os escores do grupo do qual ele faz parte. No que diz respeito às normas referentes a critério, a literatura aponta que, nesse caso, o interesse é decidir se determinado indivíduo conseguiu ou não ter certo nível de habilidade, de aprendizagem ou de

traço da personalidade, verificando com isso se ele atingiu um critério preestabelecido de desempenho (PASQUALI, 2009, cap. 8).

A relevância dos estudos de normatização de instrumentos de pesquisa pode ser observada no trabalho de Reppold (2005), que realizou a construção, validação e normatização de uma bateria de 5 escalas para a avaliação de ajustamento psicológico em adolescentes; e no estudo de Freitas (2008), que, dentre outros objetivos, estabeleceu padrões normativos da versão brasileira do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais para crianças com deficiência mental, dentre outros estudos.

Pasquali (2009, cap. 8) aponta que ainda há confusões em torno do termo padronização e normatização, sendo que ambos são muitas vezes usados indistintamente. Ressalta-se, portanto, que a padronização se refere à uniformidade dos procedimentos no uso de um instrumento de pesquisa válido, ou seja, uniformidade nas condições de coleta de informações.

A escala Social Support Appraisals apresenta normas de padronização, porém não possui a normatização de interpretação em suas versões americana e portuguesa, o que dificulta a interpretação dos resultados e justifica e torna relevante o desenvolvimento de estudos de normatização da versão brasileira do instrumento.

1.2.2 Instrumentos de avaliação do apoio social para crianças e adolescentes

A seguir, serão apresentados, em ordem cronológica, os instrumentos que avaliam o apoio social de crianças e adolescentes. Tais instrumentos foram encontrados a partir da leitura dos estudos que investigaram o apoio social da população infanto-juvenil, indexados nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Periódicos Capes. Além disso, foram feitas buscas no Google Acadêmico, a partir dos descritores: escala/inventário/instrumento AND apoio social AND crianças AND/OR adolescentes e equivalentes em inglês.

- Perceived Social Support from Family and Friends Scale: foi desenvolvida

por Procidano e Heller (1983). Avalia o grau em que um indivíduo percebe que a família e amigos estão disponíveis para fornecer informações, suporte e feedback. É composta por 40 itens, sendo 20 referentes à família e 20 aos amigos. Há 3 opções de respostas: sim / não / não sei. Os estudos de validação foram realizados com 222 estudantes de graduação com idade média de 19 anos. A consistência interna da subescala família foi de 0,95 e da subescala amigos 0,87. Foram feitos também estudos de validação validade concorrente e preditiva.

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