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1 INTRODUÇÃO

1.2 Apoio social para crianças e adolescentes: como está sendo avaliado?

1.2.2 Instrumentos de avaliação do apoio social para crianças e adolescentes

desempenho (PASQUALI, 2009, cap. 8).

A relevância dos estudos de normatização de instrumentos de pesquisa pode ser observada no trabalho de Reppold (2005), que realizou a construção, validação e normatização de uma bateria de 5 escalas para a avaliação de ajustamento psicológico em adolescentes; e no estudo de Freitas (2008), que, dentre outros objetivos, estabeleceu padrões normativos da versão brasileira do Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais para crianças com deficiência mental, dentre outros estudos.

Pasquali (2009, cap. 8) aponta que ainda há confusões em torno do termo padronização e normatização, sendo que ambos são muitas vezes usados indistintamente. Ressalta-se, portanto, que a padronização se refere à uniformidade dos procedimentos no uso de um instrumento de pesquisa válido, ou seja, uniformidade nas condições de coleta de informações.

A escala Social Support Appraisals apresenta normas de padronização, porém não possui a normatização de interpretação em suas versões americana e portuguesa, o que dificulta a interpretação dos resultados e justifica e torna relevante o desenvolvimento de estudos de normatização da versão brasileira do instrumento.

1.2.2 Instrumentos de avaliação do apoio social para crianças e adolescentes

A seguir, serão apresentados, em ordem cronológica, os instrumentos que avaliam o apoio social de crianças e adolescentes. Tais instrumentos foram encontrados a partir da leitura dos estudos que investigaram o apoio social da população infanto-juvenil, indexados nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Periódicos Capes. Além disso, foram feitas buscas no Google Acadêmico, a partir dos descritores: escala/inventário/instrumento AND apoio social AND crianças AND/OR adolescentes e equivalentes em inglês.

- Perceived Social Support from Family and Friends Scale: foi desenvolvida

por Procidano e Heller (1983). Avalia o grau em que um indivíduo percebe que a família e amigos estão disponíveis para fornecer informações, suporte e feedback. É composta por 40 itens, sendo 20 referentes à família e 20 aos amigos. Há 3 opções de respostas: sim / não / não sei. Os estudos de validação foram realizados com 222 estudantes de graduação com idade média de 19 anos. A consistência interna da subescala família foi de 0,95 e da subescala amigos 0,87. Foram feitos também estudos de validação validade concorrente e preditiva.

- The Classroom Life Instrument - peer and teacher and academic subscales:

foi desenvolvido por Johnson et al. (1983). Avalia as atitudes das crianças da escola primária para a interdependência social e percepção do apoio social emocional disponível, de professores e colegas, no contexto de sala de aula. A medida consiste em 67 itens que fazem parte de várias subescalas (aprendizagem cooperativa, interdependência, aprendizagem competitiva, aprendizagem individualista, apoio acadêmico do professor, etc.) a partir de uma escala de 5 pontos tipo Likert. A análise fatorial foi realizada para determinar a estrutura da escala e os índices de consistência interna das subescalas variaram de 0,51 a 0,83 (LANIER, 2007).

- Social Support Scale for Children (SSSC): desenvolvida por Harter (1985) para avaliar a percepção de crianças da escola primária e secundária sobre o apoio recebido dos pais, professores, colegas e amigos. Os estudos de confiabilidade indicaram consistência interna por meio do alfa de Cronbach, com valores de 0,78 para a subescala pais, 0,88 para a subescala professores, 0,72 para colegas e 0,83 para amigos. A estrutura fatorial da escala foi confirmada por meio de rotação oblíqua e a validade concorrente foi estabelecida por meio de correlações moderadas (LANIER, 2007).

- Network of Relationships Inventory: foi desenvolvido por Furman &

Buhrmester (1985) e revisado pelos mesmos autores em 2010. Avalia as características de relações de cuidado e afiliação. Os participantes usam o mesmo conjunto de itens para descrever sua relação com cada um dos vários membros da sua rede social (por exemplo, mãe, pai, irmão, amigo, parceiro romântico, e professor). O instrumento teve suas características psicométricas reavaliadas em um estudo que contou com 200 adolescentes, de 14 e 16 anos de idade. Os resultados indicaram alta consistência interna, estabilidade moderada ao longo de um período de um ano, convergência moderada com outras escalas, avaliação de diferenças significativas entre os relacionamentos avaliados, associações com a versão original do instrumento. O instrumento tem versões traduzidas em alguns países.

- Escala de Avaliação do Suporte Social – NOS (Network Orientation Scale):

foi desenvolvida originalmente na década de 1980 por Vaux, Burda e Stewart. Avalia a percepção e a confiança do sujeito acerca da eficácia do apoio social de sua rede. A escala tem 20 itens com opções de resposta do tipo lickert. O estudo da confiabilidade e estabilidade foi realizado com 5 amostras da população, uma de adultos não estudantes e outras 4 amostras de estudantes. Os resultados indicaram valores de α entre 0,60 e 0,88. A estabilidade da escala, avaliada sobre um intervalo de duas semanas, numa amostra de 46 estudantes, foi r = 0,87. Estudos de validade convergente também foram realizados. Em Portugal, Antunes

(1994) traduziu a NOS e analisou as qualidades psicométricas em duas amostras, uma com 464 adolescentes estudantes do 5º ao 9º ano de escolaridade, obtendo valores de α = 0,77, seguido de α = 0,76 e outra com 654 adolescentes do 6º ao 10º ano de escolaridade, cujo coeficiente foi de α = 0,76. Estudos de reavaliação da consistência interna, análise dos componentes principais e análise fatorial confirmatória também foram realizados a partir de uma amostra de estudantes do 7º ao 12º ano de escolaridade (ANTUNES; FONTAINE, 2010).

- Social Support Appraisals (SSA): desenvolvido por Vaux et al. (1986). Avalia

a percepção do apoio social recebido da família, dos amigos e de outras pessoas da comunidade. Os estudos de confiabilidade e validade foram realizados com 5 amostras da população. Em Portugal, Antunes e Fontaine (1995) realizaram estudos de tradução, alargamento e verificação das qualidades psicométricas do SSA para a população de crianças e adolescentes de Portugal, e acrescentaram 7 itens referentes à percepção do suporte social advinda dos professores, criando assim a subescala SSA professores. Dessa forma, a versão portuguesa do SSA avalia a percepção de crianças e de adolescentes, de 9 a 18 anos, sobre o suporte recebido da família (8 itens), dos amigos (7 itens), dos professores (7 itens) e de outras pessoas em geral (8 itens).

- Multidimensional Scale of Perceived Social Support (MSPSS): foi originalmente desenvolvida por Zimet et al. (1988) para a população de estudantes universitários e mais tarde foi validada para várias amostras, incluindo adolescentes. Possui 12 itens que avaliam a percepção do apoio social da família, dos amigos e de outras pessoas significativas. Cheng e Chan (2004) realizaram estudos de tradução e validação para uma amostra de 2015 estudantes de Hong Kong com idade média de 14 anos. Foram realizadas análises de consistência interna e análise fatorial confirmatória com a predominância de 3 fatores. A consistência interna da subescala outros foi de 0,69, seguido de 0,78 para a subescala família e 0,76 para a subescala amigos.

- My Family and Friends: foi desenvolvida por Reid et al. (1989). É uma

entrevista no formato de diálogo que avalia em crianças com idades entre 6 e 12 anos o apoio emocional, informacional, instrumental e de companhia recebido da família e de amigos. A medida inclui adereços (cartões com nomes, desenhos ou fotografias de todos os indivíduos na rede social da criança, entre outros acessórios). A criança tem a tarefa de indicar e classificar as pessoas e o tipo de apoio recebido de cada uma delas. Há um barômetro usado para expressão dos níveis de satisfação com o suporte recebido. As propriedades psicométricas indicaram resultados da consistência interna entre 0,28 e 0,92; de acordo com

os autores foram obtidos índices confiáveis de teste-reteste; os coeficientes de correlação intraclasse indicaram confiabilidade de 0,68 e 0,69.

- Social Support Appraisals Scale For Children and Adolescents: foi

desenvolvida por Dubow e Ullman em 1989. É composta por 41 itens que avaliam as percepções de crianças e adolescentes sobre o apoio social recebido de seus pais, colegas e professores. Consiste em uma escala de likert de 5 pontos que varia de nunca a sempre. Foi padronizada para a população turca em 2007. A consistência interna para a escala geral é de 0,93 (Alpha) e teste-reteste 0,49.

- Student Social Support Scale (SSSS): desenvolvida por Nolten (1994). Avalia a percepção do apoio emocional, informativo e instrumental recebido dos pais, professores, colegas e amigo próximo. É uma escala de 60 itens do tipo Likert, na qual as crianças são convidadas a indicar a frequência e a importância do apoio social recebido. O estudo de confiabilidade e validade foi desenvolvido com uma amostra de 298 crianças, alunas do 3º ao 8º ano de escolaridade. Com base no alfa de Cronbach, a consistência interna para a escala total da SSSS foi de 0,97, e para as subescalas o valor variou de 0,92 a 0,95. No teste-reteste os valores obtidos foram de 0,75 para a escala geral e de 0,63 a 0,74 para as subescalas. A análise fatorial confirmou os 4 fatores; e uma validade convergente foi realizada entre a SSSS e a Social Support Scale for Children com resultados de correlação moderada.

- Child and Adolescent Social Support Scale (CASSS): foi desenvolvida por

Malecki e Elliott (1999) a partir da revisão do Student Social Support Scale (NOLTEN, 1994). É formada por 40 itens de autorrelato que avaliam a frequência e a importância do apoio social, do tipo emocional, instrumental e informacional, advindo dos pais, professores, colegas e amigos. A CASSS foi criada em duas versões, uma para avaliar o apoio de crianças do 3º ao 6º ano e outra para classes do 6º ao 12º ano. Os estudos de confiabilidade e validade foram realizados com 1110 estudantes do 3º ao 12º ano de escolaridade. A consistência interna total da escala foi de 0,94 e variou de 0,87 a 0,93 nas subescalas da versão criada para a amostra mais jovem; 0,95 para a escala total e de 0,89 a 0,94 para as subescalas da outra versão. A análise fatorial confirmou os 4 fatores e uma validade convergente foi realizada com outros instrumentos, entre eles o Social Support Scale for Children (DEMARA; MALECKI, 2002).

A revisão acerca dos instrumentos de avaliação do apoio social em crianças e adolescentes indica a predominância de estudos norte-americanos; e a criação de novas medidas com base em outros instrumentos desenvolvidos ou adaptados para outros contextos. Tal fato pode estar relacionado aos altos custos operacionais e humanos que envolvem a

construção de instrumentos de pesquisa e devido à avaliação positiva para uso de instrumentos já padronizados e validados. Diante de instrumentos que apresentem estudos de validação e confiabilidade, torna-se viável o investimento em processos de adaptação para outros países e contextos, respeitando-se todos os procedimentos necessários para tal.

Considerando os instrumentos apresentados, é possível observar algumas diferenças, em se tratando da avaliação do tipo de apoio, com predominância da avaliação do apoio emocional. Já com relação às fontes de apoio social, torna-se consensual a investigação do apoio advindo de fontes específicas, como a família, os amigos, colegas e professores. Tais fontes são compreendidas como significativas para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

As medidas Mapa dos Cinco Campos e o Family Environment Scale não foram consideradas na apresentação. Embora usado para a avaliação do apoio social, o Mapa dos Cinco Campos não é específico para a população de crianças e adolescentes e se entende que não se trata de um instrumento validado e normatizado, pois seus resultados são discutidos por meio de análises qualitativas. O instrumento Family Environment Scale avalia a percepção de cada membro da família a respeito do ambiente familiar atual, e a dimensão Relacionamentos na Família é utilizada para avaliar o apoio social. No Brasil, Vianna e Silva (2007) realizaram a tradução, a retrotradução e a avaliação da equivalência semântica da versão final do instrumento e estudo de confiabilidade a partir da consistência interna e do método das metades. O estudo brasileiro foi realizado em amostra de 76 famílias, cujo critério de inclusão foi possuir, no mínimo, 4 anos de educação formal.

1.2.3 SSA: instrumento de avaliação do apoio social em crianças e adolescentes, com

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