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2.3 CONFIANÇA

2.3.2 A Confiança e sua Importância

De acordo com Luhmann (1979), a confiança é importante, pois reduz a

complexidade da sociedade e permite que a vida social transcorra mais suavemente.

Bachmann et al (2001) descrevem duas causas que demonstram a

importância atual da confiança, são elas: as mudanças no mundo dos negócios que

ocorrem de forma rápida e o fato de que o controle é visto como um meio de

coordenação mais depreciativo.

A importância da confiança também é evidenciada por Solomon e Flores

(2002) ao acreditarem que a confiança modifica nossas vidas de formas dramáticas,

“nos permitindo explorar em novas direções, nos experimentarmos e expressarmos

em nossos relacionamentos de modos que de outras formas seriam impensáveis”.

Este texto faz uma referência ao trabalho de Luhmann sobre o paradigma da

confiança não ser apenas encontrada na simplicidade de uma relação familiar, mas

também na maneira de o indivíduo lidar com a complexidade de uma sociedade

mundial crescentemente complexa (SOLOMON e FLORES, 2002, p.26)

Peyrefitte (1999) afirma que a confiança impulsiona o desenvolvimento,

principalmente aquela advinda da iniciativa pessoal, da criatividade e do

empreendedorismo. Para ele, a sociedade de confiança é uma sociedade em

crescimento contínuo, onde há um ganha-ganha por parte de todos, a partir de

projetos comuns, da solidariedade de seus participantes.

Sahay (2003) escreveu um artigo abordando a importância da confiança

para as relações. Segundo o autor, durante a década de 1990, o conceito de

confiança se tornou recorrente na literatura por reduzir a incerteza no

relacionamento. De acordo com esse estudo, os relacionamentos estáveis induzem

a comportamentos desejáveis, reduzem a necessidade de contratos formais e

facilitam a resolução de conflitos.

Adicionalmente, ainda segundo esse autor, qualquer parceria é forjada em

condições de prosperidade e adversidade. Essas condições se alteram com o

decorrer do tempo. Tais mudanças podem exercer um efeito direto ou indireto na

percepção de uma das partes, no sentido de que a outra está tentando agir com

oportunismo. Para diminuir essas percepções negativas, que aumentam os custos e

diminuem a força de uma parceria, torna-se vital que os parceiros confiem uns nos

outros. Altos níveis de confiança permitem o foco nos benefícios de longo prazo do

relacionamento.

Sahay (2003) aponta que a confiança, quando acompanhada de outras

características comportamentais, contribui para a longevidade do relacionamento. O

compromisso somente aparece na presença de confiança, corroborando com a

teoria de Morgan e Hunt (1994) de que a confiança exerce um papel central na

continuidade do relacionamento. A confiança e o compromisso permitem que o

parceiro corra maiores riscos, pois crê e espera que a outra parte não venha a agir

com oportunismo.

Morgan e Hunt (1994, p. 24) afirmam que os “relacionamentos baseados na

confiança são extremamente valorizados, a ponto de as partes desejarem

comprometer-se voluntariamente nestes relacionamentos”. Os autores testam e

confirmam a hipótese de que “a confiança é o principal determinante do

compromisso”, pois a confiança tende a levar os atores do relacionamento a

adotarem e manterem comportamentos cooperativos. A falta de confiança dificulta o

estabelecimento de compromisso na relação entre as pessoas e,

consequentemente, impacta negativamente a intenção de continuidade desse

relacionamento.

Para Luhmann (1979), a confiança é um pré-requisito do comportamento e

constitui um fato básico da vida social. A falta de confiança estimula a necessidade

de controle de comunicação defensiva, que degrada a eficiência da comunicação,

resultando no desestímulo à vontade de assumir riscos.

Child (2001) destaca como vantagens da confiança:

a) a confiança estimula a boa vontade para superar diferenças culturais e

profissionais;

b) a confiança entre parceiros propicia um encorajamento ao trabalho

conjunto diante de imprevistos, permitindo ajustes mais rápidos e

redução de conflitos. Para novas situações, não há como prever novos

acordos e ajustes possíveis.

c) a confiança pode prover uma alternativa para diminuir os altos custos e

possivelmente os efeitos desmotivadores do controle próximo e a perda

de confiabilidade nos contratos, enquanto instrumentos de risco para

uma confiança calculada;

d) a confiança entre empresas ou departamentos estimula a troca de ideias

e informações, seja através de condições que permitam a inovação ou de

outras formas de criação de conhecimento.

No campo econômico, Child (2001) destaca que em uma economia

moderna, para que haja uma colaboração efetiva, a confiança deve ir além dos

limites nacionais, onde o primeiro passo é a colaboração global para um trabalho

eficiente. Nesse processo, os mecanismos legais e formais representam um papel

importante ao estabelecer condições e critérios de desempenho para colaboração,

servindo como a única base para que parceiros de negócios trabalhem em um

primeiro momento. Entretanto, mecanismos legais formais, por si só, são

insuficientes.

Para Bachmann et al (2001), a confiança pode se tornar o mecanismo

central para a conquista de soluções eficientes para o problema de coordenação de

expectativas e interações entre atores econômicos.

A importância da confiança também pode ser percebida nas afirmações de

Coleman (1990) que defende a existência do capital social como base da formação

da confiança, na qual as pessoas, ao trabalharem juntas em prol de objetivos

comuns, seja pelo grupo ou por uma organização, compartilham normas e valores,

abdicando de interesses individuais em favor dos do grupo. Desses valores

compartilhados, nasce a confiança, que tem, inclusive, valor econômico, e sua

queda, ou falta implicaria ônus para toda a sociedade.

Zucker (1986), ao tentar compreender os processos pelos quais a confiança

é construída, agrupa os diferentes conceitos com três diferentes visões. Na primeira

visão, a confiança depende das características daquele que confia e suas

suposições sobre as características daquele em quem se depositará a confiança. As

características daquele que confia compreendem as disposições gerais dos

indivíduos, isto é, assume-se que eles apresentam tendências, naturais ou

adquiridas, que os dispõem a confiar ou não nos outros. Aquele que confia

determina o seu grau de confiança de acordo com as suas crenças sobre as

características daquele em quem se depositará a confiança, como honestidade,

integridade, competência e benevolência.

Na segunda visão, de acordo com Zucker (1986), a confiança também pode

ser vista como o resultado de um processo de interação entre as partes, isto é, a

confiança em quem se confiará.

Na terceira visão, aquele que confia se baseia em mecanismos

institucionais, formais ou informais. Caso a confiança seja violada, as penalidades

serão aplicadas.

Além das colocações de Zucker (1986), duas outras abordagens sobre a

formação da confiança ainda podem ser apresentadas. Uma delas, compartilhada

principalmente por economistas, é a visão calculadora, segundo a qual os indivíduos

fazem suas escolhas de confiança com base na racionalidade derivada dos custos e

benefícios a serem obtidos (SHAPIRO; SHEPPARD; CHERASKIN, 1992). Os

defensores dessa abordagem postulam que um indivíduo deixa de confiar em outro

pela falta de incentivos para tanto. Finalmente, a visão baseada na cognição afirma

que a confiança depende das primeiras impressões ou sinais rápidos de natureza

cognitiva.

Pode-se entender por cognição a percepção, a linguagem e as emoções

múltiplas dos atores envolvidos, que servem como forma de reconhecer a

importância dos diversos caminhos a serem percorridos para a construção da

realidade social, em busca da conscientização e compreensão dos valores e

processos sociais (SONPAR; HANDELMAN; DASTMALCHIAN, 2003).

Dessa forma, para que um relacionamento seja construído a partir da

confiança, fatores cognitivos como identidade, cultura e moral, dentre outras

características, servirão de fatores para a solidificação da relação.