1 UMA NOVA RACIONALIDADE NA QUESTÃO ENERGÉTICA
3.3 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
3.3.4 A configuração das atividades: avanços da soja sobre outras culturas …
Esta parte da entrevista foi destinada a verificar se os estímulos garantidos
pelo PNPB acarretaram alterações no comportamento produtivo dos agricultores
familiares estudados, mais especificamente se houve uma aumento da soja em
detrimento das outras culturas plantadas. Além disto, procurou verificar os
comportamentos produtivos e de subsistência desses agricultores, ou seja, averiguar
se plantam ou criam para subsistência, trocam mercadorias e, principalmente, se
esses comportamentos foram modificados após a entrada do agricultor no PNPB.
O primeiro ponto, primeiramente, é alvo de uma grande quantidade de
discursos, muitas vezes sem o devido rigor científico. Argumentos de que haveria
um aumento inexorável da soja em detrimento de outras culturas, assim como a
destruição das redes locais de subsistência em favor da produção para combustível
são raciocínios corriqueiros e que, muitas vezes, apresentam relação lógica com
resultados oficiais de colheitas no Estado do Paraná
110.
Primeiramente, traçou-se um perfil do que os agricultores produziam
comercialmente nas propriedades. Admitida a possibilidade de múltiplas respostas e
que o campo de entrevistas foi de 16 (dezesseis) agricultores, o gráfico resultante
segue abaixo:
Gráfico n.
o12 – O que é produzido na propriedade?
110Se observarmos os resultados das safras de grãos entre 2010-2011, por exemplo, verificaremos que as lavouras de soja aumentaram a ocupação em área e, coincidentemente, lavouras de subsistência como feijão, arroz e milho sofreram diminuição, embora tenham aumentado a produção quantitativa. Tais resultados poderiam influir, em um primeiro momento, a possibilidade de regressão das culturas de subsistência em favor da soja, o que pode não se confirmar com mais variáveis de análise. Tal conclusão pode ser encontrada em BARROS FILHO, Fernando do Rego; CERVEIRA, José Luiz. O impacto do avanço da soja na cadeia produtiva agrícola do estado do Paraná e a influência da política pública brasileira de biocombustíveis: uma análise sócio-jurídica. In: II Seminário Nacional Sociologia & Política, 2010, Curitiba. II Seminário Nacional Sociologia & Política, 2010.
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Fonte: Dados produzidos pelo AutorNota-se que o campo de atividades dos agricultores familiares nas regiões
visitadas se mostra diversificado, observado em 14/16 casos que o agricultor
desenvolve outra atividade econômica na propriedade que não seja a soja. O
segundo momento é representado pelo questionamento direto ao agricultor se esse
passou a ocupar maior área da propriedade para plantar soja após a entrada plantar
mais sojado agricultor ocupava a propriedade e plantava soja nesta, buscou-se
verificar diretamente o aumento da área de soja plantada nas propriedades desde
que o agricultor entrou no programa de biodiesel. O resultado é mostrado na
sequência:
Gráfico n.
o13 – Houve aumento de área plantada de soja e diminuição de
outras culturas/rebanhos?
Fonte: Dados produzidos pelo autor 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 25% 75% SIM NÃO
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Mesmo o resultado acima merece algumas observações. Dos quatro
agricultores que responderam sim a esta pergunta, somente dois o fizeram
especificamente por causa da renda extra trazida pelo prêmio pago pela BSBIOS.
Nota interessante é que esses dois casos se localizam na região de São João,
região visitada que está somente na 2ª safra de soja negociada para biodiesel na
cooperativa local. Dos outros dois restantes, um eliminou uma plantação de fumo
que só trazia desgosto
111e aumentou conjuntamente a área de milho que plantava
na propriedade; o outro caso se referiu à rotação de culturas, que obedecia a um
aumento da área de soja naquele período.
Por fim, analisou-se o perfil de subsistência dos agricultores, ou seja, se eles
plantam para consumo próprio e, ainda, se trocam excedentes com a comunidade.
Além disso, buscou-se saber se esses hábitos foram eliminados após entrarem no
programa de biodiesel. Inicialmente, 83%
112dos entrevistados demonstraram que
mantém culturas/rebanhos para consumo próprio, assim como 77% desses
possuem o hábito de trocar excedentes com os vizinhos e respectiva comunidade.
Para contextualizar a situação, são produzidos os mais variados produtos, que
compreendem hortaliças, feijão, leite, ovos e cereais.
Após esse panorama, o questionamento foi direcionado à eventual mudança
desses hábitos em prol de uma maior produção de soja ou outra cultura desde que
houve a entrada do agricultor entrevistado no programa de biodesel. Participaram
desta rodada de perguntas aqueles agricultores que responderam afirmativamente à
existência de culturas/rebanhos de subsistência. A resposta foi negativa, conforme
gráfico formulado acerca desse tema:
Gráfico n.
o14 – Eliminou ou diminuiu os cultivos/rebanhos de subsistência
após a entrada no programa de biodiesel?
111E.D. Entrevista n.o 08. Dados coletados pelo Autor.
112Os dois casos que não desenvolviam culturas/rebanhos para subsistência nunca o realizaram. Considerando que esses são casos de ocupação da terra há mais de 10 anos, não há correlação entre a entrada no programa e o comportamento apontado.