Capítulo 4| CLASSIFICAÇÃO DAS FAVELAS DE JOÃO PESSOA
CONFIGURAÇÃO GEOGRÁFICA (CONTINUAÇÃO)
4.3. Configuração urbanística das favelas
O traçado urbano é definido pelas avenidas, ruas e caminhos para pedestres, estes necessários para a acessibilidade das diferentes partes do espaço construído. Esses elementos assumem desenhos diferenciados de acordo com a topografia do lugar, as características do usuário e os construtores dessas vias, o que faz com que existam inúmeros tipos de traçados de tecidos urbanos.
Esse traçado pode ser regular ou irregular, adaptando-se ao meio ocupado ou modificando o terreno. Mascaró (2003) afirma que os traçados geométricos normalmente se adaptam bem aos terrenos planos ou de declividade uniforme. Já nos terrenos acidentados os melhores traçados são aqueles que interpretam as variações topográficas.
A regularidade caracteriza-se pela geometria uniforme no traçado retilíneo. Esta definição não abrange apenas os traçados urbanos dispostos em arruamentos perpendiculares, mas também aqueles constituídos a partir de polígonos regulares, com traçados perimétricos e radiais.
Já a irregularidade compreende aquilo que não seria uniforme nem constante. Abrange os traçados sinuosos, orgânicos, com arruamentos de dimensões variadas, cruzando-se em ângulos agudos ou obtusos. Os traçados que se distanciam da absoluta regularidade estão, normalmente, subordinados à implantação, à topografia do terreno e à presença de elementos naturais a serem preservados.
Figura 71: Favela de traçado regular. Fonte: Elaboração própria.
Considerando a configuração urbanística da cidade, é possível classificar as favelas de João Pessoa em três categorias: as de traçado regular (arruamentos e lotes organizados), as de traçado irregular (arruamentos e lotes desorganizados) e as lineares (arruamentos e lotes estreitos e definidos ao longo de um eixo).
As favelas de traçado regular possuem uma malha viária assemelhada, em termos de desenho, à do seu entorno e geralmente suas ruas são quase ortogonais entre si. A comunidade Lagoa Antônio Lins, localizada no bairro de Cruz das Armas, é um exemplo desse tipo de favela. Seu traçado organizado não impede os problemas característicos dos assentamentos precários em geral, como alagamentos e carências de infraestrutura (nela inexistem esgotamento sanitário e iluminação pública).
Figura 72: Fotografia aérea da comunidade Lagoa Antônio Lins. Favela de traçado regular. Fonte: SEPLAN, 2002.
Os primeiros moradores dessa comunidade ocuparam, em 1986, ilegalmente as margens da lagoa Antônio Lins - entretanto alguns de seus terrenos estão sendo vendidos ou repassados para os atuais residentes. A favela Antônio Lins ocupa uma área de aproximadamente quatro hectares de domínio municipal, dos quais 10% encontra-se em risco de inundação devido a proximidade com a lagoa de mesmo nome. Ela possui 411 moradias cuja grande maioria foi edificada em alvenaria, contudo comprova-se a existência de algumas habitações construídas em taipa ou cobertas com madeira ou lona. 1416 residentes e infraestrutura de água, energia elétrica, iluminação, telefone público e coleta de lixo. Apesar do registro da ocorrência de esgoto e pavimentação, observa-se o despejo de resíduos na lagoa.
Além da favela Lagoa Antônio Lins, encontram-se dezessete outras de traçado regular: Abandonados; Acampamento 5 de Julho; Brasília de Palha; Cabral Batista; Campo do Americano; Jardim Bom Samaritano; Jardim Guaíba; Ninho da Perua; Nova Esperança; Nova República ou Mangue Seco; Nova Vida ou Vila de Palha; Padre Ibiapina; Paturi; Renascer; Vila Caiafú; Vila Mangueira; Vila Tambauzinho.
Figura 73: Favela de traçado irregular. Fonte: Elaboração própria.
As favelas com traçado irregular são aquelas que não seguem um padrão de ocupação e suas habitações estão situadas aleatoriamente no terreno, como é o caso da favela Tito Silva, localizada no bairro Miramar. A comunidade é uma das 34 áreas de risco da cidade de João Pessoa, devido aos constantes deslizamentos e inundações, principalmente causados pelo terreno em declive e pelo transbordamento do rio Jaguaribe, que a margeia. A favela localiza-se em terreno argiloso de boa consistência e a topografia da área é acidentada, acarretando em um acesso às habitações por meios de escadarias.
Figura 74: Fotografia aérea dos aglomerados Tito Silva e Miramar. Favelas irregulares. Fonte: SEPLAN, 2002.
Ocupada em 1976 em Zona Especial de Preservação, a favela Tito Silva possui uma área de aproximadamente quatro hectares de terras de domínio da União, estando 40% desta sujeita a inundações. São 254 habitações construídas em alvenaria, madeira, taipa e material reciclado e 831 residentes que contam com uma infraestrutura de água, energia elétrica, iluminação pública, telefone público, coleta de lixo, esgoto, drenagem e pavimentação.
Além da favela Tito Silva, encontram-se 36 outras de traçado irregular: Asa Branca; Balcão; Baleado; Beira Molhada; Boa Esperança I; Boa Esperança e Pedra Branca; Bola na Rede e Independência; Buraco da Gia I ou Novo Horizonte; Cafofo ou Liberdade; Cemitério ou Paulo Afonso I; Citex; Colibris II; Feirinha; Feirinha I; Frei Mulungu; Gauchinha I; Gauchinha II; Ipês I e II, Tancredo Neves; Laranjeiras; Mangue; Miramar; Nossa Senhora de Nazaré; Padre Hildon Bandeira; Padre Zé; Redenção ou Buraco da Gia ou Aratu; Riacho; Santa Bárbara ou Cuiá; Santa Clara; Santa Emília de Rodat; São Domingos e Rabo de Galo; São Luís; São Rafael; Timbó I e II; Vila Japonesa; Vila dos Teimosos, Jardim Coqueiral, Vem-vem, Beira Molhada I, Beira da Linha ou São Pedro, Porto de João Tota e Jardim Mangueira; Vila União.
Figura 75: Favela linear. Fonte: Elaboração própria.
Enquanto a cidade vai crescendo e incorporando novos espaços, algumas áreas não são loteadas ou ocupadas devido à sua vulnerabilidade ambiental – o caso
de áreas contíguas a matas e alagados. Por estarem livres e não interessarem aos agentes imobiliários, esses espaços são ocupados pelos pobres na forma de favelas lineares – cujo comprimento é pelo menos cinco vezes maior que sua largura média.
Um exemplo dessa configuração urbanística é a favela Travessa Washington Luís, cuja configuração linear resultou da ocupação das margens do rio Jaguaribe, numa área residual do bairro do Bessa. Ocupada em 1986, em Zona Especial de Preservação, essa comunidade abriga, em aproximadamente três hectares em terras de domínio da União, 624 habitantes em 130 habitações construídas em alvenaria. Provida de água, energia elétrica, iluminação pública, telefone público e coleta de lixo, a ocupação segue às margens do rio Jaguaribe, acarretando um risco de inundação para todas as unidades habitacionais.
Figura 76: Fotografia aérea da comunidade Travessa Washington Luís. Favela linear. Fonte: SEPLAN, 2002.
Além da favela Travessa Washington Luís, encontram-se 21 outras lineares: Área da barreira, Área do leito do rio, Chatuba I, II e III; Bananeiras; Barreira do Cabo Branco; Da Mata ou São Geraldo; Do Arame; Do S; Ernani Sátiro; Eucalipto; Filipéia; Frei Vital, 15 de Novembro, Porto do Capim, Nassau; Jardim da Mônica, Miramangue, Beira da Linha e São Judas Tadeu; Nova II ou Trapich; Paulo Afonso II; Paulo Afonso III; Pé de Moleque; Pirão D’Água; Riacho Doce; Sanhauá; Saturnino de Brito; Tanques ou Vila União I; Travessa Yayá.
Quadro 10 – Classificação das favelas segundo sua configuração urbanística CONFIGURAÇÃO URBANÍSTICA
REGULAR IRREGULAR LINEAR
Abandonados Asa Branca Área da Barreira, Área do Leito do Rio, Chatuba I, II e III
Acampamento 5 de Julho Balcão Bananeiras
Brasília de Palha Baleado Barreira do Cabo Branco
Cabral Batista Beira Molhada Da Mata / São Geraldo
Campo do Americano Boa Esperança I Do Arame
Jardim Bom Samaritano Boa Esperança e Pedra Branca Do S Jardim Guaíba Bola na Rede e Independência Ernani Sátiro Lagoa Antônio Lins Buraco da Gia I / Novo Horizonte Eucalipto
Ninho da Perua Cafofo / Liberdade Filipéia
Nova Esperança Cemitério / Paulo Afonso I Frei Vital / 15 de Novembro / Porto do Capim / Nassau Nova República / Mangue
Seco Citex Jardim da Mônica, Miramangue / Beira da Linha, São Judas Tadeu Nova Vida / Taipa / Vila de
Palha Colibris II Nova II / Trapich
Padre Ibiapina Feirinha Paulo Afonso II
Paturi Feirinha I Paulo Afonso III
Renascer Frei Mulungu Pé de Moleque
Vila Caiafú Gauchinha I Pirão D’Água
Vila Mangueira Gauchinha II Riacho Doce
Vila Tambauzinho Ipês I e II / Tancredo Neves Sanhauá
Laranjeiras Saturnino de Brito
Mangue Tanques / Vila União I
Miramar Travessa Washington Luís
Nossa Senhora de Nazaré Travessa Yayá Padre Hildon Bandeira
Padre Zé
Redenção / Buraco da Gia / Aratu Riacho
Santa Bárbara / Cuiá Santa Clara
Santa Emília de Rodat São Domingos / Rabo de Galo São Luis
São Rafael Timbó I e II Tito Silva Vila Japonesa
Vila dos Teimosos, Jardim
Coqueiral, Vem-vem, Beira Molhada I, Beira da Linha, São Pedro, Porto de João Tota, Jardim Mangueira I Vila União