Neste capítulo, será feita a configuração da atividade dos cuidadores de idosos que trabalham em instituições geriátricas do Recife, destacandose aquelas que fazem parte de seu trabalho no cotidiano. Com base nos conceitos propostos pela Ergologia, procurarseá responder: Quais sentidos são produzidos nas relações dialógicas estabelecidas entre os discursos dos cuidadores sobre a atividade e o discurso do Outro que circula no âmbito da atividade? Em que ingrediente (s) da competência baseiase, principalmente, a atividade dos cuidadores de idosos? Como os cuidadores fazem uso de si e se posicionam diante das dimensões gestionárias de seu trabalho na atividade de cuidador? A atividade profissional de cuidador de idosos se constitui como um gênero em formação?
5.1 A atividade dos cuidadores de idosos nas instituições geriátricas do Recife
Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL, 2002), cabe ao cuidador zelar pela saúde, alimentação, bemestar, higiene, educação, diversão e cultura da pessoa assistida, independentemente da idade. Os cuidadores de idosos institucionalizados trabalham, ainda, considerando os objetivos das instituições de longa permanência.
Os propósitos deste estudo não incluem uma discussão sobre a importância do cuidador na educação e na cultura dos idosos institucionalizados, diante da complexidade e abrangência desses conceitos 20 . Quanto à saúde, alimentação, bemestar, higiene e diversão dos idosos, são questões que envolvem a atividade dos cuidadores de idosos e, por isso, aparecem com recorrência em seus discursos, como será visto mais adiante, e isso permite a configuração dessa atividade.
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O fato de não conduzir, neste estudo, uma discussão a respeito do papel do cuidador na educação e cultura dos idosos institucionalizados não desconsidera a importância da reflexão sobre o assunto.
De acordo com Nouroudine (2002, p. 26): “A entrevista com sujeitos individuais/coletivos permite fazer emergir uma fala portadora de informações relevantes sobre o trabalho”. Diante dessas informações, é possível delinear as atividades que fazem parte do cotidiano de trabalho dos dez cuidadores entrevistados, uma forma de conhecimento, via linguagem, de um coletivo de trabalho (CLOT; FAÏTA, 2000).
A cuidadora S.A. trabalha durante o dia na I1 e descreve da seguinte maneira o seu trabalho:
P – Me fale sobre o seu trabalho.
De um modo geral, o que faço? [Seu trabalho como cuidadora... O que você faz?] Como cuidadora, então... A gente, a gente cuidadora aqui né, nesse setor, a gente dá os cuidados, que são: banho, higiene, é... pessoal, dos, das pessoas dependentes; eu auxilio as pessoas que, que têm alguma deficiência a se cuidar , o banho, a medicação; acompanho a médico; se possível, passeio, quando há tempo; ou cor to a unha, bar ba...é... e, e... fazer algum tipo de r ecr eação. Aqui, é, é, é difícil, por que somos poucos funcionár ios, são um númer o gr ande de idosos, e tem alguns dependentes que r equer muito cuidado, e a gente não tem tanto tempo pr a dar , pr a fazer alguma r ecr eação com eles, assim quando vem pessoal de, de estágio, aí que disponibiliza mais pra eles. Mas a gente é mais cuidador em si, de levar pr a médico, da higiene, do pessoal, de cuidar de r oupa, de ar r umar ar már io... mais isso. [Mas vocês fazem também a limpeza do salão, ou tem zeladores pra isso?] Não, não, não, não. A gente, não, a gente cuida da higiene do idoso, de, de, de ele fazer xixi, a gente limpar, ou levar acompanhando no banheiro e dar banho, mas limpeza de chão, de lavar prato, de coisar... não. [Tem um pessoal pra isso?] Tem um pessoal pra isso, é. (S.A., I1).
S.A. acentua, na avaliação apreciativa de seu trabalho, as atividades relacionadas à higiene (dar banho, cortar as unhas, fazer a barba), à organização dos pertences dos idosos (cuidar da roupa, arrumar os armários) e à medicação (que é administrada pela cuidadora, embora seja prescrita pelos médicos e separada pela enfermeirachefe 21 ), não lhe restando tempo, portanto, para oferecer algum lazer, ou fazer algum tipo de recreação com os idosos. A cuidadora atribui à falta de tempo e ao número reduzido de cuidadores a razão pela qual concentra suas atividades no que ela chama de “cuidado em si”, enumeradas da seguinte forma: “de levar pra médico, da higiene, do pessoal, de cuidar de roupa, de arrumar armário” (S.A., I1).
Dessa maneira, é possível recuperar, através do acento apreciativo contido no discurso da cuidadora S.A., dois sentidos para a palavra cuidado: o cuidado em si, centrado no paradigma biomédico (MOTTA, 2000 apud MAFFIOLETTI; LOYOLA, 2003) que remete ao
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modelo de maternagem, em que predomina o bemestar físico do paciente, intensamente vigilado pelo cuidador (MAFFIOLETTI; LOYOLA, 2003); outro tipo de cuidado, isto é, aquele cuidado baseado no paradigma holístico, que ressalta a importância da relação entre enfermeiros e pacientes e salienta o cuidado à pessoa, e não à doença (SILVA, 1998 apud MAFFIOLETTI; LOYOLA; NIGRI, 2006). Esse sentido de cuidado corrobora com o conceito de saúde integral na velhice, que busca superar a cultura de medicalização predominante na sociedade e tem como centro do tratamento a pessoa, e não a doença, visto que considera o ser humano em sua totalidade (Histórico Novembro de 2005 do CNMP, apud CABRAL, 2006, p.7).
Na avaliação da cuidadora S.A., o acento apreciativo relativo às atividades de recreação recai sobre o cuidado holístico, que ela reconhece não ter tempo de exercer, mas que outras pessoas assumem por ela interinamente, como os estagiários que freqüentam a instituição: “e a gente não tem tanto tempo pra dar, pra fazer alguma recreação com eles, assim quando vem pessoal de, de estágio, aí que disponibiliza mais pra eles” (S.A., I1). Outros profissionais também realizam atividades de lazer na I1, como atesta sua colega de trabalho, a cuidadora E.N.: P – Você promove alguma atividade de lazer? Não, vem o pessoal da faculdade né, às vezes vem, aí faz. Tem uma fonoaudióloga que vem pra cá aí faz recreação com eles (E.N., I1). A cuidadora M.M., por sua vez, também se sente tolhida para promover atividades de lazer com os idosos, devido à falta de tempo: P O que você faz da hora que você chega a hora que você sai do trabalho? Bom, meu dia de trabalho na Sta Casa: eu chego de manhã, dou “Bom dia!” a todos eles. Às vezes, a maioria já estão na mesa, que agora o café tá sendo bem rigoroso o horário, mas aí... [Que horas você chega?] 07 horas. Ah, que eu chego? 06h50. [...] já está entrando, dou “bom dia” a todos eles, entro, troco de roupa, aí vou dar os banhos àqueles que faltam tomar banho, dou BANHO, a gente coloca pra mesa pra tomar café junto com os que já estão lá, aí vou arrumar a cama dos que faltaram arrumar, venho olhar aqui o livro de re... o relatório de enfermagem que fica, né, pro cuidador, pra gente ver qual foi a ocorrência que aconteceu no plantão anterior, no plantão noturno, quais são os procedimentos que tem pra aquele dia de plantão, se tem pacientes marcado pra médico, se tem exames a ser realizado, se tem consulta pra ser marcada, e assim, de manhã, é aquela coisa: levar pra médico, realizar exame, realizar marcação, colocar, colocar no sanitário, pra fazer as suas necessidades de... né? Todas que tem pra fazer, dar banho novamente, porque tem umas que tomam banho antes de almoçar, a gente já pr epar a pr a banho, quand o tiver na hor a do almoço, a gente leva pr a mesa, pr a elas almoçar , a gente liga a televisão pr a assistir , gostar ia de ter mais tempo pr a... ter uma cr iatividade maior com eles, mas aqui é um bom número de residente, pra duas, são 32
residentes, então assim, a gente de manhã também faz barba, cortar unhas, faz toda a tricotomia tanto de mulher quanto de homem que é necessária, aí então assim a gente não tem tanto tempo pr a estimular uma, uma maior cr iatividade com eles, na medida que a gente pode, a gente r ealiza [...] (M.M., I1).
M.M. não especifica quais atividades de lazer promove, citando a televisão como o divertimento dos idosos no cotidiano. No entanto, mais adiante, ela faz menção às atividades de lazer que ocorrem normalmente na I1, demonstrando uma compreensão ativa a respeito da existência de outros sentidos para a palavra lazer na instituição onde trabalha, embora esses sentidos estejam sempre atrelados à iniciativa de voluntários ou de outros profissionais, conforme já haviam dito as cuidadoras S.A. e E.N.:
P – Você mencionou que, quando pode, promove algumas atividades de lazer... É, de lazer. [E tem os grupos de fora também?] Tem, tem gr upos de estagiár ios de cuidador es de idoso, tem gr upos de estagiár ios de técnico de enfer magem, tem gr upos de fisioter apia, tem gr upos que vêm visitar , campanhas que vêm visitar , TERAPIA DO RISO, eles vêm visitar ; tem alguns voluntár ios que vêm da UFPE, que vêm tocar música pr a eles, cantam assim MPB, eles fazem A FESTA, gostam muito de dançar , eles gostam muito, aqui de vez em quand o tem passeio... pr a o Veneza, pr a o Dois Ir mãos, pr a todos, pr a o que você imaginar , Car naval eles não deixam de br incar , vão pr a aqui, pr o Chevr olet, tem passeios de ônib..., desses car r inhos gr ande que nem ônibus, na cidade... Eles se diver tem. Não todos. [Eles saem?] Eles saem, saem, tem uns, final de ano tem ali no Mar co Zer o a peça do menino J esus, que eles, que eles vão assistir à peça; sempr e no dia do idosos, eles vão pr a o Veneza, aonde se r eúne tod o gr upo de idoso, tudo que é centr o ger iátr ico se r eúne lá com os idosos. Nem todos gostam de ir, tem uns que são quieto, que não gosta, sabe? Antes do dia... [Aí eles ficam?] Ficam, eles, a maioria ficam. Antes de chegar o dia do passeio, a lista é ENORME, mas quando chega no dia do passeio, vai a metade, porque aí eles... [E vocês vão?] Sempre vai acompanhando um idoso, uma cuidadora de idoso, vai uma técnica... sempre vai quem tiver na, na chefia, quem tiver no setor de assistência social, se tiver outra pessoa, vai outra pessoa, mas sempre dando assistência... e VOLUNTÁRIOS né? Pra poder dar conta de todo mundo (M.M., I1).
Assim, embora tenha sido possível recuperar, através do acento apreciativo que a cuidadora S.A. atribui no discurso contido em seu relato, outro sentido para a palavra cuidado, um cuidado que acentua a qualidade de vida dos idosos e não somente ao seu bom estado físico, as cuidadoras da S.A., M.M. e E.N. reconhecem que não têm tempo para modificar uma rotina tão corrida e, assim, promover atividades que possam melhorar a qualidade de vida dos idosos de quem cuidam. O diaadia de trabalho dessas cuidadoras é assim descrito por S.A.:
P Me diga o que você faz da hora que você chega aqui a hora que você sai.
Eu chego, primeiramente eu vou pros banhos. Se tiver... é... alguma... médico marcado pela parte da manhã, eu levo, acompanho ao médico, vejo o que o médico passa e passo o exame pra técnica de pressão. Quando não, aí eu vou cortar barba, vou fazer barba, vou cortar unha, fazer é, é, fazer a tricotomia em parte íntima, se for o caso, vou arrumar as gavetas, arrumar os armários, fazer a higienização,
acompanhar ao banheiro... aí vem a parte do almoço, porque tem a copa, tem um lanche, mas quem passa é a copeira, ela mesmo passa, aí vem o almoço, eu ajudo a menina da copa a servir o almoço deles, depois eu entro e dou almoço aos dependentes, aí vou, troco as meninas, faço a higienização de novo, não coloco fralda, aí vou pra minha hora de almoço, quando eu volto, vou pro banho da tarde, dou os banhos, depois guardo as roupas deles, que todos os lençóis de cama, roupa pessoal vai pra lavanderia, de tarde volta, aí separo, guardo tudinho, entrego a eles a roupa deles, aí vou pra trocas de fralda, vou pra janta, entrego lençóis, arrumo as camas e larguei, vou pra casa (S.A., I1).
A cuidadora B.O., que trabalha no turno da noite, na mesma instituição, relata que sua atividade de trabalho, durante a qual os idosos estão dormindo, resumese a ficar de prontidão, aos cuidados com a higienização do idoso e ajuda na administração da medicação, em trabalho conjunto com a enfermeirachefe:
P O que você faz, da hora que você chega à hora que você sai do trabalho? Como é sua rotina de trabalho?
Minha rotina de trabalho, olhe... É que agora é só à noite. Aí eu chego, eles tão já no repouso, vou fazer a higiene que eles tão precisando, certo... é... trocar de fralda deles, olhar o que é que eles tão precisando, é... procurar forrar a caminha deles... essas coisas assim, as atividades da noite. [Mas a noite toda?] A noite toda não, porque tem a hora do repouso. Mas sempre tá em atento, porque eu tô lá, sempre olhando... [Mas então quer dizer que você chega, faz a higiene e depois fica apenas atenta, ou faz mais alguma coisa? Medicação?] Não. Medicação sempre a gente ajuda aqui a colega, na parte da enfermagem. [Fazem juntas?] É, exato. Assim, né... tá precisando, aí... ali, ah passa um remedinho... [Mas você administra, ou ela?] É ela que sempre administra. [Você só dá, no caso, e ajuda a separar a medicação, mas sempre com ela?] Exato. Sempre com ela (B.O., I1).
A enfermeirachefe, presente no momento da entrevista, toma a palavra e fala pela cuidadora sobre o trabalho noturno na instituição, acrescentando às atividades mencionadas pela cuidadora B.O. o banho das 4h, além de descrever com maior clareza sua rotina:
4h da manhã começa a se dar o banho, pra quando der 7h da manhã, já está todo mundo lá fora, pronto, cheiroso, aguardando o café, porque às 7h é hora do caféda manhã. Então 4h da manhã, a gente, ela, nós começamos a dar um cuidado melhor. E no decorrer da noite, se ele apresentar diurese, ela vai e troca a fralda, que a gente tá sempre observando, né, pra não deixar ficar molhado a noite toda. Então de agora até, das 19h até as 7h, a gente tá aqui pra uma intercorrência, um chamado, ou então se a gente vê alguém se levantar, for pro banheiro, a gente olha, vai tudo, vai atrás, vendo o que é, pra a irmã não cair [...] Então a gente tá sempre em alerta. Só que tem hora que eles têm que dormir, né, então tem que ter o repousozinho, num é? (Enfermeirachefe, I1).
Dessa maneira, a palavra do Outro (a enfermeirachefe), entra em relação de alteridade com a palavra da cuidadora B.O. (o Eu), servindo para configurar sua atividade. A cuidadora B.O. aceitaa, sem refutála, compreendendo responsivamente o discurso alheio, através do silêncio. A resposta que a cuidadora B.O. dá ao discurso da enfermeirachefe, isto é, o ato de ficar em silêncio, pode demonstrar a influência da hierarquia no desenvolvimento da linguagem sobre seu trabalho, fazendoa transitar também pela linguagem no trabalho, na qual
ela assume o seu papel de cuidadora e, por isso, deve seguir as ordens da enfermeirachefe e submeterse a seu discurso, marcado pela prescrição de tarefas a serem cumpridas em determinada ordem e em determinados horários. A respeito da distinção entre a linguagem sobre o trabalho e no trabalho, esclarece Faïta:
Um ponto de vista muito difundido na análise do trabalho consiste em distinguir a fala e os discursos ‘no’ trabalho e ‘sobre’ o trabalho [...] Consideramos que esses dois tipos de ‘fala’, caso haja objetivamente diferença em seu caráter mais ou menos ‘situado’, são marcados, tanto um quanto o outro, pela relação que mantêm com a ação: não existe, de um lado, uma ação sobre os objetos ou a situação, puramente material ou objetiva, à qual a fala serviria apenas de suporte e, de outro, uma fala autônoma e contextualizada à qual as situações e os objetos serviriam apenas de referência. Tanto no primeiro quanto no segundo caso, a competência e os saberes dos sujeitos nos parecem incorporados simultaneamente às maneiras de dizer e às maneiras de agir, orientadas a um objetivo comum (FAÏTA, 2002, p. 50, grifo do autor).
É de se pensar, então, que a dificuldade de falar sobre o trabalho, apontada por vários pesquisadores preocupados com a relação entre linguagem e trabalho 22 , entre eles: Schwartz (1989), Faïta (2005) e Boutet (1993), é inerente à própria complexidade do trabalho e é influenciada, no caso dos cuidadores de idosos, pela hierarquia existente nas instituições geriátricas, onde trabalhadores fazem parte de um coletivo, ao mesmo tempo em que disputam o espaço para exercerem sua atividade, assim como para afirmarem seus discursos, pois a produção de sentido dáse a partir do embate de pontos de vistas diversos (BRAIT, 2006). Assim, o silêncio da cuidadora B.O. (o Eu), o qual dá abertura para a palavra da enfermeira chefe (o Outro), demonstra que a dificuldade de falar sobre o trabalho ultrapassa “a complexidade indizível do trabalho”, para dar lugar ao “ininterrupto processo humano de industriamentos dialógicos no qual a palavra de si e a palavra do outro se sobrepõem uma à outra” (FRANÇA, 2002, p. 256).
Avançando na configuração da atividade do cuidador de idosos, o cuidador A.M., da I2, relata que seu trabalho engloba os cuidados com a higiene e a alimentação, mas inclui o auxílio na prática de exercícios físicos pelos idosos, além do banho de Sol matutino:
P – O que você faz aqui no seu diaadia, da hora que chega, a hora que sai? Um resumo...
Resumo: quando eu chego, eu vou dar banho. [De que horas?] 06h da manhã. Chego, vou dar banho nas velhinhas, aí vamo pra eu ajudar a arrumar, vou mudar fralda, trago ela pra cá, vou dar banho, se tiver fazendo Sol, bota lá fora pra dar banho, eu e o rapaz que bota as cadeiras pra fora, eu já chego direto pra dar banho, botar banho de Sol, depois do banho, se tiver fazendo um Sol bonito, dá um banho
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Para maior esclarecimento com respeito à dificuldade de falar sobre o trabalho, consultar SouzaeSilva (2004).
de Sol. Depois eu vou o quê, vou encher fralda, que é pra de tarde dar banho. [Encher fralda...?] Aquelas fralda de pano, muitas usa fralda de pano. [Ah, sim] Porque fralda descartável são pra aquelas que não têm condições. Tem umas que nem fralda usa, só calcinha mesmo. Quando quer usar, pedir pra fazer uma necessidade, elas pede. Vá, que mais? [É só o banho que você faz...?] Dou banho, cuido delas, depois eu vou caminhar com elas, tem isso também, tem que caminhar. [Aqui no abrigo?] Aqui dentro, que é pra poder estimular, não ficar entrevado, aí dou uma caminhadinha com ela... [Que mais? Na hora do almoço...] Dou o almoço, limpo a boquinha dela... [Faz a higiene oral?] Aí temos, de manhã, escova os dentes dela também né, a gente escova os dentes dela. De meiodia, nós fazemos o quê, nós fazemos a higie..., lavamos a boca dela e passamos pr oca... como é? Pr ocar d, que é pr a tir ar aquelas bactér ias de infecção na gengiva. 30 dias nós usamos Pr ocar d, 30 dias par amos. [E de tarde?] Escovamos os dente dela, damos banho, escovamos os dentes dela e botamo pra tomar café, aí já vão direto pra cama. [Depois do jantar...] É, do, do, do jantar dela, bota ela pra dormir, aí mais ou menos 6h eu vou tomar meu banho, vou tomar café e vou pra casa (A.M., I2).
Tendo em vista as atividades descritas pelo cuidador, observase que existe, na sua rotina de trabalho, o estímulo à prática de algum exercício físico, como as caminhadas a que se refere o cuidador, as quais ganham importância na medida em que ajudam na manutenção da saúde e qualidade de vida do idoso (BRASIL, 2008). Além disso, os cuidados com a higiene comportam os procedimentos de higienização oral, descritos pelo cuidador no trecho em destaque, os quais são objeto de privilégio de discurso também por sua colega, a cuidadora R.S., da I2, como se observa a seguir:
P O que você faz aqui no trabalho da hora que você chega até a hora que você sai? Cuidar. Cuidar de tudo! Né cuidadora? Cuidadora, ela cuida da, da alimentação, quando vem, né? Que a cozinheira, a menina traz. Ela cuida das roupas das idosas, oh aqui, agora mesmo tô trocando os chinelinhos, tá vendo? Aí eu fui pegar os chinelos novos pra botar, que já tem alguns chinelos que não servem mais. E... cuidar de tudo, eu cuido de obser var se escovou os dentes, se não escovou, eu pr ocur o ver ... entendeu? Per gunto na mesma hor a: “ Limpou a peça da paciente, a pr ótese e tal? 23 ” Se ela tá passando, ou ela tá acamando, já tá bem velhinha, se tiver a pr ótese, eu mando tir ar , como tem um bocado aqui que, com o nomezinho, por que qualquer coisa, se não r eanimar , né, a gente [...] (R.S., I2).
Já a cuidadora O.A., da I3, em seu cotidiano de trabalho, fica responsável pela organização das atividades com os idosos, assumindo a função de fiscalizar e coordenar os cuidados dos idosos com a higiene, alimentação, as atividades de lazer etc. Dessa forma, as atividades que a cuidadora O.A. descreve têm certa diferença com respeito às descritas pelos outros cuidadores, como se observa através do recorte discursivo a seguir: P – Você poderia me dizer o que você faz, da hora que você chega aqui até a hora