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Introdução.

Dando início ao nosso encontro falando a vocês sobre conflito aparente de normas, quero que você tenha uma certeza em mente: um mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos penais (ou seja, em vários dispositivos do Código Penal ou da nossa legislação esparsa), sob pena de violação ao princípio do ne bis in idem.

Sendo assim, o conflito aparente de normas surge no momento em que (como o próprio nome já nos diz) quando a um único fato incidem aparentemente dois ou mais tipos penais, todos eles vigentes no ordenamento jurídico.

Importante que você saiba que o conflito aparente de normas só ocorrerá se houver um só fato ou uma só conduta, aos quais aparentemente se apliquem várias normas penais incriminadoras (todas vigentes). En-tretanto, na hipótese de serem vários fatos, não há que se falar em conflito aparente de normas e sim em con-curso de crimes, salvo nas situações de antefato e pós-fato impuníveis (todas essas informações serão objeto de estudo individualizado no decorrer do nosso curso).

Feitas essas considerações iniciais, vamos ao estudo dos princípios que solucionam o conflito aparente de normas!

Princípio da especialidade.

O critério da especialidade surge quando entre duas normas aparentemente incidentes sobre o mesmo fato, houver uma relação de gênero e espécie.

Vamos a um exemplo: se a mãe mate o filho durante o parto, sob a influência do estado puerperal, incorre, aparentemente, nos arts. 121 (homicídio) e 123 (infanticídio). No primeiro, porque matou uma pessoa; no se-gundo, porque essa pessoa era seu filho e a morte se deu no momento do parto, influenciada pelo estado pu-erperal.

Ao analisarmos a situação acima descrita, podemos notar que o art. 123 do Código Penal (infanticídio), contém todas as elementares do homicídio (matar + alguém), além de outras que são especializantes (o próprio filho + durante o parto ou logo após + sob a influência do estado puerperal), o que torna o infanticídio especial em relação ao homicídio.

Dessa forma, meu jovem, notamos que toda a ação que realiza o tipo do infanticídio realiza a do homicídio, mas nem toda ação que se encaixa ao homicídio tem enquadramento no tipo do infanticídio.

Assim, esse conflito se resolve no plano abstrato, sendo suficiente apenas uma comparação entre as duas normas para saber qual é a especial.

Agora, grave isso que vou lhe dizer: O TIPO PENAL ESPECIAL PREVALECE SOBRE O TIPO PENAL GE-RAL INDEPENDENTE DE SUA GRAVIDADE.

Princípio da subsidiariedade.

Já quanto a relação de subsidiariedade, pressupomos que tenha entre as normas aparentemente aplicá-veis, uma relação de conteúdo a continente, como se um tipo penal estivesse dentro (contido) no outro. O con-tinente (maior) é o tipo primário/principal e o menor (contido nele) é o chamado de tipo subsidiário.

Nessa hipótese, o tipo penal primário prevalece, mas se sobre qualquer hipótese não puder ser aplicado, aplica-se o tipo penal subsidiário.

Você deve ficar atento ao fato de que a subsidiariedade pode ser de duas espécies: a) expressa: quando o próprio tipo penal se declara subsidiário, como, por exemplo, o art. 132 do Código Penal, que dispõe – “se o fato não constituir pena mais grave” (a norma se autoproclama “soldado de reserva” – nas palavras de Nelson Hun-gria. b) tácita/implícita: ocorre quando um tipo penal está contido em outro na condição de elementar (elemen-tos presentes no caput do artigo) ou circunstâncias (dados acessórios que podem interferir na pena), por exem-plo, no caso do art. 304 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que prevê a omissão de socorro em acidente de trânsito, em relação ao homicídio culposo na direção de veículo automotor, qualificado pela omissão de socorro (art. 302 c/c o art. 303, parágrafo único, inciso III, do CTB).

Princípio da consunção.

Pelo princípio da consunção (ou absorção), meu amigo, ocorre quando um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime. Nesse caso, há uma relação de meio – fim, em que o crime fim absorve o crime meio.

Você também deve ficar atento ao fato de que o princípio da consunção é aplicado de duas formas, quais sejam:

a) Crime progressivo (há uma uniformidade de dolo): o agente possui, desde o princípio, o mesmo es-copo e o persegue até o final, ou seja, pretendendo um resultado determinado de maior lesividade (por exemplo a morte de seu algoz), pratica outro fato de menor intensidade (p.ex. lesão corporal, ao lhe desferir facadas que causam a morte). Nesse caso, as lesões corporais serão absorvidas e o agente responderá somente pelo crime de homicídio.

b) Progressão criminosa: aqui o indivíduo inicia o caminho do crime com o objetivo específico de prati-car determinado crime (por exemplo, lesões corporais), entretanto, após alcançar esse resultado (já houve lesão a sua vítima) o agente criminoso MUDA de ideia e resolve matá-la. Desse modo, haverá a progressão criminosa e o indivíduo responderá apenas pelo homicídio, ficando as lesões inicial-mente praticadas, absorvida pelo crime do art. 121, do Código Penal.

c) Ante factum impunível: ocorre quando um fato anterior menos grave é praticado como meio necessá-rio para a realização de outro. Preste atenção nesse exemplo, caríssimo: o crime de falsidade exclusi-vamente utilizado com o fim de cometer estelionato, nos termos da súmula 17 do STJ.

d) Post factum impunível: essa, por sua vez, se da quando o agente, após praticar o fato, provoca nova violação o mesmo bem jurídico, pertencente ao mesmo sujeito passivo. Outro exemplo, meu amigo (a): o indivíduo que após furtar um relógio simplesmente o quebra (crime de dano). Nesse caso, ha-verá apenas punição pelo crime de furto.

Agora, vamos ver qual o nível de profundidade questionado nas provas de concurso.

Venha comigo!

Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Provas: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia Federal

Julgue os itens a seguir com base no direito penal.

Conflitos aparentes de normas penais podem ser solucionados com base no princípio da consunção, ou absor-ção. De acordo com esse princípio, quando um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime, aplica-se a norma mais abrangente. Por exemplo, no caso de cometimento do crime de falsificação de documento para a prática do crime de estelionato, sem mais potencialidade lesiva, este absorve aquele.

( ) Certo ( ) Errado

Gabarito – Certo – conforme estudamos minutos atrás, o conflito aparente de normas pode ser solucionado com base no princípio da consunção. Ademais, o enunciado da questão traz um dos exemplos que por nós foi explorado e que retrata o teor da súmula 17 do STJ.

E, para encerrarmos nosso estudo e finalizarmos o conteúdo teórico da primeira parte do nosso curso, vamos para o último princípio do conflito aparente de normas.

Princípio da alternatividade.

Esse princípio está presente nos crimes que possuem diversos núcleos (verbos), separados pela conjunção alternativa “ou”.

Quando alguém pratica mais de um verbo presente no mesmo tipo penal, num mesmo contexto fático, só responde por um crime (e não pelo mesmo crime várias vezes).

Preste atenção no seguinte exemplo, meu caro!

Suponha que Austin exponha a venda e, em seguida, venda substância entorpecente. Nesse contexto, ele responderá por crime único de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/067), mesmo que tenha praticado dois verbos nucleares (expor venda e vender).

Então, para encerrar nosso estudo acerca do conflito aparente de normas, deixo a você essa tabela resu-mindo cada um dos principais pontos acerca dos institutos:

7 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depó-sito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que

gratui-ESPECIALIDADE SUBSIDIARIEDADE CONSUNÇÃO ALTERNATIVIDADE

Relação meio – fim Tipo misto alternativo

Prevalece o tipo

Vamos a leitura do artigo 9º do Código Penal:

Eficácia de sentença estrangeira (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - sujeitá-lo a medida de segurança.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984

O art. 9º do CP revela uma parceria entre países estrangeiro e Brasil.

São casos em que a algum país requer à Justiça brasileira que execute a sua sentença, ou seja, o processo de conhecimento tramita no estrangeiro e a execução é aqui no Brasil.

Quais são os efeitos decorrentes de sentença penal estrangeira que podem ser executados no Brasil?

O CP é limitado, autorizando somente nessas hipóteses:

1) Efeitos Civis da condenação penal (p.ex. confisco de bens) ou;

2) Medida de segurança. Entretanto, para isso a sentença penal deve ser objeto de homologado pelo STJ.

Só caberá homologação quando o STJ verificar que a lei brasileira autoriza aplicação dos mesmos efeitos no caso concreto (requisito básico).

Contagem de prazos. Frações não computáveis da pena. Aplicação do CP a Leis Especiais.

Para que possamos estudar cada um dos pontos propostos, vamos a leitura de cada um dos artigos do CP a respeito da matéria:

Contagem de prazo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Frações não computáveis da pena (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A) CONTAGEM DE PRAZO PENAL (ART.10): Prazo penal é aquele que reflete diretamente no exercício do direito de punir. Inclui o dia do início e exclui o do final. Os meses e anos devem ser contados de acordo com o calendário comum.

B) FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS NA PENA (ART.11): Desprezar as frações de dia em pena de prisão e os centavos em pena pecuniária. (p.ex.: pena de 1 ano 4 meses e 3 dias – aí tem uma casa de diminuição e o juiz resolve diminuir pela metade, ficaria 8 meses e 1 dia e meio, sendo essa fração “meia” dispensada, ficando a pena em 8 meses e 1 dia.)

C) APLICAÇÃO DO CÓDIGO PENAL A LEIS ESPECIAIS (ART.12): As regras gerais deste código de apli-cam a todas as leis penais especiais, salvo se essas dispuserem de modo diverso.

Assim, meu querido estudante, chegamos ao fim da nossa primeira parte do conteúdo de direito penal.

Espero que eu tenha atendido a todas as suas expectativas durante essa aula.

Foi uma satisfação estudar na sua presença! Fico ao seu dispor em minhas redes sociais!

Um forte abraço! Um ótimo estudo! Fique com Deus!

Até a próxima!