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Conflitos, identidades e voto em Angola Marcelo Bittencourt*

Introdução

Vamos começar por um exercício de imaginação.1 Se neste mês de agosto

do ano de 2010 você, leitor, fosse levado a Luanda, a capital de Angola, às 10 da manhã, sem grande conhecimento prévio da cidade e do país e fosse deixado ou no Roque Santeiro ― o maior mercado informal da África Austral, por onde circu- lam aproximadamente 1 milhão de pessoas por dia2 ― ou na marginal ― uma das

principais avenidas da capital, com imóveis de 200m² que alcançam o preço de 5 milhões de dólares, apesar da inexistência de um sistema de coleta de lixo mini- mamente eficiente ―, ou ainda na Maianga – um largo que é um entroncamento importante da cidade e cada vez mais o endereço de importantes empresas presta- doras de serviço ―, muito provavelmente teria dificuldade em entender o que es- tava acontecendo ao alcance dos seus olhos. Mas ainda assim, ao ser perguntado, responderia o que achou de Angola. É possível até que criasse uma teoria.

Sua fala poderia ser otimista, elogiando o dinamismo das pessoas, correndo de um lado para o outro com celulares ao ombro e pastas e chaves na mão. Desta- caria a economia crescente, visível na quantidade e diversidade de produtos, com destaque para os sofisticados modelos dos automóveis. Mas, sobretudo, enaltece- ria os números expressivos emoldurados por uma taxa de crescimento em torno de 15% na média dos últimos seis anos, para um PIB de 80 bilhões de dólares. Tal- vez lembrasse, ainda, que no último ano da guerra (2001) Angola possuía um PIB de 9 bilhões. Nesse caso, fatalmente seria tocado pelo ritmo frenético da construção civil, que vem transformando a cidade num gigantesco canteiro de obras. Todo esse cenário comporia um quadro extremamente positivo.

Todavia, sua avaliação também poderia ser pessimista. Ficaria surpreso e depois irritado com o trânsito confuso e lento, como nunca imaginou. Perceberia de imediato a ausência de transporte público regular e a presença de carros em * Professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Este texto é dedicado à memória de Ruy Duarte de Carvalho.

1 Uma versão oral deste texto foi apresentada no I Simpósio de Estudos Contemporâneos da UFRJ, em novembro de 2008.

2 O fim das atividades comerciais no Roque Santeiro está prevista para este mês de agosto de

2010. O governo provincial de Luanda propõe a mudança dos comerciantes para uma área mais afas- tada da cidade. Estes, por sua vez, dizem que vão resistir, pois não querem a transferência do mercado.

péssimas condições, ruas com asfalto ruim ou sem asfalto e a sensação incômoda de que grande parte daquelas pessoas que circulam pelas ruas parece não ter para onde ir ― assim informando, de forma não tão sutil, o nível de desemprego que a cidade comporta. Nosso viajante, mesmo sendo brasileiro, ficaria chocado com o abismo financeiro e educacional existente entre a elite angolana e a esmagadora maioria dos habitantes. Teria grande dificuldade de entender como sobrevive gran- de parte dos angolanos assalariados, isso mesmo, os que possuem um vínculo for- mal de trabalho, num país com custo de vida tão alto e salários tão baixos. Diante desse cenário, sua avaliação dificilmente deixaria de ser negativa.

Como é possível tal disparidade de leituras? A resposta a essa pergunta é o que faz desse país um caso complicado e ao mesmo tempo instigante de se estudar. E o que é mais interessante é que, evidentemente, as duas leituras são possíveis. Podemos ver Angola de forma otimista ou pessimista, mas dificilmente podemos ficar indiferentes. O que eu proponho é que, ao olharmos para o recente proces- so histórico angolano, os últimos trinta anos, e partirmos para uma avaliação do presente, tenhamos uma postura que fuja aos dois extremos. Que deixemos de ser otimistas fervorosos ou pessimistas incrédulos.

Podemos até dar um nome a essa proposta quanto à forma de olhar para o passado, o presente e o futuro de Angola: realista ou processual. Confesso que o nome não me preocupa muito, e sim a ideia de fugir a uma postura determina- da previamente de pensar que Angola não tem jeito, ou que Angola é o máximo. É importante escaparmos desse pré-enquadramento porque, do contrário, tudo que vermos, lermos e falarmos passará a ser orientado por essas ideias. Assumida a postura que acredito ser a mais consistente, passemos então à contextualiza- ção histórica que nos permitirá analisar as eleições, sobretudo relacionando-as ao tema dos conflitos e das identidades, que são o alvo deste texto.

A história recente

Angola foi uma colônia de Portugal até 1975. Sua luta anticolonial guarda importantes singularidades no cenário africano, em especial pela peculiaridade do fato de os movimentos de libertação não terem conseguido a unificação de seus esforços, o que fez com que a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) lutassem contra as tropas portuguesas, mas também entre si. Por isso, alguns historiadores afirmam que a guerra civil angolana começou antes mesmo da independência. Para complicar o contexto, existiam an- golanos lutando pelo exército colonial e pelos movimentos de libertação, já que na

etapa final do conflito mais da metade das tropas que defendiam a permanência portuguesa era composta por angolanos.3

Iniciado o cessar-fogo, após a Revolução dos Cravos em Portugal, e abertas as negociações políticas para a independência, os militares portugueses e as lideran- ças angolanas dos três movimentos de libertação aprovaram a organização de um governo de transição com a participação dessas quatro forças. A alternativa encon- trada previa ainda a realização de eleições presidenciais e legislativas para se encon- trar a opção popular que promulgaria a independência no dia 11 de novembro de 1975. Entretanto, muito antes disso, já em maio, os embates violentos entre os três movimentos de libertação deixavam evidente a inviabilidade do processo e uma nova etapa se pronunciava: uma maior internacionalização do conflito angolano.

No período colonial, os embates já eram influenciados por agentes externos. As tropas portuguesas, em finais dos anos 1960, contaram com o apoio dos exérci- tos sul-africano e rodesiano, interessados em manter o “controle branco” no sul da África, para o combate vitorioso à guerrilha do MPLA no leste de Angola. Da mesma forma, os movimentos de libertação contaram com o apoio de países vizinhos no estabelecimento de bases de operação das guerrilhas. No entanto, em 1975, essa participação externa mudou radicalmente de patamar. Tropas sul-africanas avan- çaram sobre o território sul de Angola em apoio à Unita, em uma curiosa aliança entre o governo do apartheid e um movimento que defendera em seu início ideias maoístas. Ao norte, a FNLA incluía militares zairenses em suas tropas, com o apoio financeiro estadunidense. O MPLA, por sua vez, recebia soldados cubanos cujo pa- pel seria fundamental nos confrontos que se realizariam entre agosto e novembro. A batalha pelo controle de Luanda foi vencida pelo MPLA, que no dia previs- to, quando das negociações entre os movimentos de libertação e os militares por- tugueses, 11 de novembro, proclamou a independência e a criação da República Popular de Angola. Todavia, o conflito ente os movimentos não cessou, apenas mu- dou de enquadramento. Teve início a guerra civil; de um lado, o governo angolano, numa sobreposição quase total com o MPLA, com apoio militar de Cuba e apoio fi- nanceiro, político e logístico do bloco soviético; de outro, a guerrilha da Unita, com apoio das tropas sul-africanas no terreno ― ainda que bem mais discreto que o do ano de 1975 ― e financeiro, político e logístico dos EUA. Ou seja, apesar do enfra- quecimento e subsequente desaparecimento da força militar da FNLA, o quadro da internacionalização da guerra, mais do que permanecer, se intensificou. Angola passou a ser uma peça importante no tabuleiro da Guerra Fria.

3 Sobre a guerra colonial ver MACQUEEN, Norrie. A descolonização da África portuguesa.

A guerra ganhou contornos mais duros nos anos 1980. A guerrilha da Unita avançou pelo interior do país, contando em certa medida com a crescente concen- tração do governo angolano nos espaços urbanos e sua fragilidade para implemen- tar políticas que dessem conta do meio rural. Isso franqueou também um espaço de recrutamento para a Unita. O resultado foi que parte significativa das popula- ções rurais ficaram à mercê dos embates entre os dois grupos militares. Pois, ainda que tivesse se profissionalizado, o exército angolano enfrentou grandes problemas de logística e de abastecimento, e numa situação como essa as populações rurais são o primeiro alvo dos que buscam saciar as diferentes fomes. Pelo lado da Unita, aconteceria o mesmo, com a extrema gravidade do sentimento de impunidade ampliado.

O final dos anos 1980 conheceria, no plano internacional, a ruptura do bloco soviético e, consequentemente, o derrubar da lógica da Guerra Fria. Sua reper- cussão no palco de embates armados da África Austral seria imediata. No ano de 1989 se estabeleceram os primeiros contatos para a articulação de uma alternativa pacífica, com a costura de um plano regional que buscaria dar conta do conflito angolano e dos demais que assolavam a região, como nos casos de Moçambique e Namíbia. Especificamente para o caso angolano, o plano de paz, que contaria com a participação do governo do próprio país, da Unita, dos EUA, da URSS, de Portugal, de Cuba e da África do Sul, pretendia associar a retirada das tropas cubanas de An- gola à retirada das tropas sul-africanas da Namíbia e à consequente independência desta última, que ocorreria com a eleição de 1990, vencida pela Swapo.4

Um novo acordo, firmado na sequência do primeiro, estabeleceria um ces- sar-fogo entre o governo angolano e a Unita e a realização de eleições presidenciais e legislativas. O acordo previa ainda uma série de etapas para a desmilitarização e a aproximação entre os dois lados ― mas que foram burladas por ambas as partes. Para os objetivos desse texto, o que importa é que o pleito ocorreu em 1992 e que, ainda que tenham sido denunciadas fraudes pela Unita, a ONU reconheceu as elei- ções como tendo sido livres e justas.

4 A South-West Africa People`s Organization (Swapo), criada em 1960 com o objetivo de

conquistar a independência do então Sudoeste Africano, lançaria, em 1966, sua ofensiva guerril- heira contra as tropas sul-africanas que ocupavam o território desde a derrota da Alemanha, seu primeiro colonizador, na 1ª Guerra Mundial. A independência da África do Sul só seria conquistada em 1990, consagrando a vitória eleitoral da Swapo.

As eleições de 1992

As previsões iniciais, elaboradas ainda sob o efeito dos acordos de paz e do cessar-fogo, eram de que a campanha seria marcada pela polarização entre o MPLA e a UNITA. A expectativa do surgimento de uma terceira força capaz de aglutinar os eleitores, cansados da guerra e também desconfiados da rápida transformação democrática por que passaram os dirigentes do MPLA e da UNITA, não se confir- mou. Por outro lado, a “guinada democrática” das lideranças dos dois partidos foi responsável, em certa medida, por uma unanimidade quanto a uma perspectiva neoliberal e pacifista, contrária a toda a predisposição anteriormente demonstrada por seus respectivos movimentos, detentores de discursos socializantes e práticas belicistas.

Vários foram os partidos criados nesse período de regularização da vida polí- tica proporcionado pelos acordos de paz, mas nenhum deles conseguiu “decolar”, devido, sobretudo, à falta de quadros e de recursos, quase todos concentrados nos dois grandes partidos. A ONU, responsável pela regulação de todo o processo, não obteve fundos suficientes nem mesmo para a supervisão do acantonamento das tropas, o que comprometeria desde o início todo o processo.

Nas previsões eleitorais, elaboradas em fins de 1991, destacavam-se, invaria- velmente, dois critérios de avaliação: o componente étnico e a ideia de que chega- ra a vez de a UNITA assumir o poder, pois o governo já tivera sua chance. Ambos proporcionavam total favoritismo à Unita, o movimento de Jonas Savimbi. Entre os principais defensores dessa leitura estava a imprensa internacional e, de uma forma mais específica, os periódicos portugueses.

O critério étnico era favorável à UNITA, pois, segundo os dados estatísticos disponíveis sobre Angola, a população ovimbundo representava 35% do total, sen- do a principal base de apoio ao movimento, enquanto os mbundu compunham 25%, sendo o principal grupo de apoio ao MPLA. Essa perspectiva de análise levan- tava outra questão: qual dos dois partidos conseguiria atrair o eleitorado bakongo, cerca de 15% da população e principal base de apoio da FNLA, aquele antigo movi- mento da luta anticolonial que ressurgira, ainda que combalido, para a disputa das eleições? O pressuposto, portanto, era o da existência de um vínculo estreito, sem grande margem de erro, entre grupo étnico e partido político, entre identidade étnica e voto.

A outra variante constantemente destacada ― a de que, após 16 anos de governo do MPLA, chegara o momento de a UNITA comandar as rédeas do país ―

era reforçada pelo fracasso da administração do MPLA, envolvido numa série de casos de corrupção e desmandos, e pelo resultado nas eleições realizadas em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde ― que foram parte do quadro geral de democrati- zação instalado no continente africano e em que saíram vencedores os partidos de oposição.

Vale referir, também, que o reforço desses componentes de análise ocorreu em grande parte devido ao esvaziamento do debate ideológico, resultado da apro- ximação entre as propostas apresentadas pelos dois grandes partidos. Os pronun- ciamentos oficiais, por parte dos respectivos responsáveis, referentes às questões econômicas e até mesmo sociais eram extremamente próximos. Ambos compar- tilhavam uma mesma visão quanto ao caráter “milagroso” do mercado, capaz de proporcionar uma “proliferação” dos recursos materiais para a população.

As projeções passaram a sofrer alteração em meados do ano de 1992. Pe- saria para isso uma maior exposição dos candidatos e uma grande repercussão interna e externa do pleito previsto para os dias 29 e 30 de setembro do mesmo ano. A insistência de Jonas Savimbi, assessorado por uma empresa de marketing político estadunidense que contava com técnicos sul-africanos, em jogar o jogo da etnicidade ganharia novas cores. O líder da Unita passou a enfatizar a defesa “em primeiro lugar dos angolanos”, já que havia chegado a sua “hora” e a de sua luta pela “maioria negra do povo oprimido de Angola”, o que gerou um clima de inquie- tação nas principais cidades angolanas, como Luanda e Benguela, locais de maior concentração de mestiços e brancos que ocupavam, como ainda ocupam, posições importantes no meio intelectual e na mídia. A questão racial e o tom de revanche foram alimentados ainda pelo fato de Savimbi apresentar versões diferentes sobre a chamada “legitimidade” que a “africanidade” proporcionaria, variando conforme o seu pronunciamento fosse feito em português ou umbundo, língua dos ovimbun- do. Evidentemente, a Unita pretendia explicitar a ideia de que a existência de um elevado número de mestiços e brancos apoiando o MPLA era indicadora da ausên- cia de “legitimidade” e responsável pelo fracasso administrativo e pelos casos de corrupção no governo do MPLA.

O MPLA, por sua vez, escolheu os serviços da empresa brasileira PROPEG e direcionou a campanha para a ideia de busca da manutenção da paz no momento pós-eleitoral, numa demonstração de percepção quanto ao sentimento popular de saturação com a guerra. Acrescente-se a isso a estratégia de centralizar o ma- rketing político na figura de José Eduardo dos Santos, o presidente da República e presidente do MPLA, capaz de demonstrar ponderação e simpatia se comparado a Savimbi. Outra importante manobra foi aproveitar a passagem do papa João Paulo

II por Angola para transformar o antigo ateu José Eduardo em homem de imagem cristã, impulsionador de uma aliança com a Igreja católica ― que ele também pas- sou a defender como uma das mais importantes instituições angolanas.5

Esses fatos corroboram a ideia de uma maior diversificação dos possíveis artifícios de campanha por parte do MPLA, em oposição a um afunilamento da estratégia da Unita nos temas étnico/racial e militar, já que duas semanas antes das eleições Jonas Savimbi declarou que, caso ele e seu partido não vencessem o pleito, isso se explicaria pela ocorrência de fraudes, que gerariam reação de seu potente exército. Enquanto isso, o MPLA insistia num discurso pacificador e nacional, ao mesmo tempo que se mantinha como governo, o que entre ou- tras vantagens lhe proporcionava o uso privilegiado da televisão e da máquina administrativa.

A Unita demonstrava, portanto, sua incapacidade de transformar-se num partido político ao manter uma estrutura de organização militar e um discurso que rapidamente voltou ao seu formato original de confrontação e valorização explícita das suas forças, com destaque para seu exército e sua ligação com os ovimbundos. A estratégia parecia funcionar para uma parte significativa do eleitorado, mas pro- duzia, em simultâneo, o temor dos demais eleitores. Logo, o estratagema da Unita de apelar à identidade étnica funcionaria também às avessas.

Em função desse quadro, as análises dos resultados das eleições de 1992 tendem a destacar, nem sempre de forma conjunta, dois aspectos como os princi- pais responsáveis pelas vitórias de José Eduardo dos Santos, nas presidenciais, e do MPLA, nas legislativas: o fator étnico e os inúmeros erros de Jonas Sabimbi e seu partido, que teriam se transformado em “cabos eleitorais” do MPLA.

Sobre o resultado eleitoral e sua relação com a identidade étnica, isso tanto pode ser observado por um ângulo que fortalece o vínculo entre partido político e grupo étnico, perceptível na votação expressiva da Unita nas províncias do centro- -sul, região dos ovimbundos, como Bié (84,2%) e Huambo (81,8%), como também pode ser analisado em outra perspectiva, quando olhamos para outra província da mesma região, Benguela, onde Savimbi angariou 60,1% dos votos, reduzindo bas- tante os 80%. Esse último caso insinua que o voto étnico da Unita perdeu fôlego em áreas mais urbanizadas, com maior contato com a capital e com maior experi- ência de convívio entre negros e não negros. Outros casos podem ser lembrados para reforçar o peso do voto étnico, como, por exemplo, o expressivo número de

5 Para um acompanhamento quase cotidiano do processo eleitoral ver ALBUQUERQUE,

votos do Partido Renovador Social (PRS) na região do grupo tchokwe, não por coin- cidência etnia dominante no partido, ou ainda o caso das províncias do norte Zaire e Uíge, onde há forte presença bakongo e onde o candidato da FNLA, Holden Ro- berto, recebeu 35% dos votos, deixando em segundo lugar José Eduardo dos San- tos. De qualquer forma, o que nos interessa salientar é que tanto nesses casos dos tchokwe e dos bakongo quanto nos números nacionais da Unita (40%), concentra- dos em grande parte nos ovimbundos, todos eles confirmam o peso do voto étnico, ao mesmo tempo que informam os limites desse voto e até mesmo sua rejeição.6

Reinício da guerra, mas em novo formato

Após ter sido apontada a vitória do candidato José Eduardo dos Santos e do MPLA no primeiro turno, sem obter, no entanto, maioria absoluta, o líder da Unita acusou a ocorrência de inúmeras fraudes nas eleições e afirmou que não aceitava esse resultado. As chancelarias internacionais e a ONU investiram numa sequência de reuniões na tentativa de fazer Jonas Savimbi retomar o processo e participar do segundo turno. Infelizmente, no entanto, as negociações naufragaram e a guerra recomeçou, dessa vez com novas características.

A mais significativa delas foi o fim do elevado grau de participação externa. O governo não possuía mais o apoio cubano e soviético, nem a guerrilha o apoio sul- -africano e estadunidense, em grande parte pelo fim da Guerra Fria, mas também pelas mudanças ocorridas na África do Sul, que levariam à libertação de Nelson Mandela. Isso significa dizer que a nova guerra seria paga pelos recursos internos do país sob controle das duas forças político-militares. O governo contaria, sobre- tudo, com os recursos do petróleo, e a Unita, com os dividendos auferidos pelo controle de minas de diamantes no nordeste do país.

Outra mudança importante de se mencionar é a existência de conflitos ur-