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1.2 Panorama da Questão Agrária no Brasil

1.2.2 Conflitos e violência no meio rural

A violência no campo tem aumentado e não acontece apenas nas áreas do atraso do desenvolvimento do capitalismo no campo. Ocorre, sobretudo, nos centros mais progressistas do país. Desde o ano de 1985 a Comissão Pastoral da terra faz levantamentos anuais sobre os números de conflitos e violência no meio rural e a constatação é do aumento destes.

Os indicadores abaixo dão uma idéia dos números dos conflitos ocorridos entre o ano de 2000 e 2006 no campo: 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Conflitos de Terra Ocorrências de Conflito 195 152 277 174 366 495 659 752 777 761 Ocupações 463 599 593 390 194 184 391 496 437 384 Acampamentos 65 64 285 150 90 67

Total Conf. Terra 658 751 870 564 625 743 1.335 1.398 1.304 1.212 Assassinatos 29 38 27 20 29 43 71 37 38 35 Pessoas Envolvidas 477.105 662.590 536.220 439.805 419.165 425.780 1.127.20 5 965.710 803.850 703.250 Hectares 3.034.706 4.060.181 3.683.020 1.864.002 0 2.214.93 3.066.436 3.831.405 5.069.399 11.487.072 5.051.348 Conflitos Trabalhistas Ocorrências de Trabalho Escravo 17 14 16 21 45 147 238 236 276 262 Assassinatos 1 2 3 Pessoas Envolvidas 872 614 1.099 465 2.416 5.559 8385 6.075 7.707 6.930 Ocorrências de Superexploração e Desrespeito Trabalhista 49 56 28 33 25 22 97 107 178 136 Assassinatos 1 5 2 1 Pessoas Envolvidas 24.788 366.720 4.133 53.441 5.087 5.586 6.983 4.202 3.958 8.010

Quadro 1 – Conflitos no campo (1997 – 2006)

Fonte: Setor de Documentação da Secretaria Nacional da CPT. http://www.cptnac.com.br, acessado em abril/2007.

Dados atuais da CPT (2010, p. 9) dão conta que em 2009 houve aumento tanto do número total de conflitos – por terra, água e contendas trabalhistas – 1.184, contra 1.170, em 2008; em relação especificamente aos conflitos por terra, foram 854 em 2009, 751 em 2008. O número de famílias expulsas cresceu de 1.841, para 1.884, e, significativo foi o aumento do número de famílias despejadas de 9.077 (2008), para 12.388, 36,5% (2009). Em 2009, registrou-se 9.031 famílias ameaçadas pela ação de pistoleiros, contra 6.963, em 2008.

Os números da violência no campo são bastante preocupantes e revela o quão conflituosa são as relações sociais produzidas pelo modelo agrário que ainda existe no Brasil. Em 2009, para se ter uma idéia, foram 25 assassinatos, 61 tentativas de assassinato, 143 ameaças de morte, 71 torturados, 204 presos, 277 agredidos. (CPT, 2010, p. 108).

Todavia, assim como é real a ação violenta institucional e para-institucional, também são reais as resistências e as lutas das massas. Desde os povos indígenas, passando pelos quilombos, as revoltas populares no campo, as ligas camponesas, o movimento sindical rural, etc.,a classe trabalhadora não se faz de rogada e passiva e tem enfrentado, nos limites e possibilidades de suas forças, a presença da exploração no campo dando movimento à luta de classes.

Porto-Gonçalves e Alentajano (2010, p. 109 - 111), analisando as lutas e a violência no campo entre os anos de 1985 e 2009, classificam estas ações em cinco períodos distintos:

1º período : entre 1985 e 1990 com destaque para o predomínio da violência do poder privado e um alto índice de assassinatos.

2º período: entre 1991 – 1995 - retomada das organizações e ações dos movimentos sociais. Aumento de 36% da média de ocupações em relação ao período anterior.

3º período: 1996 – 2000 – período de maior intensificação das ocupações de terra e aumento significativo de conflitos por terra.

4º período: 2001 – 2002 – refluxo das lutas e ocupações de terra em relação ao período anterior.Neste período o governo de Fernando Henrique Cardoso intensifica a criminalização dos movimentos sociais. “Todavia, esse período é o terceiro, na média anual de Conflitos, assim como na média anual de famílias envolvidas tanto em ocupações como nos conflitos por terra.” (PORTO-GONÇALVES & ALENTAJANO, 2010, p. 110).

5º período: 2003 – 2009. É o período de maiores conflitos dos últimos 25 anos. É o período recordista na média anual de conflitos e o segundo na média anual de famílias envolvidas nesses conflitos. “Também nesse o período se deu a maior média anual de famílias despejadas – 22.000 famílias por ano – e de 380 pessoas presas anualmente” (PORTO-GONÇALVES; ALENTAJANO, 2010, p. 11)

Os números indicam o quão violenta são as ações do latifúndio e do “agrobanditismo”, segundo a expressão do professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira48. Em função do êxito econômico-financeiro os ideólogos do agronegócio, no mercado ou no poder público, esforçam-se por negar tal realidade propondo ou promovendo políticas paliativas e com desigual distribuição de recursos para o agro.

Cabe, portanto, perguntar acerca das referências e análises feitas pelos setores hoje hegemônicos na academia, nos governos e nas organizações proponentes de uma educação do campo acerca do agro no Brasil. A hipótese de Oliveira (2008, cap. 2) e Souza (2010) é a de que estas análises filiam-se ao víeis fenomênico e idealista o que se choca com as análises de cunho materialista histórico.

1.3 Interpretações majoritárias sobre o problema agrário na atualidade e as Políticas para o setor no Brasil

Conforme Oliveira (2008), as políticas para o meio rural são elaboradas, em boa medida, a partir das opiniões e estudos de alguns acadêmicos que se contrapõem ao fato

de que o mundo rural perdeu terreno em relação ao urbano e que o problema agrário no Brasil diz respeito ao modelo de desenvolvimento e não a própria estrutura capitalista. Teóricos como José Eli da Veiga, Maria N. B. Wanderley, Ricardo Abramovay são alguns dos intelectuais com cujas teorias as proposições majoritárias do Movimento por uma Educação do Campo apresentam uma forte identificação.

Para Veiga, o rural é estabelecido a partir de relações entre variáveis previamente definidas, como densidade demográfica e distribuição desta num território. Com isto o autor troca o rural pelo campo, trazendo a idéia de que o campo é mundo natural, desestoricizando as relações sociais que criam e recriam o rural na atualidade. Tal perspectiva, de caráter claramente neopositivista, permite a este dizer que no Brasil existem espaços rurais e/ou territórios rurais, cuja dinâmica é dada por atividades agrícolas e cujo desenvolvimento deve articular-se na tomada de decisão das políticas públicas que incentivem este tipo de atividade. (OLIVEIRA, 2008, p. 438)

O pensamento de José Eli da Veiga, considerando a crítica de Oliveira (2008), atualiza as formulações desenvolvimentistas dos anos 1960 que entendiam estar na transformação da base técnica e não a alteração nas formas de produção o fundamento das mudanças na produção agrícola. Essas foram as hipóteses e as políticas da “revolução verde” do regime da ditadura civil-militar dos anos 1970 e 1980. Contudo, passado este período, os problemas no campo persistem, como demonstrei anteriormente: o êxodo rural, os problemas ambientais, a exploração dos trabalhadores, o envenenamento dos alimentos pelos agrotóxicos são expressões deste ideário insustentável e senil.

O Estado brasileiro tem priorizado políticas que negam a reforma agrária e transformam o acesso e a produção agrária em mercado de terras. Para evitar conflitos e combater as ocupações, a política criada e assumida pelos governos Fernando Henrique Cardoso (1994 – 2002) e Luís Inácio Lula da Silva (2002 – 2010) foi a de Reforma Agrária de Mercado, ou seja, “uma tentativa de tirar a luta popular do campo da política e jogá-la no território do mercado, que está sob o controle do agronegócio (...).” (FERNANDES, 2008, p. 49). Estas políticas se expressam nos programas cédula da terra e do Banco da Terra no governo FHC. No governo Lula é criado o Programa Nacional de Crédito Fundiário por meio de três linhas de financiamento: Combate à Pobreza Rural, Nossa Primeira Terra e Consolidação da Agricultura Familiar. Quanto a estes programas Resende49 & Mendonça (2009), afirmam:

49 Importante registrar que Marcelo Resende foi presidente do INCRA em 2003, portanto no período do governo Lula.

Os programas “Combate à Pobreza Rural” e “Nossa Primeira Terra” são idênticos aos programas “Cédula da Terra” e “Crédito Fundiário de Combate à Pobreza do governo FHC. Da mesma forma, o “Banco da Terra” tem as mesmas características do “Consolidação da Agricultura Familiar”. Ou seja, são os mesmos programas apenas com pequenas modificações. Mas a concepção central da mercantilização da Reforma agrária permanece igual. (...) as políticas do Banco Mundial no meio rural brasileiro não são mais experimentais. Elas tiveram início a partir de 1996, já utilizaram em torno de 1,5 bilhões em recursos financeiros, atingiram cerca de 70.000 famílias e têm perpassado governos. (p. 33-36)

O Modelo de Reforma Agrária de Mercado50 tem base em quatro objetivos: a) estímulo a relação de arrendamentos; b) potencialização das relações de compra e venda; c) privatização de terras públicas e comunais; d) aprofundamento da privatização de direitos de propriedade em fazendas e terras coletivas. ( PEREIRA, 2006).

Experiências desse Modelo de Reforma Agrária de Mercado foram implementados nos continentes Americano, Asiático e Africano. No Brasil, um estudo coordenado por Germani (2006) acerca do Modelo de Reforma Agrária de Mercado no Estado da Bahia, ao investigar o “Projeto Cédula da Terra” e o “projeto Crédito Fundiário de Combate à Pobreza Rural” conclui, dentre outras coisas que:

A intervenção governamental e a importância estratégica dos laudos técnicos na definição do preço da terra derivam da falácia representada pelo argumento dos “mecanismos de mercado” e da possibilidade de uma livre negociação entre proprietários de terra e associações de sem-terra. Isto se deve às fortes assimetrias entre as partes, à desinformação dos sem-terra, à pressão para entrar na terra (qualquer terra) o mais rápido possível para garantir o acesso ao projeto e à subsistência, além da evidente capacidade de manipulação de diversos intermediários, interessados em extrair lucros financeiros e/ou dividendos políticos com os projetos.” (GERMANI Et all 2006, p. 255)

Pode-se concluir que a proposta do Banco Mundial e dos Governos que seguem suas políticas para o campo é transformar os agricultores em empreendedores rurais denominados de Agricultores familiares.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (2009), a agricultura familiar é caracterizada como uma área de empreendimento rural que não excede a quatro módulos fiscais, sendo dirigida por uma família, sendo ela própria predominante a mão- de-obra utilizada nas diversas atividades, além de ser a fonte principal de renda da família. Segundo os dados do MDA, a agricultura familiar ocupa 25,03% da área ocupada para plantio no país, sendo maior no Norte e Nordeste.

Apesar de uma área menor de ocupação, são estes agricultores que produzem 38% do valor bruto de produção gerada no país. Enquanto as grandes propriedades focam a produção para exportação, a produção nas pequenas propriedades é responsável por cerca de 70% de produtos para o consumo interno. Desse modo, 70% da produção de feijão e mais de 30% do arroz, café e milho consumido no Brasil são oriundas das pequenas propriedades. (MDA, 2009)

Por outro lado, ao analisar a distribuição do crédito rural, Görgem (2010, p. 1) observa que,

No plano safra 2009/2010 foram destinados R$ 93 bilhões para o agronegócio e 15 bilhões para a agricultura camponesa. Mesmo assim, sabe-se que, apesar da crescente oferta de recursos para a agricultura camponesa, 1,2 milhões de estabelecimentos familiares não têm acesso ao crédito e, na última safra, utilizaram apenas 80% do que está disponível. (GÖRGEM, 2010)

O conceito de agricultor familiar tornou-se hegemônico nas formulações das agências multilaterais de desenvolvimento (Banco Mundial, FAO), no governo federal, na academia e nos movimentos sociais, sendo uma das referências do Movimento por uma Educação do Campo.

A idéia de agricultor familiar pode ser entendida como uma estratégia neodesenvolvimentista “porque permite continuar dizendo que não mais há necessidade de alterações estruturais no agro mas, sim, que seu futuro deve ser pensado dentro dos marcos das possibilidades de um desenvolvimento dentro da ordem.” (OLIVEIRA, 2008, p. 438). Esta orientação política alimenta a idéia entre os agricultores da possibilidade destes se adequarem ao mercado e enfrentar a concorrência capitalista por meio do ideário do empreendedorismo sob as bases de um desenvolvimento local e sustentável.

1.3.1 A falácia do desenvolvimento local e sustentável

Os estudos de Oliveira (2008), Santos (2007), Souza (2010), chamam a atenção à categoria desenvolvimento nas formulações dominantes na análise do problema agrário no Brasil e na formação de professores para o campo.

Arrighi (1997), ao estudar a perspectiva desenvolvimentista do capitalismo conclui que entre os anos de 1848 a 1988 praticamente não houve alterações no conjunto das nações que dominam a economia mundial a exceção do Japão que era território de interesse Norte-Americano na Ásia. A categoria desenvolvimento vem

recebendo vários adjetivos (desenvolvimento econômico, social, humano, sustentável, solidário), mas que no fundo implicam expressões diferentes para um mesmo fundamento: o desenvolvimento do capital em uma fase de destruição das forças produtivas. Por meio do conceito de desenvolvimento efetivam-se uma série de programas e ações que integram as políticas para o campo.

Os princípios do desenvolvimentismo, formulados por Keynes na década de 1930, correspondia à busca de respostas à crise do capitalismo provocado pela crise da bolsa de Nova York em 1929. Explicando a lógica desenvolvimentista Keynesiana, Francisco de Oliveira afirma:

no capitalismo monopolista, o Estado tem que ser necessariamente, parte ativa da reprodução do capital, abandonando a postura dos seus antecessores neoclássicos e marginalistas, de um Estado de “Laissez Faire”. A teoria do “déficit Spending” é a explicação de que o Tesouro Público tem que ser colocado no pressuposto geral de toda a atividade econômica, sem o que a economia capitalista ver-se-ia obrigada a braços com crises cíclicas de maior gravidade, exatamente porque o forte processo de centralização do capital ampliaria, ao invés de reduzir, a anarquia do sistema, desta vez em proporções catastróficas. O tesouro público assume, assim, como pressuposto geral do capital que se valoriza, funções de capital financeiro geral que busca, também, a valorização, embora não realize diretamente em alguns casos (OLIVEIRA, 1977, p. 104-105)

Desse modo, a teoria e as políticas de desenvolvimento resumem-se tão somente ao melhoramento da forma de produção e reprodução do capital nada tendo a ver com a superação do sistema de produção capitalista.

Na atualidade, fala-se em novo modelo de desenvolvimento tendo como premissa a sustentabilidade. O conceito mais utilizado para definir esta categoria encontra-se no relatório Brundtland. Segundo este documento, desenvolvimento sustentável é “aquele que atende às necessidades do presente de forma igualitária, porém sem comprometer a possibilidade de sobrevivência e prosperidade das gerações futuras”. (Relatório Brundtland apud FOLADORI, 1999, p. 19).

Este conceito nasceu no interior das instituições do imperialismo por iniciativa daqueles que desenvolvem uma política destruidora contra os povos e suas conquistas. O desenvolvimento sustentável surge em um período em que os povos dos países dominados são esmagados por uma dívida que não é sua, por privatizações, arrocho nos salários, cortes de orçamento, etc. O que se pode verificar é que “a operação desenvolvimento sustentável” oculta a verdadeira natureza do modo capitalista de produção. Quanto a esta questão, o filósofo István Mészáros afirma:

O “Deus que falhou”, na imagem da onipotência tecnológica, é agora recomposto e novamente apresentado sob o disfarce do “interesse ecológico” universal. Há dez anos a ecologia podia ser tranqüilamente ignorada ou desqualificada como totalmente irrelevante. Atualmente ela é obrigada a ser grotescamente desfigurada e exagerada unilateralmente para que as pessoas – suficientemente impressionadas com o tom cataclísmico dos sermões ecológicos – possam ser, com sucesso, desviadas dos candentes problemas sociais e políticos. (...) Analogamente, as pessoas deveriam esquecer tudo sobre as cifras astronômicas despendidas em armamentos e aceitar cortes consideráveis em seu padrão de vida, de modo a viabilizar os custos da “recuperação do meio ambiente”: isto é, em palavras simples, os custos necessários à manutenção do atual sistema de expansão da produção de supérfluos. Para não mencionar a vantagem adicional que constitui o fato de se compelir a população em geral a custear, sob o pretexto da “sobrevivência da espécie humana”, na sobrevivência de um sistema socioeconômico que se defronta agora com deficiências derivadas da crescente competição internacional e de uma mudança crescente na sua própria estrutura de produção, em favor dos setores parasitários. (MÉSZÁROS, 2002, P. 989)

Nos últimos tempos o chamado “problema ambiental” tem pautado discursos e preocupações de inúmeras autoridades, corporações capitalistas, Organizações Não- Governamentais, educadores. Palavras como sustentabilidade, responsabilidade social e ecológica passaram a integrar o léxico mundial desvelando medos e preocupações em relação ao presente e ao futuro do planeta.

Os elementos concretos para identificarmos indícios da barbárie que assolam a humanidade e as catástrofes ambientais são muitos. Segundo o livro “água” de Michel Camdessus (ex-diretor do FMI), portanto de um intelectual orgânico da burguesia, estima-se que na atualidade 50 mil seres humanos morrem a cada semana por falta de água. Contudo, estudos demonstram que na atualidade conta-se com todas as técnicas para proporcionar água potável por meio da dessalinização da água, transporte de água a longa distância.

Os processos de desertificação, degradação dos solos, uso indiscriminado de agrotóxicos, desmatamentos aleatórios abrindo espaço para monoculturas ou criação de gado pelo agronegócio e todas as possibilidades de uma catástrofe ecológica se expandem para todas as partes do planeta.

O aquecimento global é outro grande problema da humanidade. A principal, talvez a única tese que se escuta falar, é a de que o aquecimento global é decorrente da grande emissão de CO2 na atmosfera. Muitos cientistas não estão de acordo com esta posição, dentre eles Chris Landsea e Roger Pielke, este último defendia a idéia de que o

aquecimento climático, além do CO2 também intervinha outros fatores e lembra que aquele gás representa apenas 0,038% da atmosfera. ( A Verdade, 2009).

Contudo, mesmo não havendo consenso entre os cientistas, os capitalistas perceberam que o debate sobre o efeito estufa e o aquecimento global poderia ampliar seus negócios. Para isso foi criado um mercado de trocas de cotas de emissão de gás carbônico nos países com indústrias poluentes estabelecendo-se metas de redução de CO2. Os países e as indústrias teriam o direito à poluição em toneladas de carbono, que podem trocar ou vender com países que emitam menos desses gases. Novamente mais uma falsa solução dos problemas sócio-ambientais no interior da especulação financeira que agora apela para a redução e negociação dos gases que supostamente provocam o efeito estufa.

Diante destes fatos e dados, como se movimentam a quase totalidade das entidades de defesa do meio ambiente, Ongs, intelectuais, agências internacionais, governos, empresários e políticos? Ora, se fizermos um balanço de como é tratada a chamada “questão ambiental” na atualidade, perceberemos a intensificação das ilusões em torno do capital, agora “tingido de clorofila”, colorindo uma retórica idealista e abstrata. Não raro, documentos da ONU ou de entidades como o Greenpeace e uma constelação de ONG‟s fazem proposições para mudanças de atitudes, ações de impacto chamando a atenção para o problema ambiental, apelo a construção de uma ética mundial em direção ao desenvolvimento sustentável, apelo às atitudes individuais com vias ao consumo consciente por meio de produtos “ecologicamente sustentáveis”.

A presença deste ideário na educação do campo é uma constante. Na Rede de Educação do Semi-Árido Brasileiro, integrante do Movimento por uma educação do Campo, é comum análises que trazem o desenvolvimento sustentável como um princípio de formação humana. Segundo Edmerson Reis, da coordenação executiva da RESAB:

Cultivar a idéia de desenvolvimento sustentável exige da sociedade civil, dos governantes e empresários, unirem esforços para acabar com a miséria, a pobreza e a exclusão social que hoje existem no mundo, e

que são necessidades do presente que precisam ser enfrentadas, satisfeitas e não dissimuladas ou ampliadas para estourar nas mãos das gerações futuras. Esse tem que ser um compromisso das gerações presentes, para que possamos no futuro garantir a existência de sociedades de fato sustentáveis. (REIS, 2004, p.1. Grifos meus)

O ecologismo movimenta milhões e milhões de dólares em discussões, publicações, programas, iniciativas individuais e coletivas, mas jamais se propõe a fazer

uma pergunta simples: é possível a sustentabilidade em um sistema anárquico e insustentável por natureza como é o modo capitalista de produzir?

O discurso ecologista e de desenvolvimento sustentável encobre questões essenciais para a compreensão das bases histórico-sociais da crise ambiental vivenciada pela humanidade ao produzir um discurso idealista de responsabilização dos indivíduos sem considerar o modo capitalista de produzir a vida.

1.3.2 O Combate à pobreza rural e a política do desenvolvimento territorial

O Banco Mundial, como agência financiadora e elaboradora de reformas adotou e passou a defender uma agenda de reformas para o desenvolvimento. Na diretriz proposta “quatro consignas foram estabelecidas e repetidas como a ponta da nova agenda de desenvolvimento: complementaridade entre mercado e Estado, o abandono da idéia de Estado Mínimo em favor de um Estado “eficaz”, a centralidade das instituições e o combate à pobreza.” (PEREIRA, 2006, p. 14).

Para a realização destas consignas era primordial realizar a chamada reforma do Estado. Pereira (2006) elenca alguns movimentos dessa reforma que passam pela: a) blindagem das agências econômicas do Estado de qualquer tipo de pressão ou controle