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CONHECENDO A LÍNGUA DE SINAIS

No documento ALUNOS SURDOS (páginas 76-79)

Por longo período não se supunha que a comunicação dos surdos, a “mímica”, como era anteriormente denominada, fosse uma verdadeira linguagem. Até pouco tempo se dizia que os surdos, que se comunicavam por sinais, assemelhavam-se aos macacos. Isto se dizia por ignorância e por preconceito. Todavia há, pelas mesmas razões, quem ainda continue a dizer coisas parecidas.

Já em 1960, William Stokoe, nos Estados Unidos, demonstrou que a língua de sinais é uma língua natural, igual às demais línguas orais. A partir dessa descoberta, não há razão para não respeitar a língua de sinais e as pessoas surdas que dela se utilizam.

As línguas de sinais devem ter o mesmo status das línguas orais, uma vez que se

prestam às mesmas funções: podem expressar os pensamentos mais complexos, as idéias mais abstratas e as emoções mais profundas, sendo adequadas para transmitir informações e para ensinar. São tão completas quanto as línguas orais e estão sendo estudadas cientificamente em todo o mundo. Coexistem com as línguas orais, mas são independentes e possuem estrutura gramatical própria e complexa, com regras fonológicas, morfológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas.

A língua de sinais, como uma construção histórico-social da comunidade dos surdos, demonstra plenamente a capacidade alternativa de alimentar os

processos mentais, mesmo sendo uma língua ‘vista’ e não ‘ouvida’. Ela substitui, adequadamente, as funções exercidas pela língua oral para as pessoas ouvintes, propiciando às pessoas surdas o desenvolvimento pleno da linguagem.

Por ser uma língua viva, produto da interação de um grupo de pessoas que se identificam pela comunicação visual, a língua de sinais, oferecendo as possibilidades de constituição de significado, cumpre um papel fundamental no desenvolvimento lingüístico, cognitivo e emocional dos alunos surdos, não podendo ser ignorada pelo professor em qualquer ato de interação com eles. Os alunos ouvintes adquirem espontaneamente línguas orais, porque a informação lhes chega pela via auditiva. Por sua vez, para os surdos, as informações chegam pela via visual. Eles aprendem ‘espontaneamente’ a língua de sinais e, quando em contato com outros surdos, desenvolvem naturalmente a linguagem. Assim podem inteirar-se, plenamente, da dimensão humana da comunicação e enriquecer, sem restrição, seu mundo conceitual.

Por ser uma construção histórica e social, as línguas de sinais não constituem um sistema lingüístico universal. Cada país tem a sua própria língua, produto das condições culturais de cada comunidade. No Brasil, a língua de sinais dos surdos dos centros urbanos é denominada Língua de Sinais Brasileira e vem sendo estudada por vários lingüistas e pesquisadores. Por ser uma língua de modalidade visuo-espacial, que é produzida/codificada a partir de recursos espaciais e percebida/decodificada por meio da visão, faz uso de mecanismos simultâneos ao contrário do que ocorre nas línguas orais cujos mecanismos são seqüenciais.

Uma das características das línguas de sinais, no mundo todo, é sua iconicidade, isto é, alguns sinais tendem a reproduzir características parciais ou totais do dado da realidade representado, o que faz com que as pessoas creiam ser esta uma língua que apenas reproduz conceitos concretos. Vejamos alguns exemplos:

Na verdade, há uma série de sinais que possuem, de fato, motivação icônica, entretanto, a maioria dos sinais são convencionados pelos seus usuários.

Isto é facilmente percebido nos exemplos, abaixo, que demonstram a arbitrariedade em relação aos sinais representados:

A aquisição dependerá, tão somente, do contato com usuários da língua de sinais que, ao fazer uso das palavras em contextos significativos, estarão oportunizando a apreensão do sentido, em cada situação.

É por conta disso que nem todos os surdos conhecem ou utilizam a língua de sinais, principalmente aqueles que, por inúmeras razões, foram proibidos de comunicar- se gestualmente e educados sob a perspectiva oralista. Da mesma forma, há um sem número de localidades nas quais, por não haver uma comunidade representativa de surdos, não há a disseminação da língua de sinais e acaba-se por desenvolver um conjunto de gestos próprios que viabilizam a comunicação contextual com a família e o círculo social mais imediato.

Uma criança surda, filha de pais ouvintes, não pode aprender, naturalmente, espontaneamente, a língua portuguesa que seus pais falam, por impedimento auditivo. Igualmente, no seio de uma família de ouvintes, tão pouco se tem facilidade para aprender a língua de sinais. Esta situação é crítica. Para superá-la necessita-se que os pais ouvintes aprendam, o quanto antes e da melhor maneira possível, a língua de sinais, que lhes permitirá comunicar-se com seu filho e, sobretudo, trará a oportunidade à criança de estar em um ambiente onde possa aprender espontaneamente a língua de sinais.

A situação das crianças surdas, filhas de pais surdos, é completamente distinta, porque ambos utilizam a língua de sinais como a primeira língua. Essas crianças, em geral, estão em contato desde muito cedo com a língua ‘falada’ de sua

TER VERDE PODER

comunidade - a língua de sinais - sua língua natural. É por esta razão que as crianças surdas, filhas de pais surdos, mostram um desempenho muito superior em todos os aspectos do desenvolvimento em comparação às crianças surdas, filhas de pais ouvintes.

Aí está a importância de o professor conhecer a história de vida de seus alunos, compreendendo seu completo desenvolvimento, a fim de tomar as decisões educacionais mais adequadas em relação às suas necessidades. Cabe ressaltar que privações lingüísticas significativas na infância podem ser a causa de problemas e dificuldades na aprendizagem. Dessa forma, o processo de aquisição da língua de sinais deve iniciar-se na educação infantil, após manifestada a opção dos pais.

No documento ALUNOS SURDOS (páginas 76-79)