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1.6.1 Primeiras iniciativas oficiais na Educação de Adultos

Concomitantemente com o lançamento da 1ª Campanha Nacional de Educação de Adultos (1947), a Associação dos Professores do Ensino Noturno e o Departamento de Educação, pertencentes ao Distrito Federal, efetivaram o 1º Congresso Nacional de Educação

de Adultos. Participaram desse Congresso, dois representantes de cada Estado brasileiro, com o objetivo de conhecer a realidade da educação de adultos nesse período. A concepção que embasava essa campanha seguia o seguinte conceito: ensinar adolescentes e adultos era mais fácil, mais rápido e mais simples; logo, qualquer pessoa poderia exercer essa função. Partindo da premissa de que qualquer pessoa poderia alfabetizar, não haveria a necessidade de profissional específico para tal função. Nesse sentido, não haveria a necessidade de remuneração adequada, tendo em vista a inexistência de um docente qualificado. Assim, essa campanha foi desenvolvida basicamente com a participação do trabalho voluntário, ação esta presente até os dias atuais.

O 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos realizou-se em 1958. Por ocasião da sua realização as delegações participantes buscaram enfatizar a precariedade dos prédios escolares, a inadequação dos métodos de ensino e a falta de qualificação profissional para atender ao adulto analfabeto. Estava presente a delegação de Pernambuco, a qual, entre outros educadores, contou com a presença de Paulo Freire, que fez outras críticas à prática pedagógica, evidenciando a necessidade de uma maior comunicação entre educador e educando, bem como a necessidade de se adequar os conteúdos e os métodos de ensino as características socioculturais do aluno adulto pertencente às classes populares.

Na década de 50 e início dos anos 60, a sociedade civil passou a se articular através dos movimentos de base, na tentativa de alfabetizar o maior número possível de pessoas analfabetas, tirando-as do seu estado de alienação. Nesse momento, destacam-se os círculos de cultura, liderados por Paulo Freire, marco referencial para a educação de adultos no Brasil e, posteriormente, em outros países. Suas idéias buscavam, além do ato de ler e escrever, a conscientização do analfabeto, oprimido, para que este saísse do estado de opressão, marginalização e se tornasse um sujeito entendido como produto e produtor de história.

1.6.2 A educação de adultos após 1964

Com o exílio e a extinção do trabalho de Paulo Freire, o governo militar criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) através da Lei 5.378/67, com o propósito de erradicar o analfabetismo e proporcionar uma educação continuada para jovens e adultos, apropriando-se da metodologia utilizada por Paulo Freire, que partia de palavras geradoras, mas sem a sua concepção política de conscientização e transformação social. O objetivo do MOBRAL, como órgão de concepção e execução, era centralizar as iniciativas, baseado no conceito de que alfabetizar restringia-se a ler e escrever.

No início dos anos 70, a educação de adultos passou a ser discutida e incorporada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 5692/71, que criou a obrigatoriedade de quatro para oito anos, equivalente ao 1º Grau. Nessa lei, é criado pela primeira vez um capítulo dedicado ao ensino supletivo, enunciado no seu artigo 24, o qual estabelece “suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído em idade própria”. Com o intuito de regulamentar essa modalidade de ensino, o Conselheiro Valnir Chagas, do extinto Conselho Federal de Educação, elaborou o Parecer nº 699/72, com os pressupostos norteadores do ensino supletivo, indicando as idades de prestação de exames e a forma de controle destes por parte dos órgãos públicos.

Para atender ao dispositivo legal, o MEC propôs, em 1974, a implantação dos Centros de Estudos Supletivos (CES), pois acreditava ser a solução mais viável para essa modalidade de ensino, que tinha como critérios: tempo (rapidez de instalação), custo (aproveitamento de espaços ociosos) e efetividade (emprego de metodologias adequadas).

Os CES foram criados nos Estados num período de grande interferência de acordos externos; constituiam uma forma de aliança entre o MEC e a USAID, devido aos acordos firmados entre essas duas instâncias/ agências.

Como conseqüência desses acordos houve a inserção do tecnicismo, como sendo a solução definitiva e real para todos os problemas da educação. Enfatizava-se o como ensinar, ou seja, privilegiava-se as metodologias dos cursos em detrimento dos conhecimentos necessários, especialmente na educação de adultos.

A criação dos CES ocorreu devido à existência de uma grande demanda por atender, a educação de adultos. A orientação metodológica estava baseada em módulos instrucionais, com o objetivo de um atendimento individualizado através da auto-instrução.

É importante destacar que a relação entre a educação de jovens e adultos e a criação de políticas públicas para atender a essa modalidade passa pela questão do direito de todo homem ou mulher ter acesso e apropriação do conhecimento historicamente elaborado. Aliado a outros direitos garantidos constitucionalmente pelo Estado, esse direito leva a uma reflexão sobre que tipo de educação deve ser proporcionada para o jovem e adulto, tendo-se em vista também a formação de sua cidadania e sua inserção no atendimento das exigências do mercado, produto de uma sociedade capitalista como a nossa.

Visando formar o educando jovem e/ ou adulto para a cidadania, foi criado o Plano Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), em 1990, após a extinção da Fundação Educar (1985-1990), de responsabilidade da Coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos (COEJA), vinculada à secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação. Com

o PNAC houve a pretensão de mobilização de toda sociedade civil na tentativa de promover a educação de crianças, jovens e adultos através de suas respectivas comissões, responsáveis por gerenciar os recursos financeiros que seriam destinados às Secretarias de Educação envolvidas. Mas o referido plano não se efetivou na prática não havendo tempo hábil para sua execução devido ao impeachment realizado, que destituiu do cargo o então Presidente da República Fernando Collor de Mello.

No lançamento desse programa, o presidente Fernando Collor de Mello fez o seguinte discurso (MEC, 1990, p. 7):

O nosso Programa de Alfabetização será concebido, e depois avaliado, em assembléias municipais, estaduais e também da assembléia nacional. O município será a instância prioritária, pela proximidade com o indivíduo, pelo conhecimento mais direto das necessidades específicas e localizadas. Ao Governo Federal cabe convocar a participação solidária da nação e trabalhar na compreensão das disparidades e na otimização das relações institucionais e do emprego dos meios.

O que o Presidente postula não aconteceu de fato, “[...] as comissões não puderam exercer nenhum controle sobre a destinação de recursos e o programa foi encerrado depois de um ano.” (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2002, p. 66)

Objetivando contextualizar nosso objeto de estudo, referente à análise das políticas públicas a partir da década de 1990 até 2004 na EJA, fez-se um breve comentário sobre a história da educação de adultos no Brasil, para que pudéssemos conhecer suas implicações e conseqüências em nosso momento histórico, visando refletir sobre as políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos no Brasil e em Ponta Grossa a partir da década de 1990. Nosso propósito foi o de analisar criticamente as políticas públicas implantadas nesse período, procurando identificar concepções no que se refere à sua oferta pelos governos federal e local, com a intenção de situar historicamente esta pesquisa.

A partir desse momento, nos deteremos mais especificamente em nosso tema de estudo, procurando conhecer melhor as políticas públicas propiciadas para esse período, tanto em nível nacional quanto local. Enfocaremos, também, as iniciativas governamentais do município para essa modalidade de educação em Ponta Grossa.