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2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E FORMAÇÃO CONTINUADA:

4.4 CONHECENDO MELHOR AS PROFESSORAS PARTICIPANTES DO

Neste momento, apresentamos de modo mais detalhado as características pessoais e profissionais das 8 professoras envolvidas no processo de intervenção. Cabe mencionar que a escolha deste grupo foi baseada nos seguintes critérios: a) estar atuando na escola investigada no ano de 2008; b) possuir experiência atual ou anterior com alunos com necessidades educacionais especiais; c) ter participado de todas as fases da pesquisa: análise, discussão e elaboração de casos de ensino.

Para tanto, as informações obtidas por meio do questionário serão complementadas com aquelas relativas às análises do primeiro caso de ensino: “Trajetória profissional de

Adriana: o desafio de desenvolver uma prática inclusiva”. Optamos, nesse estudo, por

substituir os nomes das professoras, de seus alunos e das instituições em que atuam, a fim de preservar suas identidades. Os nomes escolhidos foram: Flora, Sônia, Ana, Célia, Clara, Dalva, Aline e Liana. Estes nomes aparecerão com destaque em negrito ao longo de todo o texto.

Flora

A professora Flora é casada e tem 55 anos. Concluiu o curso de Pedagogia em 1997 pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e leciona nos anos iniciais do Ensino Fundamental há 25 anos. Trabalha, atualmente, com crianças do 1° ano no turno matutino. Além da graduação possui especialização na área de Ensino Fundamental concluída em 2006 na Universidade Potiguar (UNP).

No ano em que a pesquisa foi realizada a professora não possuía alunos com necessidades educacionais especiais em sua sala de aula. Em suas análises, relata que, durante o percurso de sua trajetória profissional, vivenciou experiências tanto em instituição privada quando na rede pública, as quais foram permeadas por expectativas, conflitos, frustrações, desafios e conquistas. Descreve que um dos maiores desafios enfrentados em sua vida profissional ocorreu em 2006, quando foram matriculadas três alunas com necessidades educacionais especiais em sua sala de aula, afirmando ter sentido receio e insegurança.

No tocante à sua formação, embora não especifique, diz que as primeiras informações sobre a Educação Inclusiva vieram com o curso de especialização. Para ela ser/estar professora é aceitar desafios. Nesse sentido, afirma que o seu melhor como professora é estar aberta a aprender e o desejo de poder contribuir para o avanço do processo educacional inclusivo, o que considera algo essencial nos dias atuais.

Sônia

Sônia é solteira e tem 43 anos. Concluiu o curso de Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2004. Possui especialização na área de Gestão Escolar pela Universidade Potiguar (UNP), concluída em 2007. Trabalha como professora do Ensino Fundamental há 16 anos. Iniciou seu trabalho em uma escola particular e atua na rede municipal há oito anos. Sônia trabalha na escola investigada no turno matutino e vespertino, com turmas de 3º ano.

Na ocasião da realização dessa pesquisa, ela possuía uma aluna com Síndrome de Asperger em sala de aula. Sua primeira experiência com a inclusão foi no ano de 2000. Diz que para realizar o seu trabalho contava com poucas informações, adquiridas na formação acadêmica, relativas às “[...] dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência e o respeito que devemos ter por essas pessoas sem, no entanto, tratá-las como coitadas ou incapazes” (Caso 1, Set./2008). Dentre os cursos que participou, nos últimos cinco anos

destaca: Jornada Pedagógica da Rede Municipal de Natal, Curso de Educação Inclusiva e Congresso Internacional de Formação Continuada.

Para ela, os maiores desafios que enfrenta estão relacionadas ao despreparo para lidar com as dificuldades apresentadas pelos alunos com necessidades especiais, além do desconhecimento acerca das diferentes deficiências. Luta, procura, descoberta, angústia são palavras que melhor caracterizam sua fase profissional na atualidade.

Ana

Ana leciona há 5 anos e começou sua trajetória profissional quando ainda cursava Pedagogia, em uma instituição privada localizada na zona sul de Natal, como auxiliar em uma turma de Educação Infantil, nível III, com crianças entre 4 e 5 anos de idade. Atualmente, é professora concursada na rede pública municipal de ensino de Natal/RN, atuando com uma turma de 2º ano. Diz que, ao assumir esta turma sentiu ansiedade, pois sabia que era uma realidade totalmente diferente daquela que conhecia/vivenciava: “[...] outro nível de ensino, outro nível social, diferentes exigências, mas uma coisa em comum: a obrigação/o dever de democratizar o saber sistematizado, isto é, possibilitar o acesso dos meus alunos aos conhecimentos teóricos/práticos da vida social” (Caso 1, set./2008).

Na ocasião da realização desta pesquisa a professora afirmou possuir dois alunos com necessidades educacionais especiais, ambos sem diagnóstico. Ao falar de sua vivência com a inclusão se reporta ao contexto familiar e descreve a experiência com o irmão que apresenta deficiência intelectual. No tocante à sua trajetória profissional, diz ter recebido informações, no curso de Pedagogia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na disciplina de “Introdução à Educação Especial”, sobre nomenclaturas, tipologias das deficiências e aspectos metodológicos. Para ela, uma das maiores dificuldades na inclusão está relacionada às metodologias de ensino. Acredita que o que tem de melhor como professora é “[...] a consciência de que meu papel como educadora é possibilitar aos meus alunos a oportunidade de aprender, paralelamente, a consciência de que essa caminhada é desafiadora e não deve ser desestimuladora. [...]. Que a partir da formação que tive devo me esforçar, ao máximo, para garantir à todos a democratização do saber” (Caso 1, set./2008).

Célia

Célia tem 39 anos e é casada. Concluiu o curso de Pedagogia pela Universidade Potiguar (UNP), em 2002, e a especialização na área de Didática do Ensino pela mesma

instituição, no ano de 2007. Atua como professora há 21 anos. Iniciou seu trabalho em uma escola particular.

Sua primeira experiência com a inclusão foi no ano de 1993, com uma aluna com deficiência auditiva. Em sua formação acadêmica diz ter recebido informações relativas ao processo histórico da educação inclusiva e o que esta vem a ser, quem são as pessoas consideradas com necessidades educacionais especiais e metodologias de ensino. Os principais cursos que realizou, nos últimos anos, estão relacionados ao ensino da matemática e letramento. No momento da pesquisa atuava no 5º ano e tinha um aluno com altas habilidades em sua sala de aula. Por isso, sua principal preocupação é em relação às estratégias de ensino que deve utilizar para motivar e desenvolver as potencialidades do seu aluno. Cansaço, busca, desejo, aprendizagem são palavras que melhor traduzem sua fase profissional.

Clara

Clara tem 35 anos e é casada. Concluiu o curso de Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2001. Trabalha como professora do ensino fundamental há aproximadamente 5 anos. Começou a lecionar quando ainda cursava Pedagogia, tendo experiência tanto na rede privada de ensino, quanto pública, onde atua há 3 anos.

Dentre as participantes dessa pesquisa, a professora Clara é a única sem experiência anterior com alunos com necessidades educacionais especiais, tendo, em 2008, um aluno com paralisia cerebral em sua sala de aula. Em sua formação acadêmica diz ter cursado disciplinas na área da Educação Especial, embora não chegue a especificar os conhecimentos/informações recebidos/as. Diz ter interesse por temas relacionados às metodologias de ensino para motivar os alunos, uma vez que as maiores dificuldades que vem encontrando no seu trabalho diário estão relacionadas ao desinteresse e indisciplina.

Responsabilidade, comprometimento, vontade, esperança são palavras que, para ela, melhor traduzem o ser/estar professora no momento atual. Afirma que o seu melhor como professora é a determinação e o compromisso para com os seus alunos, de modo que estes se tornem pessoas “[...] atuantes em nossa sociedade e, para isso, devem se transformar em cidadãos cumpridores de seus deveres e conhecedores de seus direitos” (Caso 1, set./2008).

Dalva

Dalva é casada e tem 53 anos. Concluiu o curso de Artes pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1996. Trabalha como professora do Ensino

Fundamental há aproximadamente 20 anos. Por estar atuando como professora de Artes, no turno matutino e vespertino, tem contato semanal com todas as turmas e, consequentemente, com os alunos com necessidades educacionais especiais matriculados na escola. Diz que, em sua formação inicial, não recebeu informações sobre a inclusão desses alunos no ensino regular e que as maiores dificuldades que encontra no trabalho com esses educandos estão relacionadas à falta de conhecimentos sobre o assunto e a inadequação do ambiente escolar para atendê-los. Vê a situação atual da profissão como difícil e contraditória. Diz que o que tem de melhor, como professora, é o desejo de “Querer acertar. Ter vontade de fazer bem feito” (Caso 1, set./2008).

Aline

Aline é casada e tem 29 anos. É licenciada em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), desde 2003. Possui uma Especialização sobre Cultura do Movimento Humano. Trabalha como professora há, aproximadamente, 8 anos. Ao longo de sua trajetória profissional já passou por clubes, escolas privadas, e, atualmente, trabalha em duas escolas públicas, nos turnos matutino e vespertino, com crianças da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.

Segundo ela “[...] todos os ambientes de trabalho por onde passei, me trouxeram contribuições e abriram meus olhos para a diversidade de público que o profissional tem que estar preparado para trabalhar” (Caso 1, set./2008). Em sua formação inicial diz ter recebido informações sobre a inclusão escolar, sem especificar, porém, que informações seriam estas.

A professora demonstra preocupação com a carência afetiva das crianças, o que, segundo ela, acaba se traduzindo em indisciplina e agressividade no meio escolar. Compreende, nesse sentido, que a educação é o principal recurso na melhoria da vida dos alunos, inclusive daqueles que apresentam alguma necessidade educacional especial.

Durante a realização desta pesquisa, por atender várias turmas, trabalhava com alunos com características diversas: paralisia cerebral, deficiência intelectual, transtorno global do desenvolvimento. Acredita que o maior desafio que o professor enfrenta com a inclusão é que esta seja feita de maneira plena, “total”. Apesar das adversidades que enfrenta considera-se feliz e realizada com a profissão. “Alegria, paciência, tolerância, dedicação, amor ao próximo, atitude, planejamento, meta, objetivo, realização e nunca se acomodar” são palavras que melhor caracterizam a sua fase profissional, na atualidade. Considera que o que tem de melhor como professora de Educação Física “[...] é o domínio dos conteúdos, a

facilidade de me expressar oralmente, sou objetiva, atenciosa e sou boa de improviso, quando necessário” (Caso 1, set./2008).

Liana

Liana é solteira e tem 59 anos. Graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em 1976. Leciona há 36 anos. Trabalhou em diversas escolas ao alongo de sua trajetória e com alunos com diferentes deficiências. No momento da pesquisa a professora não trabalhava com alunos com necessidades educacionais especiais. Diz que o número elevado de alunos em sala de aula é o que dificulta a inclusão. Sua principal preocupação diz respeito às atitudes dos professores em relação às pessoas com deficiência, desacreditadas, em geral, pelo sistema de ensino. Dedicação, perseverança, amor pela profissão e pelo outro são palavras que a caracterizam como profissional. Acredita, portanto, que o que tem de melhor como professora é “[...] a compreensão de que cresço com os alunos” e que com paciência e dedicação é possível contribuir para o crescimento de todos.