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5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 Contextualizando os encontros com os professores

5.2.3 Conhecendo o grupo, seus questionamentos e suas expectativas

Visando dar continuidade a coleta dos dados, e cumprindo o agendamento com o grupo de professores, iniciamos o terceiro encontro que aconteceu dois meses depois do segundo, em função das férias escolares. Neste momento participaram dezoito professores.

Os resultados obtidos por meio do questionário aplicado no encontro anterior foram, o foco do nosso trabalho. O objetivo principal deste questionário foi conhecer o grupo de professores, através da identificação dos mesmos com a caracterização por sexo, idade, área de formação, tempo de trabalho no colégio e disciplina que ministra, assim como alguns dados conceituais sobre as questões específicas do conhecimento sobre o tema, a atuação deles em salas de aula bem como suas dificuldades no que diz respeito ao trabalho com a temática orientação sexual no ambiente escolar.

O questionário foi respondido por 28 professores, que apresentaram idade variando entre 26 e 63 anos. Do total de professores pesquisados, oito eram do sexo masculino e 20 do sexo feminino. Sobre a área de formação, houve predomínio no Curso de Letras, seguido de História e Geografia. Em relação ao tempo em que estes haviam se formado variou de cinco a 18 anos, e quanto ao tempo que trabalham no colégio variou de quatro meses a 10 anos.

Os temas apontados pelos professores para trabalharem no ambiente escolar foram: sexualidade, seguido de prevenção das DST e a gravidez não

planejada. Sobre a necessidade de conhecer se estes profissionais possuem dificuldades para assumir a responsabilidade de trabalhar a temática educação sexual, foi identificado que do total, 26 relataram se sentirem completamente despreparados tecnicamente para trabalhar com os alunos. Observamos através das respostas ao questionário ou mesmo em verbalizações que são vários os motivos que os levam a não realizar atividades, referentes à temática em questão, no ambiente escolar.

Percebemos com este dado numérico de professores despreparados para o trabalho educativo, ser extremamente importante e necessário investimentos em formação de recursos humanos com capacitação específica para estes educadores assim como manter um trabalho de educação permanente com suporte necessário ao processo de continuidade do trabalho de educação em saúde no ambiente escolar.

Em relação às respostas obtidas quanto à dificuldade em trabalhar a temática variou desde o despreparo técnico com falta de informações recentes e atualizadas assim como o tabu e mesmo a vergonha em expor tais assuntos, além da falta de recursos didáticos disponíveis no colégio, os quais acreditam favorecer uma melhor socialização. O estudo de Dotta et al. (2000) mostra o quanto é relevante para os alunos adolescentes o acesso às informações corretas sobre sua sexualidade e a orientação sexual, devendo ser abordada de forma natural e sem preconceitos pelos educadores. E ainda as possíveis impressões negativas que ainda ficaram de seus passados possam ser superadas e desmistificadas para êxito do trabalho educativo.

Os dados obtidos através do questionário geraram um artigo que foi encaminhado à Revista Eletrônica de Enfermagem (ANEXO D), que relata e discute

detalhadamente a situação do grupo de professores diante desta temática.

Considerando o ambiente escolar como o principal convívio de socialização entre educadores e alunos, principalmente adolescentes, o trabalho com a temática orientação sexual se torna uma grande estratégia para a prevenção de doenças e problemas relacionados à sexualidade. Por isso o professor se torna referência para os alunos no quesito informação.

Visando socializar com o grupo de professores sobre as respostas obtidas no questionário aplicado, fizemos um exercício de devolução destas respostas e questionamos se eles tinham alguma idéia das possíveis estratégias para trabalhar as questões ou dificuldades colocadas por eles e também como sentirão subsidiados para esta tarefa.

A maioria do grupo expôs que ainda, neste momento, não tinha bem claro sobre a forma que irão trabalhar a temática no ambiente escolar e que precisariam de mais tempo para reflexão. Houve um depoimento de que precisariam avançar mais e que as atividades a serem desenvolvidas nos encontros subseqüentes poderiam subsidiá-los para esta tarefa.

Neste momento, um professor suscitou uma dúvida sobre o verdadeiro papel dos educadores e da escola em trabalhar a sexualidade dos alunos:

“Eu me pergunto agora, qual seria mesmo o nosso papel? Nós educadores fazemos a educação sexual ou a orientação sexual? e os pais, como seria a participação deles”? (P2)

Na seqüência, vários professores passaram a discutir sobre essas atribuições, a quem caberia o papel de orientar, seria dos professores na escola, ou dos pais, e de que forma participariam? Este momento gerou um debate caloroso e envolvente, pois os professores passaram algum tempo e essas discussões foram se ampliando, a ponto de ser necessária nossa intervenção sinalizando que o grupo

teria um momento só para discutir esse ponto específico. Estes conceitos foram inicialmente discutidos no encontro anterior e novamente suscitou dúvidas e questionamentos a respeito das atribuições tanto das instituições de ensino quanto da família em trabalhar a educação sexual e a orientação sexual.

O grupo então acatou a nossa intervenção com o compromisso de que o assunto teria um lugar especial para discussão nesse trabalho e retornando com as respostas do questionário, o grupo mostrou que se reconhecia nas respostas apresentadas, sendo que alguns professores sugeriram e justificaram outros temas que gostariam de trabalhar, como nos depoimentos a seguir.

“...gostaria de ouvir sobre os dados das doenças de transmissão sexual, incluindo o HIV e o HPV”. (P3)

“...gostaria de entender, o porquê hoje, os profissionais de saúde preocuparem mais com a aids e não tanto com as hepatites....”. (P5) “Devemos conhecer a realidade dos alunos, aproximar deles para ganhar a confiança e trabalhar a quebra de tabus, e não impor regras, isso só prejudica..., por isso precisamos de assuntos relacionados à questão cultural e social”. (P11)

Nesse exercício de devolver as respostas aos participantes reforçamos que a utilização da estratégia da pesquisa-ação se faz muito necessária para este momento em que a devolução das respostas, segundo Thiollent (1998), caracteriza- se mesmo como um vai e vem. As certificações das respostas são sempre necessárias para checagem quanto à sua veracidade, pertinência ao pensamento do grupo ou apontar alguma necessidade específica que possa dar novo direcionamento às atividades.

Acreditamos que, com esse exemplo no modo de lidar com as necessidades do grupo, mostramos como o educador precisa considerar o movimento do grupo de alunos e ampliamos a percepção de que ensinar não é apenas repassar os conteúdos ou cumprir planos disciplinares obrigatórios, mas

criar possibilidades para que o aluno contribua também para a produção de seu conhecimento.

Nessa perspectiva, Freire (1996) defende que o bom educador é aquele que entra numa sala de aula e oportuniza a participação de seus alunos, se mostrando disposto, dando abertura para as indagações, curiosidades e perguntas, para desenvolvê-los como agentes críticos diante das questões surgidas. Completa ainda que ensinar não é apenas transferir conhecimentos, e sim oportunizar momentos de diálogos para a participação e construção.

Após esse momento, apresentamos novamente os objetivos da pesquisa com a finalidade de mostrar ao grupo que, obtendo a compreensão dos professores sobre a temática orientação sexual e prevenção das DST e gravidez não planejada tínhamos alcançado o primeiro objetivo deste estudo.

Ao encerrarmos este encontro, solicitamos aos participantes uma avaliação, momento em que praticamente todos verbalizaram e manifestaram sua satisfação pela oportunidade de aprendizado, ressaltando a riqueza das reflexões importantes e necessárias para esta fase. Na percepção dos professores nesse encontro, além de socializar as informações, conheceram as opiniões dos colegas através de suas respostas, pelas quais puderam re-avaliar suas posturas pessoais e profissionais sobre a temática.