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Trabalhando a capacitação dos professores na prevenção das DST, visando a saúde sexual e reprodutiva dos alunos

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 Contextualizando os encontros com os professores

5.2.7 Trabalhando a capacitação dos professores na prevenção das DST, visando a saúde sexual e reprodutiva dos alunos

Dando continuidade processo de coleta dos dados, iniciamos o sétimo encontro com a participação de dezoito professores. Neste encontro o foco era trabalhar a saúde sexual e saúde reprodutiva dos alunos.

Para o momento de aquecimento, programamos uma estratégia participativa e ao mesmo tempo reflexiva das discussões ocorridas no encontro anterior. Os participantes socializaram suas experiências com relatos das situações

reais apresentadas pelos alunos sobre as questões e problemas relacionados à sexualidade, como homossexualismo, gravidez precoce, aborto, casos de alunos adolescentes em situação de prostituição entre outros.

Para este encontro fizemos uma programação bastante dinâmica, pois considerávamos que a participação efetiva dos professores neste tipo de atividade seria a melhor opção de trabalhar as áreas temáticas que priorizamos para o momento.

Considerando o grande conjunto de conhecimentos que trabalharíamos nesse dia, dividimos as atividades em dois momentos, sendo que no primeiro realizamos uma oficina interativa com todo grupo, originando em três pequenos subgrupos, caracterizados como grupo 1 (G1); grupo 2 (G2) e grupo 3 (G3), os quais foram formados aleatoriamente. Neste momento trabalhamos a temática “gênero e sexualidade” e no segundo, “prevenção de doenças de transmissão sexual”, “saúde sexual” e “saúde reprodutiva”. Ambos os temas foram explorados por meio de oficinas cujo modelo encontra-se no APÊNDICE C.

Para o primeiro tema disponibilizamos aos participantes dos subgrupos o mesmo texto didático, chamado Relações de Gênero, referido nas diretrizes do projeto nacional Saúde e Prevenção nas Escolas (BRASIL, 2005b). A estratégia de utilizar o mesmo texto de leitura foi interessante, pois para aquele momento tínhamos a intenção de compartilhar as opiniões dos professores a respeito de um mesmo enfoque. Após a leitura, os participantes fizeram suas exposições de acordo com a concepção de cada grupo, considerando a primeira temática que foi gênero e sexualidade.

“A escola repassa as informações, mas não sabe compartilhar a responsabilidade com os pais e menos ainda com os alunos; os alunos ainda são muito imaturos e não são capazes de resolver situações que envolvem sua própria sexualidade; os alunos precisam muito da ajuda dos professores pois quando tem algum problema somos nós que os ouvimos e damos o apoio que precisam e não os pais, aliás eles escondem dos pais...”. (G1)

“As diferenças entre o homem e a mulher ainda estão muito presente na nossa sociedade, pois os homens se sentem muito superiores às mulheres em tudo, ainda têm mais prestigio no trabalho e na vida social...”. (G2)

“As influências estabelecidas no modelo de sociedade organizada no Brasil, são de origem Européia de modelo patriarcal. O homem desde a infância aprende que o poder é dele; nós sabemos que a questão é mais cultural que biológica pois não nascemos prontos, nos tornamos a partir das relações que estabelecemos influenciada pelo meio social...”. (G3)

Considerando que todos leram o mesmo material percebemos a riqueza das análises, que tanto a temática sobre gênero quanto à sexualidade foram apontadas com enfoques diferenciados, o que possivelmente foi influenciado pelo processo de aprendizado apreendido ao longo dos encontros, assim como as opiniões variadas dos professores pertencentes a áreas diferentes. As análises foram feitas e conforme os relatos, sobressaíram os aspectos da responsabilização das instituições de ensino e dos pais em trabalhar a sexualidade que permeou o processo histórico do trabalho educativo sobre a temática, exposto pelo grupo 1. O grupo 2 apontou em sua análise questões referentes à relação de gênero com destaque a diferença de poder do homem e da mulher e o papel social que desempenham na sociedade. Já o grupo 3 expôs sobre a questão política da diferença de gênero e também sobre o poder do sexo masculino sobre o feminino constatando a realidade cultural que ainda vivemos.

Pigozzi (2005) comenta que até poucas décadas, o modo de viver dos homens e das mulheres era determinado exclusivamente por suas características

biológicas e que o modo de pensar e agir era muito diferenciado para ambos os sexos.

Na atualidade, as relações de gênero não se apresentam da mesma forma. Sempre existiram as diferenças sociais influenciadas pelos costumes, leis e religiões a que o individuo pertence. Nessa perspectiva gênero é apontado como uma ferramenta para a diferenciação dos seres no aspecto biológico como macho e fêmea, mas também do social como homem e mulher, reconhecendo as dimensões sociais e culturais os quais estes estão inseridos (BRASIL, 2006b).

Na concepção de Louro et al. (2005), o conceito de gênero deve sobrepor as questões comportamentais, devendo ser considerado como um instrumento teórico e político de desmistificar as desigualdades sociais, ainda muito presente na nossa realidade.

Avançando nas discussões o aspecto relacionado à gênero foi ficando cada vez mais evidenciado de forma que o grupo de professores, já neste momento demonstra sinais de saturação em relação a este tema específico e surge, de forma espontânea, a verbalização sobre a vontade dos participantes em trabalhar as atividades programadas para o segundo o momento seguinte.

No segundo momento oportunizamos a participação de todos e de forma bastante dinâmica, sendo solicitado que fossem novamente subdivididos em três pequenos grupos. Os pequenos grupos foram assessorados por auxiliares da pesquisa com os quais discutiram, manusearam e esclareceram suas dúvidas sobre as diferentes formas de prevenção de gravidez e DST.

Cada subgrupo foi acompanhado e coordenado por um auxiliar de pesquisa e disponibilizado diversos materiais educativos como mini álbuns de figuras demonstrativas sobre as principais DST, quadros demonstrativos dos aparelhos

reprodutores masculino e feminino, próteses masculina e feminina além dos métodos contraceptivos.

Nomeamos e separamos os participantes em grupos 1, 2 e 3, para facilitar o trabalho de assessoria e manuseio dos diferentes métodos contraceptivos. Para o grupo 1 foi disponibilizado e apresentado os métodos cirúrgico e hormonal, além de materiais educativos. No grupo 2 disponibilizamos para o conhecimento de todos o método de emergência e foram informados sobre o método de barreira além da disponibilidade de diversos materiais educativos e também para o grupo 3 foi apresentado o dispositivo intra-uterino e informados sobre o método natural além da exposição de materiais educativos para a complementação das informações.

Após este momento que na nossa avaliação foi muito produtivo, houve uma discussão geral sobre as experiências vividas seguindo das avaliações.

Os professores avaliaram que a oficina transcorreu de forma muito tranqüila, alguns expressaram que já tinham conhecimento sobre os temas em discussão, mas que na verdade nunca tinham trabalhado com esta metodologia. Alguns conceitos foram considerados novos para eles, e estas discussões foram importantes para re-lembrarem e refletirem sobre suas vivências, sendo que ao mesmo tempo puderam participar das demonstrações e manipular os diversos materiais educativos, principalmente os métodos contraceptivos disponibilizados para esta finalidade.

A pesquisadora teve uma impressão bastante positiva do envolvimento e da participação do grupo de professores demonstrado no decorrer das atividades realizadas. Percebemos durante todo o processo de coleta dos dados, e em especial neste encontro, que o grupo se mostrou bastante integrado e com muita disposição para debater e socializar suas vivências.

Essa análise foi feita baseada no movimento que o grupo apresentou em relação as suas participações nas atividades propostas para este estudo, pois não conseguimos visualizar ou perceber nenhuma expressão de animosidade ou indisposição nos momentos vividos conjuntamente. Ao contrário, percebemos muito interesse e disposição de todo o grupo em conhecer e debater as questões trabalhadas, impressão verificada pela satisfação apresentada e expressa pelo grupo em vários encontros.

Segundo Freire (2000), para um aprendizado eficiente o educando deve fazer uma leitura crítica das questões vividas através do processo dinâmico da reflexão-ação, pois assim a educação passa a ter mais significado, certificando que houve um processo de conscientização conjunta que pode resultar numa transformação da realidade em que todos estão inseridos.

Nesse sentido, acreditamos que viabilizamos avanço na formação desses professores para lidarem com a questão da sexualidade o que para Rodrigues e Sobrinho (2007) é um dos principais fatores para a garantia da qualidade do ensino.

Sem dúvida uma boa formação profissional contribui para um ensino eficaz, pois segundo Pimenta (2005) quando o professor apropria-se de instrumentos científicos e tecnológicos eficazes apresenta capacidade de pensar e gestar soluções.

Ainda para Rodrigues e Sobrinho (2007) o professor reflexivo tem como base para sua prática pedagógica ações originadas de pensamentos conscientes que foi sendo formada de forma ativa e crítica além de autônoma.

Nesse sentido ressaltamos o trabalho de Schor (2000), considerado um marco para o ensino prático reflexivo, que menciona o conhecimento como forma de embasar a ação e vice versa. A autora destaca a reflexão na ação e a reflexão sobre

a ação como formas de conhecimento que são a base da prática profissional, fundamentais para o processo de transformação.

5.2.8 Construindo a inclusão da Orientação Sexual no Projeto Político