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Conhecer a realidade escolar: estrutura, funcionamento e dinâmica

Capítulo 5: Apresentação e Análise dos dados

5.1 Conhecer a realidade escolar: estrutura, funcionamento e dinâmica

Em relação a esta categoria foi possível identificar algumas contribuições para a formação dos futuros professores, sobretudo por entendermos que o conhecer a escola configurou-se como o objetivo central desta primeira fase do projeto PIBID Exatas PUC/SP, tal como evidencia o recorte abaixo.

Meta Descrição

1 Conhecimento da Escola

Descrição e análise da realidade escolar, buscando ampliar o conhecimento acerca da comunidade escolar, por meio do levantamento e da observação crítica não só das características sócio-político-econômicas e culturais dos alunos, do corpo docente, e da região da escola, como também das características da comunidade escolar e por intermédio de aprofundamento da análise de dados de avaliações de sistema como forma de fornecer subsídios para as futuras ações educativas.

Quadro 8: Detalhamento da Meta 1 do PIBID Exatas – PUC/SP. Fonte: Projeto PIBID – PUC/SP.

Esta ação de conhecer o contexto escolar, identificar os níveis de gestão, conhecer o contexto histórico, o público alvo, a comunidade entorno da escola, sua estrutura física, torna-se necessária uma vez que,

É preciso reconhecer a existência de lugares, sujeitos e conhecimentos específicos que, articulados entre si, são decisivos na formação teórico- prática do professor, qualificando-o para uma ação mais autônoma diante dos problemas vividos pela profissão, no interior e mesmo fora de um estabelecimento escolar. (FOERSTE, 2010, p. 119)

Neste sentido, percebemos que o PIBID Exatas-PUC/SP considera a escola como um espaço formativo importante no processo de Aprendizagem da Docência de seus futuros professores.

Temos refletido muito sobre essas questões, sobretudo por percebermos que, com esta vivência no PIBID Exatas-PUC/SP, os futuros professores puderam identificar diferenças entre escolas públicas estaduais e municipais, além de refletirem sobre os impactos destas diferenças no cotidiano escolar, como ilustra o trecho a seguir:

“[...] tem algumas diferenças de rede então isso tudo foi interessante, principalmente por essa diferenciação de escola estadual, que é a escola A e a da prefeitura que é a B, e foi uma investigação de como é a escola mesmo. [...] escola estadual é de um jeito e escola da prefeitura é de outro. Então, quando se fala de escola pública, se mistura os dois, mas não é bem assim, escola da prefeitura ela tem uma organização que não é a mesma da do estado, não sei se é porque a rede é maior, fica mais difícil de organizar.” (Diogo, entrevista realizada em 19/03/2012)

Esta identificação é um fator contributivo para a formação dos futuros professores, uma vez que eles podem ingressar na carreira docente em uma destas realidades. Em que momento, durante a formação inicial, estas diferenças devem ser apresentadas, investigadas e refletidas?

Ainda em relação a esta diferenciação dentro do ensino público, os futuros professores perceberam a importância da gestão e os desafios que os gestores enfrentam:

“[...] nós vimos que o grande centro da escola B chama-se gestão, a diretora está lá há mais de 10 anos, com uma gestão perfeita,

comprometida, conversa com os professores. Ali a gente via que funciona.” (Lucas, entrevista realizada em 21/03/2012)

Como mencionamos anteriormente, os futuros professores foram inseridos em duas escolas, que denominamos de A e B. O bolsista Diogo integrou-se a escola A, que é uma escola pública estadual. Lucas e Júlia integraram a escola B que é uma escola pública municipal. Embora estes futuros professores tenham vivenciado experiências diferentes, eles conseguem estabelecer uma reflexão sobre essas diferenças, ampliando assim o conhecimento que obtiveram sobre o contexto da escola pública:

“[...] não sei se é por ser uma escola muito grande também, A é enorme, tem 20, 30 salas, sei lá, enquanto que a B é pequenininha, mais fácil de gerir, por ser uma escola pequena você tem sete salas de aula, todo mundo está vendo todo mundo, todo mundo conhece todo mundo, entrou na escola você está na sala do diretor, praticamente.” (Diogo, entrevista realizada em 19/03/2012)

Esta percepção só foi possível, pois, ao longo do PIBID Exatas PUC/SP os alunos participam de reuniões em que foi possível socializar as experiências vivenciadas, quer fossem na escola A, quer fossem na escola B.

Imbuídos desta vivência no contexto escolar, os futuros professores produziram um relatório apresentando, assim, as descobertas que fizeram ao longo desta primeira etapa do PIBID Exatas PUC/SP. Este relatório apresenta aspectos: físicos, pedagógicos, humanos, históricos e, também, a intersecção entre esses aspectos.

Os futuros professores compreendem esta ação como uma contribuição para a escola, uma vez que este documento foi produzido a partir dela, com ela e para ela. Este relatório também auxiliará os novos bolsistas do PIBID PUC/SP que forem inseridos em etapas posteriores a conhecer o contexto escolar.

“Nós fizemos esse trabalho e no final vai constar todo esse trabalho e vai estar disponibilizado na escola, por exemplo, quando chegar um

professor novo na escola, a direção vai poder mostrar pra esse professor pra ele ter a ciência que, para ele não ter que esperar um ano para interagir, o que é a escola, o que é a comunidade, não, ele vai ter ali um produto que ele vai poder analisar, em que está constando tudo o que tem a escola.” (Lucas, entrevista realizada em 21/03/2012)

Vale ressaltar que a investigação que os futuros professores realizaram não se pautou apenas na estrutura física da escola, ela foi além disso, como podemos perceber na fala a seguir:

“[...] a parte histórica do bairro, a comunidade em si, como é que funciona, número de habitantes na região, como é que o bairro foi fundado, várias coisas, não foi só a escola em si, foi também sua redondeza, o público que a escola atende. Estudamos toda essa parte.” (Júlia, entrevista realizada em 21/03/2012)

Percebemos que esta vivência foi significativa para os futuros professores, uma vez que as portas da escola estavam abertas para que eles pudessem entrar e se sentir parte integrante. O mesmo deveria acontecer nos cursos de formação inicial, quando os futuros professores iniciam o Estágio Supervisionado, mas sabemos que, em muitos casos, a realidade é bem diferente da que relatamos até aqui.

Nesta imersão no contexto escolar podemos destacar, também, as descobertas e experiências que os futuros professores tiveram em relação aos procedimentos burocráticos da escola, aos documentos que a orientam, seus espaços coletivos de formação e, também, com relação ao seu público alvo:

“[...] o professor, quando ele se forma na universidade, a gente sabe que muitas vezes ele termina de se formar, mal estágio ele faz, ele sai daí e vai pra uma sala de aula, coisa que ele nunca entrou, numa sala de aula, então ele tem um choque muito violento [...] eu já tinha uma certa contribuição porque eu já tinha dado aula anteriormente, então eu já tinha uma visão. Mas ela te dá uma bagagem, então você começa a conhecer o projeto político, você começa a ir em reunião com o professor, você começa a ver o que a diretora cobra, você começa a ter contato com o aluno, que essa que é a grande realidade, que os alunos são diferentes, que a região que a gente trabalha é uma região carente, totalmente diferente de uma escola pública de uma outra região [...]” (Lucas, entrevista realizada em 21/03/2012)

Entendendo o PIBID Exatas – PUC/SP como um programa de “pré- docência” podemos identificar, neste contexto, alguns fatores que podem contribuir para a minimização do “choque com a realidade” (Silva, 1997) que estes futuros professores poderão passar em sua Iniciação à Docência - compreendida como os primeiros anos de atuação profissional (Huberman, 1992; Lima, 2004; Gama, 2007; Tancredi, 2009; Freitas, 2011). O principal fator que identificamos para essa minimização foi o fato de conhecer a escola como um todo e refletir sobre ela:

“Eu acho que, nesse primeiro momento, quem planejou, quem fez esse projeto, fez muito bem, não sei se foi um teórico ou se foi alguém que pratica, porque fez muito bem, porque conhecer a escola significa conhecer o lugar que se escolheu para trabalhar o resto da sua vida, supostamente, você está se formando para ser professor, então conhecer a escola é isso, e muitos professores entram na rede sem conhecer o mínimo do que é a realidade da escola, o que é um plano diretor, o que é uma reunião de HTPC, o que os coordenadores pedagógicos fazem, qual o papel do diretor e qual o papel do professor, e lá a gente teve todas essas coisas.” (Diogo, entrevista realizada em 19/03/2012)

Considerando que nos cursos de Formação Inicial de Professores o Estágio Supervisionado pode favorecer essa contribuição de conhecer o contexto escolar, identificamos, na entrevista com os futuros professores, que precisamos repensar a forma que temos conduzido os Estágios Supervisionados, e o PIBID tem apresentado diversos elementos contributivos para essa reflexão:

“Olha eu acho que o objetivo do PIBID é [...] levar o professor à reflexão, porque você só sabe no que você está entrando, ou é no estágio, ou, por vezes, a pessoa nem faz estágio, que é o que acontece com muitos aí, e na hora que entra na sala, aí que vê o público, se assusta e por vezes até desiste. No caso do PIBID, não, você já tendo esse acesso, ele nos dá esse acesso à população, lá, no caso, é carente, e não só isso, a realidade da escola, a realidade do público, se é sofrido, se não é, você se torna mais compreensivo em relação a algumas atitudes, porque você conheceu o outro lado.” (Júlia, entrevista realizada em 21/03/2012)

É perceptível que esta vivência no PIBID Exatas – PUC/SP, de conhecer a realidade escolar, foi um momento marcante para a formação dos futuros professores e que esta ação os impulsiona a optar por esta carreira e não desanimar frente aos dilemas e desafios que poderão vivenciar nos primeiros anos da carreira docente.

“[...] No fundo, o PIBID é isso, é conhecer o locar em que você vai trabalhar, e de certa forma conhecendo vai detectar algumas irregularidades e ali, quando for trabalhar, como eu disse, você vai ser o ator, você vai participar da cena, você não vai mais ser um mero expectador, você vai ser um ator, lá, da cena.” (Diogo, entrevista realizada em 19/03/2012)

Deste modo, podemos perceber que o principal objetivo do PIBID Exatas – PUC/SP para essa primeira etapa foi atingido. Ao conhecerem as escolas A e B os futuros professores perceberam as diferentes condições de trabalho que um professor pode encontrar e a influência da estrutura física no processo de gestão escolar.

Neste sentido, é possível inferir que conhecer o contexto escolar num período de “pré-docência” pode ser um fator contributivo para a minimização do “choque com a realidade” com vistas à identificação, reflexão e vivência de alguns dos desafios que um professor pode enfrentar em seu cotidiano.