• Nenhum resultado encontrado

Organograma 2: Tipologia dos saberes e conhecimentos

5. PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES ACERCA DOS CONHECIMENTOS

5.2 CONHECIMENTO DO ESTUDANTE E SUA REALIDADE

A segunda categoria intermediária em relação à percepção dos professores acerca dos conhecimentos necessários para a preparação de uma aula de Matemática foi: conhecimento do estudante e sua realidade.

Quadro 7: Frequência da segunda categoria intermediaria emergente da questão 10.

Fonte: Elaborado pelo pesquisador. (2016)

Categoria a

priori Código/excertos Significação Unidades de significado intermediárias Categorias

emergentes Percepção dos professores acerca dos conhecimentos necessários para a preparação de uma aula de matemática Conhecimento do estudante e sua realidade P1.10.5 – E finalmente levar atividades diferenciadas e de acordo com a realidade e necessidade do aluno.

O professor leva as atividades diferenciadas e de acordo com a realidade e necessidade do estudante. Atividades diferenciadas de acordo com a necessidade e realidade do estudante. P6.10.1 – Primeiramente

conhecer o aluno, e a turma que está inserido;

Para o docente, primeiro, tem que conhecer o estudante e a turma que trabalhara.

Conhecer o estudante e a turma de trabalho.

P8.10.2 – O professor precisa

conhecer a realidade dos alunos; O decente precisa conhecer a realidade dos estudantes. Conhecer a realidade do estudante.

P8.10.3 – Principalmente

respeitar as diferenças; O professor deve respeitar as diferenças. Respeitar as diferenças.

P9.10.1 – Entender qual a

relação entre o conceito e algo do cotidiano.

O professor deve entender qual a relação entre o conceito e algo do cotidiano.

Relacionar conceito e algo do cotidiano.

Nessa categoria intermediária busca-se entender a relação do conhecimento do professor e da realidade presente na vida individual do estudante.

Observando os excertos expostos no quadro 7, acima, é explicita a preocupação de alguns professores em relação à realidade do estudante. Frente às respostas dadas pelos professores, a unidade de significado mais frequente é a própria realidade do estudante. Como já afirmado anteriormente, o “objeto” de trabalho do professor é o ser humano (TARDIF, 2014). O estudante é um ser socializado, mas, ao mesmo tempo individualizado. Observando a individualidade do sujeito, percebe-se o meio em que está inserido e sua realidade.

Esta pesquisa foi realizada em escolas da periferia da cidade de Porto Alegre/RS, onde a variedade de classes sociais econômicas e meios sociais é relativamente grande. Isso evidencia uma dificuldade em classificar um só meio social, cultural, étnico e econômico. Entretanto, é possível classificar esses estudantes sob à ótica de serem estudantes de escola pública estadual, inseridos em suas pluralidades sociais.

O professor P1 enfatiza a realidade e as necessidades do estudante ao afirmar: P1.10.5 – “E finalmente levar atividades diferenciadas e de acordo com a realidade e necessidade do aluno. ”. Essa afirmação pode ter um sentido amplo, bem como pode estar num sentido restrito. Ampla no sentido emocional/afetivo. Ou seja, as necessidades dos indivíduos podem estar diretamente relacionadas aos seus sentimentos e necessidades afetivas. Tardif (2014, p. 130) explica essa dimensão afetiva afirmando que “[...] um componente emocional se manifesta inevitavelmente, quando se trata de seres humanos. ”. É necessário que o docente busque o conhecimento dessa realidade emocional do estudante. Conhecer cada ser em uma sala de aula pode parecer impossível, entretanto, é preciso um esforço, pois parte do ofício do professor tem um viés afetivo e emocional (ibid.).

Já o sentido restrito da afirmação de P1 pode estar relacionado ao conteúdo específico. Ou seja, a relação entre professor e estudante se baseia na transmissão do conteúdo e nada mais. Essa relação pode estar pautada ao fato do estudante ter seu foco nas especificidades da disciplina. Além disso, esse sentido pode estar relacionado à falta de emoções por parte do professor e/ou do estudante.

O professor pode e deve conhecer, entender, conceituar e avaliar a aprendizagem desse estudante, pois ele tem suas peculiaridades, pensamentos,

visões e ações diferenciadas entre seus pares. Shulman (2014) enfatiza que entre as bases do conhecimento está o conhecimento dos estudantes e suas características. Outra teoria que corrobora esse assunto das interações humanas e realidade do estudante é a de Tardif (2014), onde a primeira característica referente ao conhecimento do estudante é a individualidade. Para o autor, embora o professor ensine aos grupos, ele deve levar em conta que é o estudante, em sua individualidade, que aprende. Para o professor P6 ter o conhecimento do estudante e da turma é fundamental. Isso se explicita no excerto P6.10.1: “Primeiramente conhecer o aluno, e a turma que está inserido”.

Outro atributo inerente ao conhecimento do professor frente ao estudante e sua realidade é o tema social. Segundo Tardif (2014, p. 129), “[...] os alunos são também seres sociais cujas características socioculturais despertam atitudes e julgamentos de valor nos professores”. Como foi perceptível nas observações a sala de aula é um lugar social, onde o aluno desenvolve modos de interação e comunicação. A diversificação de sujeitos pode ocasionar ao professor “atitudes, reações, intervenções, atuações pedagógicas diferentes por parte dos professores” (ibid). Esse fato pode gerar diferenças nas percepções dos professores e nos caminhos para planejamento, execução e interações nas salas de aula

Para P8 é importante conhecer as diferenças entre os estudantes. P8.10.3 – “Principalmente respeitar as diferenças. ”. Em algumas observações em suas aulas, foi perceptível o quanto o docente necessita interagir com os estudantes. Frente a essa questão Tardif (2014, p. 132) constata:

Em grande parte, o trabalho pedagógico dos professores consiste precisamente em gerir relações sociais com seus alunos. É por isso que a pedagogia é feita essencialmente de tensões e de dilemas, de negociações e de estratégias de interação. [...]. Ensinar é, portanto, fazer escolhas constantemente em plena interação com os alunos.

A que deve essas escolhas do professor? Nas observações das aulas verificou- se que parte dessas escolhas e desse gerenciamento didático se dá por meio da experiência e uma prática reflexiva. Além disso, principalmente, de conhecer os estudantes e os grupos sociais formados por eles, cada um em suas particularidades, diferenças e pensamentos. O professor dever levar em consideração a heterogeneidade dos estudantes. Tardif (2014, p. 129) aponta que “[...] os alunos são heterogêneos. Eles não possuem as mesmas capacidades pessoais nem as mesmas possibilidades sociais”. Ou seja, os estudantes têm, cada um, sua maneira, sua

capacidade e seu tempo de aprender e agir sobre uma certa tarefa. Cada ser tem seu próprio desenvolvimento cognitivo. É necessário que o docente respeite e conheça essas capacidades cognitivas e temporais do estudante. (TARDIF, 2014).

O professor P9, atribui importância à relação do conceito estudado em sala de aula e a realidade cotidiana do estudante. No excerto P9.10.1 – “Entender qual a relação entre o conceito e algo do cotidiano. ”.

Essa relação pode ser associada ao conhecimento do conteúdo e ao conhecimento do estudante e sua realidade, defendidos por Shulman (2014). Por isso é importante o professor ter domínio de tais conhecimentos para que possa relacioná- los em seus planejamentos.

Para o bom desenvolvimento dessas habilidades e competências, o professor deve desenvolver outro importante conhecimento. O conhecimento pedagógico do conteúdo específico. No caso desta pesquisa, o conhecimento pedagógico da Matemática. Tal categoria emergiu com frequência nas respostas dadas pelos professores sujeitos desta investigação.