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O modelo do investimento (RUSBULT, 1980; 1983), é uma extensão da Teoria da Interdependência (THIBAUT; KELLEY, 1959; KELLEY; THIBAUT, 1978; KELLEY,1979), que postulava que a interdependência é um fator central de permanência nas relações conjugais. O modelo de investimento amplia esta questão para definir os fatores determinantes na manutenção do compromisso na conjugalidade.

Rusbult, Martz & Agnew (1998) relatam que a persistência na manutenção de um relacionamento está associada ao nível de compromisso estabelecido na relação, que depende diretamente dos níveis de satisfação e investimento, além da baixa oportunidade na qualidade das alternativas. Esses autores acreditam que a satisfação é influenciada pela dimensão com que o parceiro preenche as necessidades mais importantes do outro.

O modelo de investimento proposto pelos autores sustenta que a dependência e persistência em permanecer em uma relação são influenciadas pelo tamanho do investimento feito no relacionamento, como mostra a figura 3 (p. 80).

Esse investimento pode ser entendido como o partilhamento de questões íntimas, amigos mútuos, identidade pessoal ou o tempo dedicado à relação. Os recursos investidos melhoram o compromisso e aumentam a dependência e a persistência porque o custo envolvido para o término da relação seria elevado; portanto, a magnitude do investimento

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Cerveny, C.M.O., orientadora, e Zerbini, M.I.S., autora deste trabalho, foram coautoras de Histórias de Infidelidade – tecendo lealdades e deslealdades, apresentado no XXXIII Congreso Interamericano de Psicologia – Medellin, Colombia, em 30 jun. 2011.

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poderia ser perdida se a relação acabasse, e este fator promoveria a permanência na relação.

Figura 3 – Modelo de Investimento (RUSBULT et al., 1998)

Drigotas et al. (1999) relatam dois estudos que utilizaram o modelo de investimento para predizer a infidelidade. Aproveitam para criticar as pesquisas relacionadas com o tema pois seriam realizadas pós-infidelidade, e na literatura estariam baseadas em cinco categorias: sexualidade (incompatibilidade, desejo de diversidade); satisfação (reforço do ego, satisfação marital); contextos sociais (oportunidades, afinidades); atitudes (maior liberdade sexual); e hostilidade/ vingança.

Os autores perceberam que a inibição da fidelidade pode ser conquistada pelo aumento do compromisso na relação, e que o modelo de investimento é relevante para predizer o risco de infidelidade. Especificam, ainda, a diferença entre intimidade para homens e mulheres: para as mulheres a intimidade é emocional, enquanto para os homens ela é percebida como aproximação física.

Estes dados confirmam os estudos de Goldenberg (2010) sobre intimidade, nos quais a autora diferencia o conceito de intimidade entre os sexos, objetiva para os homens e subjetiva para as mulheres. Falaremos deste conceito mais adiante.

O modelo de investimento é importante para o estudo da infidelidade, pois aponta que o declínio da satisfação, do investimento e do compromisso provoca o aumento da percepção de qualidade nas alternativas, e este seria um acesso à infidelidade.

Nível de Satisfação Qualidade das Alternativas Tamanho do Investimento Nível de Comprometimento Probabilidade de Permanência

Norgren, Souza, Kaslow, Hammerschmidt & Sharlin (2004) desenvolveram um estudo com 38 casais paulistas com mais de 20 anos de casados, voltado para a satisfação conjugal em casamentos de longa duração. Partiram de uma definição composta por vários autores, que se complementam:

Satisfação conjugal é, sem dúvida, um conceito subjetivo, implicando em ter as próprias necessidades e desejos satisfeitos, assim como corresponder, em maior ou menor escala, ao que o outro espera, definindo um dar e receber recíproco e espontâneo. Relaciona-se com as sensações e sentimentos de bem-estar, contentamento, companheirismo, afeição e segurança, fatores que propiciam intimidade no relacionamento, decorrendo da congruência entre as expectativas e aspirações que os cônjuges têm, em comparação à realidade vivenciada no casamento. (p. 576)

Os autores relatam que a satisfação conjugal é um fenômeno complexo no qual inúmeras variáveis interferem, tais como: “características de personalidade, valores, atitudes e necessidades; sexo, momento do ciclo da vida familiar, presença dos filhos, nível de escolaridade, nível socioeconômico, nível cultural, trabalho remunerado e experiência sexual antes do casamento” (p. 576).

Em cerca de metade dos casais estudados, ao menos um dos cônjuges apresentava- se satisfeito. O ajustamento conjugal dos casais satisfeitos parece ser mais funcional, talvez por partilharem coesão, proximidade, capacidade de solucionar problemas e demonstração de afeto pelo cônjuge, além de valorizarem a relação e o parceiro. Norgren et al. (2004) argumentam que a percepção do apoio oferecido pelo cônjuge parece estar relacionada positivamente à satisfação conjugal.

Os casais insatisfeitos demonstraram não levar o cônjuge em consideração, sendo que 14 participantes, todos situados entre os insatisfeitos, relataram casos extraconjugais. Os autores supõem que entre os casais satisfeitos os cônjuges tenham suas necessidades satisfeitas e não necessitem buscar outros relacionamentos. E completam: “Os casais satisfeitos demonstraram que seu casamento permanece vivo, em transformação, pois eles continuam a investir no mesmo e a acreditar que é possível estar casado há muito tempo e continuar unido para o que der e vier” (NORGREN et al., 2004, p. 583).

Esse estudo corrobora o modelo de investimento ao presumir que a satisfação conjugal possa ser construída pelo casal:

Como se pode observar, o casamento pode ser uma construção conjunta da realidade, uma opção viável de relacionamento que corresponda às expectativas de cada um dos parceiros, se cada um deles se comprometer

com sua escolha e acreditar no que está fazendo. Pelo visto, para que um relacionamento conjugal continue satisfatório ao longo dos anos, há necessidade de investir na relação, empenhando-se para que ela seja proveitosa para os dois, tentando equilíbrio entre conjugalidade e individualidade, partilhando interesses e relacionamento afetivo-sexual, buscando evitar o tédio e a repetição. (NORGREN et al., 2004, p. 583).

Ferrara & Levine (2009) realizaram um estudo com 155 participantes para testar a eficácia do Modelo de Investimento (RUSBULT et al., 1998) e das Estratégias de Comunicação em situações de perdão à traição: como desculpar-se, justificar o ato, prometer mudança, valorizar o relacionamento e assumir a responsabilidade. Como resultado, observaram que a satisfação relacional foi o melhor preditor da estabilidade relacional, e que a promessa de mudança foi a única relacionada à possibilidade de perdão pós-traição.