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“O ensino de geografia desempenha um papel fundamental na formação e na informação dos futuros cidadão acerca de Portugal, da Europa e do Mundo(…)”111

Se a História promove o desenvolvimento de cidadãos mais conscientes, este excerto retirado das Orientações curriculares expressa a necessidade de desenvolver no espírito dos mais jovens uma consciencialização sobre o mundo que os rodeia, e a Geografia será mais uma das promotoras dessa apetência. Esta disciplina abre-nos questões sobre o nosso planeta e sobre fenómenos físicos e humanos que nele ocorrem, através da análise das informações, de apresentação de hipóteses e das conclusões que se obtenham, proporciona a génese de um cidadão geograficamente competente numa inter-relação entre os espaços físico e humano.

São reduzidas as referências ao conceito de consciência geográfica. Deste modo para os seguintes autores, Foucher, Resende, Calvanti e Callai, consciência geográfica é a “(…) formação da

consciência espacial dos sujeitos em escolarização: formação da cidadania crítico-participativa, nos ambientes de vivência e do cotidiano socioespacial.”112

Em 2002 Wilson redigia o seguinte: “(…) a criação de uma ética universal para o ambiente é

a única forma da humanidade e o resto da vida terrestre conseguirem passar pelo gargalo em que a nossa espécie imprudentemente se meteu.”113

Por outro lado Luísa Silva e Conceição Ferreira afirmam: “A Geografia como disciplina

integradora do mundo natural e humano desempenha um papel fundamental no conhecimento e compreensão da sociedade e planeta em que vivemos (…) o desenvolvimento de uma consciência espacial do Mundo, encarado a diferentes escalas, tem que passar pelo estudo das inter-relações entre espaço físico e o espaço humano ou melhor, o estudo do Espaço Geográfico.”114 No contexto deste trabalho pretendemos saber que conhecimentos detêm os nossos alunos sobre a Geografia sobre os acontecimentos nacionais e mundiais, a par da integração da disciplina no seu percurso escolar como formadora ou não de consciência cívica.

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Currículo Nacional do Ensino Básico Competências Essenciais “Geografia”, acedido em 10 de Setembro de 2011, em:

http://dgidc.min-edu.pt/ensinobasico/index.php?s=directorio&pid=2

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NOGUEIRA, Valdir e CARNEIRO, Sónia (Jan/Abr 2008). “A Educação Geográfica e a Consciência espacial e cidadã”. In Contrapontos, 8º Volume, nº1, Brasil: Itajaí, p: 86, 87.

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WILSON, E. (2002). O futuro da vida: um estudo da biosfera para a protecção de todas as espécies, inclusive a humana. Rio de Janeiro: Campus, p: 61.

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SILVA, Luísa e FERREIRA, Conceição (2000). “O Cidadão Geograficamente competente: competências da Geografia no ensino básico” In Infogeo, 15º Volume, Lisboa: Edições Colibri, p: 107 e 108.

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De início, encontramos uma geografia elitista e positivista, ou seja, o saber trata apenas de um aglomerado de informações sobre territórios e povos. Muitas destas aprendizagens centravam-se na divulgação de espaços que classes dominantes pretendiam explorar. 115

A partir do II pós-guerra, a Geografia passa a ter um papel importante ligado aos manifestos pacifistas. Irá, vagarosamente, ter um papel decisivo no mundo escolar. Na década de 90, assiste-se ao incremento rápido das novas tenologias de informação e comunicação e a um mundo cada vez mais globalizado116 em que a noção de espaço e tempo mudaram, logo “na defesa da presença da

Geografia nos currículos escolares, a Comissão de Ensino da União Geográfica Internacional proclama, em 1992, a Carta Internacional da Educação Geográfica.”117 Tendo-se apoiado na Carta das Nações Unidas, Declaração Universal dos Direitos do Homem, Constituição da UNESCO, recomendações da UNESCO respeitante à educação, declaração dos direitos da criança e em numerosos currículos nacionais assim como em declarações sobre a educação geográfica. Tendo ainda os professores de fornecer as suas experiências, tal como já havia sido acordado em Helsínquia, em 1977.118

Apesar das iniciativas, a Geografia ainda não questiona, apenas se limitando ao que se observa. Todavia, o germinar da mudança começara, tal como em História, no início dos anos 70, devido aos inúmeros estudos efetuados no campo do desenvolvimento cognitivo.

No Congresso de Geografia de Seúl/Coreia, a Comissão da Educação Geográfica da União Geográfica Internacional afirmou a necessidade de existir uma interação entre a diversidade cultural e apoio ao ambiente e que estas perspetivas devem ter a sua gênese na educação.

Posteriormente, em 2001, a UNESCO publica o que se realizou na 46ª Conferência Internacional em Genebra: Aprender a Viver Juntos: será que fracassamos?, interiorizando a necessidade de rever a educação, numa renovação curricular, formação contínua para os professores, assim como estratégias educativas que veiculem um sentido de responsabilidade para os futuros cidadãos.119

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GONZÁLEZ, Xosé M. e CLAUDINO, Sérgio (2004). “Educação Geográfica e Cidadania no Século XXI.” In Actas do V Congresso da Geografia Portuguesa – Portugal: Territórios e Protagonistas. Braga: Universidade do Minho. Acedido em 12 de Julho de 2012, em:

http://www.apgeo.pt/files/docs/CD_V_Congresso_APG/web/_pdf/A1_14Out_Xos%E9%20Souto%20e%20S%E9rgio.pdf; JIMÉNEZ, Antonio Moreno e GAITE, Maria J. (1996). Enseñar Geografía – De la teoría a la prática. Madrid: Editorial Sintesis, p: 43 e 44.

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Atualmente nas Orientações curriculares surge a preocupação da integração das tecnologias de informação e comunicação no contexto escolar, assim como conteúdos destinados ao entendimento da globalização ao longo dos 3 ciclos do ensino básico e igualmente durante o secundário. Currículo Nacional do Ensino Básico Competências Essenciais “Geografia”, acedido em 10 de Setembro de 2011, em: http://dgidc.min-edu.pt/ensinobasico/index.php?s=directorio&pid=2 e CÂMARA, Ana; FERREIRA, Conceição; SILVA, Luísa; ALVES, Maria e BRAZÃO, Maria (sem data). Acedido a 22 de Outubro de 2011,em:http://sitio.dgidc.min- edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/166/Geografia_orient_curric.pdf

117

GONZÁLEZ, Xosé M. e CLAUDINO, Sérgio (2004), Acedido em 12 de Julho de 2012, em:

http://www.apgeo.pt/files/docs/CD_V_Congresso_APG/web/_pdf/A1_14Out_Xos%E9%20Souto%20e%20S%E9rgio.pdf

118

UGI-CEG. (1992). Carta Internacional da Educação Geográfica. Lisboa: Associação de Professores de Geografia, p: 5 e 19.

119

UNESCO – IBE. (2003). Aprender a Viver Juntos: será que fracassamos? – Síntese das reflexões e das contribuições extraídas da 46ª Conferência Internacional da Educação da UNESCO. Brasília: SESI.

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Se os professores desencadearem a interrogação nos alunos sobre: a exploração de determinados países, relações comerciais injustas, a existência de marginalização, a exploração ambiental que desencadeia situações de flagelo ambiental, permitem aos futuros cidadãos uma maior consciencialização sobre o mundo em seu redor, ou seja, consciencialização geográfica, contudo esta só se observará quando os alunos assumirem o seu papel na sociedade. A pretensão é conseguir cidadãos mais participativos, tal como se referiu no primeiro capítulo deste trabalho seja através das competências ou das metas de aprendizagem o que se tenta veicular é um espírito crítico e empreendedor em relação ao que nos rodeia. No campo geográfico é necessário dar a conhecer o nosso próprio espaço (localidade, região) e posteriormente envolver o aluno no espaço exterior,120 de forma a compreender como os espaços se organizam no particular para o geral e evidenciar como as inter-relações têm prejudicado fatores sociais ou ambientais. Formam-se atitudes (tal como referem as orientações específicas de geografia e até as gerais) para se desenvolver o cidadão responsável.

Contudo, a declaração de Lucerne de 2007, reforça a formação do cidadão consciente com base na antiga declaração de 1992, referindo o ingresso nos currículos escolares de geografia a importância de se ser sustentável com apoio nas tecnologias de informação e comunicação. Destacando os temas: “(…) meio ambiente, água, desenvolvimento rural, consumo sustentável,

turismo sustentável, entendimento inter-cultural, diversidade cultural, mudanças climáticas, redução de desastres, biodiversidade, e a economia de mercado (…)”121 Estava aberto o “caminho” para

“(…) o desenvolvimento de uma consciência crítica (…) permite ao Homem transformar a realidade (…) Na medida em que os Homens, dentro da sua sociedade, vão respondendo a desafios do mundo, vão temporalizando os espaços geográficos e vão fazendo história pela sua própria atividade criadora.”122 A consciência geográfica leva o homem a pensar sobre as suas atitudes no contexto sociocultural, portanto passa a ter um papel reflexivo e problematizante face ao que o envolve. Para esse fim é necessário ter-se um currículo escolar que se oriente para a resolução dos problemas, e por sua vez seja flexível de modo a ser possível enraizá-lo junto dos alunos, tornando-os cidadãos geograficamente conscienciosos.

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CASTELLAR, Sonia (Maio/Agosto de 2005). Educação Geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. Volume 25, número 66, p: 211. Acedido em 28 de Novembro de 2011, em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a05v2566.pdf

121

HAUBRICH, Hartwing; REINFRIED, Sibylle e SCHLEICHER, Yvonne (2007). Declaração de Lucerne sobre a Educação Geográfica para o Desenvolvimento Sustentável. IGU, p:1. Acedido a 11 de Março de 2011, em: http://igu-cge.tamu.edu/portuguese.pdf

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Apresentamos a metodologia usada (neste caso o inquérito, uma vez que consiste no método e procedimento mais comum de utilização para a recolha de dados); o procedimento de aplicação e as limitações que foram surgindo. Ainda nesta parte do trabalho, apresentamos a análise dos dados e a sua comparação.

Parte II

Estudo de Caso: A consciência Histórica e Geográfica nos