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Conselho de Tampere

No documento União Europeia, imigração e ética (páginas 44-47)

PARTE II A Política Migratória da UE

1. Os Fluxos Migratórios na Europa

1.3 Conselho de Tampere

No Conselho Europeu de Tampere, os Estados-membros consolidaram o objetivo político ambicionado pelo Tratado de Amesterdão, a manutenção e desenvolvimento da União enquanto espaço de liberdade116, segurança117 e justiça118. A preocupação com o desenvolvimento de uma política comum da UE, em matéria de asilo e migração, assumiu quatro pressupostos (Parlamento Europeu, 1999).

i) Parceria com os países de origem e trânsito

A inevitabilidade de uma política de abordagem global considerando os interesses da UE e dos países de origem. A manifesta preocupação com as questões políticas, de direitos humanos e de desenvolvimento dos países de origem e trânsito. Neste sentido, a União convidou os Estados-membros a contribuírem para uma maior coerência das

114 O interesse dos Estados-membros centrou-se em políticas de: refugiados e asilo; imigração relativa a

nacionais de países terceiros; condições de entrada e circulação, assim como, condições de residência, onde se inclui a reunificação familiar de cidadãos de países terceiros; combate à imigração ilegal e tráfico de seres humanos; e, fronteiras externas.

115 O Tratado de Amesterdão veio a alargar as competências da União, com a criação de uma política

comunitária de emprego, a comunitarização de questões no domínio da justiça e dos assuntos internos, medidas designadas à aproximação da União com os seus cidadãos, reforçando as formas de cooperação mais estreitas entre alguns Estados-membros.

116 Como espaço de liberdade o objetivo é a livre circulação de pessoas e a promoção da cidadania europeia,

a proteção dos direitos fundamentais e facilitar a integração de nacionais de países terceiros (Parlamento Europeu, 1999).

117 Como espaço de segurança o objetivo é o combate contra todas as formas de crime organizado, como a

imigração ilegal, tráfico de seres humanos, tráfico de droga e terrorismo internacional (Parlamento Europeu, 1999).

118 Como espaço de justiça o objetivo é garantir aos cidadãos europeus igual acesso à justiça e facilitar a

políticas internas e externas da UE, tendo em conta o combate à pobreza, a melhoria das condições de vida e das oportunidades de emprego, prevenir os conflitos e consolidar os Estados democráticos, bem como garantir o respeito pelos direitos humanos, com especial enfoque das minorias, mulheres e crianças. A União considerou que tal objetivo constitui o elemento chave para o êxito da política de asilo e migração, tendo em vista a promoção do codesenvolvimento (Parlamento Europeu, 1999).

ii) Sistema comum europeu de asilo

No seguimento do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Alto Nível “Asilo e Migração”, o Conselho acordou a importância de um sistema comum de asilo, baseado na aplicação integral e abrangente da Convenção de Genebra, incindindo especificamente no princípio da não recusa de entrada dos requerentes de asilo. A necessidade de implementar um sistema e a definição de normas comuns pelos Estados-membros, possibilitou um processo de asilo equitativo e eficaz, cujo efeito a longo prazo preconizou estabelecer um processo de asilo comum. Para isso, deveria contribuir a conclusão do sistema de identificação dos requerentes de asilo, o EURODAC.119 O Conselho salientou, ainda, a importância da partilha de experiências e conhecimento de organizações internacionais, assim como a cooperação institucional com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), como mais valia para o desenvolvimento do processo. Por último, o Conselho apelou à solidariedade dos Estados-membros sobre as questões dos refugiados, para a criação de um eventual fundo de ajuda aos refugiados120 (Parlamento Europeu, 1999).

iii) Tratamento equitativo dos nacionais de países terceiros

O tratamento equitativo dos nacionais de países terceiros que residam legalmente no espaço europeu foi outra das prioridades relevantes do Conselho de Tampere. Perante a necessidade de aproximar as legislações nacionais sobre as condições de admissão e

119 No seguimento da Convenção de Dublin foi criado um sistema de comparação de impressões digitais dos

requerentes de asilo e de determinadas categorias de imigrantes clandestinos, Regulamento nº 2725/2000 (Conselho da União Europeia, 2000a).

120 Council Decision of 28 September 2000 establishing a European Refugee Fund (2000/596/EC) (Conselho

residência de nacionais de países terceiros, com base nas necessidades económicas e demográficas da União, assim como nos países de origem, o Conselho acorda que estes imigrantes121 deverão usufruir do direito a residência, bem como o direito de acesso ao ensino, de trabalhar por conta própria ou de outrem. O Conselho considerou, ainda, subscrever uma proposta de oferta a este género de migrantes a possibilidade de obterem a cidadania do Estado-membro em que residem (Parlamento Europeu, 1999).

Tendo em conta o direito à não discriminação, relativamente aos nacionais e restantes cidadãos europeus, surgiu a necessidade de implementar um plano de ação contra o racismo e xenofobia. Ou seja, contra a discriminação, comprometendo, assim, os Estados-membros a desenvolver uma política de integração mais coesa, assegurando direitos e obrigações equivalentes às dos seus cidadãos. Neste âmbito, a UE reforçou o

papel do Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia,122 dotando-o com

personalidade jurídica (Parlamento Europeu, 1999).

iv) Gestão dos fluxos migratórios

O Conselho focou a necessidade de uma gestão eficaz dos fluxos migratórios, com a necessária cooperação em matéria de luta contra a imigração ilegal, em estreita colaboração com os países de origem e de trânsito, no âmbito das obrigações de readmissão. Neste sentido, o Conselho apelou à necessidade de aprovar legislação com sanções mais severas contra os envolvidos no tráfico de seres humanos e na exploração económica dos mesmos, assim como a necessária cooperação com a Europol para detectar e desmantelar estas redes criminosas. Considerando que o desenvolvimento de um controlo mais eficaz das fronteiras externas passa pela elaboração de programas de cooperação entre Estados-membros com os países de origem e de trânsito, com o reforço de meios tecnológicos e de pessoas devidamente habilitadas123 (Parlamento Europeu, 1999).

Evidenciou-se, pela primeira vez, a importância de cooperação com os países de origem dos imigrantes. Em 2000, a Comissão Europeia elaborou uma comunicação que

121 Com residência legal e que possuam autorização de residência prolongada.

122 Em 2007, foi criada a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia com o objetivo de reforçar o

papel do Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia (Conselho da União Europeia, 2007).

123 Em 2001, o Regulamento (CE) n.° 539/2001 veio fixar a lista dos países terceiros cujos nacionais estão

sujeitos à obrigação de visto para transporem as fronteiras externas e a lista dos países terceiros cujos nacionais estão isentos dessa obrigação (Conselho da União Europeia, 2001c).

refere a necessidade de elaborar planos de ação com países específicos. Destacou-se, assim, a pretensão de estabelecer programas coerentes de cooperação e de desenvolvimento, através do diálogo com países específicos, tendo em consideração as realidades dessas comunidades (a dimensão económica, demográfica, social, política e de direitos humanos que são as causas dos fluxos migratórios). Este processo salientou a importância do papel do imigrante, fundamental para a promoção e cooperação no desenvolvimento dos seus países. Todavia, a União procurou refletir neste programa com países terceiros os valores europeus, considerando que a política de migração deve desenvolver-se em harmonia com os objetivos de integração, tendo em conta o impacto nos países de acolhimento e nos próprios imigrantes (Comissão das Comunidades Europeias, 2000).

No documento União Europeia, imigração e ética (páginas 44-47)