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CAPÍTULO II O Conselho Municipal de Saúde de Pelotas: história, documentos,

2.2 Conselho Municipal de Saúde de Pelotas: Aspectos históricos

Ao analisarmos o CMSPel pela perspectiva histórica, podemos perceber que as primeiras reuniões de um momento de discussão semelhante a instituição, na forma que conhecemos hoje, datam do ano de 1986. Neste ano a Chefia do Instituto

51 Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e o Sindicato dos Prestadores de Serviços em Saúde de Pelotas se articularam com o interesse de discutir sobre as ações pertinentes ao sistema de saúde do município. Juntos, estes órgãos fundaram um fórum consultivo chamado Ações Integradas de Saúde (AIS). Dela, participavam funcionários da área da saúde, prestadores de serviço para a área da saúde e gestores. Suas reuniões eram semanais e aconteciam na sede INAMPS de Pelotas. Nos encontros, se reivindicavam melhorias em instalações hospitalares e ambulatoriais, eram estabelecidos critérios de controle e avaliação do sistema de saúde vigente na época e seus membros buscavam estabelecer soluções para os impasses que aconteciam entre os entes envolvidos na prestação de serviços de saúde. Podemos dizer que este foi o marco inicial de democratização da saúde em Pelotas. Resumidamente, a função da AIS era procurar soluções para os problemas referentes ao sistema de saúde da época com ênfase nas ferramentas locais.

Após um ano de funcionamento, 1987, a AIS foi substituída pela Comissão Interinstitucional Municipal de Saúde (CIMS), com caráter pioneiro no estado do Rio Grande do Sul. Este novo momento de discussão inseriu a composição das plenárias os usuários. Por meio da investigação nas atas das reuniões remanescentes, do período que antecede a criação do CMSPel, identificamos que a CIMS era composta por trinta (30) representantes de entidades associativas. Contudo, nos arquivos do Conselho não foram encontrados documentos que nos permitam descrever a nominata completa das entidades que faziam parte do pleno. Ainda assim, podemos afirmar, que algumas associações contam com cadeira no CMSPel ainda em 2011. Exemplificando, os hospitais, o Conselho de Fiscalização do Grande Areal, o Conselho de Saúde do Fragata e o SINDSPREV. Para tanto, vasculhamos as atas remanescentes da CIMS e paralelizamos as assinaturas com a atual nominata dos conselheiros.

Com a alteração da AIS para CIMS a reuniões passam a ter os mesmos moldes composicionais que o atual CMSPel, ou seja, eram compostas por gestores, prestadores de serviço para a área da saúde, trabalhadores e usuários, contudo, não foram encontrados, nos arquivos da instituição algum tipo de regimento interno ou código de normas de funcionamento deste período pré-institucional. Ao mesmo tempo, através das listas de presença datadas de 1990, percebe-se que muitas

52 reuniões não eram efetivadas ou eram adiadas por falta de quórum mínimo – 16 representantes – ou falta de local para a reunião11. As assinaturas não estão

reunidas em livros de presença e algumas delas estão no verso de prontuários médicos, por exemplo. Outras estão arquivadas em papel A4 fotocopiados de um provável caderno de presença que não existe mais. Através do material analisado, arquivado na sede do CMSPel, podemos inferir que estas reuniões estavam focadas principalmente nos problemas do sistema da saúde pública da cidade e em buscar soluções locais, através de conversas, acordos, etc.

O dia 08 de maio de 1991, marca a data da implementação do CMSPel através da Lei Municipal nº 3.377. Nesta ocasião, o presidente interino era o senhor Marco Antônio Silveira Funchal e a diretoria, também interina, tinha um prazo de 120 dias para apresentar o regimento interno que regrasse as atividades do Conselho. Ao mesmo tempo, um projeto de lei para o Fundo Municipal de Saúde (FMS) já estava sendo redigido. Ainda na reunião há a proposta de organizar uma comissão específica para discutir as causas urgentes da saúde, por exemplo, a questão da Autorização de Internação Hospitalar (AIH). E, através da síntese das falas, podemos perceber que esta reunião foi conflituosa no momento em que parte dos conselheiros reivindicavam ações efetivas nos problemas da saúde. E outra parcela afirma a importância de estabelecer marcos legais que garanto a institucionalidade do CMSPel (CMSPEL, ATA 01/1991).

Posteriormente, em 2000, o município assume a Gestão Plena da Saúde Municipal conjuntamente ao compromisso de promover e consolidar o SUS no município e naqueles municípios ao qual se tornou referência. Com isso, a cidade passa a ser um polo regional da saúde, tendo assim, responsabilidade sobre mais vinte e dois municípios que compõem a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde, sendo responsável por aproximadamente novecentos mil usuários (MOREIRA, 2011). Neste sentido, pelo menos teoricamente, as responsabilidades do CMSPel são maximizadas exigindo maior atenção dos conselheiros para com a fiscalização, avaliação e proposição de políticas públicas.

No próximo ano, 2001, é instituída a Lei Municipal n° 4.554/01 que altera a Lei de fundação do CMSPel de 1991. É inaugurada, simultaneamente, a “Casa dos

11 O número mínimo de presentes e o adiamento de reuniões foram encontradas como anotações em

algumas atas e listas de presença datados de 1990, um ano antes da institucionalização do COMSPel.

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Conselhos”, local que reúne, até os dias de hoje, todos os conselhos do município de Pelotas. Segundo Schulz (2009, p. 10), a Casa dos Conselhos é “um prédio destinado especificamente para funcionamento destes, mas onde somente há infraestrutura para os Conselhos obrigatórios”. Isto é, o espaço físico e a estrutura da Casa dos Conselhos não comporta a presença de forma organizada dos conselhos temáticos como o Conselho das Mulheres, o Conselho do Idoso e outros.

Concluindo, é pertinente dizer que quase não há registros historiográficos aprofundados sobre a história do Conselho Municipal de Saúde de Pelotas, ao mesmo tempo, os dados que trouxemos até aqui nos fixa a noção geral de que as mobilizações para discutir os assuntos da saúde dos pelotenses antecedem a obrigatoriedade de implementação dos conselhos gestores no Brasil. Ao mesmo tempo, ser responsável pela gestão plena da saúde, faz com que os gestores e os conselheiros desta área tenham, em tese, suas obrigações ampliadas. Neste sentido, a partir da próxima seção começaremos a analisar alguns documentos que regulamentam o CMSPel buscando compreender melhor as suas atribuições e, principalmente, a forma de funcionamento. Assim, a próxima seção tem o objetivo de analisar os documentos do Conselho visando descrever as prescrições para o seu funcionamento e identificar, até que ponto é deixada a possibilidade de propor e discutir as demandas da saúde com vista na melhoria da prestação de serviço e na elaboração de políticas públicas.