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3.2 Perdas de materiais na construção civil e conseqüências da geração de

3.2.2 Conseqüências da geração de resíduos de construção para as

O setor da construção civil brasileiro apresenta uma significativa taxa de desperdício de materiais, gerando grandes quantidades de resíduos, em obras novas ou demolições. Segundo Pinto (1997) estes resíduos representam em torno de 2/3 (em massa) do total dos resíduos coletados em cidades médias e de grande porte no país, conforme indicam informações da TAB. 13.

Tabela 13 - Participação dos resíduos de construção no total dos resíduos sólidos urbanos

Município ou local Fonte (%) em massa

Suíça FOEFL, 1988 45%

Europa Ocidental Desmyter, 1994 67%

São José dos Campos/SP I&T, 1995 68%

Ribeirão Preto/SP I&T, 1995 67%

Belo Horizonte/MG SLU-BH, 2005 42%

Brasília/DF I&T, 1997 66%

Campinas/SP CAMPINAS, 1996 64%

Jundiaí/SP I&T, 1997 64%

São José do Rio Preto/SP I&T, 1997 60%

Santo André/SP I&T, 1997 62%

NOTA: (1) considerando apenas resíduos em aterros públicos. FONTE: PINTO, 1997; SLU-BH, 2005; I&T, 1997.

Pinto (1997) afirma que em uma situação típica, 2/3 dos resíduos são recolhidos por empresas privadas e 1/3 pelas administrações municipais (TAB. 14 e 15). A destinação dos resíduos de construção causa problemas ambientais e econômicos. Segundo levantamentos realizados nos municípios de Belo Horizonte/MG, São José dos Campos/SP, Ribeirão Preto/SP, São José do Rio Preto/SP, Jundiaí/SP e Santo André/SP, a remoção e o aterramento dos resíduos tornam-se cada vez mais caros com o aumento dos preços cobrados pelos coletores, pressionados pela escassez de locais de disposição e pelo aumento das distâncias a percorrer. (I&T, 1990, 1995)

Tabela 14 - Composição típica dos resíduos sólidos urbanos

Tipos de resíduos % em massa

Resíduos de construção recolhidos por empresas 45 Resíduos de construção recolhidos pela administração pública 22 Resíduos domiciliares recolhidos pela administração pública ou empreiteiras 33 FONTE: PINTO, 1997.

Tabela 15 - Geração de resíduos de construção em alguns municípios brasileiros

Município Fonte t/hab/ano

Belo Horizonte/MG SLU-BH, 2005 0,45

Ribeirão Preto/SP I&T, 1995 0,52

São José dos Campos/SP I&T, 1995 0,43

Jundiaí/SP I&T, 1997 (1) 0,63

São José do Rio Preto/SP I&T, 1997 (1) 0,60

Santo André/SP I&T, 1997 (1) 0,55

NOTA: (1) considerando apenas resíduos em aterros públicos. FONTE: I&T, 1995, 1997; SLU-BH, 2005.

Pela repetição dos fatos nos municípios citados, acredita-se que estes eventos ocorram, em menor ou maior grau, na maior parte das cidades brasileiras, principalmente nas de médio e grande portes.

Parte dos resíduos gerados é depositada irregularmente na malha urbana, causando problemas ambientais como obstrução de vias e cursos d’água, surgimento de zoonoses, entre outros. As administrações municipais consomem recursos materiais, humanos e financeiros com a abertura de novos locais de disposição e limpeza das áreas degradadas (CAMPINAS, 1996; CORBIOLI, 1996; PINTO, 1999; MARQUES NETO, 2005; I&T, 1990, 1995, 1997). Na TAB. 16 estão apresentadas informações sobre custo de gerenciamento dos resíduos em alguns municípios.

Tabela 16 - Custos de gerenciamento de resíduos de construção em alguns municípios

Município Fonte Custo

Belo Horizonte/MG SLU-BH, 2005 US$ 10,00/t São José dos Campos/SP I&T, 1995 US$ 10,66/t Ribeirão Preto/SP I&T, 1995 R$ 5,37/t São José do Rio Preto/SP I&T, 1997 (1) R$ 11,78/t NOTA: (1) considerando apenas resíduos em aterros públicos.

FONTE: I&T, 1995, 1997; SLU-BH, 2005.

A reciclagem dos resíduos de construção é uma das maneiras de lidar com estes materiais, na tentativa de diminuir impactos ambientais, custos de destinação e aumentar a vida útil de aterros. (CAVALCANTE; CHERIAF, 1997; BATTISTI et al., 1998; I&T, 1990, 1995; JOHN, 1999; LEVY, 2002; PINTO, 1989b, 1997)

Segundo John (2001) a reciclagem leva à dispersão de materiais, ao contrário da simples disposição, que causa sua concentração. Pinto (1999) considera que, usando o resíduo em novos serviços de construção, procede-se como se estivesse “pulverizando” os aterros. Para que se espalhe o resíduo em várias obras, é necessário que haja segurança quanto à qualidade do agregado reciclado e das aplicações, para evitar riscos ao meio ambiente e à segurança dos usuários.

Por meio da reciclagem pode-se obter materiais adequados à utilização em diversos serviços de construção. Pode-se obter também economia de recursos financeiros, pois em geral fica mais barato reciclar os resíduos do que gerenciar seu aterramento e sua remoção de locais irregulares. Segundo informações obtidas na empresa Informações e Técnicas em Construção Civil (I&T) e na SLU-BH, o custo do agregado reciclado, em “bica corrida”, pode ser menor que R$ 4,00/t, bem inferior aos valores apresentados na TAB. 16 para gerenciamento dos resíduos, o que comprova a viabilidade das usinas de reciclagem.

Este é um dos fatores que encorajam muitas administrações municipais a buscarem a implantação da reciclagem de resíduos de construção atualmente. Em outros países a reciclagem já é praticada a mais tempo, estando mais avançada.

Os municípios envolvidos com a reciclagem de resíduos de construção no Brasil são: Belo Horizonte/MG; Londrina/PR; Muriaé/RJ; Piracicaba/SP; Ribeirão Preto/SP; São José dos Campos/SP; São Paulo/SP; Brasília/DF; Campo Grande/MS; Cuiabá/MT; Jundiaí/SP; Ribeirão Pires/SP; Santo André/SP; Salvador/BA; São Bernardo do Campo/SP e São José do Rio Preto/SP.

Os objetivos das políticas públicas de limpeza urbana de cidades, onde a reciclagem de resíduos de construção foi implantada são:

• Redução das deposições ilegais, melhoria da qualidade ambiental e aumento da vida útil de aterros;

• Captação seletiva, reciclagem de resíduos, geração de produtos a baixo custo e melhoria das aplicações do reciclado;

• Construção de aparato jurídico-normativo (leis, decretos e normas) para sustentação das novas práticas.

Ainda segundo levantamentos de Pinto (1989b), a composição do entulho proveniente de canteiros de obras é de 64% formado por argamassa, 30% por componentes de vedação (tijolo maciço, tijolo furado, telhas e blocos) e 6% por outros materiais, como concreto, pedra, areia, metálicos e plásticos (TAB. 17). Com essa composição, pode-se compreender que se trata de um material básico de qualidade.

Tabela 17 - Composição média dos resíduos de construção.

ELEMENTO %

Argamassas 63,67

Tijolos maciços 17,98

Telhas, lajotas, entre outros 11,11

Concreto 4,23 Bloco de concreto 0,11 Ladrilhos de concreto 0,39 Pedras 1,38 Cimento-amianto 0,38 Solo 0,13 Madeira 0,11

Papel e matéria orgânica 0,20

FONTE: PINTO, 1989b.

Pinto (1989b) acrescenta ainda, que a quantidade de resíduos liberados pelas atividades construtivas nas cidades é de tal porte que, se houvesse uma total reutilização do material gerado, as necessidades de pavimentação de novas vias ou construção de habitações

de interesse social, por exemplo, seriam totalmente satisfeitas. Na TAB. 18, o autor apresenta a geração de resíduos e a possibilidade de sua utilização, para as finalidades acima citadas, nas principais capitais brasileiras.

É inegável, portanto, que o montante de resíduos gerado no país é muito grande e justifica todo esforço no sentido de reaproveitamento deste material. A criação de incentivos aos construtores, coletores de resíduos e proprietários dos imóveis em edificação, é de grande importância para que se inicie um processo amplo de reciclagem deste material. Processo esse que, se bem planejado e estruturado, pode contribuir significativamente para a redução dos custos sociais causados pela disposição indiscriminada de resíduos nos centros urbanos.

Tabela 18 - Geração de resíduos de construção e possibilidades de reutilização, nas principais capitais brasileiras.

Capitais Área média de piso licenciado (m2) Geração estimada de resíduos (t) Unidades habitacionais com 50 m2 (un/mês) Sub-base para pavimentação de vias públicas (m/mês) São Paulo 413.000 372.000 8.300 183.700 Rio de Janeiro 30.000 27.000 600 13.300 Brasília 95.000 85.000 1.900 42.200 Belo Horizonte 113.000 102.000 2.300 50.400 Porto Alegre 65.000 58.000 1.300 28.900 Salvador 49.000 44.000 1.000 21.500 Recife 21.000 18.000 400 8.900 Curitiba 82.000 74.000 1.600 36.300 Fortaleza 56.000 50.000 1.100 25.200 Florianópolis 36.000 33.000 700 16.300 FONTE: PINTO, 1989b.