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3. EVOLUÇÃO DO CONTROLO REPRODUTIVO EQUINO EM PORTUGAL E

3.3. REPRODUÇÃO EQUINA EM PORTUGAL

3.3.3. Século XXI: Reprodução Assistida

3.3.3.1. Acompanhamento dos animais para a Reprodução

3.3.3.1.3. Consequências do não acompanhamento reprodutivo

O não acompanhamento reprodutivo antes/durante a época reprodutiva, impõe consequências. Além das razões já descritas que não optimizam as prestações da égua e do garanhão ao máximo, a ausência de acompanhamento reprodutivo irá ainda proporcionar as seguintes situações:

3.3.3.1.3.1. Indistinção entre quistos uterinos/gestação inicial

Os quistos são bastante comuns na égua, principalmente éguas velhas. Estes estão repletos de fluido e, portanto, a imagem à ultrasonografia aparece anecogénica., Podem variar entre milímetros e alguns centímetros (England, 2005), havendo possibilidade de confusão entre um quisto uterino e uma gestação inicial (Duarte, 2007). Para evitar estes problemas, é prudente assinalar o tamanho, forma e posição do quisto uterino antes da monta/inseminação (England, 2005; Shertich, 2005). Ao longo das semanas o embrião desenvolve-se e o quisto permanece inalterável. O acompanhamento reprodutivo nas semanas que antecedem e precedem a cópula ou inseminação são determinantes para confirmação de gestação ou não. A detecção de quistos anteriores à cópula/inseminação é importante não só para detecção de gestações falso-positivas como também para assegurar um melhor acompanhamento reprodutivo nestas éguas que por norma apresentam baixa fertilidade.

A B

Figura 12 – Diferenciação entre um quisto uterino e uma gestação inicial.

Legenda: A – 1º controlo ecográfico da gestação; B – controlo ecográfico da gestação ao fim de algumas semanas (Imagens gentilmente cedidas por Duarte).

3.3.3.1.3.2. Impossibilidade de detecção de morte fetal

É comum ocorrer morte fetal após confirmação da gestação. Imagens da gestação após a formação dos microcotilédones podem ser necessárias para garantir a continuidade do desenvolvimento fetal e para avaliar a viabilidade fetal. A ausência de controlo reprodutivo após confirmação da gestação, impossibilitará ao MV detectar a morte fetal precoce e consequentemente, determinar a causa do aborto. Do mesmo modo, impossibilitará à égua a chance de voltar a entrar em cio, ainda na mesma época reprodutiva.

3.3.3.1.3.3. Impossibilidade de detecção de anormalidades fetais

Igualmente, o não acompanhamento reprodutivo após confirmação da gestação, impedirá o MV de induzir o aborto ou o parto prematuro quando estão presentes: feto morto e retido (mumificado); hidropisia dos invólcros fetais; parésia anteparto, hemorragia uterina; prolapso vaginal grave; gestações de animais jovens ou quando houver coberturas indesejáveis; múltiplas gestações (Jainudeen & Hafez, 2004c). A interrupção da gestação é mais fácil nos primeiros dois, três meses do período de gestação, porque os fetos são eliminados com a bolsa e o útero involui sem complicações. O que mais uma vez reforça a importância do acompanhamento reprodutivo no início da gestação

A B Figura 13 – Gestações gemelares.

Legenda: A – dois folículos dominantes à ecografia; B – Aborto de três fetos. Embora pouco comuns, éguas jovens podem experienciar ovulações duplas e são susceptíveis a ter uma tripla (Imagens gentilmente cedidas por Duarte).

3.3.3.1.3.4. Impossibilidade de detecção de patologias uterinas e vaginais

As endometrites são a principal causa de perdas na indústria de reprodução de cavalos. Causam perdas multi-factoriais devido ao número de éguas que ficam vazias, ao número de éguas que adquirem placentites, metrites pós-parto, atraso na reconcepção, abortos e neonatos com infecções (Rocha & Alvarenga, 2010). Além desta, muitas outras doenças como prolapsos vaginais, piómetras, retenções placentárias, placentites, problemas de parto etc., que impedem a gestação na égua. A não detecção precoce deste tipo de patologias antes do ínicio da época reprodutiva, irá eliminar muitas éguas da reprodução.

A B C D

Figura 14 – Patologias uterinas e vaginais.

Legenda: A – égua com dificuldades durante o parto; B – patologia vaginal; C – imagem ecográfica de um útero com patologia; D – imagem ecográfica de um útero de uma égua com endometrite (Imagens gentilmente cedidas por Duarte).

3.3.3.1.3.5. Transmissão doenças venéreas bacterianas

Existem três principais agentes de enfermidades venéreas bacterianas no equino: a Taylorella equigenitalis, agente da Metrite Contagiosa Equina (Contagious equine metritis - CEM); a Klebsiella pneumoniae e a Pseudomonas aeruginosa (Wood, Cardwell, Castillo-Olivares & Irwin, 2006; Rocha, 2010; Rocha & Alvarenga, 2010). As duas últimas bactérias são normalmente transmitidas pelo coito ou sémen do garanhão contaminado, podendo existir como flora normal da genitália e nem sempre resultam em infecção (Rocha & Alvarenga, 2010; Rocha, 2010). No entanto alterações da flora normal podem originar o crescimento destas bactérias (Samper & Tibary, 2006).

Geralmente a P. Aeruginosa é multi-resistente a antibióticos (Rocha, 2010; Rocha & Alvarenga, 2010), por produzir um filme biológico que interfere na acção dos agentes antimicrobianos (Rocha, 2010). Os garanhões e éguas devem ser cuidadosamente testados para estes dois microorganismos de forma a evitar posteriores contaminações.

Entre as formas de controlo destes microorganismos, incluem-se técnicas ditas de “contaminação mínima” (Rocha, 2010; Rocha & Alvarenga, 2010), através da IA com volume reduzido do ejaculado, associadas a limpeza escrupulosa do pénis (Rocha, 2010).

O caso da T. Equigenitalis, agente da CEM, é particular e distinto. É um coco-bacilo gram negativo (Wood et al., 2006) e microaerófílo (Rocha & Alvarenga, 2010). Nunca se pode inseminar com sémen de garanhões positivos a Taylorella equigenitalis (Sertich, 2005). Esta patologia está na lista de enfermidades de declaração obrigatória da OIE das Nações Unidas. A enfermidade provoca endometrite, sub-fertilidade e por vezes aborto nas fêmeas, sendo assintomática no macho (Rocha, 2010; Rocha & Alvarenga, 2010), o que aumenta a probabilidade de infecção das éguas. A CEM é altamente contagiosa (Rocha, 2010), restrita ao tracto reprodutivo (não sistémica), (Rocha & Alvarenga, 2010), disseminando-se eficientemente através do coito e da IA com sémen de garanhões portadores (Rocha, 2010), através do contacto nariz com nariz ou nariz-genitália durante a rufiação, e ainda pelo uso de instrumentos contaminados, através das mãos de veterinários/tratadores após limpeza de períneo ou pénis de animais infectados, e mesmo através de água contaminada (Rocha, 2010; Rocha & Alvarenga, 2010). Os poldros que nascem podem ser infectados ao parto, e reiniciar surtos de CEM quando entram à reprodução (Rocha, 2010; Rocha & Alvarenga, 2010). A enfermidade é tratável e é possível que casos de CEM passem despercebidos pois éguas tratadas para endometrite recuperam e podem ficar gestantes (Rocha, 2010).

Assim, e dado os efeitos potencialmente devastadores da CEM, esta enfermidade merece um programa específico de vigilância e controlo (Rocha, 2010). O isolamento por cultura é um dos testes certificados, com colheita por zaragatoa no clítoris em qualquer fase do cio, no endométrio durante o cio e no garanhão na uretra, fossa uretral e mucosa do pénis (Rocha & Alvarenga, 2010).

3.3.3.1.3.6. Transmissão de doenças virais

Existem 3 doenças principais provocadas por vírus, a artrite equina, a anemia infecciosa e o herpes virus. É recomendada a triagem sorológica de éguas e garanhões antes da cobrição de modo a restringir os animais infectados da população para reprodução (Wood, et al., 2007).

A anemia infecciosa equina (Equine Infectious Anemia - EIA) também conhecida por febre dos pântanos é uma afecção cosmopolita dos equinos, causada por um RNA vírus do género lentivirus, da família Retrovírus. Uma vez instalado no organismo do animal, o vírus, nele permanece por toda a vida mesmo quando não se manifestam sintomas. A contaminação é feita principalmente por insectos sugadores. Já foram também comprovadas as transmissões congénitas (placentária), pelo leite (aleitamento), pelo sémen (acasalamento) e pelo soro-imune. A mucosa nasal e oral, intactas ou feridas, podem ser portas de entrada do vírus. O uso sem assepsia de material cirúrgico, por pessoas não-habilitadas, também aumenta a probabilidade da infecção. É uma doença crónica, embora possa apresentar-se em fases hiperaguda, aguda e subaguda. A sintomatologia caracteriza-se por episódios febris, perda de peso, debilidade progressiva, mucosas ictéricas, edemas subcutâneos e anemia (Carvalho Jr., 1998).

A Arterite viral dos equinos (Equine Viral Arteritis - EVA) é constituída por um vírus da família Arteriviridae é um importante agente causador de aborto em éguas e possui distribuição mundial. A sua transmissão é venérea e respiratória (Wood et al., 2007). O herpes virus é um vírus comum que ocorre em populações de cavalos em todo o mundo. As estirpes mais comuns são EHV-1 e EHV-4. O EHV-1 pode originar doenças respiratórias, abortos e doenças neurológicas, enquanto que o EHV-4 normalmente provoca doenças respiratórias, mas também pode causar abortos (Rush, B.R., 2005).

3.3.3.1.3.7. Impossibilidade de detecção de tumores

Tanto no macho como na fêmea a presença de tumores, dificulta a reprodução destes animais, um exame clínico no início da época, descarta logo de princípio a possibilidade destes animais participarem na época de monta (Duarte, 2007).

A B

Figura 15 – Tumores

Legenda: A – tumor testicular; B – Carcinoma (imagens gentilmente cedidas por Duarte).