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Associados aos acidentes rodoviários estão graves problemas sociais e económicos.

Do ponto de vista económico a lista é imensa contabilizando-se, desde danos materiais directamente resultantes dos acidentes, trabalho profissional, escolar e familiar perdido, despesas médicas e prémios de seguros, até aos custos inerentes à utilização dos serviços de emergência e assistência e investigação policial e judicial, entre múltiplos outros que certamente estarão directa ou indirectamente associados aos acidentes rodoviários. Os custos económicos com as vítimas de acidentes rodoviários estimam-se em aproximadamente 1,0% do produto nacional bruto (PNB) em países de baixos recursos, 1,5% nos países com médios recursos e 2% nos países de elevados recursos. (OMS,2004)

Globalmente considerados os custos com a sinistralidade rodoviária em todo o mundo, a OMS estima que sejam dispendidos 518 biliões de dólares por ano. Só na União Europeia (UE), na qual apenas se verificam 5% do número total mundial

de mortos na estrada, são anualmente gastos (directa e indirectamente) 180 biliões de euros (207 biliões de dólares). Nos Estados Unidos da América, no ano 2000, os custos estimados com a sinistralidade rodoviária rondavam os 200 biliões de dólares.

Ainda que provavelmente subestimados, nos países de menores recursos os custos económicos directos dos acidentes rodoviários ultrapassam largamente o montante total anual recebido para assistência ao desenvolvimento, calculando-se que ascenda a cerca de 65 biliões de dólares.

A sinistralidade rodoviária constitui assim não só um pesado fardo para as economias regionais e nacionais, mas também directamente para as famílias, uma vez que atinge sobretudo as camadas mais jovens da população e os que asseguram o seu sustento. “No Quénia, por exemplo, mais de 75% dos acidentes de tráfego rodoviário dão-se entre os jovens adultos economicamente produtivos”.12 A OMS indica que existem estudos que apontam para um impacto diferenciado da sinistralidade rodoviária em função da posição social dos utentes das vias, sendo que os mais pobres são também os mais vulneráveis e os que menos peso têm nas decisões políticas sobre segurança rodoviária, estando provado que, mesmo nos países mais desenvolvidos, as crianças dos meios sociais mais desfavorecidos têm um risco acrescido de serem vítimas de acidentes de viação.

Mas os custos da disrupção familiar, de planos de carreira e de vida abruptamente desfeitos, da imensa angústia e sofrimento físico e mental, não podem ser mensurados apenas em cifrões. O trauma rodoviário não é um evento que acontece num instante e se esquece a seguir. Para além disso, comparativamente com outras grandes causas de morte e malgrado os enormes custos sociais e económicos a que aludimos atrás, não se tem verificado um investimento proporcional em investigação e desenvolvimento da segurança rodoviária, apesar de existirem, no entanto, soluções públicas devidamente testadas e rentáveis para o problema. O financiamento de intervenções, mesmo em muitos dos países mais activos na implementação de medidas de segurança rodoviária, tem sido escasso, apesar de em todos estes países se terem vindo a estabelecer novas metas para redução das vítimas resultantes de acidentes na estrada. (Shinar, 2007)

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Apesar dos evidentes benefícios que a utilização das vias rodoviárias proporciona à sociedade, conclui-se que o preço pago é demasiado alto e os actuais esforços de segurança rodoviária não conseguem igualar a gravidade do problema, podendo dizer-se que, “da perspectiva da saúde pública, os acidentes de trânsito são a doença do nosso tempo, prevendo-se que se mantenham nessa duvidosa posição de honra pelo menos nas próximas décadas”13

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Mas, independentemente do panorama negro traçado, nem tudo são más notícias. A redução da sinistralidade grave nas estradas que se vem verificando nos últimos anos nos países mais desenvolvidos, prova que é possível diminuir os efeitos dos acidentes rodoviários e prevenir a sua ocorrência. A este propósito importa referir que os diferentes países têm distintas formas de olhar a questão da segurança rodoviária. De acordo com a filosofia adoptada, assim se estabelecem também os respectivos objectivos. Na Europa, a maioria dos países define as suas metas em função da redução em termos absolutos ou de taxas de mortalidade por referência à população. A visão mais ambiciosa conhecida foi recentemente aprovada pelo parlamento da Suécia. Trata-se da “visão zero”, segundo a qual “ninguém deve morrer ou ficar gravemente ferido no sistema de transporte rodoviário”14

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Independentemente do tipo de filosofia de segurança rodoviária, a inversão conseguida nos números e impactos dos acidentes rodoviários é atribuída sobretudo à implementação de um grande leque de medidas de segurança rodoviária, cujas principais são os sistemas de protecção passiva dos veículos, o uso do cinto de segurança, a melhoria das infra-estruturas rodoviárias, as medidas de acalmia do trânsito, as iniciativas legislativas em matéria de sancionamento das infracções e a fiscalização policial. No entanto, para além desta componente mais de ordem material, existe uma outra dimensão do problema onde se terá de continuar a investir: a componente humana. É necessário apostar cada vez mais na educação rodoviária, na mudança de comportamentos ao volante e na educação cívica e de cidadania, que leve as pessoas a adoptar atitudes e comportamentos seguros, de acatamento voluntário das normas, de respeito pela sã vivência (também rodoviária). Acreditamos que só com uma verdadeira e radical mudança de atitude social colectiva, se poderá diminuir drasticamente a sinistralidade rodoviária.

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Shinar, 2007, p. 6.

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