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Os benefícios de um programa de cunho ambiental geralmente consistem nos efeitos que uma melhoria na qualidade do meio ambiente tem no bem-estar humano. Os indivíduos derivam satisfação (ou utilidade) de “serviços” providos pelo ambiente natural. Há uma experiência de ganho de utilidade na medida em que a melhoria na qualidade do ambiente natural aumenta o fluxo de serviços que as pessoas dele extraem e vice-versa, no caso de degradação ambiental (PEREIRA, 1999).

Há diversos aspectos intangíveis associados a projetos ambientais que impactam diretamente a tomada de decisão na avaliação, seleção e priorização de projetos de ecoeficiência. A razão mais importante para esta inclusão é a potencial utilidade dos intangíveis para o gerenciamento e maximização do valor do negócio como um todo (KAYO, 2002; ASSUNÇÃO et al, 2005 apud VIEIRA, 2013).

As medidas de efetividade a serem escolhidas quando da utilização de uma ACE devem ser definidas com muito cuidado para facilitar comparações válidas entre as alternativas propostas. Quanto mais próxima a medida escolhida for uma variável que afeta diretamente o bem-estar social, mas consistente será a ACE (EPA, 2010).

Para Drumond et al. (2005), para uma avaliação da efetividade é necessário definir os indicadores que vão medir o sucesso dos objetivos. Os indicadores devem ser confiáveis, ou seja, diferentes avaliadores devem poder obter os mesmos resultados e devem medir precisamente aquilo que se deseja considerando as mudanças específicas que possam ser atribuídas ao projeto, e não a outras variáveis.

Tais medidas de efetividade podem representar impactos quanto a melhoria na qualidade do meio ambiente, melhoria na saúde humana e/ou do bem-estar social.

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CAPÍTULO V

OS SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOSTOS SANITÁRIOS

5.1. Os Sistemas de Tratamento de Esgoto Sanitário

Os sistemas de esgotamento sanitário têm o objetivo de proporcionar o afastamento rápido e seguro dos esgotos; a coleta dos esgotos individual ou coletiva (fossas ou rede coletora); o tratamento e disposição adequada dos esgotos tratados. A partir dessa infraestrutura busca-se atingir benefícios como a conservação dos recursos naturais; a melhoria das condições sanitárias locais; a eliminação de focos de contaminação e poluição, como também, a redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças e diminuição dos custos no tratamento de água para abastecimento (LEAL, 2008).

Fernandes (1997) afirma que a coleta e transporte das águas residuais desde a origem até o lançamento final constituem o fundamento básico do saneamento de uma população. Os condutos que recolhem e transportam essas vazões são denominados de coletores e o conjunto dos mesmos compõe a rede coletora. Essa rede coletora, em conjunto com os emissários, as unidades de tratamento, etc., caracterizam o que é denominado de sistema de esgotos sanitários.

Os sistemas que caracterizam uma grande parte dos serviços públicos em esgotamento sanitário apresentam a composição de uma estação convencional de tratamento de esgoto com as fases de níveis de tratamento: preliminar, primário, secundário e terciário.

As estações compactas de tratamento de esgotos utilizadas como soluções individuais, são instaladas diretamente nas residências e não exigem ligação direta a uma rede de coleta de esgoto. O efluente gerado é depositado em caixa de gordura e gradeada direcionados para um reator anaeróbio tipo Upflow Anaerobic Sludge

Blanket Reactors - UASB, que maximiza as ações de bactérias anaeróbias

causando a biodigestão e após tratamento em filtro anaeróbico operado com fluxo ascendente, o efluente tratado e rico em nutrientes, pode ter sua infiltração diretamente no solo ou ser reutilizado na irrigação de plantações, complementando a adubação do terreno, ou, ainda, ser descartado em corpo hídrico, de acordo com sua categoria, conforme previsto na legislação brasileira.

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As tecnologias de tratamento de efluentes nada mais são que o aperfeiçoamento do processo de depuração da natureza, buscando reduzir seu tempo de duração e aumentar sua capacidade de absorção, com consumo mínimo de recursos em instalações e operação e o melhor resultado em termos de qualidade do efluente lançado, sem deixar de considerar a dimensão da população a ser atendida. Os sistemas existentes podem ser classificados, basicamente, em dois grandes grupos: tecnologias de sistemas simplificados ou mecanizados e processos aeróbios ou anaeróbios. (Figura 10).

Figura 10 - Conversão biológica nos sistemas aeróbios e anaeróbios

Fonte: CHERNICHARO et al (2001)

Observa-se, por um lado, que nos sistemas aeróbios, ocorre somente cerca de 40 a 50% de degradação biológica, com a consequente conversão em CO2 e uma elevada incorporação de matéria orgânica, como biomassa microbiana (cerca de 50 a 60%), que vem a se constituir no lodo excedente do sistema. O material orgânico (5 a 10%) não convertido em gás carbônico, ou em biomassa, deixa o

reator como material não degradado (CHERNICHARO et al, 2001).

Chernicharo et al,(2001) destacam ainda que para os sistemas anaeróbios, verifica-se que a maior parte do material orgânico biodegradável presente no despejo é convertida em biogás (cerca de 70 a 90%), que é removido da fase líquida e deixa o reator na forma gasosa. Apenas uma pequena parcela do material orgânico é convertida em biomassa microbiana (cerca de 5 a 15%), vindo a se constituir no lodo excedente do sistema. Além da pequena quantidade produzida, o lodo excedente apresenta-se, via de regra, mais concentrado e com melhores

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características de desidratação. O material não convertido em biogás, ou em biomassa, deixa o reator como material não degradado (10 a 30%).

Entende-se que, atualmente, no Brasil, os sistemas anaeróbios encontram uma grande aplicabilidade com vantagens e desvantagens (Quadro 3). As diversas características favoráveis dos sistemas anaeróbios (tais como: baixo custo e simplicidade operacional) têm contribuído para implantação desses sistemas de tratamento de esgotos, tanto em processos coletivos quanto individuais. Também se destacam à produção de gás metano e à baixíssima produção de sólidos como vantagens da digestão anaeróbia em relação ao tratamento aeróbio.

Quadro 3 - Vantagens e desvantagens dos processos anaeróbios

VANTAGENS DESVANTAGENS

 baixa produção de sólidos, cerca de

5 a 10 vezes inferior à que ocorre nos processos aeróbios;

 baixo consumo de energia,

usualmente associado a uma

elevatória de chegada. Isso faz com que os sistemas tenham custos operacionais muito baixos;

 baixa demanda de área;

 baixos custos de implantação, da

ordem de R$ 20 a 40 per capita;

 produção de metano, um gás

combustível de elevado teor

calorífico;

 possibilidade de preservação da

biomassa, sem alimentação do reator, por vários meses;

 tolerância a elevadas cargas

orgânicas;

 aplicabilidade em pequena e

grande escala;

 baixo consumo de nutrientes.

 as bactérias anaeróbias são

susceptíveis à inibição por um grande número de compostos;

 a partida do processo pode ser lenta,

na ausência de lodo de semeadura adaptado;

 alguma forma de pós-tratamento é

usualmente necessária;

 a bioquímica e a microbiologia da

digestão anaeróbia são complexas e ainda precisam ser mais estudadas;

 possibilidade de geração de maus

odores, porém controláveis;

 possibilidade de geração de efluente

com aspecto desagradável;

 remoção de nitrogênio, fósforo e

patógenos insatisfatória.

Fonte: CHERNICHARO et al (2001)

Os reatores anaeróbios disponíveis no Brasil são usualmente aplicados em pequenos aglomerados humanos, como também, nas grandes cidades, são: o decanto-digestor, o reator de manta de lodo, o filtro anaeróbio, e a lagoa anaeróbia com tecnologia suficientemente desenvolvida e conhecida no país para aplicação em escala massificada. Com o uso do filtro anaeróbio pode-se ter uma ETE

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totalmente anaeróbia (mantendo as vantagens dos reatores anaeróbios em clima quente) com eficiência satisfatória na remoção de sólidos e matéria orgânica em nível secundário (menos de 60 mg/L de DBO e 30 mg/L no efluente) e com boa resposta sanitária, porque removem ovos de vermes e protozoários. (Brasil, 2014)