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Considerações a respeito da denominada linha de pobreza

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1.3 Evolução da pobreza e seu contexto internacional

1.3.1 Considerações a respeito da denominada linha de pobreza

A pobreza quase sempre é uma idéia que as pessoas associam a baixos rendimentos e condições de vida inadequada. O "adequado" logicamente está em estreita relação com o lugar ou o país, segundo Hoffmann (2000), tornando o conceito de pobreza relativo já na partida da conceituação. Na definição de "ser pobre" dependemos de uma comparação na situação de "pobres" e "ricos", logo o conceito de pobreza se confunde com o conceito de desigualdade econômica.

Salama (2008) mostra, de forma clara, a distinção entre pobreza absoluta e relativa, ocorrendo o primeiro caso "quando a pessoa não dispõe de recursos

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 monetários em quantidade suficiente para se reproduzir" e o segundo caso "quando a pessoa dispõe de rendimentos monetários abaixo de 50% do rendimento mediano" (p.2). O segundo caso é mais restrito a países desenvolvidos, e o primeiro não depende diretamente do nível de renda dos ricos.

As definições conduzem, naturalmente, a enfoques distintos de políticas públicas, reservando à pobreza absoluta a possibilidade de sua erradicação, diferentemente da pobreza relativa, cuja perspectiva caminha na direção de uma possível e significativa redução. Neste contexto, o governo brasileiro adotou em 2002 os ODM em relação à redução da pobreza extrema, com metas a serem alcançadas até o ano de 2015.

Segundo o Banco Mundial5, a pobreza passou de 69,9% na China em 1990 à 28,6% em 2005 e a pobreza extrema (também chamada de indigência) diminuiu de 31,5% à 8,9% nesse mesmo período. Na Coréia do Sul, tanto a pobreza como a indigência é não significativa e inferior a 0,5%, na Tailândia no mesmo período a indigência passou de 12,5% da população à 1,7% (WORLD BANK, 2006, p. 36).

A proporção de pobres em uma população é uma medida de pobreza simples e bastante utilizada. Maior sofisticação é considerar a intensidade da pobreza, daí o termo insuficiência de renda de cada pobre, caracterizado pela distância entre a linha de seu rendimento e a linha de pobreza. A razão entre a insuficiência de renda de uma população e o valor máximo da insuficiência de renda desta denomina-se índice de insuficiência de renda, considerada medida apropriada de pobreza.

A determinação da linha da pobreza é uma questão difícil e polêmica, abordada em vários trabalhos de Sônia Rocha. Um erro corrente comum no Brasil é comparar as medidas de pobreza calculadas em diferentes períodos usando o salário mínimo (SM) corrente como linha de pobreza. O resultado que pode acontecer é apenas de mudança no SM e não no grau de pobreza absoluta da população.

Determinar a linha de pobreza com base, essencialmente, no custo dos alimentos leva a subestimar a pobreza rural em comparação com a urbana. Ressalte-se também que a linha de pobreza pode ser feita mediante suas manifestações ou consequências, como as condições inadequadas de habitação, mortalidade infantil e desnutrição entre outras.

Hoffmann (2000) considera, dentre as discussões anteriores, que a maneira mais adequada para a análise da pobreza é certamente a distribuição do rendimento 

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O indicador de pobreza sob a ótica do Banco Mundial (BIRD), segundo Salama (2008), considera que são indigentes os indivíduos que recebem menos de 1 dólar por dia, calculado a partir de uma taxa de câmbio particular, chamada de paridade de poder de compra (PPC). Aqueles que recebem menos de 2 dólares por dia, em termos de PPC, são classificados como pobres.

 

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 familiar per capita. A tabela 6 mostra que o NE, com uma representação de 29% da população brasileira analisada, detém mais da metade de toda a população pobre do país, com aproximadamente 57% da insuficiência de renda.

Para o ano de 1997, segundo o autor, esse indicador de insuficiência do país é de 3,6%, significando que bastaria redistribuir pouco menos de 4% de toda a renda nacional para que a população como um todo tivesse rendimento de pelo menos o estipulado na linha de pobreza ora estabelecido de 60 reais.

Diante do exposto, uma consideração interessante destacada por ele se refere ao fato de que, hipoteticamente, não se levando em conta os custos de transferência, seria possível eliminar a pobreza com a transferência de 6.6% da renda dos 10% mais ricos entre os mais pobres. Simulação que mostra parecer fácil, do ponto de vista contábil, a eliminação da pobreza.

Tabela 6: Número de pobres e insuficiência de renda no Brasil, conforme rendimento familiar per capita, adotando linha de pobreza de 60 reais

Para enriquecer um pouco mais o estudo do tema, Barros (2001) entende que para se empreender uma abordagem conceitual de pobreza, necessário se faz estabelecer uma medida das condições de vida em sociedade de seus indivíduos. Essa medida, assim concebida, é denominada linha de pobreza. Ela é o parâmetro que permite considerar como pobre, naquela sociedade, todos aqueles que apresentarem renda inferior aos patamares definidos.

O autor adota (Tabela 7) uma dimensão particular e simplificadora da pobreza, se baseando na insuficiência de renda associada ao necessário para a satisfação das necessidades básicas individuais ou familiares. Nesses termos, a linha de pobreza é endogenamente construída considerando o poder aquisitivo de uma cesta básica, regionalmente definida, que contemple as necessidades de

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 consumo calórico básico de um indivíduo. Somam-se a esses, considerados gastos com alimentação, ainda os gastos com vestuário, habitação e transportes. Destes gastos totais, quando se considera apenas aqueles com alimentação, temos caracterizada a linha da indigência.

Tabela 7: Evolução temporal da indigência e da pobreza no Brasila

Observa-se que a pobreza é representada por 33,9% da população e a indigência por 14,8% desta, quando se toma como base o ano de 1997, conforme tabela. O que equivale dizer que mais de um terço da população, representada por 51.5 milhões de brasileiros, é classificado como pobre por viver em família com renda inferior à linha da pobreza. Consequentemente, o número de indigentes ultrapassa a marca dos 22 milhões de brasileiros.

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