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Considerações acerca da função materna no autismo a partir de Azevedo

No documento A função materna no autismo (páginas 30-42)

A partir do conceito de autismo, foram criadas teorias, levantadas hipóteses, dadas muitas opiniões e feitas conclusões sobre causa, o comportamento, os possíveis tratamentos etc. Entre os autores mais destacados por suas abordagens, destacam-se: Margaret Mahler, Bruno Bettelheim e Frances Tustin, citados no primeiro capítulo desta pesquisa. Eles definem a constituição psíquica sob uma ótica desenvolvimentista. Em suas teorias, expressam seus entendimentos sobre o autismo, mas, curiosamente, assim como destacou Azevedo (2009), o conceito do inconsciente fora deixado de lado por eles, pois se referem a uma equivalência entre o eu e consciência, sendo que Freud (2006) afirma ter no eu algo inconsciente. Neste caso, é necessário que se fale em inconsciente justamente porque não se pode falar de uma “falha” da função materna sem supor que esta seja inconsciente, bem como, não se podemos falar do sujeito psíquico sem se referir a esta parte do psíquico (o inconsciente).

Conforme Freud (2006, p. 27), “A divisão do psíquico em o que é consciente e o que é inconsciente constitui a premissa fundamental da psicanálise, e somente ela torna possível a esta compreender os processos patológicos da vida mental”. O inconsciente mostra justamente aquilo que escapa ao saber do Ego6, do qual a consciência se acha ligada.

Azevedo (2009) enfatiza o histórico das teorias dos autores citados sem desfazer suas proposições, pelo contrário, para mostrar o quanto elas contribuíram para que outros autores pudessem falar do autismo na Psicanálise, porém, ela induz a questionar sobre estas teorias que deixaram de lado importantes teorias articuladas.

Neste sentido, fazem-se algumas considerações sobre o autismo a partir das ideias de Azevedo (2009), que, por sua vez, retoma as referências desses autores, mas articulando às teorias de Sigmund Freud e Jacques Lacan.

Através dos estudos selecionados para realizar a presente pesquisa, pode-se observar a multifatorialidade do autismo. Assim como comprometimentos psíquicos, o autista possui comprometimentos neurológicos, cognitivos, motores, enfim, são diversidades que não podem deixar de ser consideradas. Mas, como a proposta não é a de se deter a esta multifatorialidade, destacam-se questionamentos referentes à duas possíveis causas psíquicas do autismo, trabalhadas por Azevedo (2009): a ausência da função e olhar materno; e o excesso da função materna, ou seja, o excesso do Outro. Estas afirmações confirmam a hipótese de haver uma falha inconsciente da função materna na estruturação da criança autista.

Em relação à primeira possível causa do autismo mencionada pela autora, “a ausência da função materna”, entende-se que para o Eu se constituir são necessárias referências simbólicas e estas por sua vez, são inscritas pela linguagem, mais especificamente através do grande Outro (a mãe). No caso do

6 Conceito descrito por Freud (2006, p. 30, grifo do autor): “[...] em cada indivíduo existe uma

organização coerente de processos mentais e chamamos a isso o seu ego [...]. Ele é a instância mental que supervisiona todos os seus próprios processos constituintes”.

autismo, essas referências simbólicas não são assumidas, ou seja, o Outro permanece para o autista no Real. Ele não simboliza a fala, a linguagem.

[...] o não reconhecimento da imagem especular é determinado pela ausência do reconhecimento do Outro. O Outro, no caso, está ausente como testemunho, como terceiro que vem com um sorriso, por exemplo, ratificar a imagem especular da criança. (AZEVEDO, 2009, p. 71).

Este reconhecimento do Outro é concebido pela linguagem, por meio da palavra, daquela que nomeia a criança enquanto sujeito, fato que no autismo falta, pois, “não há dimensão simbólica que venha regular e estruturar o imaginário” (AZEVEDO, 2009, p. 71).

O inconsciente é o discurso do Outro. No autismo, como há uma ausência de simbolização, o sujeito do inconsciente não aparece. Como no autismo a primeira simbolização não acontece, não há queda de objeto e o Outro não é barrado. Este objeto do qual se fala é o “corpo”. É necessário que se caia a ideia de um corpo (pura carne), para que aconteça a falta, a simbolização se faça e o Outro seja barrado, justamente para que não impeça a subjetivação da criança de forma a sufocá-la.

O Eu se constituiu a partir do outro, mas no autismo é justamente o Eu que não se constitui por falta do Ideal de Eu7, este do qual vai regular o imaginário, por sua vez, essencial também para esta constituição. Este Ideal de Eu não se funda no autismo, justamente porque o reconhecimento do Outro falta.

Em relação à segunda possível causa, Azevedo (2009) questiona-se se realmente há um Outro no autismo, justamente porque esse Outro é simbólico e no autista a simbolização não acontece, ou seja, todos os seus significantes ficam no Real. Porém, este questionamento é respondido ao longo do tempo, quando a autora constata que, devido o autista não fazer a simbolização dos significantes, estes se tornam tão potentes de tal forma que as palavras são colocadas

7 Em “Sobre o narcisismo: uma introdução”, Freud (2005) fala pela primeira vez em Ideal de Eu, onde

relata que esta é uma nova forma de ideal, já atravessada pelos valores culturais, morais e críticos, forma através da qual o sujeito procura recuperar a perfeição narcísica de que teria outrora desfrutado.

bruscamente enquanto “coisa”, enquanto tal, invadindo este sujeito de modo que o angustie e que não lhe deixe saída á não ser querer ver-se longe do Outro. Portanto, assim como na Psicose, o Outro se constitui como invasor, só que no autismo de forma mais radical. É a ausência de simbolização dos significantes colocados pelo Outro, que faz com que os significantes sejam tão invasores do sujeito.

De acordo com Azevedo (2009, p. 113), “[...] para que o sujeito ocupe o lugar de objeto causa de desejo é necessário que o Outro seja barrado”. Assim, a possibilidade da ausência é fundamental para que uma presença se afirme.

É na ausência do Outro que o simbólico, a primeira simbolização, pode se constituir. No caso do autismo, como o Outro não é barrado e como não tem a queda de objeto, a simbolização não se constitui. Entende-se que é necessário haver uma falta, mas, como no autismo ela não existe, supõe-se que não havendo falta, há presença o tempo todo. Isso explica a segunda hipótese da autora de haver excesso de Outro no autista.

Para que o sujeito se constitua, é necessário que o objeto de amor caia do Outro, justamente para que este seja barrado e haja a falta. Quanto ao autista, ele se esforça para manter afastada a invasão do Outro nesta realidade que ele constrói (AZEVEDO, 2009).

Azevedo (2009, p. 17) fala da realidade criada pelo autista, enfatizando que “não existe uma perda total da realidade, pois o sujeito se encontra em dois mundos, o mundo autista e o mundo de relações com os outros serem humanos”. Portanto, o que ocorre no autismo é que há uma máxima prevalência de outra realidade, ou seja, uma está muito mais acentuada que a outra.

É a partir desta outra realidade que o autista consegue se defender e enfrentar intensos sofrimentos psíquicos, tomando-a como uma solução particular para sobreviver frente a esses conflitos. A falta desse “olhar” e reconhecimento materno, a invasão, o sufocamento que este Outro causa ao sujeito, são fatores angustiantes que abrem possibilidades de um autismo desencadear-se, ou seja,

uma defesa contra esta pesada realidade que lhe aparece, sem que, de alguma forma, possa ser simbolizada.

Partindo dos pressupostos estudados até aqui, equivale supor que há uma falha da mãe em sustentar esta função de Outro Primordial, de simbolizar a criança, mas não significa dizer de modo simplificado que esta mãe falhe simplesmente “por querer”, por “não querer” bem seu(a) filho(a) ou então por ser “má”. Muitas vezes ou, na maioria delas, não consegue sustentar esse lugar.

Por ser da mãe a função de Outro Primordial, ela precisa lançar seu olhar desejante para a criança, supondo na mesma um sujeito. A criança só se reconhece à medida que tenha alguém para lhe dar este suporte. Quando isso falta, ou seja, quando a mãe não consegue servir-lhe como espelho, a criança não consegue desenvolver o seu próprio “eu”, abrindo assim, espaço para o surgimento das patologias.

A falta do olhar desejante da mãe, ou o excesso dele, pode fazer com que a própria criança se isole, queira se defender de modo à criar sua própria realidade, seu próprio mundo, justamente para “fugir” desse excesso que, por sua vez, também não permite a criança desenvolver o seu próprio “eu”.

Supõe-se, que quando há falta desse olhar, em terapia é necessário que o psicólogo(a) exerça a função de Outro Primordial, ou seja, acolha a criança, suponha nela um sujeito, dê sentidos e possibilidades ao que ela trouxer, e ainda, suporte este lugar do qual precisa exercer.

Assim, surgem diversos questionamentos, como: “Mas e quando há excesso desse olhar, o pai precisa entrar “em cena” e fazer um corte? Neste momento em que a criança se encontra, ainda é possível barrar esta mãe?” Neste sentido, a criança foge angustiadamente deste olhar que lhe sufoca, que não deixa saída a não ser criar a sua própria realidade. Este ponto responde uma questão feita anteriormente neste capítulo: “Pode-se falar em uma subjetividade do autista?”. Pode-se dizer que sim, embora ele não se comunique, mantenha-se mudo, não estabeleça contato com as pessoas, ele consegue ser subjetivo na medida em que

cria essa outra realidade para sobreviver psiquicamente. Ele é tomado de tamanho sofrimento e angustia, mas é capaz de desenvolver um próprio “mundo” como defesa.

Mediante esses episódios, verifica-se o quão necessário se faz a presença da função do Outro Primordial e, ao mesmo tempo, o quanto recai sobre as mães a “culpa” por esta patologia. Com certeza, as causas não são somente psíquicas, mas, se tratando destas, as mães “são as principais suspeitas”. Porém, sabe-se que não se trata de uma culpa ou de uma intencionalidade, mas de uma mãe fragmentada psiquicamente, que não consegue dar conta desse lugar de Outro Primordial ou, também, de uma mãe que, inconscientemente, não consegue deixar que seu filho se subjetive ou, ainda, não consegue permanecer e, ao mesmo tempo, sair deste lugar que ocupa.

Ressalta-se mais uma vez que através do percurso feito até aqui, entende-se que o autista age de tal maneira de modo a defender-se, tanto da falta do “olhar” materno quanto da invasão do Outro. Ele defende-se através do isolamento, de modo que a sua relação com as pessoas e com o mundo não se estabeleça adequadamente, inviabilizando sua própria constituição, incapacitando-se de ter sua identidade, sua subjetividade.

Além de seu conjunto de teorias, com suas respectivas técnicas e normas, a Psicanálise se atém a enfoques mais contemporâneos. A procura por tratamentos analíticos para pacientes autistas é uma consequência disto. Esta patologia desperta interesse nos profissionais pela necessidade que os pacientes têm de outra abordagem técnica para serem “acordados” deste estado de alienação, deste vazio. Já para a sociedade, principalmente para a mídia e os familiares, o interesse parte por ser uma patologia que não tem cura e por ter características marcantes.

O nascimento de uma criança, ao mesmo tempo em que pode ser muito esperado e sonhado pelos pais, pode ser uma experiência angustiante, pois o que se espera é um bebê saudável e sem qualquer dificuldade, necessidade ou deficiência. Quando este ideal não se realiza, quando nasce um filho com algum tipo de deficiência, os pais se impossibilitam de projetar os sonhos nele, pois esta

criança que nasceu está ocupando o lugar do filho ideal, que não nasceu. Por esse motivo, a criança que está no lugar do filho ideal, muitas vezes não é olhada, não é simbolizada e muito menos estimulada pelos pais, para que mudanças significativas possam ocorrer na estruturação psíquica e no desenvolvimento dela.

O autismo é uma patologia que mobiliza mais o ser humano justamente por acometer uma criança “aparentemente bonita”, sem sinais óbvios de algum problema ou de alguma deficiência. Do mesmo modo em que alguns pais não conseguem projetar os sonhos nesta criança, outros, por sua vez, ficam na esperança de que um dia “tudo isso vai passar, que é uma questão de tempo”, justamente porque veem uma criança aparentemente saudável.

Segundo Gauderer (1993, p. 21), “os pais vivenciam estes filhos não só como tragédia, mas como se o filho fosse um objeto, sem calor humano. ‘Não me quer, não me procura’, dizem os pais”. Esta patologia gera vários conflitos e causa perplexidade não somente aos pais e familiares, bem como, aos profissionais e à própria sociedade que estigmatiza o “anormal”. Isso dificulta ainda mais que esta criança se estruture, apareça enquanto sujeito, ou melhor, adquira uma identidade.

Conforme a Psicanálise, inúmeras metáforas insignificantes ativeram-se ao imaginário dos profissionais, dos pais, enfim, da sociedade, para denominar pessoas com autismo, por exemplo, a do “buraco negro”. Tomados pelas crenças e metáforas, marcados pelo discurso dos médicos e especialistas nestes casos, em sua maioria, os pais não investem em seus filhos. Não acreditam em suas capacidades e se acomodam com o diagnóstico. Acomodação que, por vezes substitui a culpa, a falha sentida por eles. Inconscientemente, transmitem isso aos seus filhos.

Assim como o fato de as metáforas terem sido criadas, também muitos autores, ao teorizarem sobre o autismo, acabaram reduzindo-o a uma “indiferença ou culpa” dos pais, sem considerarem o sujeito inconsciente. Um dos exemplos que demonstra esse fato é a metáfora das “mães geladeiras” criada por Bruno Bethlhein.

Embora este ponto tenha sido abordado aqui, não se exclui a importância da contribuição destas abordagens à clínica. Cada qual, à sua maneira, contribuiu para que hoje se chegasse a tais conceitos.

Sabe-se que ainda hoje o autismo é uma “incógnita” para os profissionais que estudam essa patologia, mas a Psicanálise e a Psicologia têm dado contribuições importantes para que se organize um pensamento bem fundamentado acerca desta questão.

Muitos questionamentos ainda ficam em relação a esta patologia. É impossível tratar do autismo sem que se questionem as diversas teorias existentes sobre o mesmo, pois, ao mesmo tempo em que algumas hipóteses são firmadas e esclarecedoras de muitas dúvidas, existe uma diversidade de outras hipóteses que acabam confundindo profissionais, família e sociedade. Dessa forma, parece que somente na prática de quem o faz é que se pode ter algo de concreto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse da temática dessa pesquisa surgiu a partir de questionamentos sobre as patologias, em sua maioria, estarem relacionadas á constituição psíquica do sujeito. O autismo, por sua vez, destacou-se devido às incertezas de como trabalhá-lo na clínica, de como o Psicólogo se posicionar em relação a este sujeito, de forma a não frustrá-lo ainda mais. Também, com a pretensão de entender um pouco mais desta patologia, buscou-se, na história, aspectos que influenciaram para a criação de diversas teorias, bem como, aspectos que ajudariam a pensar e entender esta síndrome.

Como se pode observar, no decorrer do percurso da construção histórica, o termo autismo foi introduzido, em 1911, por Eugen Bleuler, que denomina como uma perda do contato com a realidade. A partir daí, e ainda durante muito tempo, o autismo foi comparado e confundido com diversas patologias, mas principalmente com os sintomas da esquizofrenia. Somente em 1945, com Kanner, o autismo é separado da esquizofrenia e passa a ser reconhecido também como uma “questão psicológica”.

Desde então, diversos pesquisadores estudaram e apresentaram suas teorias, mas foi Kanner que levantou a primeira hipótese de que a causa do autismo estaria relacionada à estrutura familiar, principalmente na relação estabelecida entre mãe e bebê.

Talvez a “incapacidade” de denominar ou entender o autismo fazia com que diversas metáforas fossem criadas para facilitar o entendimento destes seres enigmáticos para a cultura. Muitas dessas metáforas foram “maldosas” em suas explicações, influenciando a sociedade a acreditar que os verdadeiros “culpados” por tal patologia eram os pais. Estas metáforas ou, pelo menos a maioria delas, foram frustrantes para as famílias que conviviam com essa síndrome, pois foram levantadas com a intensão de encontrar um culpado para responder pelos diversos questionamentos que iam surgindo e que ainda surgem sobre o autismo. Além disso, as metáforas foram se inscrevendo na sociedade de tal forma que acabaram

inviabilizando ou até mesmo impossibilitando os pais de investirem ou estimularem seus filhos para que um tratamento adequado se desse e bons avanços dessas crianças pudessem ser vistos.

Independente de toda a trajetória realizada para se chegar a um conceito, pode-se perceber que, a partir das primeiras “descobertas” e das primeiras teorias, as novas teorias puderam ser elaboradas, portanto, pode-se reconhecer que as primeiras ideias a respeito do autismo continuam sendo pertinentes para o entendimento desta patologia. Observa-se, também, que as contradições entre os pesquisadores iam surgindo devido aos resultados e evoluções que estas crianças apresentavam durante o tratamento. Ainda hoje é assim, pois, diante das constantes mudanças e evoluções, realmente se surpreende quando a prática contradiz a teoria.

Ao longo deste percurso, algumas questões foram sendo respondidas, mas outras foram sendo levantadas. Algumas teorias eram contraditórias; outras não eram convincentes, nem mesmo suficientes para que o autismo fosse explicado, mas necessárias para se encontrar respostas, principalmente na Psicanálise, área que esta pesquisa privilegia.

Assim como os autores descritos tiveram contribuíram para a definição da etiologia do autismo, outros desenvolveram ideias e pensamentos relacionados a essa definição, bem como diversos fatores e experiências vem contribuindo para que uma causa seja encontrada e trabalhada.

O autismo é uma síndrome que abrange muitas questões, ideias e suposições. Assim, verifica-se que nesta patologia está presente um sujeito, que, apesar se suas limitações, possui subjetividade, e ao mesmo tempo, um sujeito que ocupa um lugar de imensa distância e resistência em relação ao Outro.

No processo de constituição da criança, mais especificamente na relação da mãe com o bebê, possíveis falhas inconscientes em relação à função materna podem acontecer, que podem se dar pela falta de “olhar” da mãe (Outro) pela criança, ou seja, quando a mãe não consegue estabelecer sua função e nem

mesmo colocar desejo algum no(a) filho(a), ou ainda, quando há excesso de “olhar”, excesso de presença desse Outro, de tal forma que impede a criança de subjetivar- se. Deste modo, surge o autismo como resposta ao fragmentado estabelecimento da relação mãe-bebê, bem como uma defesa ou uma “saída encontrada” pela criança para poder sobreviver psiquicamente.

No processo de construção da pesquisa, além do que se imaginava, a patologia do autismo mostrou-se ainda mais complexa e interessante de se estudar, mas, como a proposta era trabalhar por um viés psicanalítico, abordou-se importantes teorias psicanalistas que forneceram embasamento teórico, além, é claro, de permitir que mais questionamentos fossem levantados sobre o assunto.

Seguindo a teoria psicanalítica analisada, pode-se entender que o autismo é uma patologia que apresenta dificuldades de ordem psíquica, tendo a função materna como fator fundamental e como base para a estruturação do sujeito. A partir das teorias existentes, pode-se dizer que, além das possíveis causas ou questões psíquicas, o autismo pode ter outras causas. Embora não se tenha trabalhado detalhadamente, estas não podem ser desconsideradas. Ainda, além de trabalhar este sujeito em sofrimento psíquico, aponta-se também para as pessoas e o ambiente com os quais o autista convive, dos quais também sofrem ou se questionam muito neste sentido.

Há um certo fascínio pelas pessoas em relação ao autismo, pois, além de aparentemente a criança portadora desta síndrome ser bonita, “normal”, ou seja, não apresentar nenhuma aparência de anormalidade, apresenta características surpreendentes. Mas, há também dificuldade da sociedade aceitar o “anormal”, o diferente, bem como, a dificuldade dos pais de se haverem com as patologias dos filhos, com a diferença dos filhos, daqueles que “tomaram” o lugar do filho ideal e que não se assemelha com o esperado.

O pensamento contemporâneo está cada vez mais difícil de ser entendido, pois, ao invés de flexibilidade, maleabilidade, observa-se pessoas irreversíveis e duras quanto às suas ideias, mitos e crenças. Tudo isso revela o quanto a

sociedade, por mais que evolua, não muda seus valores em relação a certos assuntos.

Independente da trajetória para a construção da história sobre o autismo, cada indivíduo tem uma posição quanto a este conceito até que a causa real não

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