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CAPÍTULO 2: A POLÍTICA EXTERNA DOS GOVERNOS FHC E LULA

2.5 Considerações acerca da Política Externa dos governos FHC e Lula

Quando Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder, o sistema internacional atravessava uma fase de mudança. Apesar das incertezas causadas pelo fim da URSS, o cenário que se apresentava era promissor. Imaginava-se que o fim da Guerra Fria produziria um ambiente internacional, onde as relações seriam mais justas e democráticas, com os órgãos multilaterais sendo fortalecidos. Com isso, os países mais pobres poderiam ter mais espaço para buscarem seu desenvolvimento socioeconômico.

dos Estados poderosos sobre os mais fracos. E sem a oposição de um modelo político- econômico alternativo, eles procuraram exportar seus valores e sistema de organização social para o resto do mundo. Apesar de haver mais espaço para a cooperação e para o debate, as relações entre os Estados continuaram sendo baseadas na força política, econômica e militar.

Nesta época, vários países do mundo, sobretudo, os latino-americanos estavam em dificuldades financeiras e precisavam recorrer à ajuda de organismos internacionais para equilibrar suas contas. Com isso, eles acabavam sendo pressionados a adotarem medidas para reduzir os gastos públicos, aumentar a eficiência do Estado e diminuir seu tamanho. Essa era a realidade brasileira. Mas como o modelo econômico anteriormente adotado no Brasil havia produzido alguns resultados importantes, o governo era obrigado a negociar com grupos políticos e econômicos a implementação das medidas exigidas pelos organismos financeiros internacionais.

É neste contexto de fragilidades, sobretudo, na área econômica e militar, que a política externa do governo FHC procurou integrar o Brasil ao processo de globalização, ao mesmo tempo em que procurava fortalecer fóruns multilaterais de discussão e atuação. Nesse sentido, esse governo, na medida em que procurou se adequar à realidade internacional do momento, praticou uma política de status quo.

Quanto aos objetivos da política externa, na gestão FHC, temos duas visões interessantes. Na primeira, o governo conseguiu aproveitar algumas janelas de oportunidades, isso foi possível devido as reformas internas, que melhorou a imagem do país no exterior, e pela diplomacia presidencial. Na segunda, os êxitos são atribuídos a um ambiente internacional favorável à cooperação, “[...] com prevalência da interdependência, em que a possibilidade de utilização de foros multilaterais pareceu real.” (VIGEVANI; OLIVEIRA e CINTRA, 2003, p. 56).

[De um modo geral a] política externa brasileira durante o governo FHC contribuiu para posicionar o Brasil entre os países que aderem a valores considerados universais. Melhorou o conceito internacional em relação ao Estado Brasileiro. Consolidou-se a conduta pacífica do país, respeitado por suas posições construtivas. No entanto a debilidade na capacidade de promover o desenvolvimento e, portanto, a continuação de uma tendência histórica de encolhimento do peso do Brasil na economia mundial, contribuiu para enfraquecer seu poder em negociações internacionais relevantes. A imagem negativa que a opinião pública dos países ricos tem dos países pobres, assim como os problemas internos que nos atingem especificamente, contribuíram para dificultar a maximização de vantagens. Na América Latina, a busca de protagonizar um papel mais relevante acabou enfraquecida pelos próprios constrangimentos internos. (VIGEVANI; OLIVEIRA e CINTRA, 2003, p. 58).

Com o desgaste, ou mesmo, enfraquecimento, dos polos tradicionais de poder e com fortalecimento de países, como o Brasil, o governo Lula pôde adotar uma política externa mais agressiva e contestadora. Mesmo enfrentando, inicialmente, a desconfiança internacional, sobretudo dos EUA, o governo conseguiu aumentar o reconhecimento internacional do país. Ao manter a política macroeconômica e defender valores, como a democracia, o Brasil tornou-se um interlocutor confiável na América do Sul, o que possibilitou a reivindicação da liderança continental.

Nas crises com Bolívia, Paraguai e Equador, o governo pôde demonstrar a primazia da diplomacia na solução de conflitos, o perfil conciliador da política externa, a disposição brasileira de tornar o continente sul-americano sua área de influência e um ponto apoio para atuações mais ousadas no cenário internacional.

Pereira da Silva (2008) traça um perfil interessante da política externa durante o governo Lula:

[...] [Lula] demonstrou a intenção de mudar a ordem política internacional, alterando a postura brasileira nas relações internacionais. A pesar desta posição, pretendeu manter o país em harmonia com o sistema internacional, sem deixar de apresentar um perfil independente do núcleo duro de poder, composto pelos países de maior influência política e econômica. Este fato converge para a ideia da criação de um núcleo de poder na América do Sul, envolvendo os diversos setores da segurança, capaz de pleitear uma democratização do [Conselho de Segurança das Nações Unidas] CSNU, com o Brasil representando o complexo de segurança sul- americano. A política externa vigente no Brasil considera fundamental a obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. (PEREIRA DA SILVA, 2008, p. 48).

Para mostrar que o Brasil está preparado para ser um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o governo Lula se ofereceu para mediar alguns conflitos internacionais. Aqui destacamos a tentativa brasileira de, juntamente com o governo da Turquia, tentar negociar um acordo para solucionar o impasse gerado pelo programa nuclear iraniano. Vale lembrar que as diplomacias de Brasil, Turquia e Irã, até conseguiram chegar a um entendimento, porém, o governo dos EUA anulou essa iniciativa através de uma ação orquestrada no CSNU.

Em outra oportunidade, o governo brasileiro colocou-se à disposição para mediar o conflito árabe-israelense, mas sua eventual ajuda foi prontamente recusada pelo governo de Israel. Também devemos registrar a participação brasileira na crise política de Honduras. Neste episódio o governo Lula permitiu que o presidente cassado Manuel Zelaya ficasse refugiado na embaixada brasileira, utilizando o prédio como quartel-general da oposição ao

governo de transição daquele país.

A atuação do Brasil nesses episódios, além de muito criticada, não produziu os efeitos desejados. Ela serviu apenas para deixar claro que o governo Lula estava superestimando a capacidade brasileira de intervir politicamente na arena internacional.