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4.8 Análise dos Impactos Ambientais Cemiteriais

4.8.1 Considerações

Segundo a definição de Munn (1979), a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) pode ser descrita como um processo de identificação das consequências potenciais da implementação de uma dada atividade sobre o ambiente biogeofísico e sobre a saúde e o bem estar do homem, e fornece essa informação ao decisores, num estágio em que pode materialmente afetar sua decisão.

Assim, a AIA tenta avaliar os efeitos físicos, biológicos e sócio econômicos, de modo a permitir que as decisões sejam tomadas de forma lógica e racional. Podem ser feitas tentativas no sentido de reduzir ou atenuar os possíveis impactos adversos, através da identificação de potenciais locais e/ou processos alternativos. No entanto não existe uma definição única de AIA (SILVA, 2000).

Durante o processo de análise dos riscos de impactos ambientais de um empreendimento funerário, o aspecto mais relevante a ser considerado é o aspecto hidrogeoambiental.

Assim, para uma análise detalhada dos impactos ambientais do empreendimento cemitério parque, o presente trabalho está separado em subcapítulos, para uma melhor compreensão dos impactos causados.

Para esse estudo foi adotada a abordagem da Análise de Risco Ambiental, representada esquematicamente abaixo. Segundo esta abordagem, para que ocorra o risco de impacto é imprescindível que estejam presentes os três fatores intervenientes: a fonte da contaminação, o alvo e os caminhos que podem levar a contaminação até o alvo. Na ausência de qualquer um destes fatores, considera-se que não há risco.

FONTE

Sepulturas

ALVO

Ambiente e População

CAMINHOS

Meios de transporte dos contaminantes; Formas de exposição.

Quadro 01 - Esquema do Princípio de Análise de Risco adaptado Fonte – Relatório Ambiental Preliminar

Os cemitérios podem atuar como fontes geradoras de impactos ambientais quando sua localização e manejo são inadequados, podendo provocar a contaminação dos solos e mananciais hídricos por microorganismos que proliferam no processo de decomposição dos corpos, gerando fenômenos transformativos e destrutivos do cadáver. Não obstante, existem outras questões ambientais relevantes, como a disposição dos resíduos sólidos advindos das visitas pelos amigos e familiares aos cemitérios, a poluição, muitas vezes visual, causada pela negligência aos túmulos e ainda pelos resíduos de construção, quando abandonados nas proximidades da sepultura. Ainda inclui-se como problema ambiental o manejo inadequado das espécies zoológicas constantemente presentes em cemitérios, como é o caso das formigas (principalmente saúvas, Atta sp) e, em vários lugares, dos tatus (Eupharactus sexcinctus), que violam túmulos para se alimentarem de restos mortais humanos. Estes animais podem servir como vetores de doenças, uma vez que há o contato direto entre eles e os cadáveres e a população vizinha.

Contudo, todos os olhares são mais clínicos no que se refere à contaminação das necrópoles ao solo e às águas subterrâneas. Isso acontece devido à falta de um projeto geoambiental e hidrogeográfico reforçado pela inexistência de políticas de manutenção e fiscalização nestes locais. Assim, as necrópoles como elemento do meio urbano, podem se classificar como pontos poluidores, encaixando-se tanto na poluição visual quanto ambiental.

Por uma abordagem ambiental, esta preocupação se dá porque logo ao entrar em óbito, um organismo inicia o processo de decomposição (putrefação) e ao ser disposto em seu túmulo (jazigo) ou no solo (inumação) esta putrefação continua. Esta, segundo Ucisik e Rushbrook (1998) se inicia com as enterobactérias, que penetram na corrente sanguínea. Nesta fase também surgem bactérias aeróbias- anaeróbias facultativas e anaeróbias (Neisseriaceae, Pseudomonadaceae e Clostridium, respectivamente), que, à medida que o potencial redox dos tecidos diminui, vão substituindo os microrganismos aeróbios.

Pacheco (1990) complementa que o processo de putrefação é composto por dois períodos principais: o gasoso e o coliquativo. No primeiro, desenvolvem-se gases internos (como o metano), responsáveis pelo arrebentamento do corpo, ocorrendo posteriormente a produção de um composto químico chamado chorume,

o qual, por ser derivado de cadáveres, costuma ser denominado necrochorume, que pode atingir valores na ordem de 7 a 12 litros, num período de 1 a 4 semanas. Os gases formados podem, eventualmente, ser lançados ao ar livre, provocando odores que, de acordo com a velocidade dos ventos, espalham-se por toda uma região. No segundo período do processo, de duração mais longa (de 2 a 8 anos) tem lugar a dissolução pútrida.

Tanto o necrochorume quanto os microorganismos provenientes da decomposição podem contaminar o solo, a água subterrânea e, consequentemente, o aquífero freático e toda a população que vier a consumir esta água. Os microorganismos podem se propagar num raio superior a 400 metros além cemitério e são responsáveis por doenças de veiculação hídrica. Em geral, estas doenças causam fortes distúrbios gastrintestinais, tais como vômitos, cólicas e diarreias. No Brasil, as principais doenças de veiculação hídrica são a hepatite, a leptospirose, a febre tifóide e o cólera, podendo ainda ocorrer a contaminação por poliomielite. Normalmente, o transporte do necrochorume e patógenos é acelerado com as águas das chuvas.

Os cemitérios podem ser comparados a aterros controlados para lixos domésticos (compostos basicamente por matéria orgânica), mas com um agravante: é um “aterro” com muito “lixo hospitalar” misturado e a maioria das “matérias orgânicas” enterradas carregam consigo bactérias e vírus de todas as espécies e que foram, provavelmente, a causa mortis. Além disso, é importante considerar que metais pesados, advindo de próteses, materiais das urnas e outros, darão também sua contribuição poluidora, visto que os ácidos orgânicos gerados na composição cadavérica irão reagir com esses metais, sem levar em conta os resíduos nucleares advindos das aplicações recebidas pelo ser em vida. Contudo, o solo, que recebe esses ingredientes de forma direta ou indireta, irá se saturar e, apesar de sua capacidade de autodepuração (resiliência), propiciará que neles se infiltrem tais ingredientes.