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3.2 O sistema de solução de controvérsias da Comunidade Andina

3.2.7 Considerações complementares

Levando-se em consideração, pois, que a proposta da Comunidade Andina é a criação de um mercado comum, através da implementação das liberdades necessárias a esse tipo de integração, quais sejam, livre circulação de pessoas, bens, capitais e serviços entre os países membros, promovendo, através dessa integração, uma melhoria da situação dos partícipes no cenário econômico internacional, bem como no desenvolvimento de cada um de seus membros, inclusive com incremento na qualidade de vida da população da sub-região, uma questão deve ser observada: o sistema de solução de controvérsias de um bloco com tais objetivos deve garantir o acesso à justiça.

Nesse sentido, como parte da estrutura institucional da Comunidade Andina foi criado o Tribunal de Justiça, que é seu órgão jurisdicional, merecendo destaque o caráter supranacional do direito andino, com a previsão de proeminência de seu ordenamento jurídico e da aplicabilidade direta das Decisões e Resoluções integrantes desse ordenamento.

Para o tipo de integração proposta pela Comunidade Andina, qual seja, um mercado comum, que é um processo de integração complexo e envolve a livre circulação de bens, pessoas, serviços e capitais, uma corte de justiça é realmente o mecanismo jurisdicional de solução de conflitos mais adequado, posto que se coaduna com processos integrativos de maior complexidade, onde existe uma normativa comum a ser aplicada, e a necessidade de um maior controle jurídico, por parte de um órgão permanente.

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COMUNIDADE Andina. Protocolo Modificativo del Tratado de Creación del Tribunal de la

Comunidad Andina, loc. cit., art. 41.

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Dessa forma, a criação do Tribunal de Justiça da Comunidade Andina (TJCAN) afigura-se uma escolha acertada, com a necessária institucionalidade e complexidade procedimental, condizentes com o tipo de integração pretendida.

Como vimos, o Tratado de Criação do Tribunal de Justiça da Comunidade Andina prevê a Ação de Nulidade, a Ação de Incumprimento, a Interpretação Pré- Judicial e o Recurso por Omissão, estabelecendo, ainda, a função arbitral e a jurisdição laboral.

Analisando-se esse sistema à luz do acesso à justiça, o primeiro ponto que se destaca é a legitimidade conferida aos particulares, tanto pessoas naturais quanto jurídicas, para intentar a Ação de Nulidade, a Ação de Incumprimento e o Recurso por Omissão.

Como destacado, o primeiro passo para garantir o acesso à justiça no seio de um processo de integração é justamente garantir aos indivíduos a possibilidade de socorrer ao tribunal, conferindo-lhes legitimidade para propor ações judiciais.

Destarte, é de suma importância essa previsão de legitimidade das pessoas naturais para apresentarem demandas perante o Tribunal de Justiça da Comunidade Andina, tendo em vista a proposta desse bloco de integração.

Portanto, o acesso de particulares ao sistema de solução de controvérsias é necessário tanto para a garantia do acesso à justiça, como ainda contribui positivamente para a formação do Direito Comunitário e da jurisprudência.

Outros fatores a serem destacados são a efetividade dos procedimentos estabelecidos pelo Tribunal, bem como a eficácia de suas decisões, pois sem esses dois elementos o sistema de solução de conflitos corre o risco de tornar-se instância inócua e, consequentemente, tolher o direito fundamental de acesso à justiça dos indivíduos já que um dos elementos desse direito é a efetividade do processo.

Nesse passo, realçamos a previsão das medidas cautelares, vistas acima, tanto na Ação de Nulidade, quanto na Ação de Incumprimento, em que o Tratado de Criação prevê a possibilidade de suspensão cautelar, na Ação de Nulidade, da eficácia ou da vigência da norma impugnada, ou na Ação de Incumprimento, da

medida que se supõe de incumprimento, caso demonstrado que, por ocasião da sentença definitiva, o demandante terá sofrido (ou possivelmente vir a sofrer) prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação.

Essas medidas cautelares servem para garantir efetividade à prestação jurisdicional ulteriormente lançada pelo Tribunal.

Ademais, a Ação de Nulidade permite que todas as normas, constantemente editadas pelo órgãos comunitários, estejam sujeitas a controle pelo Tribunal Andino, o que garante maior segurança a todos os participantes da integração, tanto os cidadãos quanto os próprios Estados partes, enquanto que a Ação de Incumprimento revela-se como um poderoso instrumento de efetividade da própria integração, no sentido de que, através desta ação, pode-se exigir que os Estados faltosos cumpram as obrigações que lhe conferiu o ordenamento comunitário.

Ainda nesse trilho da efetividade da prestação jurisdicional, são muito relevantes os meios estabelecidos pelo Tratado de Criação para o efetivo cumprimento da sentença do Tribunal que determinar o adimplemento da obrigação objeto da Ação de Incumprimento.

Assim, por um lado, o Tratado previu que, quando a sentença de incumprimento for exarada em decorrência de provocação, de pessoas naturais ou jurídicas, à Secretaria Geral ou ao Tribunal, para a declaração do descumprimento de obrigações de algum Estado membro, nos termos do artigo 25 do Tratado, ela servirá de título legal e suficiente para que o particular solicite indenização de danos e prejuízos ao juiz nacional.

Por outro lado, estabeleceu meios para determinar o adimplemento da obrigação objeto da Ação de Incumprimento, através de sanção a ser imposta ao país faltoso, determinando os limites dentro dos quais o país reclamante ou qualquer outro Estado membro poderá restringir ou suspender, total ou parcialmente, as vantagens do Acordo de Cartagena que beneficiem o país sentenciado, podendo o Tribunal determinar medidas diversas, caso não sejam eficazes ou, pelo contrário, se acaso forem agravar ainda mais a situação que se pretendia solucionar.

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Portanto, a previsão de sanções ao país que descumprir a sentença do Tribunal impõe eficácia às decisões desta Corte, impedindo que se transformem em sentenças inócuas, mera formalidade desprovida de qualquer consequência prática.

Ademais, com o recurso de Interpretação Pré-Judicial, o Tribunal Andino estabeleceu mais um meio de ampliar a segurança jurídica no bloco, uma vez que garante a aplicação uniforme da normativa andina, e proporciona a possibilidade de os próprios juízes nacionais decidirem sobre matérias de direito comunitário, sem que possam afastar-se da interpretação do Tribunal.

Por fim, vale ressaltar que a função arbitral, prevista para o Tribunal Andino, também pode contribuir para a efetivação do acesso à justiça, pois, como delineado, oferece uma alternativa de método extrajudicial de deslinde de conflitos às partes que, por suas características (celeridade, sigilo, imparcialidade, etc) pode ser um método mais adequado a determinados tipos de controvérsia, aumentando a efetividade desse sistema.

Conclui-se, dessa forma, que o sistema de solução de controvérsias da Comunidade Andina, conformado no seu Tribunal de Justiça, é adequado ao tipo de integração almejada pela CAN, ou seja, um mercado comum, com as liberdades a ele inerentes, e previsão de integração mais profunda, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.

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