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Considerações demográficas

I. INTRODUÇÃO

5. Considerações demográficas

A representação gráfica da estrutura etária da população mundial de países desenvolvidos e de alguns países em desenvolvimento, sofreu modificações ao longo dos anos, passando de uma figura piramidal para uma figura trapezoidal. Isso representa uma diminuição da sua base populacional, determinada pelo decréscimo das taxas de natalidade, e um alargamento do seu vértice, representado pelo aumento da esperança de vida nas pessoas idosas127.

Mantidas as diferenças regionais, verifica-se em todo o mundo o envelhecimento da população e um aumento significativo da esperança de vida. Este facto resulta de uma série de avanços tecnológicos tais como

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saneamento das águas de abastecimento público, campanhas de vacinações, progressos na Medicina, diminuição da mortalidade infantil mas maior controlo da natalidade, divulgação de medidas preventivas de Saúde, troca de tabús religiosos por verdades científicas e estilo de vida mais saudável com consequente declínio das taxas de mortalidade128,129,130. Assim, a esperança de vida que na Roma Antiga era de 22 anos, aumenta progressivamente sendo que na Idade Média, embora existissem casos de maior longevidade, a vida terminava cerca dos trinta anos131. Em meados do século XX, a esperança de vida à nascença nos E.U.A. era já de setenta anos132 (Quadro I.1).

Quadro I.1: Esperança de vida ao longo dos séculos

Época Local Idade

50 A.C. Roma 22 anos

1750 D.C. Suécia 35 anos 1850 D.C. E.U.A. 40 anos 1950 D.C. E.U.A. 70 anos 3º mundo 41 anos 2000 D.C. Europa 85 anos 3º mundo 62/65 anos

Fonte: WHO. Population Fund Report; 2000133

Segundo dados da OMS134, entre 2005 e 2050, metade do aumento da população mundial dever-se-á ao aumento da população de 60 ou mais anos de idade, enquanto o número de crianças (pessoas com menos de 15 anos de idade) sofrerá uma ligeira diminuição. Por outro lado, nas regiões mais desenvolvidas, prevê-se quase uma duplicação da população de 60 anos ou mais, enquanto que a de menos de 60 anos seguramente diminuirá.

A fecundidade segue alta nos países menos desenvolvidos e, se bem que se prevê que diminua, será sempre superior nesses países do que no resto do mundo. Nos países em desenvolvimento, a fecundidade desceu de forma notável desde os finais dos anos 70, e na maioria deles prevê-se que em 2050 os nascimentos não superem os falecimentos134.

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As projecções demográficas para o século XXI apontam para o aumento do número de pessoas idosas, estimando-se que o número de pessoas de 60 ou mais anos de idade triplicará, passando de 673 milhões em 2005 a 2.000 milhões em 2050134.

Outro factor que contribui para o envelhecimento da população é a redução da mortalidade na idade adulta. A nível mundial, a esperança de vida à nascença que se calcula ter aumentado de 58 anos em 1970-1975 para 67 anos em 2005-2010, seguirá aumentando até chegar aos 75 anos em 2045- 2050 (Quadro I.2). Nas regiões mais desenvolvidas, o aumento previsto é dos 77 anos de hoje a 82 anos para meados do século, e nas regiões menos desenvolvidas prevê-se que aumente de 65 anos em 2005-2010 para 74 anos em 2045-2050134.

Em Portugal, o fenómeno não é diferente. Em 1960, a esperança de vida era já de 61,2 anos para os homens e 66,9 anos para as mulheres; em 1981 de 68,2 anos para os homens e de 75,2 anos para as mulheres; em 1998 de 71,7 anos para os homens e de 78,8 anos para as mulheres135. O número de pessoas idosas mais que duplicou nos últimos quarenta anos, provocando o

Quadro I.2: Esperança de vida á nascença a nível mundial, por grupos principais de desenvolvimento e zonas.

Zonas principais 2005-2010 2045-2050

Mundo 67,2 75,4

Regiões mais desenvolvidas 76,5 82,4

Regiões menos desenvolvidas 65,4 74,3

África 52,8 66,1

América do Norte 78,5 83,3

América Latina e Caraíbas 73,3 79,6

Ásia 69,0 77,4

Europa 74,6 81,0

Oceania 75,2 81,0

Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos

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alargamento do topo da pirâmide etária. Dados do censo 2001 apontaram para um aumento de 26% dos indivíduos com 65 anos ou mais desde 1991, passando a representar 16,4% da população portuguesa136. A estrutura etária da população continuará a sofrer alterações nos próximos anos, prevendo-se que o fenómeno do envelhecimento demográfico se acentue e a população idosa ultrapasse em número a população jovem, entre 2010 e 2015.

O envelhecimento populacional no mundo tem colocado o desafio de enfrentar essa nova realidade e tem exigido respostas no que diz respeito especialmente às políticas de saúde e sociais dirigidas à população idosa, com o intuito de preservar a sua Saúde e Qualidade de Vida.

Uma boa Saúde Oral influencia algumas destas metas, pois elimina dores oro-faciais, melhora a mastigação, facilita a ingestão/digestão e comunicação (sorrir e falar), aumenta a auto-estima, e diminui o número de doenças 137.

Na área da Saúde Oral, vários estudos mostram que os idosos formam um grupo com quase todos os dentes extraídos, grande prevalência de problemas periodontais, lesões da mucosa oral e uso de próteses inadequadas138. A meta proposta pela Organização Mundial da Saúde para o ano 2000 indicava que, para a faixa etária de 65-74 anos, 50% das pessoas deveria apresentar pelo menos vinte dentes em condições funcionais139. Este

resultado está longe de ser atingido, sendo decorrente da escassez de programas de Saúde dirigidos a esse grupo populacional, pois não representam prioridade nos serviços públicos, mesmo face aos problemas acumulados e à forte mudança demográfica verificada no país. Frente a esse abandono e dificuldades, se não forem adoptadas acções voltadas à educação para a Saúde com ênfase nos programas de prevenção e auto-percepção, o quadro de Saúde Oral dessas pessoas não apresentará melhorias consideráveis com o passar do tempo.

Neste contexto de dificuldades, uma das áreas que poderia ser explorada é a das acções de educação em Saúde com ênfase na auto- protecção e na auto-percepcção, consciencializando o indivíduo para a

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necessidade de cuidado com a sua Saúde Oral. Estudos sobre o modo como o indivíduo percebe a condição da sua boca mostram que a percepção está relacionada com alguns factores clínicos, factores qualitativos como sintomas das doenças e a capacidade de sorrir, falar ou mastigar, além de ser influenciada por factores como classe social, idade, rendimento e sexo54, 140, 141.