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Procuramos, aqui, trazer elementos que evidenciem a confluência entre o pensamento de Gramsci, Thompson e Vigotski acerca da importância da experiência da classe trabalhadora para o processo educativo. Se para Gramsci e Thompson a maior particularidade da educação de adultos consiste na experiência que os trabalhadores, no plano individual e social trazem para a escola, para Vigotski “Quanto mais rica for a experiência da pessoa, mais material está disponível para a imaginação dela” (Vigotski, 2009: 22).

As formulações acerca da experiência da classe trabalhadora, tal como concebida pelos autores aqui destacados, constituem um rico desafio à Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores e requer como anteriormente assinalado, que o trabalho docente seja, também, produtor de novos conhecimentos, como destacou Thompson, ao tratar das especificidades da educação de adultos. Nesse sentido, é fundamental não ignorarmos o fato de que, como tão bem coloca Vieira Pinto: “O caminho que o professor escolheu para aprender foi ensinar. No ato do ensino ele se defronta com as verdadeiras dificuldades, obstáculos reais, concretos, que precisa superar. Nessa situação ele aprende”. (Vieira Pinto, 1982: 21).

As considerações apresentadas até aqui se ancoram na premissa ético-política de que a educação da classe trabalhadora não deve ser objeto de propostas e ações desqualificadoras Tal premissa já se faz presente desde o início das preocupações de Gramsci, para quem, como assinala Nosella, tanto o estudo quanto o trabalho “são atividades que exigem extremos cuidados e máxima seriedade. Nenhuma contingência histórica ou social justifica aligeiramentos, protecionismos, rebaixamentos ou aviltamentos das condições e dos métodos dessas atividades” (Nosella, 1992: 19).

Também no Caderno 12, Gramsci (2000), sublinha essa perspectiva, que defende desde os escritos da juventude, ao discorrer sobre as dificuldades a serem enfrentadas pelos trabalhadores na sua própria educação e ao chamar a atenção para o fato de que os processos realmente comprometidos com a aprendizagem exigem esforço e só se efetivam quando aos trabalhadores é conferida a posição de construtores de seu próprio conhecimento, a partir da apropriação dos métodos necessários.

Estamos, assim, diante de importantes desafios postos às concepções e práticas pedagógicas no âmbito da Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores. Tais desafios englobam muitos e complexos aspectos dos quais, segundo nosso entendimento, dois devem ser destacados. O primeiro refere-se especificamente ao objetivo maior da educação da classe trabalhadora, acerca do qual afirma Saviani:

o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e cole- tivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objetivo da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que preci- sam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas de atingir esse objetivo (1991, p.21)

O segundo, intimamente ligado ao primeiro, refere-se ao fato, já assinalado aqui, de que a Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores está fortemente marcada, e de forma indelével, pela questão das classes sociais o que não pode ser ignorado quando nos debruçamos sobre as concepções pedagógicas e as práticas educativas. Para tanto, as proposições de Gramsci, Saviani, Thompson, Vieira Pinto e Vigotski são essenciais por oferecerem as bases teórico-metodológicas para a educação comprometida com a classe trabalhadora. Se cada um dos teóricos aqui referidos trazem contribuições próprias e particulares, essas convergem por estarem

fundadas no materialismo histórico dialético, o que possibilita a plena compreensão de que todas as características humanas só são efetivamente compreensíveis se considerarmos as condições socioculturais do processo histórico em que o humano se constitui como tal.

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Memória, Educação Popular e Educação

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