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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento A escolha de objeto na homossexualidade (páginas 37-42)

As intempestivas formas de conflito frente a qualquer manifestação da sexualidade do outro sempre foram motivos da curiosidade humana, não apenas em nossa contemporaneidade, mas como vimos, em diversas fases da história.

A homossexualidade sofreu um processo pungente, nessas fases, as civilizações se organizavam de forma distinta frente à sexualidade de seu povo, e com a homossexualidade não foi diferente. Ela foi considerada algo comum na Grécia, um rito de passagem da adolescência a fase adulta.

Em outras, como China, Egito e Roma ela era aceita, porém a delimitação do parceiro ativo na relação era mais importante, sendo o passivo tomado de forma a ser um “menos que” perante o outro parceiro na cultura. Com a ascensão do cristianismo tudo sofre uma grande revolta e não apenas a homossexualidade, mas sim, qualquer forma de manifestação sexual fora do princípio da reprodução eé etiquetado como pecado, ou seja, proibido. A partir desse momento, a homossexualidade sofre uma perseguição e implicância que persistiria por muitos séculos, pois seu ato sexual é puro prazer, não sendo na época capaz de se constituir família ou serem parceiros de direito na cultura. As forças do cristianismo juntamente com o poder médico conduziram para classificação da homossexualidade como uma doença, algo fora da padronização do normal vinculada a heterossexualidade.

Com séculos de intolerância, porém nunca inexistência, a homossexualidade começa a se tornar assunto de discussão para teóricos que então retiram a homossexualidade vinculada à patologia e assim buscam um maior conhecimento da mesma. Porém, apesar da despatologização oficial da homossexualidade na década de 80, ainda existe necessidade de discussão frente ao tema. Pois em nossa contemporaneidade líderes buscam o retrocesso a uma norma social que retoma impor a heterossexualidade como única orientação sexual natural, concluindo que o gênero é algo dado pela natureza, reduzido a ser homem ou mulher, não reconhecendo uma ampla gama de indivíduos que não estão incluídos nessa norma.

Freud como supracitado expôs que a sexualidade é a manifestação que perpassa todo ser humano, a organização sexual do sujeito desliza pela bissexualidade para ser definida na vida adulta. Relata que existem momentos da organização da libido que definem a fixação da escolha do objeto de amor do sujeito, e de suma importância, nos apresenta que não existe um sexo normal, mas organizações da sexualidade, sendo a homossexualidade uma delas.

A homossexualidade ajudou a psicanálise a entender que a sexualidade não tem uma regra, que a sexualidade não tem um objeto definido. Freud já percebia o retrocesso da sociedade de sua época e buscou estudar e teorizar o tema não apenas da homossexualidade, mas das sexualidades, chegando a proximidade do que seria então patológico e o que poderia se encaixar num padrão comum. Na inicial nomenclatura de inversão Freud já interpreta a homossexualidade como algo fora do contexto patológico, e através de sua escuta constata que todos os indivíduos têm manifestações sexuais reprimidas ao qual seu consciente não aceita, portando uma grande carga de tensão.

Para Freud, tanto a escolha heterossexual quanto a escolha homossexual perpassam pelas mesmas fases da constituição psíquica, mas cada sujeito tem sua forma de se relacionar com seu objeto, mas é na intensidade de prazer diferenciada e o período de latência e puberdade organizado pela pulsão que se define essa escolha de objeto, tanto para o heterossexual quanto para o homossexual.

Sendo o objeto o elemento mais variável da pulsão, Freud apresenta a homossexualidade como uma (das várias) formas da manifestação da sexualidade e não uma doença ou anomalia. Freud constata que a homossexualidade é organizada através de uma escolha de objeto narcísica, que as marcas da pulsão e traços da infância se fixam no sujeito o conduzindo para a definição de sua sexualidade. Assim toda essa organização sexual leva ao desfecho da escolha de objeto, sendo ela conforme os moldes do cuidador ou narcísica como na homossexualidade.

Os homossexuais tentaram esconder seu desejo por diversos séculos, com vergonha e medo, mas com as constatações de Freud e a despatologização da homossexualidade, os indivíduos homossexuais começaram a lutar para ter seu direito a poder exercer sua sexualidade livremente, mobilizam-se para a construção de movimentos sociais que construiriam seu lugar na cultura, que não os

discriminaria frente sua sexualidade, criando assim os movimentos LGBTT. Que, de suma importância, em nossa contemporaneidade, lutam contra esse retrocesso, conquistando um lugar de significação e direito no último século, e assim chamando muito a atenção do senso comum, em divergência com alguns líderes políticos e religiosos que tentam impor o retrocesso das mais diferentes formas de manifestação da sexualidade.

Em virtude dos fatos mencionados, percebo a necessidade de continuar as reflexões sobre o tema da homossexualidade, a mesma vive em um momento de bastante visibilidade na mídia. A resposta da cultura atual muitas vezes apresenta-se confusa, justificando o seguimento da necessidade de pesquisa e reflexão aqui apresentadas.

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