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4.3 – Ô COPACABANA! : A DESMITIFICAÇÃO DA “PRINCESINHA DO MAR”

4.6 – ABRAÇADO AO MEU RANCOR: O AUTOBIOGRÁFICO NA NARRATIVA DE JOÃO ANTÔNIO

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do material analisado entre os anos de 1977 e 1989, percebe-se uma diversidade de textos, em sua maioria, jornalísticos, que apontam para duas vertentes caracterizadoras da literatura empenhada de João Antônio. Uma, voltada para sua participação social, portanto ressaltando o biográfico e revelando, assim, o homem que luta pela valorização da literatura brasileira. O repórter de si mesmo, o jornalista incomodado com o sistema em que vive, mas que já faz parte dele - daí o João Antônio crítico que nada deixa passar despercebido diante de seu olhar felino e direto, não raras vezes comparado ao mestre da sátira, Gregório de Matos, como afirma José Paulo Paes em sua crítica sobre Abraçado ao

meu rancor.

A outra vertente está voltada para considerações sobre a produção propriamente dita, apontando um escritor que filtra a sua realidade pelo seu inigualável processo criativo. Uma literatura inovadora e polêmica, desafiando conceitos e classificações quanto ao gênero, até então dogmáticos e em voga. Tem-se, neste aspecto, um período de adaptação por parte da crítica que percebeu o alto valor literário em João Antônio, mas não conseguia uma classificação precisa diante de uma linguagem e temática reelaboradas de tal maneira que exigia dos estudiosos uma nova postura diante da literatura deste escritor.

Nota-se que cada crítico, quer queira quer não, está constantemente propondo uma resposta ou, ao menos, tentando um encaminhamento para uma questão que, diante de tais acontecimentos, precisava urgentemente ser respondida, para desvendar a própria função da crítica na literatura: qual o papel do escritor de sua época?A discussão continua apaixonante e possibilita inferências e aproximações na busca por respostas. Dessa forma, o trabalho dos críticos em relação a um escritor como João Antônio exige muito mais que a técnica ou o método e, sendo assim, é preciso possuir uma sensibilidade capaz de discernir valores

estéticos na obra analisada, principalmente por se tratar de uma literatura que foge a uma classificação rigorosa em relação ao gênero.

Diante de tais considerações, observamos que a recepção crítica do escritor João Antônio se depara com dados provenientes de dois fatores-chave que ocorrem concomitantes à produção do escritor contemporâneo: a censura e as condições do crítico na coluna literária.

Visualiza-se, assim, uma espécie de sobrevivência também do escritor na contemporaneidade e a imprevisibilidade diante da vida, que não está somente nos personagens joãoantonianos. Daí a expressão “escritor pingente”, freqüentemente utilizada por João Antônio, que considerava a profissão do escritor como marginalizada. Era preciso manter-se, enquanto escritor de seu tempo, com os problemas editoriais, com a supervalorização de alguns best-sellers estrangeiros 6as censuras impostas pelo AI-5.

Nesse período marcado por tais turbulências, há uma necessidade dos escritores, ao menos, os inconformados, de criar uma estratégia para a sobrevivência neste mundo caracterizado por conflitos sociais e econômicos, que desestruturavam a forma dos intelectuais lidarem com o mercado editorial. Era preciso outra maneira de se relacionar com o mundo (novo) da produção literária. Daí, a constante luta pela profissionalização do escritor, altamente comprometida, devido a um contexto social marcado pela competição e pelo consumo imediato e descartável.

Diante desses fatores, falta-nos mencionar a questão da pouca familiaridade da crítica com um novo estilo de narrar do escritor. Percebemos que nas primeiras produções do autor havia uma incansável tentativa em classificar os livros de João Antônio: ficção, conto- reportagem, neonaturalista, realismo crítico e várias outras classificações. Observamos uma sensível diferença nas indagações da recepção crítica das obras que surgem em 1977, no caso,

quatro primeiras obras do escritor, como Malagueta, Perus e Bacanaço, Leão-de-Chácara,

Malhação do Judas Carioca e Casa de Loucos, abordadas por Pereira (2001), que faz as seguintes observações:

Sob essas perspectivas, os críticos revelam um escritor que problematiza a questão de gênero, o processo ficcional e cultural, numa indagação constante e nervosa sobre os rumos tomados pela moderna ficção brasileira.

A autora revela em suas análises a ânsia da crítica em conceituar a obra do autor, pois era preciso justificar a aceitação dessa literatura, sempre entre as mais solicitadas daquele momento. Nota-se, entretanto, que essa inquietação vai desdobrando-se com outras questões envolvendo fato e ficção em publicações que se seguem após Calvário e Porres do Pingente

Afonso Henriques de Lima Barreto, em que Lima Barreto é personagem de João Antônio, e

Lambões de Caçarola, o mito de Getúlio Vargas interpretado pelos moradores do Beco da Onça.

Esses foram os aspectos abordados no presente trabalho. Sabemos que o texto em si permite infinitas leituras e nossa proposta se restringe apenas a algumas delas. Procuramos, assim como Jane Christina Pereira, dar um caráter bastante prático no que se refere ao levantamento dos textos críticos e resenhas comentadas, de modo a facilitar futuras pesquisas sobre o escritor João Antônio. Apesar de esta pesquisa constituir uma continuidade de um trabalho já iniciado por Pereira, o estudo crítico da bibliografia sobre João Antônio ainda está em andamento, sendo necessário um terceiro estudo abordando o período de 1989 até o presente. Cumprimos uma segunda etapa, contribuindo, como vários pesquisadores da área, para que novos caminhos sejam abertos ao desvendamento do imenso universo da obra literária de João Antônio.

6 Quando João Antônio afirma que alguns best-sellers têm mais comércio no Brasil do que as obras nacionais, o escritor refere-se a alguns

autores e não obras de valor para nossa literatura, já que o mesmo possui em seu acervo todos os clássicos da literatura alemã, russa, espanhola etc.